Minhas mãos não estavam totalmente vazias,
Depois de ter sentido o rosto dele nelas,
Eu soube, naquele instante, nunca mais estariam,
Sempre restaria o seu calor em cada uma delas,
Seu cheiro, chego a arriscar o seu gosto,
Porque quando a gente ama de forma plena,
O amor parece simplesmente não terminar,
Houve uma noite interminável depois do beijo,
Noite insone e solitária ardente em desejo,
Em que o busquei por todo o lugar e você não estava,
Dirigi pela cidade, cheguei a um bar e fiquei a esperar,
Era agosto de inverno e nada,
Uma noite inteira me fez pensar que ficaria louca,
Mas não, foi insuficiente para apagar as marcas,
Cá estou eu, a te buscar, apaixonada da mesma forma,
Com alegria, um pouco de saudade e uma bebida,
Alguns poucos olhares para fora da janela,
Uma música para preencher o ambiente e sua lembrança,
Um suspiro preenche o ar e perambula de um lado ao outro,
Eu não faço nada, não espero que ele se canse,
Nem tento forçar saídas que não darão a nenhum lugar,
Simplesmente lembro e bebo, o que mais faria?
Acho que são cinco horas da manhã,
Eu deveria ter dormido a bastante tempo,
Passou-se um mês depois da noite insone de agosto,
Quem se importa com o tempo quando se está longe?
Meu coração dispara a recordar cada um dos beijos,
Eu já nem sorrio ou choro, apenas bebo,
Poderia chamar agonia o que sinto,
Mas saudade preenche mais o sentimento
De olhar minhas mãos e sentir nelas você, ali, ainda,
Esta sensação dilacera com a ideia de sofrimento,
Mas não ameniza a dor que sinto, não nego,
Apenas acalenta um pouco, e me faz te esperar,
Às vezes, me indago aonde você estaria,
Se estaria sozinho ou com alguém do seu lado,
Não sei até que ponto isso é importante quando se ama,
É claro que neste ponto eu penso: poderia estar comigo,
Meu coração sangra as palavras que o disse naquele dia,
E que de alguma forma o fez ir embora,
Ou pelo menos não foi capaz de te fazer ficar,
Não penso muito nisso, agora já não posso mudar o passado,
Em algum lugar, mais alguém espera outro alguém,
Esta é a lei da vida quando se ama,
Dentro de mim, não pulsava o que eu definiria vida,
Não, de forma alguma poderia alegar estar feliz,
A ausência da lágrima ou da fala arrastada e sofrida
Não esconde ou afasta o fato de sentir dor,
Mas, as minhas mãos acarinhavam uma a outra,
Era como se dessem corda ou vazão para que eu sentisse
ainda,
Meus lábios bebiam, sorviam cada gota e outra gota,
Contava o líquido como se contam as horas,
Sentia o gosto da bebida onde eu queria um beijo,
Mas, sobre a saudade que eu sentia?
Nunca obtive uma resposta,
Voltei-me para a bebida, quente e ao fim,
De um gole apenas deixei o copo vazio,
Mas não se faz isso com o coração, não se esvazia o amor,
Ele chega, se instala e continua é assim,
Eu já não tinha um lugar para ir sozinha,
Sem resposta quanto ao que eu sentia,
Preferia evitar sair ferida ou ferir um coração desavisado,
Se fechasse meus olhos acho que teria um pesadelo,
Mas viver sem quem amo, meu Deus, como definiria isso?
Minha voz rouca e petulante sussurrava: querida, liga!
O que mais eu poderia fazer simplesmente esperar?
Pego o telefone mas não tenho resposta,
Nenhuma que eu queira, nem ao menos a do porquê ligar,
Com um suspiro trêmulo encho o copo até a borda,
Volto a contar os goles e as horas de olhos abertos,
As coisas, bebidas e tempo se encaixam umas as outras,
E o que eu sentia também, algum dia se encaixaria,
E se eu não me mexesse muito, não ficaria tonta,
Isso evitaria dormir e acordar sem lembrar de nada,
Bem, sem lembrar da noite e outras coisas,
Porque a verdade é que esquecer eu já não era capaz.
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