quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Chão Frio

 

O sol se punha sempre no mesmo horário,

Por vários meses, levando consigo suas lembranças,

Era o que ele preferia acreditar,

Porém, a cada cair da tardinha um rosto

 

Parecia se desenhar naquele céu colorido e imenso,

Como se pusesse tudo o que viveram a salvo,

Seguro dentro daquele sonho que sentia,

Mas no frio da primavera de novembro,

 

Uma música há muito esquecida toca no rádio,

Ele para, por um segundo, deseja ouvi-la,

E uma lágrima brota em seu olhar,

Mas se recusa a tocar seu rosto,

 

Apenas fica ali, a espera de que algo aconteça,

Ou quem sabe, desejo profundo dos que amam,

Deseja que aquele sonho de amor ganhe vida,

E ela possa retornar ao seu abraço, a sua alma,

 

De onde, diga-se de passagem,

Ele acreditava com todo o carinho do mundo,

Que ela nunca deveria ter saído,

Aquela sua fuga para bem longe,

 

Nunca pareceu ter sentido em seu peito,

Parecia um pensamento tolo: mas ele a amava e muito,

Por que precisava acabar? Era tudo que ele desejava perguntar,

Sentiu, dentro de si, sua pulsação se acelerar,

 

A cada pulsar seu, uma lágrima, teimosa,

Criava vida dentro do seu olhar e desejava

Traçar um caminho por seu rosto

Até chegar a garganta e ali, calar sua voz,

 

A mesma voz que jurou mil eu te amo,

Agora jazia sem vida implorando por amor,

Ele desejou, afrouxar a gravata,

Mas sentiu as mãos trêmulas,

 

Como se recusassem a seguir ordens,

Até porque, não era isso que estava em sua mente,

Tudo o que ele queria, na verdade, era ela de volta,

Era pedir demais desejar a presença de quem se ama?

 

Sempre soube que algum dia seria julgado por seus pecados,

Mas se amar fosse um erro, ele se recusaria a ser perdoado,

Afastou sua cadeira da mesa do escritório,

Abriu os braços com um grito silencioso,

 

E caiu de joelhos no chão frio: sofrimento,

Foi tudo que sentiu, fechou os olhos,

Não suportava a dor de viver uma vida em falso,

Sem amor, condenada ao fracasso,

 

Como ela pode se recusar a ama-lo?

Simplesmente, sair por aquela porta e nunca mais voltar?

Eles haviam se amado, ou aquilo tudo foi falso?

Nem mesmo suas mensagens ela desejou retornar,

 

Ainda lembrava de quando ela olhou para trás,

Com aquele sorriso que sempre guardava uma certeza,

Retirou a aliança, símbolo de tudo que sentiam,

E a jogou naquele chão frio e escorregadio,

 

E ele caiu, permaneceu imóvel, jogado

Não bastasse dizer que não o amava,

Ainda jogava na cara que nem amizade queria,

Por Deus que o amor não poderia ser tão traiçoeiro,

 

Dizer que amava apenas para prender em seus braços

Fazê-lo prisioneiro de um sentimento sempre sonhado,

E com o sussurro que o conquistou dizer: Não, eu não te quero,

Não ouse sentir nada, porque Eu, Eu não o amo!

 

Que culpa tinha ele de não ter preenchido suas expectativas?

Ele se esforçou, mas não foi o bastante,

Eu me sinto violada, disse ela,

Basta, se afaste, não o amo como antes!

 

Com lágrimas a molhar a face borrada,

Para ser sincera, eu nunca o amei – disse ela,

Com o sol da tardinha de novembro a ilumina-la,

Saiu, bateu a porta e nunca mais quis voltar,

 

Ele pensou em argumentar,

Mas sentiu que não havia o que falar,

O amor não é amor quando se ama sozinho,

Lá onde apenas os lobos eram ouvidos,

 

Ele percebeu que é o amor quem guia seus escolhidos,

Ele sabia que deveria se levantar,

Mas preferiu provar um pouco mais daquele frio acolhedor,

Assim como, também, soube: que apenas o choro poderia aliviar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Plantação de Pêra e Maracujá

Os pais de Pitelmario Fizeram uma linda plantação, Araram o campo, Jogaram adubo, Molharam a terra, Então, plantaram pêras...