Dezembro seguia sua rotina, dia após dia,
A vida passava vazia e tristonha,
Ainda na metade do ano ela fizera 30 anos,
Ainda podia recordar dos seus sonhos,
Desejava, ao menos um pouco, revive-los,
Lembrava da infância humilde que teve,
Onde fazia as bonecas de milho ganharem vida,
Bolinhos, e objetos esculpidos no barro,
Tudo ao seu redor se transformava
E parecia transportá-la para um outro mundo,
Morava no interior, em um reino perdido no meio do mato,
Lá havia poucos vizinhos, se contentava em amar e cuidar dos
bichos,
Teve uma adolescência vazia e reclusa,
Por não ter muitos amigos era impedida de ter vida social,
Não tinha liberdade para sair sozinha,
Não ganhava a confiança dos pais para reger sua vida,
Era presa em algemas invisíveis que a freavam,
Marcavam sua pele sem muita conversa,
Filha de mãe distante e pai possessivo,
Não conseguia controlar nem dar vida as suas ideias,
Se trancava no quarto, chorava sozinha,
Corria para o longe para poder contar com sua própria
companhia,
Sentia com todo o coração que ninguém a entendia,
O amor que provava no seio familiar não sustentava,
Pelos erros que seus pais cometeram: a julgavam,
Os desejos que sonharam projetavam sobre ela,
Que liberdade teria para viver deste jeito?
Não importava o que pensava ou sentia,
Imponham-na a viver como eles queriam,
Até seus diários rabiscados em cadernos eram violados,
Suas leituras para passar o tempo,
As músicas que escutava, tudo era vigiado,
E punido com rigor excessivo,
Ela nunca conseguiu entender isso,
Não podia falar sobre seus anseios, seus desejos,
Suas paixões como as que as outras meninas tinham,
Não era entendida, apenas julgada, subjugada,
Excluía-se, nunca achou que tivesse alternativa,
Logo cedo, decidiu ir embora,
Partir para algum lugar ao longe,
Permitir que a vida a conduzisse para algo diferente,
Ironia do destino, decidiu por se casar,
Enfrentou o óbice da família e até da sociedade,
As pessoas a apontavam: só pode estar grávida!
Ela ria por fora, chorava por dentro, mas lutava,
Nunca permitiu-se ficar por muito tempo no mesmo lugar,
Havia algo que faltava em sua vida
E ela seria forte o
suficiente para buscar,
Não importava quem ou o que teria que enfrentar,
O mundo nunca foi feito para pessoas fracas,
Aquelas criadas para estarem rodeadas por redomas,
Que apenas acomodavam-na, prendendo mais que protegendo,
Como se o mundo fosse recebe-las da mesma forma,
Com aquele tapa que era seguido por uma carícia,
O mundo era muito mais cruel do que aparentava,
Não a preparavam para viver, apenas prendiam sua mente,
A falta de diálogo em sua família levou-a embora de casa,
A mesma falta de diálogo emudeceu suas fugas doloridas,
Aprisionavam seus impulsos, tudo que era ou poderia ter
sido,
Todos queriam que ela fosse de um jeito, como poderia
contenta-los?
Vinham com suas ideias prontas como se o mundo se resumisse
a aquilo,
Em que parte do seu caminho permitir-se-ia ser algo em que
pudesse se encontrar?
Quem hoje poderia falar sobre aquela que ousou sonhar,
Mas foi proibida, impedida desde pequena,
Ninguém é igual a ninguém, em busca de proteger destroem as
almas,
Agora aos trinta, decidiu preencher os vazios do tempo,
Aproveitar tudo que lhe foi tirado, impedido,
Mas os bares eram frequentados por jovens,
Seus sonhos de menina haviam mudado,
Roubaram sua inocência de pensar,
Mas também, levaram os sonhos em que acreditar,
Custava a tempos atrás sentar e conversar?
Custava confiar ao menos um pouco em suas habilidades
E maturidade para tomar suas próprias decisões?
Aquela que excluíram a tempos atrás,
Agora se recusava a sair da sua reclusão,
Havia conquistado seu carro, sua casa, era independente,
Mas, haviam decidido ou imposto que preferisse a solidão,
Então, por que agora a procuravam e desejavam cumplicidade?
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