Essa era sua décima folha de papel
Nervosamente amassada e remessada ao lixo,
É certo que ele não era dado a romances,
Mas queria muito demonstrar seu amor,
Ela merecia ouvir cada palavra
Que ele tinha dentro da alma,
Até que ela soubesse o tanto que a amava,
Mas como declarar um amor que se quer para toda a vida?
Abriu as persianas, contemplou a noite escura,
Parecia vê-la refletida em cada estrela,
Com um suspiro rouco ele sorriu,
Precisava vê-la, ele sentiu,
Não confiava em si mesmo ao lado dela,
Nunca soube o que fazer para conquista-la,
Havia feito uma promessa de guardar uma distância segura
De ao menos três passos dela,
Menos que isso ele sabia: não resistiria,
A força do seu olhar o contagiava,
Seus olhos brilhavam feito estrelas,
Não por lágrimas mas por algo diferente,
Algo que ele desejava ardentemente que fosse amor,
Uma emoção muito forte, talvez?
Mordeu o lábio, precisava vê-la,
Ansiava por beijá-la naquele exato instante,
Não suportaria um segundo a mais sem sua presença,
Seu nome seguiu o rumo do seu coração,
Embargando a garganta até chegar a boca,
Em um sussurro rouco confessou a si mesmo:
Eu a amo com intensa paixão,
Ele já havia se acostumado a pensar nela,
Porém, suas lembranças estavam indo busca-la
Com uma frequência muito maior do que pudesse controlar,
Se tornou rotina parar para admirar a lua,
Apenas para trazê-la um pouco mais para perto,
Perto dela não conseguia nem ao menos pensar,
Imagine se conseguiria falar,
Mesmo agora as palavras não se formavam,
Nada parecia expressá-la com exata convicção,
Mesmo se no papel desenhasse o próprio coração,
Queria beijá-la com toda a emoção que sentiu
Nos dias que se passaram lentamente
Depois de último dia em que a viu,
A emoção das noites insones, do calor febril,
Queria senti-la derreter novamente em seus braços
Embebida no calor que possuía em seus beijos,
Queria beijá-la até esgotar todas as suas forças,
Até que faltasse o ar para respirar,
Até senti-la tremula em seu abraço,
Vencida pela intensidade do seu amor,
Lembrou de quando a beijou pela primeira vez,
Sentia-se inseguro, lembra de ter iniciado com um beijo na
testa,
- Você gosta assim? Lhe pediu com sofreguidão,
Depois a beijou na ponta do nariz – e assim, você gosta?
Então, com medo de não conseguir controlar-se,
Apenas roçou seus lábios sobre os dela,
- E assim, você gosta? As palavras saindo-lhes tremulas,
Respiração de ambos entrecortadas,
Ela o olhou com estranha admiração,
Ela sentia-se muda, sua voz falhou na garganta,
Sentia algo muito forte, o que falaria?
O calor que exalava de ambos era algo estranho,
Algo que nunca haviam nem ao menos sonhado,
Rendendo-se as mãos do desejo,
Extravasaram suas emoções em um beijo faminto,
De início um pouco ingênuo e depois mais exigente,
Daqueles que tornam as roupas meras lembranças,
Apesar do ambiente a meia luz onde se encontravam,
Ela podia sentir a intensidade do seu olhar,
Sobre cada parte do corpo dela,
Seus olhos verdes dominando-a, rendendo-a,
Ele tinha um olhar másculo e intrigante,
Contudo, sua boca era perversa,
Não admitia reservas, não admitia medos,
E ela amava cada momento,
Ele sabia disso, ela lhe confessou no intervalo dos seus
beijos,
Porém, o que dizer a ela?
Ele se esforçava para ser bom, honesto e verdadeiro,
E segundo ela, ele conseguia isso com maestria,
Mas quando se tratava de declarar o que sentia,
Ele falhava, sabia... rabiscou algo em um papel,
Passou uma gota do seu perfume,
Jogou ali uma flor de forma desajeitada,
E a entregou com um sorriso que refletia a alma,
Ela o abraçou com todo o carinho,
Então se afastou emocionada, sorrindo,
Ele sabia o quanto a agradava,
Afinal ela amava ser paparicada,
Ela baixou os olhos para o bilhete,
Com o coração aos saltos,
E o pulsar do coração por testemunha,
O viu refletido dentro de si mesma,
Guardado, e percebeu que não tinha medo,
Após leu, sentindo o olhar marejado de lágrimas,
Depois, levantou os olhos para cima e o encontrou,
Ali, parado, esperando-a com aquele seu peculiar
Jeito gentil e amoroso que ela tão bem conhecia,
Também, te amo meu amor,
Sim, eu aceito ser sua para toda a vida.