quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Uma Cerveja a Mais


Se eu tivesse dado aquele beijo de despedida,

Será que isso realmente faria a diferença?

É certo que meu nível de atenção sofreu uma queda acentuada,

Sempre que ouço seu timbre de voz, o imagino aqui comigo,

Mas, isso não é o bastante para fazer com que eu me arrependa,

Não depois de vê-lo transitar com outra, beijar outros lábios,

 

Reúna todas as suas forças eu disse para mim mesma,

Você conseguirá se sair bem, sussurrei ao meu ouvido

Com um mover lento dos meus próprios lábios - como ele fazia -,

Mas antes que uma lágrima afogasse os meus olhos,

Em algo desastroso feito o ciúme me fazendo soar indesejada,

Movi um sorriso de canto de olho para os meus lábios,

 

É certo que aquela situação não se perduraria no tempo,

Não como nossos momentos, coisa semelhante acontecera outrora,

Diferente de como partira ele retornou para os meus braços,

Com um muxoxo de desgosto e mil eu te amo na ponta da língua,

Dialogo preparado para conquistas baratas de bares de esquina,

Na época eu gostara um pouco, posso admitir isso, porém, agora...

 

A minha expressão ao vê-lo me representou ser negativa,

O homem que eu havia deixado lá atrás, havia mudado,

Me parecera que seus lábios já não continham o mesmo sabor,

Mesmo seus braços estavam emagrecidos, semblante tristonho,

Olhar vago, acho que eu nem caberia mais em seu colo,

 

O fato de eu ter engordado um pouco a silhueta,

Não produzia influencia alguma nisso,

Mas ainda assim, algo falava alto em mim,

Claro que o fato de ele ser alto em estatura produzia influencia,

Apenas isso, seus cabelos fartos e negros, lábios bonitos...

 

Mas suas mãos me soavam imprecisas, tremulas ante alguma falta,

Não possuíam a destreza que eu reconheceria em qualquer lugar,

Sentia que elas tateavam no escuro sem conseguir encontrar nada,

Como se ele estivesse fraco, distante do que fora quando me apaixonei,

Aquela precisão medida que ele possuía estava longe dele agora,

Tivesse uma arma engatilhada em mãos atiraria contra si mesmo,

 

Aqueles olhos vagos, já não sabiam reconhecer um alvo mesmo a curta distância,

Isso mexia comigo, isso me deixava sôfrega, será que ele percebia?

Será que decidira frequentar o mesmo lugar que eu para me atormentar?

Ainda abraçava outra, brincava com tudo que já havia existido entre nós,

Percorri a distância que me separava do bar, comprei uma cerveja barata,

Arranquei a tampa com os dentes, só para sentir o cravejar na ponta da língua,

 

Virei a tampa dentro da minha boca, desejei amassa-la com uma mordida,

Cuspi ela fora cuidando aonde cairia, deixei ela ali no chão, sem dizer nada,

Que ficasse onde estava, o que importaria? Sorvi o líquido em goles medidos,

Me demorei o suficiente para senti-la quente entre os meus dedos,

Não desejava tanto saborear seu gosto, mas aprovava o efeito em meus lábios,

A forma como tremulava meus pensamentos, o jeito como mexia comigo,

 

Ele estava abraçado a ela na minha frente, sorri disso, a sensação era boa,

Beijaram-se algumas vezes, eu continuei onde estava liquidada,

Fazia frio lá fora, uma brisa passava através da porta e me tocava,

Meus lábios ficaram gélidos, encerrei a garrafa, pedi outra cerveja,

 Já na metade da segunda, percebi que a noite prometia muita coisa,

Esperava que o resultado fosse bom quando eu acordasse no outro dia,

 

Enquanto as horas não passassem: beberia, de garrafa em garrafa,

Embora meu estado aparente de sobridez contradissesse a minha fala,

Eu não me sustentava em pé como antes ante o exame de olhos atentos,

Muitas relações poderiam acontecer ao meu redor que serviriam

Para ilustrar em bom estado a dor de cabeça em que eu acordaria,

Mas tudo ficava a esmo, sem emoção, dizem que um casal deve ficar junto,

 

Mas esquecem de dizer quando o ponto final passará a surtir efeito,

Quando a boca em que beijamos já perdeu nosso gosto ao tocar outra,

Quando as mãos que tocaram nosso corpo já estão seguras para tocar outro,

Quando braços que já nos refugiaram em abraços, podem considerar-se livres,

Mordi os lábios, já não os sentia muito, embora não tenhamos trocado alianças,

Talvez, eu o tivesse amado, como saberia se partiu tão depressa para outra?

 

Eu tentava buscar uma desculpa que me tirasse daquele lugar,

Qualquer coisa para me agarrar e que me levasse longe de tudo,

Com um cair de braços, toquei sem jeito o bolso do meu calção,

Encontrei as chaves do carro, eu poderia ir embora a qualquer hora,

Olhei para o líquido da cerveja, ainda não havia acabado,

E o gosto estava muito bom para jogar fora, movi uma das pernas,

 

Me vi tremula, parece que a cerveja reagiu rápido em meu organismo,

Nada pior que isso, teria que encarar os beijinhos sem poder fazer nada,

A distância era segura: que aproveitassem, eu me sentia bem assim mesmo,

É claro que minha roupa não ajudava muito, não valorizava meus pontos fortes,

A maquiagem já estava borrada, eu havia dançado e ela deslizou por meu rosto,

Ao menos poderia contar com ela para me dar cobertura para aquele, ciúmes?

 

Havia em meu rosto a recompensa por pensar tanto em nós,

Maquiagem escorrida, lágrimas escondidas em algum lugar,

Precisava embriagar um pouco a alma, ela sentia-se descompassada,

Deixava incerto meus passos, como poderia me questionar dessa forma?

Se eu agi, agi; se perdi, perdi; agora ela decidia me contradizer,

Decidi beber mais uma, precisaria de forças para encarar o dia que amanhecia,

 

Haviam tantos lugares para ter acesso de ciúmes, precisava ser na frente dele?

Decidi afastar de mim esses pensamentos, o beijo já havia iniciado,

E cá entre nós, minha alma e eu: não parava nunca, troquei a cerveja por refrigerante,

Olhei para outro rapaz, fui dançar um pouco, contradizer minha alma desiludida.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Beijo


Toquei nele para acorda-lo daquela espécie de transe,

Em que ele se colocara a olhar para o horizonte,

Como se existisse algo além dele, que desejasse muito,

Mas se sentisse inseguro para alcançar, agora eu estava ao seu lado,

Poderíamos trabalhar juntos nisso, por quê ficava tão calado?

Preferia que ele confiasse em nós, me abrisse seus segredos,

 

E passássemos a seguir o mesmo caminho, com passos seguros,

Duas mentes pensantes pensam melhor que uma apenas,

50% de chances de ambos os lados equivale ao sucesso,

Acreditei nisso desde a primeira vez em que beijei sua boca,

 

Ao lado desta certeza caminharam outras confianças,

A de que aquele meu lado severo e intransigente ficaria para trás,

Antes meus atos eram guiados pelo medo, agora eram pelo seu olhar,

Se antes agia com cautela medida em cada hora que se seguia,

Agora tinha com quem dividir minhas dúvidas e me sentir mais segura,

Ao sentir sua pele sob a minha eu tentava de todas as maneiras

 

Me esquivar do desejo que inflamava a sede de provar seus beijos,

Embora eu confiasse em cada atitude sua, a distância que via agora

Me atormentava a alma, parecia que se distanciaria demais de nós,

Que se colocaria em algum lugar distante onde não pudesse encontra-lo,

Se estávamos juntos o que haveria para esconder a distancia-lo tanto?

No roçar dos meus dedos, longe demais para que eu pudesse avistá-lo,

 

Embora muita coisa atormentasse meu coração febril e descompassado,

O desejo por abraça-lo e protege-lo daquela situação complicada,

Tomava completamente meus pensamentos, ele me soava tenso,

E eu em meu tom egoísta de pensar mais em sexo que em cuida-lo,

É certo que sempre que o abraçava com todo o carinho que eu sentia,

No vão de cada carícia, entre um beijo e outro, ele se abria mais,

 

Mas um diálogo dessa forma, agora me parecia forçado,

Tinha medo de que estivesse se sentindo manipulado,

Que outras mãos lhe tomassem a atenção que era minha,

Ah, se outros lábios provassem o doce que havia em sua boca,

Por Deus que não sei o que faria, vazia de mim mesma, o pertencia,

Por um ato da minha própria vontade, por acreditar em cada palavra sua,

 

Sentei-me ao seu lado, mas evitei abraça-lo, apenas por algum tempo,

Queria que ele me notasse ali e fizesse algo, me dissesse alguma coisa,

Por mais que confiasse em nós dois, o amava o bastante para me preocupar,

Quando abri minha boca para dizer algo, ele envolveu minha mão na sua,

Apertei-a com toda a força, queria que ele entendesse o quanto o amava,

Conforme seu silêncio continuava eu me sentia estagnada, emudecida,

 

Algo feito um vazio tomava forma dentro de mim e me consumia,

Eu não iria chorar, prometi para mim mesma, encontraria uma forma,

Ele abriu seus dedos e juntou aos meus de maneira forte e intensa,

Estava de novo protegida, poderia relaxar, abri um sorriso tranquilo,

Ele sorriu um meio sorriso, de canto de boca, deixando os dentes a mostra,

E um brilho no olhar que consumia minhas forças, reunia as palavras,

 

Te amo, consegui sussurrar enquanto beijava seu braço,

Roçando os lábios em sua pele, brincando com seu cheiro,

Me embriaguei dele até sentir-me completa, de novo,

Ele me envolveu com o outro braço, apertando-me contra o seu peito,

De um jeito torto, meio de lado, abracei-o com toda a força,

Não suportaria perde-lo, nem por um segundo que fosse,

 

Deveria haver alguma garantia ao amor para que durasse para sempre,

Algo que os comprometesse, que fizesse com que seus sonhos acontecessem,

Nossas mãos estavam juntas, embora nossas alianças estivessem separadas,

Virei de costas, com um gemido de sufoco e um riso ao esquivar-me,

Embora seus braços fossem fortes, ele nunca me segurou mais do que aceitei,

Nunca me forçou a nada, nunca aumentou o tom de voz contra mim, sempre cortês,

 

De costas, sentei em uma das suas pernas, juntei as mãos das nossas alianças,

Apertei o mais forte que consegui, trouxe para os meus lábios com um beijo,

Mordi por um segundo, rocei os dentes sobre sua pele absorvendo-o até minha alma,

É certo que ele sabia sobre sempre se encontrar nela, mas eu nunca cansei de demonstrar,

Ele envolveu a outra mão em minha cintura, aumentei a intensidade da força,

Sempre que ele estava próximo, eu sempre me superava em cada atitude,

 

Soltei nossas mãos em meu ventre, para que sentisse o calor que me despertava,

Abri suas pernas com as minhas, me coloquei de lado e provei sua boca,

Abrir seus lábios com os meus sempre me soava como na primeira vez,

Tinha gosto de eu te amo em cada instante; eu te amo meu amor, sussurrei,

Tão perto que o calor das minhas palavras beijou-o outra vez,

Eu estava pensando em talvez termos um filho, o que você acha, o indaguei,

Eu também, estava pensando que ontem não comprei seu anticoncepcional,

E que hoje a farmácia estaria fechada: um filho seria bem-vindo em nossa casa.


 

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Um Alguém Diferente

Durante um primeiro momento,

Parecera fácil demais escolher a solidão como caminho preferível,

Todavia, passara pouco tempo deste seu entendimento bem definido,

Então, houvera desenvolvimento notável de atitudes a priva-la das suas escolhas,

Tencionando obriga-la a escolher uma vida como a do restante das pessoas,

Era difícil conseguir se esquivar, a cada foto postada sempre um olhar à espreita,

 

Uma investida insatisfeita em busca de conquista-la,

Obriga-la de qualquer jeito a não ficar sozinha,

A cada olhar indagador uma acusação se escondia,

Por que motivo ela escolhe ficar sozinha?

Por que decide não se casar ainda?

A rejeitada a definiam, aquela que nunca se satisfaz,

 

Ela sentia-se reclusa, ninguém aceitava as suas maneiras,

Então, fingia relacionamento para mantê-los a distância,

A visão das pessoas é imperfeita no que refere-se a uma mulher sozinha,

Sentem que há algum problema com ela, que lhe falta algo,

Querem obrigar-lhe a seguir o roteiro estabelecido nos primórdios,

Embora ela se recuse a isso, não significa que não se fira,

 

É difícil seguir na contramão do destino imposto por todos,

É complicado seguir a passos seguros um caminho falseado,

Em que todos escolhem apontar o dedo como se tivessem a direção,

Quando se casam, exigem os filhos, quando não se casam, repudiam,

Exigem um padrão em que ninguém acredita, mas querem que sigam,

Dominar os estilos, as roupas, o conteúdo que leem, o que creem...

 

E quanto mais ela avança por este caminho de ladrilhos sobrepostos no caminho,

Em que a cada passo em falso um escorregão antecede ao tombo,

Ela não tem nada além dos próprios braços para lhe erguer,

Exigem que tenha, olhos assustados a encontram e afastam-se,

Ao colocar-se na contramão do que acreditam, ninguém ousa arriscar-se,

Talvez, temam contagiar-se com seus pensamentos,

 

Assustam-se com a ideia de verem seus erros questionados

E rejeitados por seus atos, a recusam por seus objetivos diversificados,

Mas, talvez, dentro deles algo lhes fale sobre seus desacertos,

Uma pontada de incerteza os critique pelas escolhas impensadas,

É difícil precisar a dimensão de erro de cada pessoa,

Mas existem situações e oportunidades que não voltam atrás,

 

Oportunidades se perdem em cada olhar equivocado,

Em cada palavra dita em hora incerta ou forma impensada,

Em cada gesto feito com o propósito ou não de machucar,

Embora quase sempre haja uma segunda chance,

Existem coisas que permanecem para sempre,

Ela tocou uma flor no jardim que desejava mudar de lugar,

Meneou a cabeça concordando consigo mesma, mudou-a,

Não havia outras preocupações com as quais se conectar,

 

Quanto mais o tempo passava, mais absorvia as coisas que gostava,

Suas manias foram se intensificando, isso era difícil de ignorar,

Agora, ignorava a idade, os cabelos brancos e vestia o que queria,

Guardava a chave do carro onde desejava e saia para onde quisesse,

Mantinha-se por conta própria, quitava suas contas, vivia por si mesma,

 

Mas, sempre espreitava com alguém que se recusava a ela,

Tentavam modifica-la sob todos os aspectos, negavam suas qualidades,

Duvidavam sobre sua força, rejeitavam suas capacidades,

Ela cansou de chegar nos lugares e as vozes se calarem,

Era assunto para tantas fofocas que já não se queixava mais,

Vira seu currículo ignorado e as oportunidades de emprego retidas,

 

Exigiam que fosse como as outras, um salário por suas vontades,

Não estava em questão um trabalho, mas sim uma submissão,

Queriam posiciona-la em sociedade, mantê-la sob rédeas curtas,

Não importava o conteúdo do que acreditava seu coração,

Teria que seguir as regras impostas ou estava fora,

Não tivesse capacidade para se manter sozinha, seria ultrajada,

 

Não importavam suas lamúrias, suas lágrimas, as dores sofridas,

Os calos em seus pés por procurar trabalho de lugar em lugar,

As mãos acostumadas a pegar no batente sem forças para lutar,

As roupas velhas usadas, doadas, emprestadas: se serviam ou não nela,

Nada importava aos olhos cheios de cobiça por sobrepujarem-na,

Sua silhueta esbelta perdera alguns quilos enquanto andava sobre a calçada,

A fome se ausentava a cada final de mês, quando pensava nas contas,

No entanto, nada conseguiu reter sua força de vontade de se realizar como pessoa,

 

Estudara, se esforçara o máximo que pudera e alcançara seus sonhos,

Porém, mesmo agora, ainda era alvo dos mesmos boatos incrédulos de outrora,

Como conseguira se exceder sem se posicionar sobre a mesa do patrão?

Como alcançara formação sem ceder as vontades do professor bonitão?

Como se sobressaíra nos estudos se não pertencera aos grupos do fundão?

 

Como se formara com êxito se nunca submetera-se a fazer uso de cola?

Como conseguira pegar a lotação todos os dias e estudar como estudava?

As vozes incrédulas, os falsos boatos ou o barulho da condução, nada a incomodava?

Como conciliara os estudos com o trabalho, de que forma sustentara a si mesma?

 

A saliva que embebia as palavras das pessoas ao seu redor tinha nome,

Um nome que feria até mesmo ao se pronunciar em pensamento: inveja,

Descrença quanto a sua qualidade e valia como mulher,

O sucesso de uma mulher obriga-a a usar um salto alto,

E vestir-se, comportar-se conforme o padrão escolhido,

Ela fora diferente e alcançara êxito, já conseguem acreditar nisso?


 

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Solidão a Dois...


Ela o amava com toda a alma, se entregou a ele profundamente,

Mas a cada vez em que se olhava no espelho não se encontrava,

Ele a deixava sem saída, tragava a sua liberdade, lhe tirava as escolhas,

Presa a uma vida antiquada ausente de tudo que sonhava,

No início, tudo era perfeito, parecia que nada atrapalharia,

As discussões eram caladas com beijos, as lágrimas esquecidas,

 

Pouco antes do amanhecer, assim que ele se arrumava para o trabalho,

Ela acompanhava a rotina dele, fazia o café, preparava a mesa,

Ignorava as noites percorridas insones, vazias de sonhos, com teor de pesadelo,

Fingia uma dor de cabeça para tentar se livrar das investidas,

Nunca esquecia o beijo de bom dia e a indagação de como tinha dormido,

Ele permanecia na cama o máximo que podia, levantava tomava o café e saia,

 

Ela o seguia até a porta com as chaves em mãos, entregava a ele seu melhor beijo,

Com o cachorrinho no colo, ambos acenavam desejando êxito,

Nunca esqueciam o abraço apertado dado, os três, em conjunto,

Com aquele sorriso de promessa de que tudo se sairia bem,

Olhos brilhavam para o horizonte, mas dentro dela algo não estava satisfeito,

A casa era humilde e feliz, porém, os móveis eram escassos, a comida era suficiente,

 

Mas a cada vez em que colocava a cabeça no travesseiro, as preocupações vinham,

Tiravam seu sono e a indagavam sobre como poderiam pagar as contas ao final de cada mês?

A luz, a água, as roupas, os carnês... como poderiam satisfazer as necessidades da casa?

Ela pensava em buscar um trabalho, era jovem teria sucesso com o que quer que fosse,

Acreditava em si mesma, sempre se saíra bem com os estudos, poderia auxiliar nas despesas,

Ele, porém, negava-se veemente a isso, apegava-se a um ciúme desmedido,

 

Ou algo deste teor escondido por trás de um machismo predominante,

Negava a qualidade de tudo que ela se esforçava para fazer,

Procurava afazeres na casa alegando estarem malfeitos,

Quando olhava-a, ela sentia que não era vista, parecia um reflexo,

As roupas que vestia, as mesmas que comprara outrora para agradar

Não serviam aos gostos dele, havia sempre algo sobre o qual reclamar,

 

A comida, a qual ele sabia de antemão sobre sua falta de técnica:

Era rejeitada; as flores sobre a mesa - esmoreciam, não conseguia contentar,

Os costumes que ela detinha eram renunciados, nada servia ou o agradava,

Os bilhetes deixados pelos cantos, as cartas metradas de outrora não convinham,

O beijo que antes selava o eu te amo de ambos, agora tinha gosto de ódio,

Algo explodia dentro dela de forma incontrolável: o gosto amargo do fracasso,

 

Havia falta de muitas coisas pelos poucos cômodos da casa,

Principalmente do amor que os uniu em promessa de casamento,

O que os mantinha unidos já não era mais sentimento, mas sim um pranto,

Silencioso, que embebia cada frase pronunciada por ambos,

Ela tentava a todo custo sustentar o amor falso para os vizinhos,

Ele negava-se a qualquer ideia que proviesse dela, com uma espécie de desprezo,

 

Os conselhos eram deixados de lado, os beijos ficavam escassos,

Os abraços repudiavam o suor de seus rostos, a distância tomava forma,

E os afastava, as ideias não combinavam, as piadas não soavam de bom tom,

Havia um vazio crescente dentro dela, ela o saciava através da pouca comida,

Recusava ver sua imagem refletida ante a ausência de um espelho a altura,

Ante ao medo do que pudesse encontrar, engordava, se rejeitava,

 

A certidão de casamento em que uniram seus nomes, os ratos roeram,

A mesma em que, através de um ato de fúria ela havia rasgado,

Aquele gesto ele sentiu, ela pode ver as lágrimas brotarem em seu olhar,

O restante do papel os ratos roeram formando o retrato de um coração,

Bastante romântico e insatisfeito para ambos, será que sentiam sua emoção?

No dia em que conseguiu encarar seu próprio reflexo, ela se assustara,

 

O espelho era pequeno, quebrado, a refletia em partes e todas eram repulsivas,

Ela dera um soco contra a parede, machucara alguns dedos,

Mas sua alma sangrava, havia arrependimento e algo mais presente entre eles,

Ela tentava buscar o homem por quem havia se apaixonado, mas ele estava em falta,

Poderia estar na casa da sogra, na mesa de baralho ou em qualquer outro lugar,

Distante demais dela, ele estaria a evita-la ou evitava encarar a decisão errônea?

Ou, então, sua necessidade por contato era demasiada? Ela ficava reclusa,

 

Embora sentisse falta de carinho, de gestos que a deixassem satisfeita,

Preferia ficar recolhida, rejeitava qualquer forma de contato, se apegava ao animal,

As palavras vazias já não preenchiam os espaços e o vazio dentro dela crescia,

Não conseguia pronunciar mais o eu te amo olhando em seus olhos – o abraço se afrouxava,

 

Quando finalmente conseguia dormir, pesadelos a envolviam,

Acordava assustada como se estivesse sendo esmagada por algo estranho,

Encontrava a perna dele sobreposta a sua, amortecendo-a, contendo-a?

O espaço da cama que ela adorava agora estava reduzido,

 

Ele continuava dormindo, desatento enquanto o seu redor desabava,

Mesmo quando as tempestades vinham em fúria contra a casa,

Mesmo quando tudo ao redor rompia e gritava alto demais para se calar,

Ele permanecia adormecido em seu berço, desatento a tudo, avesso a ela,

As árvores ao redor se partiam, galhos quebravam e vinham contra a janela,

Ainda assim ele não via, nada afastava seu sono, nem mesmo o medo dela,

 

Seus hábitos estavam sendo impedidos, um braço se jogava ao redor dela,

Aquilo a feria, o travesseiro que gostava de abraçar tinha outro dono,

O calor dele vinha contra ela e sufocava, por vezes, ele roncava, ela se afligia,

Quando discutiam ele não conseguia manter as ideias fixas,

Partiam para os gritos ela encerrava aos prantos, o cachorro sofria os solavancos,

Em busca de feri-la ele feria o animal, ela esmorecia e o atacava - incontida,

 

Entre gritos, prantos e latidos, nada mais ficava no lugar naquela casa,

Ela jogada no assoalho encerado, ele quebrando os móveis ainda a serem pagos,

Cada vez que ele chegava bêbado, o cachorrinho se escondia pelos cantos,

Ela se armava e o recebia com sua cautela medida, reconhecido jeito compreensivo,

Tentava convence-lo sobre se dedicar a família, sobre tentar uma vida melhor,

 

Ele caia na cama abrandado, deitava e dormia, acordava para jantar,

Havia um descuido da parte dele, haviam sonhos na cabeça dela,

Depois de tanto descaso, tantas brigas insatisfeitas, convencera-o a ir embora,

Voltar para a casa dos pais não lhes daria as oportunidades de que precisavam,

Morar sozinha visava um padrão de vida que ela não possuía,

Suas amigas, com quem poderia dividir aluguel, haviam se dedicado a outras vidas,

 

As quais, ela se recusara a vida inteira, poderia pagar pensão na casa de parentes,

Tendo o dinheiro que lhe cobrariam, ela sabia: não seria aceita,

Sem alternativa em que se agarrar, juntou as malas o cachorro, o marido e partira,

Conseguira depois de muitas custas um emprego simples,

Após sangue, suor e lágrimas, alcançou a tão sonhada faculdade,

 

Neste ínterim, há muito tempo o sonho do casal havia se desfeito,

Ele passava a maior parte do tempo no trabalho e ela se dedicava aos estudos,

Certo dia, insatisfeita com a vida que levavam, que pouco havia se modificado,

Ela olhou para ele com o carinho alcançado durante os anos de convivência,

 

Então, o convenceu do contrário, juntar as roupas, entrar no seu carro e ir embora,

Queria que ele fosse feliz, estava certa de que não seria ao seu lado,

Agora sozinha, ela pagaria as contas que tinha em seu nome, buscaria suas conquistas,

Buscaria oportunidades diferentes em que pudesse ser feliz em seus sonhos,

 

Os beijos entre eles haviam acabado a tanto tempo, os abraços eram dados a distância,

O diálogo havia se diferido, algo que pudesse se chamar amizade os mantinha unidos...

Mas era insuficiente para aplacar seus vazios que os consumia por dentro,

Ambos feriam e eram feridos, avessos a todas as promessas que um dia acreditaram,

Solidão a dois tinha um nome, reconhecido e palpável a separá-los,

Se um dia haviam sonhado juntos, hoje recusavam até mesmo isso.


 

Adoraria

 

Eu estaria mesmo com essa sorte toda? Desacreditada de mim mesma,

Crente em seu olhar com toda a alma e uma vida inteira para entregar,

Embora se encontre um novo olhar em cada esquina, nada soaria igual,

Um exame atento e tudo o mais cai em ruínas, restando-o soberano,

Um homem másculo, forte, atraente, irresistível poderia defini-lo,

Inteligente como nenhum outro, se tinha algo que me atraia e muito,

 

Era a ideia de ser sua, agarrei-me a ela com toda a força que tinha,

Encontrei-me no instante único em que não se atem a perguntas,

Tudo parece ser respondido na brevidade de um olhar esperançoso,

Um desejo destemido guiava meus passos ao seu destino,

Como nunca havia acontecido antes, não queria me reter, não agora,

As circunstâncias me eram favoráveis, poderia arriscar todas as cartas,

 

Ele caminhava sobre a calçada com uma roupa esportiva,

O tênis branco tinha o cadarço desamarrado, eu poderia contê-lo,

Conforme a conversa se desenvolvesse poderíamos caminhar no parque,

Tomar um suco, praticar um esporte, eu estava em desvantagem

No que tange a vestimenta, mas este imprevisto seria fácil contornar,

O convidaria para ir até a minha casa e trocaria a roupa lá,

 

Sustentei o olhar de forma altiva, me sentia segura quanto ao que sentia,

Sorri um pouco sem graça, e uma sede estranha começou a se manifestar,

Contornei a boca com a língua, onde eu poderia me saciar?

Os lábios dele se abriram em um sorriso atraente e seguro,

Essa era uma pergunta pertinente e ele parecia conter a resposta,

Os lábios dele estavam molhados, um beijo seria um preço justo,

 

Na delimitação do quanto o desejo pode se manifestar,

Eu creio que ele tinha a medida exata para me completar,

Seus braços fortes eram perfeitos para fecharem-se no meu entorno,

Sentir-me envolta por um homem assim era algo a se celebrar,

Merecia até mesmo um bom vinho para homenagear,

Estudei sua expressão com cautela, desejei um local reservado para nós,

 

Ele parou, de repente, olhando para a direção oposta,

Com um sobressalto, me senti tomada pela questão

De que, talvez, ele tivesse outra ideia, uma opção oposta,

Eu poderia me apressar para alcança-lo, mas estava fora de cogitação,

Se fosse do seu interesse o nosso encontro, ele não se desviaria,

Eu percebi que fui notada, ele entendeu meu interesse, continuei,

 

Quanto mais me aproximava mais o via opulento,

Ele era mais alto de perto, e muito mais agradável,

Meus passos vagueavam, seu cheiro me envolvia,

Um rubor sobre a minha face deixava as coisas fora do controle,

Que eu perdesse a discrepância, ao menos me arriscaria,

Todavia, autocontrole recuperado, decidi apenas passar,

 

Olharia de maneira atenciosa, nada mais que isso,

O desejo e o amor tendem a andarem juntos,

Eu não poderia me dissociar de manter o respeito,

Durante o tempo em que ele esteve sob a minha vista,

Pude notar um crachá pendurado em sua roupa,

Lá tinha seu nome embaixo do nome da empresa,

 

Também, na oportunidade de cruzar por ele,

Pude notar que não ostentava aliança em seus dedos,

Então, não haveria nada à primeira vista a nos reter,

Acreditei que meu coração aceitaria passar inerte aos seus olhos,

Mas não imaginei que ele me olharia a poucos metros,

Não contava que ele seguiria ao meu encontro,

 

Minha pressão sofreu uma queda acentuada, o coração falhou,

O planejamento de segundos atrás havia mudado de posição,

Exceto, porém, a finalidade dos meus objetivos,

Coisa semelhante aconteceu com minha emoção,

Enquanto ele vinha ao meu encontro ela fugia do meu alcance,

Me deixando tremula, com um sorriso a marcar a face,

 

Apertei as mãos procurando segurança, não havia nada,

Minhas ideias estavam em queda acentuada, pareciam negativas,

Eu poderia apostar que tudo fugiria do controle para sempre,

Que ele me acharia boba, recusaria o meu convite,

Apostei em qualquer coisa, menos que ele pararia na minha frente,

E ficaria a me olhar com aqueles olhos escuros e cor da noite,

 

Como se me visse submissa, presa indefesa, cegada ante ao seu charme,

Seu eu possuía alguma chance de ver algo além dele a minha frente,

Aquela chance se esvaiu como a minha coragem, que perdia-se no horizonte,

Por mais que eu perdesse a chance de ficar calada, não iria me conter,

Me controlei o melhor que pude, pior que estava não parecia ser possível,

Me sentia ridícula, francamente, ele ficou sério, me olhava estonteante,

 

Ao romper da sua fala, eu tinha certeza, me esvairia ao chão silenciosa,

Minhas mãos abriam-se e fechavam e não havia nada em que apalpar,

Nada para acalma-las, maldita calca jeans que deixei jogada sobre a cama,

Tivesse com ela, poderia me aproveitar dos seus bolsos soltos,

Me esconderia inteira nela, só sairia de lá ao me sentir segura,

Que mal poderia haver nisso? Havia sim, um grande mal

E ele estava parado a minha frente ereto e me consumia com os olhos,

 

Bem, ante a ausência da calça jeans ao tremor que me percorria, algumas palavras fluíram,

Cheia de um sentimento poderoso que eu não conseguia, nem queria controlar,

Me agarrei com as duas mãos a chance única, se a chance se rompesse eu cairia,

Ele me parecia bem diferente das pessoas que veem as moças caídas sem se importar,

Com a voz tremula arrisquei as primeiras palavras: olá, moço bonito, arrisquei um sorriso,

Seu cadarço está solto, temo que possa se machucar, bem, não é uma técnica de conquista,

 

Eu continuava, enquanto ele se abaixava com um sorriso caloroso e seguro,

Mas, eu adoraria ser sua companhia para uma caminhada, café ou o que for,

Morte súbita para a minha timidez, sim aceito, ele disse com voz grave e meiga,

Ofereci minha mão para que ele pudesse levantar-se, me aproximei do seu peito,

Agora, a centímetros do seu corpo, me sentia perfeita, como se eu fosse única,

Abri meus lábios, ele olhou para trás, como se eu me referisse a outra pessoa,

 

Aproximei-me mais um pouco, agora podia sentir seu cheiro me envolver,

Seu calor parecia penetrar minha pele, rompendo um rubor em minha face,

Meu coração não dava intervalos para que eu pudesse pensar,

A sede em minha boca dificultava sobremaneira, não conseguia ignorar,

A expressão dele ficava contundente, eu arrisquei-me a provocar,

 

Baixei a cabeça para o lado, levei os olhos para baixo,

Meu comando inseguro foi tomado por um gosto severo,

Ele segurou meus braços de um jeito apertado,

Ergui-me na ponta dos pés com um sorriso no rosto e provei seus lábios duros. 


domingo, 21 de fevereiro de 2021

Repensando Sobre o Assunto

 

A revelação que pretendo fazer agora,

Embora não seja, de todo, necessária,

Pode conter alguma valia, confiarei nisso,

Preferia manter a boca fechada, privar-me de pensar,

Mas como sabem, é de conhecimento público,

Se tem coisa que não aprendi foi me calar,

 

Contarei a história de ninguém que era alguém,

Talvez, revele segredos quem sabe os esconda;

Havia, certa mulher que se apaixonara perdidamente,

Neste amor sôfrego entregou tudo que sentia,

Sua alma, sua vida, sua inocência, ela acreditava no amor,

De outro lado do pacífico, bastante distante de todos,

 

Havia um certo homem, ele era forte e austero,

Falava sobre o amor e reconhecia-o em cada rosto,

Como esta realidade está distante de cada um de nós,

Cabe a cada um decidir seguir adiante na história ou não,

Eu como redatora terei que transcrevê-la, o contrário seria insensato,

Não descarte a possibilidade de reconhece-la por mero reflexo,

 

Encolho os ombros e retorno a mulher antes identificada,

Era linda, morena, média, mas poderia ser diferente,

Cada detalhe humano pode ser modificado conforme queira,

É de conhecimento público os milagres que a maquilagem e o salto tem feito,

Essa história chegou até mim por terceiros, creio em sua veracidade,

Conto-a conforme é do meu conhecimento, sem poupar detalhes,

 

A contagem durou um dia e uma noite, eu participei passiva,

Ela acreditava fielmente sobre amar com toda a alma,

Mas entregou-se a pessoa errada e saiu ferida, magoada,

Vertiam lágrimas do seu olhar assim como o sangue da sua alma,

No lugar que outrora residia o amor, nascera um vazio profundo,

Nesse vazio, ela se perdeu até não conseguir reconhecer-se mais nela,

 

As lágrimas que molharam o piso frio em que foi magoada,

Fez com que escorregasse, encerou esvaída de tudo que sentia,

Ele jurava amor com a mesma boca com que sugava sua alma,

De beijo a beijo tirou-lhe a vida e sonho a sonho que possuía,

Colocou-a lançada ao chão apenas para sobrepor-se a ela,

Usou da força que possuía para abraça-la e mantê-la ali jogada,

 

Enquanto ela chorava e gemia, repelindo aquele amor falseado,

Ele afagava sua alma com palavras vazias e introduzia em seu corpo

Sonhos que nunca chegariam a ter vida, ela esquivava-se e ele a buscava,

Ela esforçava-se para acreditar, acreditava no amor, em que mais se apegaria?

Em razão disso, embebia em amor cada palavra, se entregava em cada afago,

Se fez dele, não por não ter alternativa, mas por acreditar que poderia salva-lo,

 

Ao ver a veracidade nela, ele passara a rejeitar a si mesmo, não se compreendia,

Mas seu pensamento viajava alto demais para controlar, ela soava feito veneno,

Ele acreditava que podia consumi-la em pequenas doses sem se machucar,

Ledo engano, a máscara caía no vão de cada afago, manchando seus dedos,

Quando se percebera inquieto e insatisfeito sem a calma que encontrava nela,

Ele foi buscando-a cada vez mais, porém do amor que provava não devolvia,

 

Ela foi ficando vazia, a dureza dele pesava sobre ela, mantinha-a reduzida,

Ela tentava repelir, não conseguia, via-se sem saída, passou a afastar-se,

Tentou fazer em si uma abertura em que pudesse se refugiar, mesmo que trôpega,

Ele sentira isso nela, então a repelia, agora mais que antes, evitava seu olhar,

Os olhos vítreos que a fitavam outrora agora não conseguiam se focar nela,

Era intenso demais quando ela procurava por ele e não encontrava nada,

 

A verdade sangrava a pele dele e ele investia contra ela incontido,

Acreditar nos sonhos aos quais ela se apegava nunca o fez sentido,

Tentou convencer a si mesmo que a deixaria para trás,

Entregue a um passado distante, depois de acreditar que ela já estava absorta,

Perdida de si mesma, caída em um vazio do qual não sairia,

Contudo, incapaz de sustentar seu olhar ou de cumprir com o que dizia,

A jogou de cara no chão, rompendo qualquer barreira dela,

Afagou seu coração, com a mesma mão que a prendia e ainda a feria,

 

A sufocava, prometia amor em sua frente e violava-a por trás,

Com suas investidas fortes e intensas, rasgava sua alma ao meio,

Esvaída ao chão sem vida, nem mesmo mulher seria, o que ela era?

Seu corpo se transformava, agora ela era um objeto aberto e incerto,

Algo inconsistente ganhava suas ideias, ela não reconhecia a si mesma,

Cada sonho seu estava esmagado ao colocar-se contra aquele corpo frio,

 

Aqueles olhos vítreos que cruzou com o seu destino, esmagava-a,

Iniciava com flores e promessas, molhava cada palavra que falava,

Depois usava suas lágrimas para ferir tudo em que acreditava,

Sangue, suor e lágrimas misturavam-se contra os músculos dele, ele não percebia?

O amor que você fala, você não é capaz de reproduzir, ele sussurrava,

Ela escondia a cara, jogada em lençóis macios, ele não desistia, desistiria?

 

Lá do outro lado do pacífico, ele usava a fala dela, dessa vez contra um homem,

Esse amor que você acredita, ela acredita também, você não sente?

Ela sofre, você permanece inerte? Faz promessas, fala de amor, e como você age?

Este homem que sentia e acreditava no amor, realmente não sabia o que fazer,

Não se sentia preparado para um diálogo tão bem colocado,

Se prostrou de joelhos, estou pronto, respondeu-lhe, aflito e inseguro,

 

O outro, que de alguma forma conseguira atravessar suas barreiras,

Aproveitou o momento, com um movimento bruto e ruidoso,

O colocara de costas, de cara no chão, assim não veria suas lágrimas,

Investiu contra ele com toda a força e física, o ódio embebia seus olhos,

Absorvia o cheiro do sangue em pequenas doses calculadas,

Ereto, ajeitara os músculos e o feriu com movimentos acelerados,

 

Poderia tê-lo matado com um tiro certeiro, mas fez melhor que isso,

Ejaculou em seus pensamentos, engoliu seus sonhos, esvaziou-o de si mesmo,

O amor em que ambos acreditavam os fizeram sangrar sob dedos frios,

Os gemidos que os acudiriam não foram ouvidos, seriam, então reproduzidos?

Agora a mulher ferida pelo amor encontrava o mesmo amor ferido,

É certo que cabe muita compreensão sobre o assunto, eu ainda estou repensando.

Sorriso Bobo em Meus Lábios

 

Talvez eu conseguisse convencê-lo, iria tentar a sorte,

Dizem que ela costuma ficar ao lado de quem a busca,

Embora eu não acreditasse tanto nisso, iria arriscar-me,

Dizem, também, que quando não se tem nada a perder,

Pode-se arriscar tudo que quiser, aí é que reside o engano,

 

O que se está sendo oferecido nem sempre é favorável,

E quando o é, pode deixar de ser obtido facilmente,

Há uma linha tênue que separa o querer do obter,

Nesse sentido, opera-se sob a presunção da confiança,

Objetivo em mente, sorte grande para principiante,

Talvez, eu não conseguisse convencê-lo, também...

 

O amor era muito próximo dele, embora eu gostasse disso,

Isso também me deixava longe, me fazia sentir errônea, um pouco,

A liberdade se colocava diante dele sob a garantia do segredo,

Não consigo me convencer sobre viver uma vida às escondidas,

Contudo temia a exposição, mas as vezes ela parecia solidária,

Entendo que quando a confiança é violada há uma espécie de repulsa,

 

Eu o encarei, dispersa demais para compreender seus desígnios,

Ele é lindo, com uma inteligência irredutível, confesso que o admiro,

Havia tanta coisa envolvida entre nós dois que eu não compreendia,

Mas, com aquele jeito másculo ele sabia contornar bem as coisas,

Sempre me convencia de estar certo, embora discutíssemos, às vezes,

Esclarecíamos sobre um ponto ou outro, mas permanecíamos juntos,

 

Eu me colocava distante dele, mas voltava aos seus braços depressa demais,

Ansiosa, como sempre, olhei-o e o quis de qualquer forma que fosse,

Se isso não faz sentido para você que está a me ouvir, faz o suficiente para mim,

Sabe aquela confiança que não se abala por nada? Aquele desejo intenso,

Que inflama a distância até colocarmo-nos juntos um do outro,

É uma espécie de chama que queima a distância, reduzindo-a as cinzas,

 

Chama parece a palavra mais apropriada para definir seu olhar,

Sendo a distância queimada, suas palavras soam feito afagos,

Em uma brisa fresca que manda as cinzas embora para outro lugar,

Mantendo-a longe de nós, como se nada pudesse ferir nosso amor,

Fossem as cinzas remessadas contra nosso rosto, poderia ferir-nos,

Colocando-se sob os nossos pés, serviriam de fomento aos nossos sonhos,

 

Assim somos nós dois, unidos em objetivos conjuntos e exitosos,

Me esforço para isso e ele se esforça por nós, nada de bagagens,

Reduzimos o excesso, de roupagem apenas os sonhos que sonhamos,

Talvez essas palavras possam soar com ares de bobagem,

Faço aquele meu sorriso bobo, olho um pouco para o outro lado,

Desentendida é a definição para quem pede abraço apertado,

 

Ele sabe disso, nunca se recusa a me brindar com seus sorrisos,

Sorriso é a manifestação do sentimento que encurta distâncias,

É o estimulo para que dois braços se abram na direção do infinito,

Por estar abraçando quem não está tão próximo do contato,

É a senha padrão que diz, sinto sua falta, não te esqueço nunca,

Quando o sorriso soa torto, os braços se fecham em torno de si mesmo,

 

Longe do olhar, guardada no peito, abraçada do mesmo jeito,

Sozinhos ou em frente a terceiros, essa é a nossa forma de amar,

Se com isso afetamos aos outros, importa-nos amarmos ao máximo,

Embora não passe por nossas almas poder ser a última carícia,

Como sempre nos amamos mais a cada segundo, demonstramos,

Creio que a culpa seja recíproca por nos amarmos em demasia,

 

Com essas palavras espero ter deixado o meu recado gravado,

Para que ele sempre ouça e saiba, de novo, sobre o quanto o amo,

Gosto de lembra-lo sobre nós, gosto de demonstrar o que sinto,

Retribuir o que recebo, acho que esse garoto gosta de mim mesmo,

Com um sorriso de cumplicidade, olhei-o mais um pouco,

 

Se o perigo espreita em alguma esquina, nenhum de nós passaria por lá,

Bem, considero que esta questão poderá ser examinada outrora,

Desviei o olhar confusa, amávamos um ao outro na mesma medida,

Não creio ser errôneo constatar nossas diferenças e saudá-las,

Há uma disparidade linda entre nossas alturas, ele é o meu grandão,

E eu a sua pequena, nossos sonhos pulsam em sintonia em nosso coração,

 

Assim que essas duas circunstâncias são acentuadas, tudo muda,

E o amor que não passava de uma estatística se consuma em nós,

Sua voz não consegue me enganar e eu não tento me esquivar,

Conhecemo-nos o suficiente para achar sensato calar sobre o resto,

Embora ao redor tudo se transforme, em nós tudo é como outrora,

É fato que não descarto a ideia de objetar sobre alguns de seus atos,

 

Mas ao final, tudo nos soa feito um conselho romântico,

Sabemos contornar as coisas, ideias esquisitas transitam por minha cabeça,

Há um caminho tortuoso nela, e ele se atreve a percorre-lo,

Lembro de tê-lo alertado sobre saber dirigir, ele se saiu perfeito,

Ainda recordo o meu sorriso satisfeito e o olhar desafiador que lhe dei,

Assenti uma única vez e ele concluiu sem chances de equívocos,

 

Encolhi os ombros naquele instante, precisava fazer algum charme,

Embora não creio que teria desistido de nós de qualquer forma,

Fiz com que tudo parecesse casual, não queria lhe passar as respostas,

Contudo, mesmo acreditando que eu não espionava ele decifrar as coisas;

Bem, ele se esforçou ao máximo e eu não facilitei nenhum pouco,

Esse sorriso bobo que agora brinca em meus lábios, não quer dizer nada. 

Comida do Leito do Rio

E, Houve fome no rio, Os peixes Que nasceram aos montes, Sentiam fome. Masharey o galo Sofria em ver os peixes sofrerem, ...