sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Saudade

- É a reclusa;
É, parece ser uma mulher.
Diziam os que passavam
Por aquela moradia
Espécie de túmulo ou cova,
Lugar de dormir e esperar,
As vezes suplicando outras rezando.

O tempo levou seu nome,
Rosto e vestes,
Vendo-a ali, presa no esquecimento,
Sempre a esperar,
Por aquele que foi
Mas prometeu voltar.

Sem lamentação,
Apenas espera.
E uma jura de amor.
Havia ali uma espécie de cela,
Cena horrível,
Espera-se e espera-se
Por aquele que não chega.

Os que amam hão de apiedar-se.
Os que sofrem horrorizar-se.
Pobre moça sonhadora,
Já contada entre os mortos,
Um nome escrito no caderno da igreja,
A esperar por seu querido
E o casamento.

Página envelhecida e amarelada,
A apagar-se.
Há temor até nesta verdade.
Murmúrios lamentam pela cidade.
Mas ela, nada teme.
Ama e espera.
Jura que aquele que ama.
Se aproxima.

Um sopro de verdade,
Uma voz de oração em pedra,
Única e inquebrável.
Uma lamparina
Que não se apaga.
Sombra que chega perto,
Mas não pode toca-la.
Aliás, nada pode.
Não depois de ela se entregar a saudade.

Uma alma presa a uma promessa.
Santificado seja o sacrifício.
De vez em quando,
Alguém se arrisca a passar perto,
Não é recebido
E mal consegue vê-la,
Diz ela que está guardada,
E que aquele que ama se aproxima.

Ninguém desacredita,
Muito menos dá importância.
Objeto de espanto.
Escárnio e assombros.
Enterrada viva.
Presa num amor que nunca retorna.
Afugentada numa caixa de pedra,
Presa a ideia fixa.

A saudade.
Saudade.
Saudade.
Quem em você não se comove?!
Mas esperar?
Quem é que amaria com tal esmero?
Chama-se a isto atrevimento,
Ou devoção de uma alma que sofre.

Orelha colada a porta,
Olhar jogado a janela,
Um corpo rolando por uma parede,
Cabelos despenteados,
Roupas desmazeladas,
Uma espécie de invólucro de carne,
Sentimentos e saudades.
Mãos presas as cortinas,
Puxam, cuidam e deprimem.

Quem é este que se permitiu esquecer?
Saudade.
Saudade.
Saudade.
Fez a está alma reclusa
Uma cova,
Jogou-na.
A consumi-la.
A esperança-la.
A fazer lembrar.
A motiva-la.

Mal sabe-se se ela começa a morrer
Ou se achou na saudade
A motivação do viver,
Jogou- se,
Trancafiou-se,
Apodrecem-se as paredes,
Reforçam-se as esperanças.
Inclusa em tudo que sente.
Chega a noite,
Ela fecha as cortinas e dorme,
Chega o dia é a primeira a amanhecer,
Refaz-se de tudo que sente.

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