quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Saudade

Choravam mil frases,

Mil momentos como estes,

Dor e nada além

Lhe rompia sobre a face,

Em lágrimas que desfiguram

Qualquer olhar

E até desvirtuam sentimentos.

 

Alguns empurrões,

Ligações não atendidas,

Alianças não buscadas,

Como a ausência podia

Ser evitada?

Que empoderamento lhe ressoa a

Que a fazia ferir tanto?

 

No lugar de seus beijos,

Neblina de desespero

Lhe cobriam face e seios,

A roupa se ensopava,

O chão começava a escorregar,

Ausência soava a ferimento,

Dor e sangramento.

 

Apenas, de vez em quando

Um suspiro parecia surgir

De seu peito,

E ali morrer absorto,

Afogado por entre dores e lamentos,

Saudade, ausência e distância.

 

O rosto se desfez da vergonha

Toda vez que o procurou,

Que quis com toda alma

Notícias suas,

Estava longe demais de seu orgulho,

Trocou-o por uma roupa sexy,

E partiu para seu paradeiro,

Bateu na porta,

E não obteve resposta.

Ausência e silêncio.

Silêncio profundo

Que se prolonga

Dentro de todo o seu vazio.

 

Aliás, o silêncio,

Que monstro deformados

Ele se mostra,

Diante da menor distância,

Todo o horror desfiguram

Até mesmo melhor amor.

O silêncio é mesmo um lago escuro,

Com ares de luminescência,

Atira-se nele feito idiota,

E não retorna.

O silêncio afoga,

Devora,

Mata!

 

Mas, neste silêncio,

Pior não há,

Que a maldita distância?!

Se assemelha a uma roda de Pelourinho,

Lhe põe de joelhos,

Incapaz e acorrentada,

Exposta de cara a tapas,

Sem poder esconder nada,

Impedida de sentir muito,

Mas sente-se,

Sabe-se que mesmo na dor do suplício

A distância não fica inerte.

Fere,

Queima,

Amortaça,

Golpeia!

 

Colaram-se frases absurdas aos beijos,

Ela permitiu que fossem coladas,

Obrigaram ao silêncio,

Ela permitiu ser silenciada,

Impediram ao distanciamento,

Ela permitiu ser distanciada,

Mas, entenda-se:

O não ouvir ou entender,

O calar a voz de uma garganta ferida,

O distanciar de quem se ama,

São coisas que matam.

Morta estava.

Morta sentia-se.

Morta e ninguém duvidava.

 

Afivelada,

Golpeada e golpeada,

Exposta, domesticada,

Embrutecida.

Saudosa.

Viam-se na sua cara

Correr mil filetes de lágrimas

E não duvidariam: sangue.

Mais que chicote,

Lhe doía a ausência.

Suas lágrimas caiam por sua face,

Caiam por seus ombros,

E atiravam-se contra os que passavam.

 

Sofrimento amargo e profundo,

Qualquer um que visse se compareceria,

“Ninguém quer a vida dela”

Repetiam entre si.

Até, que então, ela não se mexeu mais.

Permaneceu onde estava,

Com as mãos no peito,

Como se estivesse morta,

Olhos fechados e cabeça caída,

Não havia-lhe único movimento,

Nem ao menos de suas mãos

Para estancar as lágrimas,

Ou de sua voz

A gritar sagrado nome,

O do tal homem

Que tanto amava!

 

Foram tantos os golpes

Que agora não sabia-se:

Resistia, ou desistia.

Sabia-se: morria!

A multidão parou,

O sinal do tráfego fechou,

A velha com a criança passou,

Ele não voltou,

Ela chorou

De olhos fechados

E chorou,

De luzes apagadas e sofreu,

Com sol escaldante e chorou.

Rosto inchado de dor

E chorou.

Convites de consolo,

Recusou.

Olhares piedosos,

Chorou.

O amor quando abraça afivela,

Ele parte e não solta.

O amor tem garras.

A moça chora.

 

Estás palavras são uma tentativa

De explicar a dor de quem ama,

Estás situações ocorrem ao mesmo tempo,

Um lado, que tento contar,

Sente dor e quer estar perto,

O outro do qual não tenho notícias,

Fica distante,

E não aparenta querer estar perto,

 

A primeira parte só sabe lembrar,

E chorar por saudade matadora,

A segunda, talvez esteja em festa,

Ou vivendo qualquer forma de vida,

Uma espera e chora,

A outra passa por está mesma rua,

Para, olha e não comemora.

Ou comemora.

Quem é que pode falar de seu íntimo,

Passar e olhar e admirar,

Mas não se aproxima.

Ambos calados.

Mas há, então, as lágrimas.

De um lado.

 

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