Ele afundou ainda mais,
Inclinou a cabeça para trás,
Tudo que mais desejava era respirar,
Mas quanto mais se esforçava,
Mais se via agarrado a ela,
Atrelado ao seu pescoço feito uma só carne,
Não conseguia fugir do que sentia,
Sabia que a queria,
Mas, isso não lhe parecia o bastante,
Quem o visse naquela escuridão,
Teria acreditado que usava um tipo de máscara,
Mas não tinha nada a ver com isso sua emoção,
O contrário: era o rosto da moça que viam
E seu olhar que contemplavam,
Achavam que por isso ele estava feliz,
Acreditavam ver sedução e satisfação,
Mas não, o rosto dele estava afundado nela,
De tal forma que não se via nada dele,
Apenas o cafungar sob seu cabelo,
Que esvoaçava-se apenas um pouco,
Ele flutuava sobre a sombra e parecia acolher-lhe,
Ou esconder-lhe,
Quando mais a queria e se entregava a ela
Muito mais se sentia arredio,
Acima da cabeça dele estava aquele rosto lívido
E cheio de cobiça,
A cabeça dele pendia e a procurava,
Fez um esforço em desespero e lançou um pé para trás,
Nisso empurrou de leve a sua cintura,
Seu calcanhar atingiu algo sólido e arredio,
Viu-se resvalar e quase cair ao solo frio,
Mas ela jogou-se sobre ele com toda força,
E conseguiu contê-lo,
Jogou-se como se fosse tudo que pudesse fazer,
Nem ao menos preocupou-se se iria machucar-se,
Naquele instante ele era o de mais importante,
Mas, o coração dele não fez mais que saltitar,
Mesmo a este impacto preferia fugir,
Um ponto de apoio em falso,
O tempo de segundos que não desejou viver,
Ter aquela por quem fugia ser a que o salvaria,
Ele se ergueu, se endireitou sobre ela,
Parecia que queria criar raízes sobre aquele apoio,
O mesmo que o fez cair...
Isso lhe pareceu um degrau necessário,
Algo que daria uma guinada sobre sua vida,
Ao tentar o segundo passo resvalou para o lado,
Sentiu-se retorcer em dor aguda,
Viu-se de joelhos e acabado,
Ela jogou-se sobre ele e o puxou para si,
Mas ele não ousou olhá-la por algum motivo,
O chão até lhe parecia mais convidativo,
Era de todo justo o rasgo na calça e o joelho
sangrento,
Continuou ali a olhar o chão por muito tempo,
Desejou que quando se recuperasse ela não estivesse
mais lá,
Que ao erguer os olhos não a visse,
Com a alma absorta em alguma oração
Viu uma mão estender-se a sua frente de um alguém de
joelhos,
Olhos choravam e um vestido era manchado,
Era ela quem estava caída a sua frente em emoção,
E sentimentos, ele sabia disso,
Sabia que não seria abandonado...
Isso valeu o beijo,
Valeu o anel sobre o seu dedo,
Valeu os anos que viveram juntos.