sábado, 22 de outubro de 2022

O Tempo

 

Se a sede predomina,

Eu prefiro a morte rápida,

Sonhar com sua boca sem tê-la,

Não é viver para quem não se sacia com nada,


Preciso de você, baby,

- Querido, um dia...

Uma lágrima molha seu olhar e percorre seus lábios,

-Querida, um dia é tempo demais para quem ama tanto!


Talvez, ela pensou,

Ele precisasse de algo mais sólido,

Havia frieza nela,

Não tinha como negar,


Havia algo a distanciar...

- Bem, solidez, concretude, calor e proximidade?

Ela o indagou com lábios trêmulos,

Sentia-se pronta para beijar,


Mas faltava um passo para aproximar-se,

E este passo não era dado,

- Amor, para sempre, te peço: me dê algum tempo...


Ocorre uma espécie de submersão espontânea,

Quando se olha dentro dos olhos de alguém,

Uma espécie de sede afoga a garganta,

É como se não fosse mais possível resistir,

Ou saciar-se de nenhuma forma,


Um algo intenso e forte pede para aproximar-se,

Se a distância predomina,

A morte parece ser mais lenta,

Deus sabe que se vive com o objetivo de saciar-se,


Há como ver-se morrer sem fazer nada?

Há um sepultamento próximo,

Quando o coração se apaixona,

Ou ele vem através da garganta árida,


Que só sabe implorar pelo beijo sem nunca tê-lo,

Ou por meio de um contato,

A busca por estar perto,

Corre-se aí o risco da rejeição e do fracasso,


Mas aí a morte vem mais rápida,

Talvez, morra-se neste instante o sentimento,

Ou a pessoa que se era um pouco antes,

Sabe-se que o ser humano transforma-se,


Mas morrer sem lutar não parece ser de todo seguro,

Não quando sua vida pertence a outra pessoa,

Quando sua língua busca as palavras em outro olhar,

Quando a garganta não se sacia por nada,


Uma frase, um beijo, um alguém...

- Querido, baby, tempo é importante...

Quando você me diz que precisa de tempo,

Você me pede importância ou adia?


A lenta sufocação por não saber o que dizer,

O triste fim daquele que ama e não sabe o que sente,

Os lábios selam-se como se embebidos por cola,

Dali não sai nada,


É como se houvesse uma tranca entre eles,

As pernas ficam moles e arredias – distância,

Fracas para seguir adiante,

Desejosas a voltarem-se para traz,


Um sentimento prende a garganta,

Mas não, não se sabe o que é,

Algo com um cheiro doce e desconhecido emerge,

Mistura-se a agonia e parece não se afastar,


Acho que me pertence,

A terra fica com aspecto de areia,

É como se a vista ficasse falha,

Tenta-se buscar ela, - mas ali está a boca fechada,


Estagnada e sem dizer palavra alguma,

Sujeira a embaçar a visão,

Na mente, na alma e na emoção,

Tenta chama-la com um ranger de dentes,


Dentes brancos e fáceis ficam a mostra num sorriso,

Ele o contempla ainda sem conseguir falar,

Debate-se, retorce-se e sente-se agonizar por dentro,

Procura uma resposta dentro de si mesmo,


Este sentimento que sente é enorme,

Mas não, não sabe de nada,

É o que ele decide.


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