terça-feira, 22 de dezembro de 2020

A Te Contemplar

Vou escrever sobre algo que aprendi

Em tenra adolescência, em meados de 99,

Sentei-me na janela contemplar a tardinha que partia

De braços dados com o sol, a se pôr no horizonte,

 

Ursinho do lado esquerdo, cabeça recostada no batente,

Mas meus olhos estavam adiante, um tanto, distantes,

Há instantes na vida em que a gente fecha os olhos e pensa:

Que seja para todo o sempre,

E este possuía tudo para realmente o ser,

O céu ganhou um colorido especial, um misto de cores vibrantes,

 

O mato a minha frente estremecia, encantado,

As folhas dançavam no ritmo mais bonito,

Mas o sol disfarçava-se em forjada indiferença,

Escondendo-se por detrás da sua cortina de fagulhas,

Em dissimulado desleixo como se dissesse “irei embora,

Mas, por favor, apenas agora, não sinta minha falta”,

 

Pouco a pouco, se deitava para além de algum lugar,

Tentativa vã de que o calor oferecido de si mesmo

Se perdesse por entre as flores, a terra, as árvores,

Restando para consolo pequenos pontinhos no firmamento,

Queira Deus que colocasse uma vírgula naquele céu de dezembro,

Desejei por profundo capricho, mas o que estava perfeito,

 

Estendeu-se feito meia luz sobre a terra, tocando-a,

Como se mãos febris afastassem o véu da noite,

De forma sutil, em meu íntimo eu soube: o sol sorria,

Então levantei os olhos um pouco mais para o alto,

E pude avistar o motivo: a lua brilhava em vírgula,

Com aquele seu meio sorriso de mãos em concha,

 

“Estou aqui disse ela, não a deixarei sozinha,

Haja vista necessitar que o sol me observe a espera,

Eu me prontifico a desenhar uma vírgula na linha do tempo,

Para que você possa seguir o destino que te espera,

Não permita-se ficar por longo espaço nos braços do medo,

Com seu sorriso sincero não haverá empecilhos que te prenda”,

 

Senti ela me sussurrar na brisa fresca que envolvia minha alma em êxtase,

E me inundava em profunda alegria, nunca sentida e que desejei reviver

A cada dia, senti que tudo com que sempre sonhei desde menina,

Estava ao alcance da minha mão, conforme eu desejasse, acreditasse,

Se mesmo o escuro da noite se rende em reverencia a lua,

Eu decidi que acreditaria em meus sonhos e mais: lutaria por eles,

 

Decidi que caminhar olhando para o chão seria um tanto inapropriado,

Se os ladrilhos da lua estavam no céu eu andaria por seu brilho espelhado,

Olhos sempre adiante, sorriso nos lábios, o coração a guiar-me feito amuleto,

Percebi que a realidade é criada pelos olhos de quem a vê,

Porque, não existem pessoas iguais, nem destinos imperfeitos,

Tudo está colocado de forma astuta, desenlace através do qual tudo se resolve,

 

Não me permitiria caminhar de olhos fechados, cega para o meu redor,

Se a lua me presenteava com seu brilho, eu aceitaria de bom grado,

Eu sonhava alto, acreditava na força que a vida em si possuía,

E mesmo vindo outros tempos, de guerra disfarçada pela ganância,

Eu guardaria a certeza: continuaria a acreditar e a buscar outros tempos,

Se a lua colocava uma virgula, eu me comprometeria: seguiria...

 

É claro que diante da imensidão do mundo, me senti trêmula,

Insegura, há tempos em que, acredito, mesmo a lua estremeceria,

Me reservei, coração firme, mãos hábeis, afastei as luvas e toquei,

De forma decida, entreguei em uma carícia, no amor que exalava

Muito mais de mim do que cheguei a acreditar que buscava,

Naquele instante, não desejei mais do que ser retribuída,

 

A ninguém é dado perder-se para ser encontrada,

E meu coração falava alto demais para não ser ouvido;

Eu buscaria, percorreria a distância que fosse necessária,

Diante de tudo que o céu irradiava eu não me permitiria vagar feito objeto,

Se a própria lua se curvava, porque eu me privaria de ser humana?

Eu amava de forma intensa demais para me estagnar ao nada,

 

Entre percalços e tropeços eu me permitia, a partir daquela hora,

Dez e trinta da noite até as horas futuras,

Amar no volume máximo que podia, nunca me calar para o que sentisse,

A certeza da lua refletia em minha alma, e eu a reproduziria,

Se o mundo se calou para a sua voz imaculada,

Eu a falaria, se a luz que fez o mundo girar, agora o escondia,

 

Por que eu deveria me calar se ainda o via, e mais, o sentia...

Não conseguiria negar-me ao impulso de buscar uma saída,

Enquanto houvesse algo bom em que acreditar,

Mesmo que absorto em certo lugar, eu desvendaria,

Mas, por enquanto, me permitiria mais algumas horas

De pura contemplação, afinal, a lua estava a me olhar,

Olhei para o relógio de horas adiante: lá estava ela...

 

domingo, 20 de dezembro de 2020

Noite as Escuras

 

Eu seguia caminho ao sul de certo lugar,

Uma nuvem de poeira me fez calar,

Piscar e em seguida parar de olhos fechados,

O vento parecia estar desalinhado dos meus planos,

Virei-me por dois pequenos minutos,

Permiti-me pensar um pouco sobre o assunto,

 

Foi quando o vento cessou, eu me admirei por isso,

Depois de tudo revisto, parecia ser adequado dar prosseguimento no feito,

Quando se acredita em algo de verdade,

Sabe-se que até o impossível é capaz de prover o alcance,

Mas, talvez não no outono, nem mesmo no inverno de 1999,

Com um pingo de sorte, talvez ocorresse um pouco antes,

 

Quem sabe, na vontade que a Deus pertence...em instantes;

Observei a nuvem de poeira levantar-se para o firmamento,

A brisa soprou em meu rosto de forma refrescante,

Deixando o chão em que eu pisava nitidamente limpo,

Levantei os olhos para o horizonte, sorriso radiante,

Os pássaros brincavam ao meu redor, felizes e absortos,

 

Sorri diante disso, dessa vez com uma ponta de incerteza,

Parecia-me, naquele instante, que para seguir teria que abdicar de algo,

Eu possuía muitos sonhos, se não lutasse por eles, perderia de qualquer forma,

Mas, logo mais adiante, só Deus poderia prever o que me esperaria,

E depois, ainda mais a frente, não havia visão que me precavesse do futuro,

Andar com olhos incertos me parecia demasiadamente vago,

 

Estendi a mão para o alto buscando um pressagio, um aviso sobre algo,

Porém, não permiti em nenhum segundo que o medo me parasse,

Apesar de a cada distância percorrida algo deixar meu instinto intrigado,

Eu confiava que tudo daria certo, precisava seguir o roteiro,

Que eu mesma me permiti escrever quando desejei sonhar a alguns anos atrás,

Nada passava despercebido, tudo era envolto por uma espécie de relevância,

 

Sobre aquele manto que tentava camuflar os acontecimentos ao meu redor,

Eu desejei, com toda a intensidade, desvendar, retirar, deixa-lo as margens,

Não me pareceu correto que o meu redor se apresentasse tão incerto,

Naquele mesmo dia, meus olhos tinham outro significado, então, na calada da noite,

Eu ainda parecia vagar, mas na verdade, já não eram expectativas que me moviam,

Mas uma força muito maior, meus dedos compunham roteiros feito uma espada flamejante,

 

Mas ao invés de desejar queimar ou ceifar vidas como em pensamento do que é comum,

Eu transcrevia a verdade dando vida as linhas de um caderno qualquer,

Guardado comigo como um amuleto, que talvez, algum dia pudesse fazer sentido,

Quando a notícia ganhasse as páginas de algum jornal da cidade traçado em linhas de sangue,

Mesmo que em última instância, aberto, desvendado aos olhos de algum tribunal,

Selado pelo compromisso de uma jura temerária a Deus de dizer a verdade,

 

Algo me instruía para o fato de que ao traçar aquele trajeto perdido e distante de tudo,

Eu teria, em algum momento, que pesar meu itinerário na balança da justiça,

Se fosse o caso, depois de confessar a Deus todos os meus pecados

E obter sua remissão, sempre guardei comigo esta certeza,

Conforme rezava minha antiga Vózinha, que Deus a tempos a guardava ao seu lado,

Eu sempre estaria protegida e abrigada de todo o mal a se estender no meu panorama,

 

Até aquele momento, não havia nenhum impasse, nada que pudesse me fazer desistir,

Nenhum preço seria alto o suficiente para deixar de lutar por uma vida em dignidade,

Quando se luta por o que se deseja, há cinquenta por cento de chances de se conseguir,

Porém, suas chances mudam para zero quando, no caminho, se desiste,

Eu precisava de um lugar para me abrigar, aquela cidade me pareceu um bom lugar,

Haviam muitos recintos em que eu esperava ser bem recebida,

 

O suor escorreu por meu rosto embebendo o sorriso dos meus lábios,

Precisava relaxar, tomar um banho gelado, talvez, ouvir algo

Diferente do barulho dos meus passos que, agora, ecoavam pela calçada malfeita,

Tudo ali era desenhado em um estilo rústico,

Naquela hora da noite, parecia ter parado no tempo,

Como se a vida estivesse se cansado e fugido dali para algum outro ponto,

 

Como um símile de um filme antigo de faroeste,

Localizada a oeste do estado em que havia sido construída,

Haviam muitos segredos por entre aquelas paredes,

Algo dentro de mim gritava estas palavras e eu ansiava para que fossem ouvidas,

Até quando desejariam calar-se diante da verdade,

Espalhada, desenhada em cada estrutura, em cada rosto daquelas pessoas?

 

Se alguém acreditou algum dia que fosse me parar, eu tive certeza,

No primeiro passo que pus naquele chão estendido em um tapete negro,

Não iriam e acredito que, a essa altura, se tivessem um mínimo de astúcia,

Já teriam desistido e quem sabe, empreitado em fuga para um outro caminho,

Gravei cada nome, tracei cada perfil e tive certeza, a justiça os encontraria,

O que eu queria dizer era: nada poderia ser mantido em segredo por muito tempo,

 

Deitei na cama por mim escolhida, fechei as janelas, pensei comigo:

Vá pela sombra o sol costuma ofuscar a visão, até mesmo a noturna,

Acredite, naquele instante em que você se detém para contemplar o firmamento,

Ele fica lá, a espreita, a te desvendar de algum lugar incerto e não sabido,

Ardiloso, adora se esconder em fagulhas celestes, até mesmo na lua apaixonada,

Há quem acredite que ele blefa com a lua somente para derrete-la,

Há quem prefira a hipótese de que ele esteja a corteja-la...

Em breve, quem sabe, isso possa ser esclarecido, algum dia.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Casal Dormindo Juntos

 

Olhara-a, de forma sagaz, no fundo da sua alma,

Apenas para se certificar, ouvir o eco do seu adeus,

Seus ouvidos duvidaram das palavras da sua boca,

Precisava ver a confirmação nos olhos seus,

Embora estivessem juntos a tanto tempo,

Não parecia ser o bastante para mantê-los unidos,

 

Ele fez tudo que pode, amara-a de todo o coração,

Mas ela nunca fora capaz de retribuir, uma vez sequer,

Chegara a pensar que quando dissera que o amava com intensa emoção,

Havia sido algo falso, sentimento passageiro, coisa de instantes,

Futilidade de almas vazias que se entregam por nada,

Vagam sozinhas por não terem com que acrescentar,

 

Uma lágrima quente quisera percorrer seu rosto gelado,

A rejeitara, seria difícil chorar na sua frente,

Depois de tanto e em vão tê-la amado,

Recusava-se a demonstrar amor tão próximo do fim

De todos os sonhos, todos os planos, sem resistir

Baixara os olhos, os dedos bonitos dela puxaram o seu encanto,

 

O anel que a presenteara brilhava, inocente a tudo que se passava,

Parecia indiferente, íntegro, seguro de tudo que um dia houvera,

Ele sabia que ela o gostara, então deixaria que levasse,

Jamais ousaria feri-la de qualquer forma que fosse,

Olhara para a sua mala, as poucas coisas que desejara levar,

Ter algo dele, talvez auxiliasse para que ela o mantivesse na memória,

 

Não importa quanto tempo se passaria daquela hora para frente,

Naquele anel sempre estaria guardado tudo que sentiram um pelo outro,

Os momentos felizes compartilhados, os sorrisos;

Contudo, no momento em que ela virara as costas em direção a porta,

Todo o seu orgulho se consumira em amor,

Pedira que ficasse, não suportaria arcar sozinho com as lembranças,

 

Ajoelhara-se de propósito, pegara sua mão macia entre as suas,

A beijara terna e apaixonado, como sempre faria,

Permitira que as lágrimas percorressem o caminho que quisessem,

Ela soluçara em prantos, ajoelhara-se, também, na sua frente,

“A um homem também é permitido amar e eu te amo”,

Dissera, sentindo-se tremulo, seguro apenas do que sentia,

 

“Eu também te amo, nunca desejei ir embora,

Mas parecia que algo não estava certo entre nós”,

O respondera, enxugando suas lágrimas entre beijos e soluços,

E uma carícia suave que só ela sabia de que forma afagava a alma,

A abraçara apertado, trazendo-a para dentro de si mesmo,

Seus corações pulsavam juntos, descompassados,

 

O amor havia vencido uma discussão para uni-los ainda mais que antes,

Naquela noite, descobriram coisas que a maioria das pessoas nem

Ao menos chega a vislumbrar em qualquer recanto das suas mentes,

O amor levara a ruína as barreiras que os mantinha distantes,

Que os impedia de confiarem um no outro, seus medos escorreram pelos dedos,

Enternecendo-se nas carícias que afagavam seus corpos,

 

O amor é glorioso, mas exige entrega, é trabalhoso,

Não é algo que se constrói de uma hora para a outra,

É feito de pilares resistentes para que não quebrem,

É construído de dentro para fora, dividido, meio a meio,

Tal como cada coração: composto por duas partes,

Não por mero completar de si mesmos, para “bastar-se”,

 

Mas por buscar o outro pelo prazer da sua companhia,

Deixando de lado a ideia de carência afetiva,

Para se abrigar a necessidade de ter alguém que caminhe ao seu lado

Por não ser possível traçar um caminho andando um de frente para o outro,

Andar frente a frente é mero regredir de tempo,

Impossível para quem deseja elevar sonhos de amor,

Vez que, caminhando lado a lado, os dois corações estarão completos,

Pulsando juntos, formando única medida,

 

E o amor que dizem bastar-se por si mesmo,

Extravasa, não cabe em si diante de tanto contento,

É por isso, que ele sempre a colocara dormir ao seu lado,

Sobre o seu peito, onde ela escolhera se abrigar,

Ouvindo o seu pulsar, aproximando seu coração ao dele,

De forma que ele pudesse abraça-la por toda a noite,

Mantendo-a acolhida, amparada em seu abraço,

 

Embora, sempre soubesse que ela também o protegera,

Com seu jeito suave de ser, seu carinho sempre acessível,

Ele adorava ouvir as batidas suaves dela sobre ele,

Aquele aquietar de tudo para que só os restasse,

O fulgor do sorriso terno que o acordara em cada amanhecer...

Seus corações pulsavam na mesma medida, 

Seus sonhos percorriam o mesmo caminho,

O vazio do medo era rompido por afagos apaixonados,

 

Encaixe perfeito para duas almas apaixonadas,

De maneira profunda, íntegra, genuína, que desliza ao seu agrado,

Satisfazendo os sentidos, preenchendo lacunas, formando consistência

Que cura e harmoniza vontades, desejos, carícia que se entrega para ganhar,

Que se derrama através do afagar,

Percorrendo-os; já não houvera mais vazios, 

Restaram apenas duas almas tocadas em amar.

Encontro Casual

 

Como todo o mês tem um dia especial,

Chegou o dia de quitar os boletos, afinal,

Pensou que teria que sair de casa,

Desejou ser o mais rápida que pudesse,

Pegou seu carro e seguiu sua rota,

Esperava que o tempo lhe auxiliasse,

 

No caminho ligou o rádio adorava ouvir as músicas,

Até que parou em uma sorveteria,

O que aconteceu lá a transformaria por inteiro,

Foi coisa que só se vive em sonho,

Tudo que sempre imaginou em seus melhores dias,

Aconteceram naquelas poucas horas da tarde fria,

 

Em uma lentidão terrível que parecia consumi-la,

Sentia que as coisas não se desenrolavam da forma prevista,

Claro, sempre imaginou que algum dia amaria,

Mas ali? Daquela forma constrangedora e de certa forma,

Pesarosa, ela nem em seus maiores tormentos imaginaria,

Ele estava sentado em uma mesa a frente dela,

 

Tomava seu sorvete, falava ao telefone,

Sorria de uma forma cativante,

Do jeito que ela nunca sonhou avistar antes,

Ela mordeu cada parte daquele picolé,

Deliciando-se ao vê-lo derreter em sua boca,

Em sua imaginação, ela o beijava, sugando-o,

Sentiu-se rubra, fingiu dar de ombros,

Apenas para olhá-lo com mais encanto,

 

Havia algo de magico naquilo,

Cada gota que bebia, a preenchia,

A fazia suspirar acordada, como uma menina apaixonada,

Ela desejou que ele se aproximasse e que isso acontecesse

Bem depressa, sua voz era poderosa, quente, suave, macia,

Em um misto de gravidade e melodia que apenas a ele seria possível,

De repente, seus olhares se encontraram...

 

Um pensamento insistente saiu do brilho dos seus olhos penetrantes,

Vindo parar em um sorriso que iluminou sua boca,

Havia um misto de timidez, amor e algo diferente,

Ele havia levantado, porém algo o deteve, não se aproximou,

Ela não resistiu ao impulso e com aquele mesmo sorriso displicente,

Caminhou, do jeito mais eloquente que pode,

 

Até o caixa para fazer o pagamento, procurou por sua carteira,

Não a encontrou, haviam tantas coisas em sua bolsa;

Ela sentiu-se esvair, era como se todo o sorvete que consumiu,

Tivessem se tornado uma bola em sua garganta,

Gelando-a, deixando-a tremula, lágrimas tomaram sua face,

Mas antes que ela embebesse seu sorriso em lágrimas,

 

Ele aproximou-se silencioso, com poucas passadas firmes,

Pondo-se atrás dela, com aquele sorriso de homem seguro,

Que a poucos era permitido ou digno de ter,

Pediu a ela licença, perguntando se poderia ajudar em algo,

Ela abaixou a cabeça, olhou para os pés, não sabia o que falar,

“Percebi que perdeu sua carteira, me permita ajudar”,

 

Falou ele, com aquela voz enigmática que ela jurou jamais esquecer,

Quando o viu abrir a carteira, percebeu que havia um cartão com seu nome,

Sorriu diante disso, era sua oportunidade de aproximar-se,

Se apresentou a ele, saíram juntos até a rua, sem esquecer de agradecer,

Pegaram caminhos opostos, mas ela sabia, depois de tê-lo em seu caminho,

Algum dia, algo os faria se encontrar de novo, não admitiria o contrário,

 

Ela hesitou, tentou se libertar da ideia de conquista-lo,

Mas algo em seu peito a chamava para ele,

Ela soltou um gritinho de felicidade incontida que refletia em seus olhos,

Pensou que a sorte a havia escolhido sem nenhuma impropriedade,

Como se ele a houvesse guiado até aquele lugar por ato de algo maior,

Algo que ela sentia, dentro dela; eram as mãos do amor,

 

Ainda sentia sobre a sua pele o toque dele ao cumprimenta-la horas antes,

Ele parecia pressiona-la de alguma forma, e ela gostava disso,

Os últimos raios de sol se erguiam no horizonte a sua frente,

Ele já estava chegando em casa, solitária, mas contente com aquilo,

Tantas pessoas cruzam pelo amor e não sabem reconhece-lo,

Ela jamais deixaria escoar pelos dedos sua oportunidade,

 

Ela estacionou na garagem, pegou o celular e digitou seu nome,

Encontrou-o em uma rede social e não resistiu: mandou convite,

Um convite singelo, para que fossem amigos, e talvez, pudessem tomar uma cerveja

Pensou alto com um sorriso confiante, ela lambia os lábios com vontade

De provar a cerveja, parecia senti-la percorrendo sua boca,

E poder usufruir de instantes mais em sua companhia, era o que mais queria,

Ele pareceu gostar da ideia, aceitou o convite na mesma hora,

 

Em seus planos e devaneios jamais permitiu-se apaixonar tão rápido,

Mas a quem seria permitido manipular as mãos do destino?

No que tange ao destino, ela era apenas uma serva nada mais que isso,

Não se desviaria dos seus preceitos, não suportaria perde-lo,

Lutou contra a vontade de se atirar em seus braços,

Mas jamais recusaria a oportunidade de tê-lo por inteiro.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Manhã de Outono

Uma semana depois, ele pensou depois de pegar seu número,

Seria tempo o bastante para disfarçar toda a admiração que sentiu,

Apesar do sentimento ter sido forte, ele sabia não era amor,

Talvez algo próximo o suficiente para que ele desejasse vê-la de novo,

 

Porém, a noite transcorreu insone, contou carneirinhos,

Ligou a tv, releu um livro mas nada parecia adiantar,

Aquela voz macia e sedosa parecia ter prendido sua alma,

E mesmo no escuro, seus olhos ainda brilhavam feito estrelas,

 

Desejava ter dançado mais uma música com ela,

Talvez, provar o sabor doce da sua boca,

O hálito quente dela o deixava atônito,

Parecia envolve-lo, não sentia-se preparado para tanto,

 

Toda a intensidade que provou o deixou surpreso,

Era como se os céus descessem e pousassem nos seus braços,

Os mesmos braços fortes que tanto o ajudavam no trabalho,

Agora viam-se trêmulos, inseguros diante da intensidade do sentimento,

 

A música acabou, ele nem percebeu isso, continuou rodando no salão,

Conversando com a moça, sobre o quê, ele nem lembrava,

Apenas seguia o ritmo guiado pelo destino ao som do coração,

Cinco minutos depois, agradeceu a dança e se dirigiu para casa,

 

Sabia que ela estava de carona com amigas e que estava segura,

Sentiu que estaria interferindo se insistisse para leva-la,

E esta intromissão lhe soava um tanto desrespeitosa...

O sol da manhã acordava sorrindo, encontrando-o com um sorriso na boca,

 

Trazendo-lhe a certeza de que as pessoas que amam tornam-se eternas,

Pois já não vivem para si mesmas, mas para algo maior,

Completar alguém, cuidar, proteger, desejar estar perto,

Sacramentar o amor ao unirem suas almas em outra: um filho;

 

Sim, podia admitir agora, foi isso que viu nos olhos da moça,

E que não saia de forma alguma da sua lembrança,

Desde um dia atrás e com certeza, por toda a vida,

Ela o havia olhado de uma forma terna e delicada,

 

Parecia uma menina ao ritmo contagiante da música...

Ele levantou, abriu a janela de vidro e viu as borboletas voando,

Como um arco-íris que brinca no romper da aurora,

Depois desciam brincar por entre as flores do outono,

 

Ele desejou dividir aquele encanto com a moça,

Será que o amor realmente conseguiria uni-los?

Porque sempre que pensou em casar,

Imaginava que seria por uma vida inteira,

Amava de forma intensa, verdadeira, não aceitaria menos,

 

Quando via-se tomando seu chimarrão na varanda,

Sempre imaginou sua família unida, os filhos, os netos...

Aquele amor desenhado no comercial de margarina,

Parecia existir, pelo menos era o que estava em seus sonhos,

 

Ele respirou o ar da manhã, sentindo-se mais seguro,

Acreditava estar satisfeito com as coisas em que acreditava,

Era meados de novembro, 7:00 h da manhã de domingo,

Ao tomar o café da manhã, ele lembrou-se que de início,

 

Desejava apenas dançar uma música com ela,

Depois desejou a segunda, a terceira aconteceu por consequência,

Sorte a sua não ter havido a quarta, pois sabia, teria que beijá-la,

E para isso, teria que admitir que a amava,

 

Conforme o dia tomava forma acordando os campos,

Ele sentia-se voar para longe daquele lugar,

Pegou o telefone, olhou-o inúmeras vezes para ligar,

Mas não se renderia, precisava seguir o plano,

 

Dentro dele havia um homem solitário, porém, o homem solitário sonhava,

Mas sonhar nunca lhe seria o bastante, precisava sentir-se retribuído,

Amar por instantes nunca preencheria suas expectativas de uma vida plena,

Este homem solitário, que contentava-se com pouco, morreu em 1898,

Logo que foi abandonado pouco após o dia do seu nascimento,

Deixado a esmo aos cuidados de estranhos de olhos bondosos,

 

Ele permitiu-se tomar mais uma xicara de café forte,

Sentia conforto naquele ato, queria ligar, mas não parecia prudente,

Não após um único encontro, em que trocaram olhares coniventes,

Ficar tão perto de alguém que se deseja tanto, parecia castigo,

Ela o olhou de forma astuta, depois sorriu em cumplicidade,

Suas conversas ao pé do ouvido agora lhe rendiam belos suspiros...

 

Era difícil demais a ouvir e encontrar forças para resistir,

Suas palavras inebriavam a alma com um enlace cego,

Do qual sabia, nunca conseguiria, nem desejaria fugir,

Ele havia resistido ao amor, guiando-se pelas mãos do destino,

Mas ao provar a delicadeza das mãos daquela moça, tudo mudou,

Passou um braço ao redor da sua cintura, a sentiu recostar-se em seu peito...

 

Dando vazão a luz da razão que o tocava no rosto,

Trazendo a carícia, que nunca houve entre eles, a sua imaginação,

Pegou o telefone e ligou: sorriu ao ouvir o doce da sua voz,

“Gostaria que ficássemos juntos, você aceitaria?” A disse, com incontida emoção.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Casal Sentado Num Banco

 

A quem queira saber:

Meu nome é Bianca sem sobrenome,

Neste breve relato, gostaria de confessar,

Se por algum motivo quisesse mudar algo,

Nunca seria por arrependimento,

Os motivos, a seguir poderei revelar,

Eu amei, com toda a alma e com todo o sentimento,

 

Sempre sussurrava aos prantos para mim mesma,

Nunca irei amar, nunca me entregarei a alguém,

Essa questão de corpo e alma

É para os apaixonados, e apenas quando os convém,

E isso para mim é muito pouco,

Não satisfaz, não alimenta, é vazio por dentro,

 

Feito aquele beijo que se pousa nos lábios,

Para em seguida, disfarçadamente, limpar a boca,

Ou aquela mordida disfarçada que traz um leve sabor

De sangue tirado de um cantinho discreto da boca,

Se é para ferir porque eu teria que sentir?

Se não for para amar, porque motivo iria me entregar?

 

Morte iminente, premeditada, inconsistente,

O que é irônico considerando o quanto minha pele

Se arrepiava ao menor som suave e intenso da sua voz,

Cada vez que o ouvia, sentia meu corpo procura-lo,

Movido por uma atração única, irresistível,

Se sentir seu abraço custasse a minha própria vida,

Por Deus, não haveria alternativa: me entregaria!

 

Mas me senti insegura quanto ao que poderia dizê-lo,

Parei, disfarcei, fechei os olhos, olhei para o chão úmido,

Desejei do fundo do coração que ele viesse ao meu encontro,

Ele me pareceu não dar ouvidos, senti como se estivesse fechado

Trancado para o amor, fadado a algo distante que não pude entender,

Sentei-me no banco mais próximo, esperei por um cumprimento,

 

O que, naquela terça-feira de outono, não aconteceu,

Me senti entristecida, e isso pareceu despertar algo em mim,

De repente, deixou de fazer sentido todo aquele distanciamento

Que eu mantinha de tudo e todos,

Lembro-me com real intensidade, como desejei encontrar seus olhos,

E mesmo que por um instante, enamora-lo,

 

Mas algo em mim me deteve, ele era inteligente,

Eu precisaria de uma estratégia, uma forma de conquista-lo,

Ele não parecia o tipo de homem volúvel,

Eu não soube ao certo como reagir a isso,

Mas tomei minha decisão, não era o que se poderia definir plano,

Mas era uma boa estratégia, usar minha arte feminina e conquista-lo...

 

Na quarta de outono de 1925, quando o sol brilhou no horizonte,

Eu já o esperava, com maquiagem feita e um vestido vermelho,

Conquistaria ao menos o seu abraço, já seria suficiente,

O apertaria em meu corpo para guardar em mim seu cheiro,

E poder senti-lo, ao menos, no decorrer do restante do dia,

Destino traiçoeiro, ele não veio, desencontro frio e calculista,

 

Pensei comigo mesma, precisava mais que isso,

Ele merecia meu esforço, eu tinha certeza,

Um distanciamento de quem se ama, embora doa,

Faz com que os sentimentos se personifiquem,

Consegui imagina-lo ao meu lado em cada hora

Do dia que insistia para que eu não desistisse,

 

Ah, como minha alma procurava a dele,

Como minha pele desejava poder ao menos um instante...

As 3:30 h da madrugada, eu ainda não sabia o que fazer,

As 5:00 h, acordei, abri os olhos e chamei seu nome,

Não houve resposta, lágrimas me tomaram de assalto,

Em um ato instintivo, toquei meu rosto,

 

Nem mesmo eu acreditei no que sentia,

Amava-o, em tão pouco tempo, como poderia?

Será que a alguém seria possível entender um amor assim?

Esforço-me para contar com o máximo de detalhes,

Porém, sempre que tento definir tudo que senti

Me faltam palavras, com um arfar de ombros, deitei-me, novamente,

 

Na quinta-feira, outonal, pedi um dia de folga no trabalho,

Sentei-me e fiquei o dia inteiro a escrever uma carta,

Com a única intensão de descrever toda a emoção,

Que senti em nosso breve cruzar de olhar,

Deus é testemunha do quanto me esforcei

Para demonstrar tudo que senti naquela vez,

 

Se isso não for amor, não sei mais o que poderia ser,

A mulher apaixonada em mim sabia,

Que um singelo abraço, jamais seria suficiente,

Mas seria um bom começo, o bastante para saciar a vontade

Que me consumia por dentro, me deixando trêmula,

De que adianta amar com tanta profundidade,

Sem jamais declarar o quanto o queria?

 

O mais difícil foram as primeiras linhas, depois tudo correu com naturalidade,

Eu sempre acreditei no amor, só não imaginava que o encontraria,

Ainda mais dessa forma tão displicente, entregue a casualidade,

Nas últimas linhas da carta levantei a possibilidade de ser retribuída,

As 3h daquela mesma noite, próxima do ponto final,

Conclui que eu tinha belas chances, pelo menos de ser ouvida,

 

As 7: da manhã, lá estava eu, sentada no banco a espera-lo,

Carta em mãos, desatenção disfarçada, sorriso tímido,

Se ele não me correspondesse, como eu faria?

Como seriam o decorrer dos próximos dias?

Tão solitários quanto os anteriores,

Por Deus, não sei se aguentaria, será que ele me entenderia?

 

Ele sentou-se bem próximo, com um singelo roçar de braços,

Ofertei meu melhor sorriso, senti meu coração dar um salto

Quando o vi retribuir, nem consegui acreditar,

Esse sempre foi o sonho de amor que guardei comigo,

Logo que senti seu cheiro, seu calor a me tocar por inteira...

Lembro que essa conversa aconteceu a uma quadra da praça,

 

Sem refletir sobre as consequências dos meus atos,

Eu acariciei sua mão, depois arrisquei tocar seu rosto,

Puxando-o com delicadeza ao encontro dos meus lábios,

Provei o amor em cada roçar, do doce da saliva

Ao sabor da sua boca macia de encontro a minha,


Jurei para mim mesma que o amaria por toda a vida,

Senti que ele também me amava, com aquele beijo,

Entrelacei nossas mãos e seguimos nosso caminho juntos

Até hoje, e acredito que até o fim das nossas vidas,

Talvez seja difícil acreditar, pois a poucos é possível amar nessa medida.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Reclusão em um Livro

Dezembro seguia sua rotina, dia após dia,

A vida passava vazia e tristonha,

Ainda na metade do ano ela fizera 30 anos,

Ainda podia recordar dos seus sonhos,

 

Desejava, ao menos um pouco, revive-los,

Lembrava da infância humilde que teve,

Onde fazia as bonecas de milho ganharem vida,

Bolinhos, e objetos esculpidos no barro,

Tudo ao seu redor se transformava

E parecia transportá-la para um outro mundo,

 

Morava no interior, em um reino perdido no meio do mato,

Lá havia poucos vizinhos, se contentava em amar e cuidar dos bichos,

Teve uma adolescência vazia e reclusa,

Por não ter muitos amigos era impedida de ter vida social,

 

Não tinha liberdade para sair sozinha,

Não ganhava a confiança dos pais para reger sua vida,

Era presa em algemas invisíveis que a freavam,

Marcavam sua pele sem muita conversa,

 

Filha de mãe distante e pai possessivo,

Não conseguia controlar nem dar vida as suas ideias,

Se trancava no quarto, chorava sozinha,

Corria para o longe para poder contar com sua própria companhia,

 

Sentia com todo o coração que ninguém a entendia,

O amor que provava no seio familiar não sustentava,

Pelos erros que seus pais cometeram: a julgavam,

Os desejos que sonharam projetavam sobre ela,

 

Que liberdade teria para viver deste jeito?

Não importava o que pensava ou sentia,

Imponham-na a viver como eles queriam,

Até seus diários rabiscados em cadernos eram violados,

 

Suas leituras para passar o tempo,

As músicas que escutava, tudo era vigiado,

E punido com rigor excessivo,

Ela nunca conseguiu entender isso,

 

Não podia falar sobre seus anseios, seus desejos,

Suas paixões como as que as outras meninas tinham,

Não era entendida, apenas julgada, subjugada,

Excluía-se, nunca achou que tivesse alternativa,

 

Logo cedo, decidiu ir embora,

Partir para algum lugar ao longe,

Permitir que a vida a conduzisse para algo diferente,

Ironia do destino, decidiu por se casar,

 

Enfrentou o óbice da família e até da sociedade,

As pessoas a apontavam: só pode estar grávida!

Ela ria por fora, chorava por dentro, mas lutava,

Nunca permitiu-se ficar por muito tempo no mesmo lugar,

 

Havia algo que faltava em sua vida 

E ela seria forte o suficiente para buscar,

Não importava quem ou o que teria que enfrentar,

O mundo nunca foi feito para pessoas fracas,

Aquelas criadas para estarem rodeadas por redomas,

 

Que apenas acomodavam-na, prendendo mais que protegendo,

Como se o mundo fosse recebe-las da mesma forma,

Com aquele tapa que era seguido por uma carícia,

O mundo era muito mais cruel do que aparentava,

 

Não a preparavam para viver, apenas prendiam sua mente,

A falta de diálogo em sua família levou-a embora de casa,

A mesma falta de diálogo emudeceu suas fugas doloridas,

Aprisionavam seus impulsos, tudo que era ou poderia ter sido,

 

Todos queriam que ela fosse de um jeito, como poderia contenta-los?

Vinham com suas ideias prontas como se o mundo se resumisse a aquilo,

Em que parte do seu caminho permitir-se-ia ser algo em que pudesse se encontrar?

Quem hoje poderia falar sobre aquela que ousou sonhar,

Mas foi proibida, impedida desde pequena,

Ninguém é igual a ninguém, em busca de proteger destroem as almas,

 

Agora aos trinta, decidiu preencher os vazios do tempo,

Aproveitar tudo que lhe foi tirado, impedido,

Mas os bares eram frequentados por jovens,

Seus sonhos de menina haviam mudado,

Roubaram sua inocência de pensar,

Mas também, levaram os sonhos em que acreditar,

 

Custava a tempos atrás sentar e conversar?

Custava confiar ao menos um pouco em suas habilidades

E maturidade para tomar suas próprias decisões?

Aquela que excluíram a tempos atrás,

 

Agora se recusava a sair da sua reclusão,

Havia conquistado seu carro, sua casa, era independente,

Mas, haviam decidido ou imposto que preferisse a solidão,

Então, por que agora a procuravam e desejavam cumplicidade?

Comida do Leito do Rio

E, Houve fome no rio, Os peixes Que nasceram aos montes, Sentiam fome. Masharey o galo Sofria em ver os peixes sofrerem, ...