A menina falha a aula,
Espera o tempo passar,
Recosta a coluna cansada,
Trêmula e quase incapaz de andar,
Vê o cara que se aproxima,
Bonito, de tênis e calças,
E uma camisa preta.
E aí garota, me beija?
Ele fala agarrado ao batente da porta,
Se joga no braço dela,
A puxa,
Como se a retirasse de seus pensamentos,
E a trouxesse perto.
-Ah, não. Eu não gosto de ser garota…
Acho que prefiro ser mulher.
Ela fala de olhos trêmulos
E uma lágrima
A brilhar
Na ponta dos cílios
Espessos e grandes,
Como se a molhar uma cortina,
Tornando-a translúcida,
Sem querer permitir uma entrada,
Mas não ter modo de evitar.
Ao menos,
Não tanto.
Muito menos,
Como queria.
-O que é ser mulher?
Ele indaga próximo,
Muito perto,
Puxando-a pelo colarinho,
Tocando seu pescoço.
Com um tocar de cabelo,
De modo abrupto,
Intenso e desajeitado.
-Acho que é esperar,
Crescer um pouco…
Ela fala com a mão na própria calça,
Como se quisesse fugir,
Caber tanto naquela roupa,
A ponto de não existir.
Ele ri e sai,
Talvez o tapa na cara
Tenha auxiliado a decisão,
Se afasta,
E corre porta adentro.
-Poxa, acho que agora eu pertenço a está parede.
Ela fala para si mesma,
Grudada naquele ginásio,
Como se fosse um tijolinho,
Queria mesmo é estar impedida de sentir,
Ser ofendida assim,
É de todo desumano.
Pedir um beijo?
De todos inoportuno.
Beijo se conquista.
mãe, usaram no colégio
uma palavra que você não vai gostar,
Que horror,
Me chamaram de garota!
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