Que falava de um mundo de papel,
Rasurando palavras de amor,
Desejei participar daquele sonho,
Desistir daquele mundo de imagens,
Que outros denominariam aparência,
Arranquei aquelas páginas
Sem medo algum em minha alma,
Com um misto de raiva e impaciência,
E as amassei como alguém que se recusa
A este mundo surreal de amor inventado
Senti um vento gélido entrar pela janela aberta,
As folhas amassadas em minha mão
Que falavam de um amor sem coração,
Tinham peso nulo dentro de tudo que eu sentia,
As joguei na lareira apenas para vê-las queimarem,
Queria excluir aquilo que falava de algo tão belo
Sem crer em nenhuma palavra do que dizia,
Surpresa, vi que o fogo consumia as folhas,
Porém, as palavras saltavam aos olhos
E continuavam ali, intactas,
Elas pareciam acreditar no que diziam,
Fossem feitas de mentira,
Porque resistiriam?
Aquelas letras borradas por minhas lágrimas
Pareceram um tanto preocupadas
Enquanto gritavam o nome dele
Em uma espécie de sussurro que só eu ouvia,
Deslizei até o chão frio,
Olhos transbordantes por lágrimas,
Sentia dentro de mim que acreditava no amor,
Quando ele invadia minhas lembranças,
O que fazia com certa frequência,
Podia ver seu rosto, sentir seu cheiro,
Quase provava o sabor da sua boca,
Contudo, não queria admitir que o amava tanto,
Porém, nada o tirava do fundo da minha alma,
Sensação inquietante e esperançosa,
Lancei um olhar para a taça de vinho,
Um tanto quanto fora do seu alcance,
Pousada a três passos de distância,
Desejei apenas me embebedar,
Perguntei-me qual seria a energia necessária para me levantar,
A quantos passos mesmo estava o vinho?
Três, quatro, dois, um talvez?
Dali onde estava a taça não parecia estar tão longe,
Mas a saudade drenava as minhas forças,
Preferia continuar onde estava, vendo o fogo queimar
Cada palavra escrita e levar com ele meus sonhos,
Será? Será que era isso mesmo que eu queria?
Me entregaria assim mesmo, sem tentar?
Cheguei a acreditar que nunca me apaixonaria,
Então, por quê ele surgiu em minha vida?
Juntei toda a minha força e levantei até a taça,
Em três golpes sorvi todo o líquido,
Senti-me tonta, as pernas trêmulas,
Mas em meu coração um vazio me consumia,
Doce saudade que a tempos me atormentava,
Trazendo sensações que não me preenchiam,
Precisava dele, só mesmo ele me entendia,
Eu o amo, há nisso algo errado?
Mãos trêmulas, toquei meu próprio rosto,
Senti-me aquecida, desejei esperá-lo mais um pouco.
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