Seria tempo o bastante para disfarçar toda a admiração que
sentiu,
Apesar do sentimento ter sido forte, ele sabia não era amor,
Talvez algo próximo o suficiente para que ele desejasse
vê-la de novo,
Porém, a noite transcorreu insone, contou carneirinhos,
Ligou a tv, releu um livro mas nada parecia adiantar,
Aquela voz macia e sedosa parecia ter prendido sua alma,
E mesmo no escuro, seus olhos ainda brilhavam feito
estrelas,
Desejava ter dançado mais uma música com ela,
Talvez, provar o sabor doce da sua boca,
O hálito quente dela o deixava atônito,
Parecia envolve-lo, não sentia-se preparado para tanto,
Toda a intensidade que provou o deixou surpreso,
Era como se os céus descessem e pousassem nos seus braços,
Os mesmos braços fortes que tanto o ajudavam no trabalho,
Agora viam-se trêmulos, inseguros diante da intensidade do
sentimento,
A música acabou, ele nem percebeu isso, continuou rodando no
salão,
Conversando com a moça, sobre o quê, ele nem lembrava,
Apenas seguia o ritmo guiado pelo destino ao som do coração,
Cinco minutos depois, agradeceu a dança e se dirigiu para
casa,
Sabia que ela estava de carona com amigas e que estava
segura,
Sentiu que estaria interferindo se insistisse para leva-la,
E esta intromissão lhe soava um tanto desrespeitosa...
O sol da manhã acordava sorrindo, encontrando-o com um
sorriso na boca,
Trazendo-lhe a certeza de que as pessoas que amam tornam-se
eternas,
Pois já não vivem para si mesmas, mas para algo maior,
Completar alguém, cuidar, proteger, desejar estar perto,
Sacramentar o amor ao unirem suas almas em outra: um filho;
Sim, podia admitir agora, foi isso que viu nos olhos da
moça,
E que não saia de forma alguma da sua lembrança,
Desde um dia atrás e com certeza, por toda a vida,
Ela o havia olhado de uma forma terna e delicada,
Parecia uma menina ao ritmo contagiante da música...
Ele levantou, abriu a janela de vidro e viu as borboletas
voando,
Como um arco-íris que brinca no romper da aurora,
Depois desciam brincar por entre as flores do outono,
Ele desejou dividir aquele encanto com a moça,
Será que o amor realmente conseguiria uni-los?
Porque sempre que pensou em casar,
Imaginava que seria por uma vida inteira,
Amava de forma intensa, verdadeira, não aceitaria menos,
Quando via-se tomando seu chimarrão na varanda,
Sempre imaginou sua família unida, os filhos, os netos...
Aquele amor desenhado no comercial de margarina,
Parecia existir, pelo menos era o que estava em seus sonhos,
Ele respirou o ar da manhã, sentindo-se mais seguro,
Acreditava estar satisfeito com as coisas em que acreditava,
Era meados de novembro, 7:00 h da manhã de domingo,
Ao tomar o café da manhã, ele lembrou-se que de início,
Desejava apenas dançar uma música com ela,
Depois desejou a segunda, a terceira aconteceu por consequência,
Sorte a sua não ter havido a quarta, pois sabia, teria que
beijá-la,
E para isso, teria que admitir que a amava,
Conforme o dia tomava forma acordando os campos,
Ele sentia-se voar para longe daquele lugar,
Pegou o telefone, olhou-o inúmeras vezes para ligar,
Mas não se renderia, precisava seguir o plano,
Dentro dele havia um homem solitário, porém, o homem
solitário sonhava,
Mas sonhar nunca lhe seria o bastante, precisava sentir-se retribuído,
Amar por instantes nunca preencheria suas expectativas de
uma vida plena,
Este homem solitário, que contentava-se com pouco, morreu em
1898,
Logo que foi abandonado pouco após o dia do seu nascimento,
Deixado a esmo aos cuidados de estranhos de olhos bondosos,
Ele permitiu-se tomar mais uma xicara de café forte,
Sentia conforto naquele ato, queria ligar, mas não parecia
prudente,
Não após um único encontro, em que trocaram olhares
coniventes,
Ficar tão perto de alguém que se deseja tanto, parecia
castigo,
Ela o olhou de forma astuta, depois sorriu em cumplicidade,
Suas conversas ao pé do ouvido agora lhe rendiam belos
suspiros...
Era difícil demais a ouvir e encontrar forças para resistir,
Suas palavras inebriavam a alma com um enlace cego,
Do qual sabia, nunca conseguiria, nem desejaria fugir,
Ele havia resistido ao amor, guiando-se pelas mãos do
destino,
Mas ao provar a delicadeza das mãos daquela moça, tudo
mudou,
Passou um braço ao redor da sua cintura, a sentiu
recostar-se em seu peito...
Dando vazão a luz da razão que o tocava no rosto,
Trazendo a carícia, que nunca houve entre eles, a sua
imaginação,
Pegou o telefone e ligou: sorriu ao ouvir o doce da sua voz,
“Gostaria que ficássemos juntos, você aceitaria?” A disse,
com incontida emoção.
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