terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Um Alguém Diferente

Durante um primeiro momento,

Parecera fácil demais escolher a solidão como caminho preferível,

Todavia, passara pouco tempo deste seu entendimento bem definido,

Então, houvera desenvolvimento notável de atitudes a priva-la das suas escolhas,

Tencionando obriga-la a escolher uma vida como a do restante das pessoas,

Era difícil conseguir se esquivar, a cada foto postada sempre um olhar à espreita,

 

Uma investida insatisfeita em busca de conquista-la,

Obriga-la de qualquer jeito a não ficar sozinha,

A cada olhar indagador uma acusação se escondia,

Por que motivo ela escolhe ficar sozinha?

Por que decide não se casar ainda?

A rejeitada a definiam, aquela que nunca se satisfaz,

 

Ela sentia-se reclusa, ninguém aceitava as suas maneiras,

Então, fingia relacionamento para mantê-los a distância,

A visão das pessoas é imperfeita no que refere-se a uma mulher sozinha,

Sentem que há algum problema com ela, que lhe falta algo,

Querem obrigar-lhe a seguir o roteiro estabelecido nos primórdios,

Embora ela se recuse a isso, não significa que não se fira,

 

É difícil seguir na contramão do destino imposto por todos,

É complicado seguir a passos seguros um caminho falseado,

Em que todos escolhem apontar o dedo como se tivessem a direção,

Quando se casam, exigem os filhos, quando não se casam, repudiam,

Exigem um padrão em que ninguém acredita, mas querem que sigam,

Dominar os estilos, as roupas, o conteúdo que leem, o que creem...

 

E quanto mais ela avança por este caminho de ladrilhos sobrepostos no caminho,

Em que a cada passo em falso um escorregão antecede ao tombo,

Ela não tem nada além dos próprios braços para lhe erguer,

Exigem que tenha, olhos assustados a encontram e afastam-se,

Ao colocar-se na contramão do que acreditam, ninguém ousa arriscar-se,

Talvez, temam contagiar-se com seus pensamentos,

 

Assustam-se com a ideia de verem seus erros questionados

E rejeitados por seus atos, a recusam por seus objetivos diversificados,

Mas, talvez, dentro deles algo lhes fale sobre seus desacertos,

Uma pontada de incerteza os critique pelas escolhas impensadas,

É difícil precisar a dimensão de erro de cada pessoa,

Mas existem situações e oportunidades que não voltam atrás,

 

Oportunidades se perdem em cada olhar equivocado,

Em cada palavra dita em hora incerta ou forma impensada,

Em cada gesto feito com o propósito ou não de machucar,

Embora quase sempre haja uma segunda chance,

Existem coisas que permanecem para sempre,

Ela tocou uma flor no jardim que desejava mudar de lugar,

Meneou a cabeça concordando consigo mesma, mudou-a,

Não havia outras preocupações com as quais se conectar,

 

Quanto mais o tempo passava, mais absorvia as coisas que gostava,

Suas manias foram se intensificando, isso era difícil de ignorar,

Agora, ignorava a idade, os cabelos brancos e vestia o que queria,

Guardava a chave do carro onde desejava e saia para onde quisesse,

Mantinha-se por conta própria, quitava suas contas, vivia por si mesma,

 

Mas, sempre espreitava com alguém que se recusava a ela,

Tentavam modifica-la sob todos os aspectos, negavam suas qualidades,

Duvidavam sobre sua força, rejeitavam suas capacidades,

Ela cansou de chegar nos lugares e as vozes se calarem,

Era assunto para tantas fofocas que já não se queixava mais,

Vira seu currículo ignorado e as oportunidades de emprego retidas,

 

Exigiam que fosse como as outras, um salário por suas vontades,

Não estava em questão um trabalho, mas sim uma submissão,

Queriam posiciona-la em sociedade, mantê-la sob rédeas curtas,

Não importava o conteúdo do que acreditava seu coração,

Teria que seguir as regras impostas ou estava fora,

Não tivesse capacidade para se manter sozinha, seria ultrajada,

 

Não importavam suas lamúrias, suas lágrimas, as dores sofridas,

Os calos em seus pés por procurar trabalho de lugar em lugar,

As mãos acostumadas a pegar no batente sem forças para lutar,

As roupas velhas usadas, doadas, emprestadas: se serviam ou não nela,

Nada importava aos olhos cheios de cobiça por sobrepujarem-na,

Sua silhueta esbelta perdera alguns quilos enquanto andava sobre a calçada,

A fome se ausentava a cada final de mês, quando pensava nas contas,

No entanto, nada conseguiu reter sua força de vontade de se realizar como pessoa,

 

Estudara, se esforçara o máximo que pudera e alcançara seus sonhos,

Porém, mesmo agora, ainda era alvo dos mesmos boatos incrédulos de outrora,

Como conseguira se exceder sem se posicionar sobre a mesa do patrão?

Como alcançara formação sem ceder as vontades do professor bonitão?

Como se sobressaíra nos estudos se não pertencera aos grupos do fundão?

 

Como se formara com êxito se nunca submetera-se a fazer uso de cola?

Como conseguira pegar a lotação todos os dias e estudar como estudava?

As vozes incrédulas, os falsos boatos ou o barulho da condução, nada a incomodava?

Como conciliara os estudos com o trabalho, de que forma sustentara a si mesma?

 

A saliva que embebia as palavras das pessoas ao seu redor tinha nome,

Um nome que feria até mesmo ao se pronunciar em pensamento: inveja,

Descrença quanto a sua qualidade e valia como mulher,

O sucesso de uma mulher obriga-a a usar um salto alto,

E vestir-se, comportar-se conforme o padrão escolhido,

Ela fora diferente e alcançara êxito, já conseguem acreditar nisso?


 

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