Olhara-a, de forma sagaz, no fundo da sua alma,
Apenas para se certificar, ouvir o eco do seu adeus,
Seus ouvidos duvidaram das palavras da sua boca,
Precisava ver a confirmação nos olhos seus,
Embora estivessem juntos a tanto tempo,
Não parecia ser o bastante para mantê-los unidos,
Ele fez tudo que pode, amara-a de todo o coração,
Mas ela nunca fora capaz de retribuir, uma vez sequer,
Chegara a pensar que quando dissera que o amava com intensa
emoção,
Havia sido algo falso, sentimento passageiro, coisa de
instantes,
Futilidade de almas vazias que se entregam por nada,
Vagam sozinhas por não terem com que acrescentar,
Uma lágrima quente quisera percorrer seu rosto gelado,
A rejeitara, seria difícil chorar na sua frente,
Depois de tanto e em vão tê-la amado,
Recusava-se a demonstrar amor tão próximo do fim
De todos os sonhos, todos os planos, sem resistir
Baixara os olhos, os dedos bonitos dela puxaram o seu
encanto,
O anel que a presenteara brilhava, inocente a tudo que se
passava,
Parecia indiferente, íntegro, seguro de tudo que um dia
houvera,
Ele sabia que ela o gostara, então deixaria que levasse,
Jamais ousaria feri-la de qualquer forma que fosse,
Olhara para a sua mala, as poucas coisas que desejara levar,
Ter algo dele, talvez auxiliasse para que ela o mantivesse
na memória,
Não importa quanto tempo se passaria daquela hora para
frente,
Naquele anel sempre estaria guardado tudo que sentiram um
pelo outro,
Os momentos felizes compartilhados, os sorrisos;
Contudo, no momento em que ela virara as costas em direção a
porta,
Todo o seu orgulho se consumira em amor,
Pedira que ficasse, não suportaria arcar sozinho com as
lembranças,
Ajoelhara-se de propósito, pegara sua mão macia entre as
suas,
A beijara terna e apaixonado, como sempre faria,
Permitira que as lágrimas percorressem o caminho que quisessem,
Ela soluçara em prantos, ajoelhara-se, também, na sua frente,
“A um homem também é permitido amar e eu te amo”,
Dissera, sentindo-se tremulo, seguro apenas do que sentia,
“Eu também te amo, nunca desejei ir embora,
Mas parecia que algo não estava certo entre nós”,
O respondera, enxugando suas lágrimas entre beijos e
soluços,
E uma carícia suave que só ela sabia de que forma afagava a
alma,
A abraçara apertado, trazendo-a para dentro de si mesmo,
Seus corações pulsavam juntos, descompassados,
O amor havia vencido uma discussão para uni-los ainda mais
que antes,
Naquela noite, descobriram coisas que a maioria das pessoas
nem
Ao menos chega a vislumbrar em qualquer recanto das suas
mentes,
O amor levara a ruína as barreiras que os mantinha distantes,
Que os impedia de confiarem um no outro, seus medos escorreram
pelos dedos,
Enternecendo-se nas carícias que afagavam seus corpos,
O amor é glorioso, mas exige entrega, é trabalhoso,
Não é algo que se constrói de uma hora para a outra,
É feito de pilares resistentes para que não quebrem,
É construído de dentro para fora, dividido, meio a meio,
Tal como cada coração: composto por duas partes,
Não por mero completar de si mesmos, para “bastar-se”,
Mas por buscar o outro pelo prazer da sua companhia,
Deixando de lado a ideia de carência afetiva,
Para se abrigar a necessidade de ter alguém que caminhe ao
seu lado
Por não ser possível traçar um caminho andando um de frente
para o outro,
Andar frente a frente é mero regredir de tempo,
Impossível para quem deseja elevar sonhos de amor,
Vez que, caminhando lado a lado, os dois corações estarão
completos,
Pulsando juntos, formando única medida,
E o amor que dizem bastar-se por si mesmo,
Extravasa, não cabe em si diante de tanto contento,
É por isso, que ele sempre a colocara dormir ao seu lado,
Sobre o seu peito, onde ela escolhera se abrigar,
Ouvindo o seu pulsar, aproximando seu coração ao dele,
De forma que ele pudesse abraça-la por toda a noite,
Mantendo-a acolhida, amparada em seu abraço,
Embora, sempre soubesse que ela também o protegera,
Com seu jeito suave de ser, seu carinho sempre acessível,
Ele adorava ouvir as batidas suaves dela sobre ele,
Aquele aquietar de tudo para que só os restasse,
O fulgor do sorriso terno que o acordara em cada
amanhecer...
Seus corações pulsavam na mesma medida,
Seus sonhos percorriam o
mesmo caminho,
O vazio do medo era rompido por afagos apaixonados,
Encaixe perfeito para duas almas apaixonadas,
De maneira profunda, íntegra, genuína, que desliza ao seu agrado,
Satisfazendo os sentidos, preenchendo lacunas, formando
consistência
Que cura e harmoniza vontades, desejos, carícia que se
entrega para ganhar,
Que se derrama através do afagar,
Percorrendo-os; já não houvera mais vazios,
Restaram apenas
duas almas tocadas em amar.
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