domingo, 6 de dezembro de 2020

Malas Feitas

 

Ele havia trabalhado o dia inteiro,

Contando as horas para voltar ao aconchego

Do seu lar, onde sua esposa o esperava,

Ao chegar, ela lhe deu um beijo de longe,

Mal repousando os lábios em sua boca,

 

- Você está sujo, suado, favor tomar um banho;

Ele havia tocado em outra, pode sentir isso

Logo que ele entrou pela porta de sua casa,

Seu cheiro, seu jeito desatento, tudo o denunciava,

 

Mas ela também, há muito que não o amava,

Por isso, nem fazia questão de que o sentimento que os unia,

Passasse de algo que poderia ser definido como amizade,

Ou pura e simples conveniência,

Afinal disso é que eram feitos os casamentos, não era?

 

Não gostava tanto de abraça-lo, ele tinha um cheiro forte,

Que parecia tomar conta dela e refletir em sua pele,

Ela sempre fez questão de saber como havia sido seu dia,

Mas ele era evasivo, fugia do assunto com muito esmero,

 

E ela, com o tempo, achou que isso era o bastante,

Se refugiar em frente a tv assistindo a um filme,

Afinal, só ela sabia o quanto ele podia ser impertinente,

Embora, ela fosse excelente no método virar a cara e

 

Se recusar a ouvir qualquer coisa que viesse dele,

Engraçado, quando acaba o diálogo em uma família,

Já não resta nada em um lar além da angústia

De ter que suportar a convivência com outra pessoa,

 

Ele sabia irritá-la de uma forma devastadora,

Por vezes, suas mãos magras e frágeis se fechavam

Prontas para desferir um soco certeiro em sua cara,

Vã tentativa, ele sempre foi mais forte que ela,

 

E demonstrava isso cada vez que a forçava,

Puxando-a para si, como se quisesse abraça-la,

Usando da força bruta para mantê-la,

Apertando seu punho de menina com dois dedos,

Em uma demonstração prepotente de força,

Como se desejasse quebra-la por dentro,

 

Talvez, ele soubesse em seu inconsciente

Que aquilo aniquilava suas forças,

Tornando-a nula, mera vítima de suas vontades,

Fazendo-a fugir para longe, como ela sempre fez,

 

Sempre que encontrava qualquer oportunidade,

Ser presa fácil nas mãos de um macho prepotente,

Quem desejaria destino mais ultrajante?

Depender dele? Somente para ser usada conforme seus interesses?

 

Mera submissa, de um covarde conquistador,

A essa vontade, Deus sabe: ela nunca se curvaria,

Entregar seu coração onde guardou seu amor,

A um prepotente com suas juras de amor falsarias, isso nunca;

 

Eles só ficaram próximos uma vez,

Na vez em que ele jurou cuidá-la por todo o sempre,

E sabe-se Deus por quê, ela acreditou,

Por tempo o suficiente para entregar a ele o seu nome,

Não mais que isso, caiu em si e desejou partir para longe,

 

De tanto sofrer presa por anos nesse amor infame,

Havia sempre um vestígio de compaixão em seus olhos,

A cada grito mais alto, a cada vontade dele,

Ela se curvava, se sentia incapaz de lutar por si mesma,

 

E o mundo ao seu redor parecia apoia-lo,

Ninguém via o quanto ela sofria,

O quanto a angustiava cada tocar dos seus lábios,

Com o tempo ela se distanciou, mas ainda havia o sexo,

 

Como evita-lo? Sentia-se presa a essa vida,

Sem saída alguma, mera vítima de si mesma?

A sociedade gritava a culpa é sua,

Por que escolheu conviver com esta pessoa?

 

Ela abaixava a cabeça e chorava,

Embora extravasasse sua dor em suas compras caras,

E depois escondesse o saldo do cartão por pirraça,

Sempre buscava reduzir o valor das coisas que possuía,

 

Então, não possuía o direito de escolher o melhor por si mesma?

Quando foi que lhe roubaram o direito de escolha?

Deram a ela o direito de eleger o representante do seu país,

Mas lhe roubaram o direito de ser senhora de si mesma,

 

Nem mesmo seu voto era vontade sua,

De que adiantou queimar o sutiã em praça pública

Se era obrigada a usá-lo para passar despercebida?

De autora a vítima de si mesma, o que fizeram dela?

 

Não podia escolher o que comprar,

O preço a pagar, absolutamente nada,

Quando foi que ela aceitou que sua voz fosse calada?

Quando caiu o sol naquele mesmo dia, logo após a tardinha,

 

Ela fez suas malas e desejou ir embora,

Pensou em levar na bagagem algumas lembranças,

Mas não guardou nada,

Nem mesmo as rosas vermelhas de que tanto gostava.

Amor

 

Uma mensagem chega aos seus ouvidos,

Seca, desprovida de qualquer sentido,

Aquele que disse que a amava,

Agora se despedia para sempre ele dizia,

 

Ora vejam até onde a audácia é capaz de chegar,

Ela perdeu suas forças, jogou-se no chão,

Chuta e grita com a força do amor que sentia,

Seu coração bate tão forte que chega a machucar,

 

Como se vertesse em estilhaços dentro dela,

Já não leva vida, mas sim, morte vagarosa

Para a sua alma apaixonada,

Seu amigo, incapaz de vê-la sofrer a carrega,

 

Joga-a sobre o ombro e ruma para o seu quarto,

Prepara um banho e pede a ela que não chore mais,

É insuportável ver todo o amor que ela sentia

Verter-se em lágrimas sobre seu rosto molhado,

 

Dentro dela, agora só há tristeza,

E um vazio imenso prestes a consumi-la,

Sua voz cala-se, ela nega-se a acreditar em tudo que ouviu,

Agora quem tanto amou-a, disse adeus e partiu?

 

Sentia um peso esmagador sobre o peito,

Todo o seu amor a consumia em lágrimas,

Já não tinha forças ou folego para falar,

Apenas abaixava a cabeça e consentia,

 

Sim, sim, sim dizia ela,

E via-se consumir em suas lágrimas de dor,

Pagava o preço de uma vida,

Por ter entregue seu amor ao beijo de um traidor,

 

Incapaz de refletir sobre o que sentia,

Ela pensa por um único instante,

Isso que sentia era amor, não era?

Pois havia sido tudo que havia conhecido até agora,

 

Ele a beijava com força, como se quisesse toma-la,

E a atraia para o seu peito em frente ao seu coração,

Com aquele abraço apertado que chegava a sufoca-la,

Ela sentia-se segura, presa fácil em suas mãos,

 

Mas quando ela buscava seus sonhos na luz do seu olhar,

Ela vê uma faísca de algo diferente no ar,

Ela sente um medo de seguir adiante,

Mas aquela necessidade a persegue,

 

Necessidade de amar, de ser tocada,

De sentir algo, Ela deseja apenas esquecer,

Mas seu amor parece crescer a cada instante,

Eu prometo, ela ainda podia ouvi-lo sussurrar:

 

Amar você e a nenhuma outra,

Mas ela não via seus atos refletirem suas palavras,

Ele parecia vazio, como se dentro dele não batesse um coração,

Mas algo diferente desprovido de qualquer emoção,

 

Como podia jurar amor aquele que por dentro era vazio?

Queria arrancar seus lábios por terem se entregado a um traidor,

Entrou no banheiro e permitiu que a água corresse por seu corpo,

Tirando qualquer marca que ele houvesse deixado,

 

Mas quem, agora, protegeria seu psicológico?

Ela teria que ser forte e lutar por si mesma,

Ser forte o bastante para não desistir do amor,

O aroma da primavera entrou pela janela,

 

Ela pensou que pudesse haver uma esperança,

Ela entende que seu desejo é audacioso,

Quem hoje ainda se permitiria amar por toda a vida?

As pessoas já nem ousavam mais falar sobre isso,

 

Amor, quatro letras carecedoras de qualquer sentido,

Perdeu a dignidade ao ser usado por lábios falsos,

Mãos vazias de sentimento, corações cegados pelo desejo

De possuir sem se permitir sentir, sentimento...

 

Quem ainda entendia disso?

E quem é que acreditaria que poderia haver amor naquilo?

O amor havia sido definido como um vício, uma compulsão,

Qualquer coisa que o distanciasse do pulsar de um coração,

 

Ela se ergue do chão, sozinha e se põe diante do espelho,

Vê que seu rosto, antes sem emoção, agora emite um sorriso,

Já se passaram algumas horas, alguém bate a porta,

Ela resiste, prefere não atendê-la.

sábado, 5 de dezembro de 2020

Banco da Praça

 

Ela sente-se cansada de passar por ele sem ser notada,

Já tentou sentar-se ao seu lado lendo uma revista,

Tentou descobrir o número do seu telefone

Em um ímpeto de ousadia chegou a fazer uma ligação anônima,

 

Descobriu que ele gostava de poemas

E pôs seu coração nas palavras que lhe escrevia,

As quais ele nem ao menos chegou a lê-las,

Usando o que sobrou de suas forças

 

Traçou algumas linhas em um papel em branco

Que achou jogado sobre aquele mesmo banco

Em que todos os dias passavam algumas horas,

E o dobrou deixando-o naquele mesmo lugar,

 

Tentou definir todo o amor que sentia por ele

Em algumas poucas palavras,

As quais ela nunca ousaria confidenciar

A ninguém mais que não fosse ele,

 

Apenas disse coisas que ele nunca havia dado ouvidos,

Algo sobre o quanto ele ficava lindo

Quando o sol tocava seu rosto pela manhã,

Sobre o quanto os seus olhos brilhavam

 

O quanto os seus lábios ficavam lindos

Quando se curvavam em um sorriso,

O quanto sua voz macia e aveludada

Parecia conquistar cada alma a sua volta,

 

Transmitindo uma espécie de força

Que ela nunca havia conhecido antes,

O quanto seu corpo era esculturalmente perfeito,

Seus braços fortes pareciam feitos para um abraço,

 

O tipo de abraço em que você implora para não ser solta,

O abraço que une dois corações em uma mesma sintonia,

O abraço em que você implora de joelhos para que dure

Muito mais que uma vida, por pelo menos até que o para sempre

 

Possa ser sentido na ponta dos seus dedos ao deslizarem

Sobre seus corpos, através de uma carícia ousada,

Que faz o sangue correr mais forte nas veias,

Que faz os corpos se entregarem até sentirem esgotar-se as forças,

 

Como ela sonhava em ouvir o pronunciar do seu nome

Por aqueles lábios gentis e tão desejados,

Ela precisava ouvir o que ele teria a dizer

Sobre o quanto queria ver seu amor derramado sobre ele,

 

Por meio de longos beijos apaixonados,

Sua beleza era como uma carícia sobre o seu corpo,

Prendendo-a através do seu desejo,

Dominando-a, fazendo com que ela perdesse os sentidos,

 

Ela passou um batom vermelho sobre os lábios carnudos,

Beijou a ponta do bilhete para deixar um vestígio

De quem era e o quanto o que sentia por ele era forte,

Pensa que pode perde-lo, suas mãos tremem,

 

Provavelmente, iria lembrar de todas as vezes que o viu,

E entregaria-se a saudade até que pudesse esquecê-lo,

Mas lutaria por seu amor, ela merecia arriscar-se

A chance única de ser sua, para sempre,

Como ela sonhou desde o primeiro instante

Em que se cruzaram, uma lágrima molhou sua face,

 

No bilhete em que rascunhou algumas palavras

Não havia mentira alguma,

Estava tudo resumido em uma única frase,

Talvez seu amor pudesse ser profundo o suficiente

 

Para convence-lo, a se entregar a este sentimento

E trilharem juntos por este caminho desconhecido por ambos,

Será que amar seria suficiente para fazê-lo ficar?

Ela viu um relance de amor em seus olhos não viu?

 

Batalharia por isso até usar sua última munição,

Se o bilhete não fosse o bastante,

Ela vestiria seu melhor vestido e pediria sua mão,

Pareceria antiquado, mas ela ainda lhe levaria flores,

 

Feliz consigo mesma e convencida do quanto o amava,

Deixou o bilhete e ficou a cuida-lo, logo abaixo na esquina,

Viu quando ele chegou e sentiu sua falta,

Suspirou aliviada e se permitiu chorar como nunca,

 

Enxugou as lágrimas com a palma da mão fechada,

E viu quando ele sorriu com suas palavras,

Ele a amava, e isso era o melhor que poderia desejar,

Então, quando ele olhou para os lados a procura-la,

Ela caminhou em sua direção, estava linda,

Sentia-se a melhor e mais sortuda das mulheres, o pertenceria.

Saudade

 

Ela sente-se triste, busca algo que a conforte,

Então senta-se na grama para ver o rio correr,

Se encanta ao ver como ele contorna seus obstáculos,

E segue seu ritmo a procura de perder-se

 

Nas águas salinas e profundas do mar,

Ela pergunta-se por que ele segue este ritmo,

Por que ele nunca desiste de traçar seu caminho,

E uma lágrima quente e salina percorre seu rosto,

 

Ela abaixa a cabeça, não quer que a vejam sofrer,

Seus lábios trêmulos denunciam seu sofrimento,

Um soluço cala a voz em sua garganta,

E uma borboleta vem pousar em seu dedo,

 

Com um olhar desconfiado, ela veste-se de uma força

Que sabe no fundo do seu íntimo, não a possui,

Pelo menos é o que imagina,

Sente-se fraca, insegura, com as pernas bambas,

 

Mas um sorriso secreto se esconde por trás

Dos olhos inchados e atordoados pela dor,

Ela lembra o quanto o ama,

Se apega a isso para mantê-lo perto,

 

Mas algo dentro dela lhe sussurra

Que, talvez, ele possa nunca voltar,

E que para o azar do destino,

Quem sabe ele nunca a tenha amado,

 

Deus sabe o quanto ela desejou esquecê-lo,

Ele sabe quantas preces foram feitas

Em busca de um vestígio de esperança,

Um presságio de que caminho pudesse traçar,

 

Ela anseia com todo o amor que possui

Que isso não seja verdade,

Que ele não tenha abandonado a insignificância

Todos os momentos bonitos que viveram,

 

Ela olha para o seu redor de um modo novo,

Como se nunca tivesse visto nada daquilo,

Abraça o próprio corpo e canta algo como abrigo,

Um sussurro inaudível confessado apenas a si mesma,

 

O ama, não há como esconder tal situação,

Vez que, sente isso a cada batida do seu coração,

Como se ele não pulsasse, apenas pusesse-se

A musicar o nome dele, repetindo-o, repetindo-o, repetindo-o,

 

Sem parar, até que ela o sentisse dentro de si própria,

Como se já não pertencesse a si mesma,

Nada do que encontrava bastava,

Desejava ele, como se disso dependesse sua vida,

 

Em seus ouvidos podia ouvir o eco da sua voz,

A fala que tanto amava, que tanto admirava,

Estava junto a ela de novo, e ela apenas desejou

Que nunca mais se afastasse, o amava muito

 

Precisava dele, será que ele não havia percebido?

O amava como nunca antes havia sentido,

Sentido, que sentido haveria em se apaixonar

Apenas para nunca mais tê-lo de novo?

 

Que sentido haveria em provar seus lábios,

E nunca mais poder ouvir sua voz,

Seu carinho passeando por seu corpo,

Seu abraço apertado, abrigo de todo o resto...

 

Ela pensa em como seria difícil viver sem ele,

Mas as batidas do próprio coração a confortam,

Afinal, ele está nela como o próprio sangue a correr,

É difícil esquecer um amor depois de tê-lo em seu abraço,

 

Desejou apenas cair no sono, saberia que lá poderia encontra-lo,

Mas até isso estava sendo difícil,

Ter que encarar cada amanhecer e saber que ele não estaria,

A feria de morte, morte lenta e pesarosa,

 

Era domingo, fez-se dezembro outra vez,

Ela sabe que neste momento ele está longe,

Mas sente-se grata ao menos o teve por um instante,

Um instante apenas, que guardaria consigo para todo o sempre,

 

Sentiu seu rosto se aquecer de forma estranha,

Então o tocou, só assim, percebeu que chorava,

Desejou pedir ao sol que o recordasse do seu amor,

Mas quando foi sussurrar seu nome... qual era o seu nome mesmo?

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Para Coração

 

A razão lhe dizia aos prantos: proteste,

Mas o coração respondia em cada pulsar

Eu o amo em cada centímetro da minha pele,

E buscava mais lembranças para atormentar,

 

Não bastava amar por uma vida inteira,

Tinha que recordar a cada hora,

E ainda embeber em lágrimas a tardinha

Que caia vagarosa lá fora,

 

Deixa disso coração, por favor esquece,

Como irei lhe dar ouvidos, se você insiste

Em querer reviver este seu amor não correspondido?

As vezes, lhe juro: gostaria de poder ignora-lo,

 

Só por causa de um beijo molhado,

Decidiu entregar-se a um amor inacabado,

Do tipo que quanto mais se vive,

Mais quer tê-lo para todo o sempre?

 

Me recuso a lembrar desses momentos

Que você recorda com a mesma intensidade

A cada instante, como se viver fosse isso,

Estou certo em me recusar a viver de metades,

 

Aquele café da tarde vivido a meses atrás,

Lógico que foi lindo, isso ninguém iria negar,

Mas precisava você querer se apaixonar?

E agora, ainda decide com uma lógica que é só sua,

 

A reviver de momento a momento,

Como se assim a trouxesse para perto,

Esqueça, você não se sente capaz?

Amar quem não te gosta no mínimo é indelicado,

Vai permitir que isso estrague sua vida?

 

Você me ofende, por acaso não percebe isso?

Me recuso a sofrer por um amor não correspondido,

Se esta é sua lógica, saiba que está repreendida,

A razão não lhe assiste a seguir por este caminho,

 

Eu sei que posso estar errado, não o culpo,

Mas procure ser um pouco mais sensato,

Por acaso deve amar alguém mais que a si próprio?

A palavra amor me divide ao meio,

 

E então você pulsa, insensato, insatisfeito,

Mesmo sabendo que ela possa nunca ser sua,

Insiste nesse amor não correspondido?

Suas lágrimas rasgam minha alma,

 

Vertem sangue nos meus atos,

Ouvi-lo me inunda em profunda tristeza,

Que amor é esse que só sabe cobrar sem haver entrega?

Isso não te deixa vazio? Não é por isso que você bate inseguro?

 

Onde há tantas cobranças, buscas, não há amor,

Ela parece competir com você,

Com o único objetivo de extorqui-lo,

Ela usa o calor que vem de você

 

Para se sentir melhor, faz da sua fraqueza

O alicerce para os seus atos,

Precisa de ti para brilhar por não possuir luz própria,

Não percebe que ela está a usá-lo?

 

Você soa feito um menino na busca por este amor

Que só deseja explorá-lo, abusar de você,

Até quando irá permitir isso?

Eu lembro de quando você batia com felicidade,

 

Agora temo ao te ver definhando,

Veja, estou a perder o fôlego,

Minha razão apenas grita: esqueça disso,

Por que você teima em competir comigo?

 

Eu e você não fazemos parte da mesma pessoa?

Por que se dissocia tanto do que eu te digo?

Acha que não o amo, então quem o amaria?

Busca o que te falta em mim e vamos tentar nos fazer completos,

 

Tudo é uma questão de tempo,

Vamos buscar ser felizes juntos?

Não me ignore dessa forma,

Eu o amo e sinto dor a cada vez que chora,

 

Onde há competição, meu amigo,

Você há de convir que, no mínimo,

Algo peque por falta de amor,

E se não é amor porque você insiste nisso?

Neve Lá Fora

 

Sentada sobre a mesa da biblioteca, 

Ela olha a neve caindo lá fora,

Sente uma ponta de saudade que fere a alma,

Trazendo-lhe um brilho de dor ao seu olhar,


Uma lagrima teimosa insiste em lembrar,

De quem partiu para longe de quem jurou amar,

Eventualmente, durante suas noites insones,

Ela ainda sente um arrepio percorrer a pele,


Ele não esta mais ao seu lado,

Mesmo que ela anseie tanto por sua presença, 

A ponto de ver sua imagem refletida na janela,

Por tempo suficiente para que ela toque o vidro gélido, 


E tão logo se forma, desaparece,

Sentia-se fragil demais para esquecer,

Como se aqueles labios contivessem veneno,

Do tipo que se prova uma vez e dura para sempre,


Permanece vivo em cada batimento do seu peito,

Como se a percoresse por dentro,

Preechendo cada espaço, cada vazio,

Fazendo com que seu sonho se recusase ao silêncio gélido, 


Em que a cidade toda dormia,

Tremula temente a neve que caia,

Cada vez que cruzava com seus olhos castanhos,

Era como se um exército marchasse em sua direção, 


Fazendo -a prisioneira daquele tempo que há muito se foi,

Mas que ela ainda guardava vivo em sua memória, 

Ela balança a cabeça como se assim pudesse esquece-lo,

Solitaria realidade, ela o ama com toda a alma,


Levanta a mão esquerda onde repousa seu anel,

Toca a vidro como se sentisse a neve cair,

O anel que ela se deu de presente

No dia em que comemoriam seu aniversario de amor,


Na luz tenue da tarde de inverno,

Ela pensou que ele pudesse ser como aquele rubi falso

Que tão lindamente adornava seu dedo fragil e fino,

Apesar de possuir um brilho significativo,


Como seus olhos tinham sempre que a via,

Guardava dentro de si uma alma impura,

Que a qualquer atrito poderia se estilhaçar,

E feri-la de morte, da mesma forma que a carícia 


Que ele usou para conquista-la,

Penetrando-a paulatinamente, até faze-la sua,

Suave veneno para almas despreparadas, 

Sobre o qual ela assumia o risco,

Mantendo-o preso entre os vãos dos seus dedos,


Um lampejo de amor tocou sua paixão, 

Logo que ela percebeu que diante da claridade, mesmo que da neve,

Seu rudi se escurecia, como se desejasse se esconder,

Trazendo a sua lembrança o quão integro e inteligente ele era,


Jamais se permitiria feri-la, de forma alguma,

Assim, se permitiu acreditar que pudesse estar errada,

Foi aí que percebeu que a neve que gelava lá fora,

Não a tocava, ao contrário, parecia, de certa forma protegê-lá.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Chão Frio

 

O sol se punha sempre no mesmo horário,

Por vários meses, levando consigo suas lembranças,

Era o que ele preferia acreditar,

Porém, a cada cair da tardinha um rosto

 

Parecia se desenhar naquele céu colorido e imenso,

Como se pusesse tudo o que viveram a salvo,

Seguro dentro daquele sonho que sentia,

Mas no frio da primavera de novembro,

 

Uma música há muito esquecida toca no rádio,

Ele para, por um segundo, deseja ouvi-la,

E uma lágrima brota em seu olhar,

Mas se recusa a tocar seu rosto,

 

Apenas fica ali, a espera de que algo aconteça,

Ou quem sabe, desejo profundo dos que amam,

Deseja que aquele sonho de amor ganhe vida,

E ela possa retornar ao seu abraço, a sua alma,

 

De onde, diga-se de passagem,

Ele acreditava com todo o carinho do mundo,

Que ela nunca deveria ter saído,

Aquela sua fuga para bem longe,

 

Nunca pareceu ter sentido em seu peito,

Parecia um pensamento tolo: mas ele a amava e muito,

Por que precisava acabar? Era tudo que ele desejava perguntar,

Sentiu, dentro de si, sua pulsação se acelerar,

 

A cada pulsar seu, uma lágrima, teimosa,

Criava vida dentro do seu olhar e desejava

Traçar um caminho por seu rosto

Até chegar a garganta e ali, calar sua voz,

 

A mesma voz que jurou mil eu te amo,

Agora jazia sem vida implorando por amor,

Ele desejou, afrouxar a gravata,

Mas sentiu as mãos trêmulas,

 

Como se recusassem a seguir ordens,

Até porque, não era isso que estava em sua mente,

Tudo o que ele queria, na verdade, era ela de volta,

Era pedir demais desejar a presença de quem se ama?

 

Sempre soube que algum dia seria julgado por seus pecados,

Mas se amar fosse um erro, ele se recusaria a ser perdoado,

Afastou sua cadeira da mesa do escritório,

Abriu os braços com um grito silencioso,

 

E caiu de joelhos no chão frio: sofrimento,

Foi tudo que sentiu, fechou os olhos,

Não suportava a dor de viver uma vida em falso,

Sem amor, condenada ao fracasso,

 

Como ela pode se recusar a ama-lo?

Simplesmente, sair por aquela porta e nunca mais voltar?

Eles haviam se amado, ou aquilo tudo foi falso?

Nem mesmo suas mensagens ela desejou retornar,

 

Ainda lembrava de quando ela olhou para trás,

Com aquele sorriso que sempre guardava uma certeza,

Retirou a aliança, símbolo de tudo que sentiam,

E a jogou naquele chão frio e escorregadio,

 

E ele caiu, permaneceu imóvel, jogado

Não bastasse dizer que não o amava,

Ainda jogava na cara que nem amizade queria,

Por Deus que o amor não poderia ser tão traiçoeiro,

 

Dizer que amava apenas para prender em seus braços

Fazê-lo prisioneiro de um sentimento sempre sonhado,

E com o sussurro que o conquistou dizer: Não, eu não te quero,

Não ouse sentir nada, porque Eu, Eu não o amo!

 

Que culpa tinha ele de não ter preenchido suas expectativas?

Ele se esforçou, mas não foi o bastante,

Eu me sinto violada, disse ela,

Basta, se afaste, não o amo como antes!

 

Com lágrimas a molhar a face borrada,

Para ser sincera, eu nunca o amei – disse ela,

Com o sol da tardinha de novembro a ilumina-la,

Saiu, bateu a porta e nunca mais quis voltar,

 

Ele pensou em argumentar,

Mas sentiu que não havia o que falar,

O amor não é amor quando se ama sozinho,

Lá onde apenas os lobos eram ouvidos,

 

Ele percebeu que é o amor quem guia seus escolhidos,

Ele sabia que deveria se levantar,

Mas preferiu provar um pouco mais daquele frio acolhedor,

Assim como, também, soube: que apenas o choro poderia aliviar.

Comida do Leito do Rio

E, Houve fome no rio, Os peixes Que nasceram aos montes, Sentiam fome. Masharey o galo Sofria em ver os peixes sofrerem, ...