sexta-feira, 28 de outubro de 2022

De Joelhos

 


Ele afundou ainda mais,

Inclinou a cabeça para trás,

Tudo que mais desejava era respirar,

Mas quanto mais se esforçava,


Mais se via agarrado a ela,

Atrelado ao seu pescoço feito uma só carne,

Não conseguia fugir do que sentia,

Sabia que a queria,


Mas, isso não lhe parecia o bastante,

Quem o visse naquela escuridão,

Teria acreditado que usava um tipo de máscara,

Mas não tinha nada a ver com isso sua emoção,


O contrário: era o rosto da moça que viam

E seu olhar que contemplavam,

Achavam que por isso ele estava feliz,

Acreditavam ver sedução e satisfação,


Mas não, o rosto dele estava afundado nela,

De tal forma que não se via nada dele,

Apenas o cafungar sob seu cabelo,

Que esvoaçava-se apenas um pouco,


Ele flutuava sobre a sombra e parecia acolher-lhe,

Ou esconder-lhe,

Quando mais a queria e se entregava a ela

Muito mais se sentia arredio,


Acima da cabeça dele estava aquele rosto lívido

E cheio de cobiça,

A cabeça dele pendia e a procurava,

Fez um esforço em desespero e lançou um pé para trás,


Nisso empurrou de leve a sua cintura,

Seu calcanhar atingiu algo sólido e arredio,

Viu-se resvalar e quase cair ao solo frio,

Mas ela jogou-se sobre ele com toda força,


E conseguiu contê-lo,

Jogou-se como se fosse tudo que pudesse fazer,

Nem ao menos preocupou-se se iria machucar-se,

Naquele instante ele era o de mais importante,


Mas, o coração dele não fez mais que saltitar,

Mesmo a este impacto preferia fugir,

Um ponto de apoio em falso,

O tempo de segundos que não desejou viver,


Ter aquela por quem fugia ser a que o salvaria,

Ele se ergueu, se endireitou sobre ela,

Parecia que queria criar raízes sobre aquele apoio,

O mesmo que o fez cair...


Isso lhe pareceu um degrau necessário,

Algo que daria uma guinada sobre sua vida,

Ao tentar o segundo passo resvalou para o lado,

Sentiu-se retorcer em dor aguda,


Viu-se de joelhos e acabado,

Ela jogou-se sobre ele e o puxou para si,

Mas ele não ousou olhá-la por algum motivo,

O chão até lhe parecia mais convidativo,


Era de todo justo o rasgo na calça e o joelho sangrento,

Continuou ali a olhar o chão por muito tempo,

Desejou que quando se recuperasse ela não estivesse mais lá,

Que ao erguer os olhos não a visse,


Com a alma absorta em alguma oração

Viu uma mão estender-se a sua frente de um alguém de joelhos,

Olhos choravam e um vestido era manchado,

Era ela quem estava caída a sua frente em emoção,


E sentimentos, ele sabia disso,

Sabia que não seria abandonado...

Isso valeu o beijo,

Valeu o anel sobre o seu dedo,

Valeu os anos que viveram juntos.


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