sábado, 12 de dezembro de 2020

Casamento em Crise

 

Eles discutiam a toda hora, nada parecia se encaixar,

Mas ela acreditava que pudesse recuperar

Todo o sentimento, todo o amor que um dia

Acreditou sentir no fundo da sua alma,

 

Na convivência do dia-a-dia, eles brigavam,

Ela corria para o silêncio abrasador do seu quarto,

Jogava-se sobre a cama, abraçava o travesseiro

E chorava sem barulho ou soluços,

 

Aprendera ainda na infância a chorar em silêncio,

A engolir a dor, até senti-la acumular-se em seu peito,

Só não ensinaram que tanta dor dentro de si mesma,

Um dia poderia destruí-la de forma irrecuperável,

 

Apenas permitia que suas lágrimas tomassem o rumo

Que julgassem mais adequado, não queria admitir

Mas não conseguia controla-las, quando seus olhos

Se cobriam pelo manto da raiva, ela não resistia,

 

Chorar era sua única alternativa, as vezes, gritava,

Tentativa inútil de extravasar a dor,

Certa vez, foi tomada pelo ímpeto de agredi-lo,

Ela conheceu a agressão desde cedo no seio da família,

 

Mas por mais alto que tentasse falar,

Por mais que desejasse se impor,

Sua voz esganiçada pela dor, nunca fora ouvida,

Ele, simplesmente a tomou pelos braços,

 

Apertou-a com força, sobrepondo-se a ela,

Enquanto usava a força do olhar para redimi-la,

Reduzindo-a a nada, cuspia palavras em sua cara,

Ela se afastava, gaguejava, as palavras se formavam

Distantes demais para que pudesse pronunciá-las,

 

Fugir parecia ser a sua única alternativa,

Fugiu da loucura que havia em sua família,

Passando da manipulação familiar

Para ser marionete nas mãos de um coração vazio,

 

Sempre gostou do refúgio que havia em seu quarto,

Mas nunca pensou que pudesse ser tão difícil dividi-lo,

Nem mesmo aquele lugar, que pouco fora seu,

Lhe pertencia mais por direito,

 

Tudo que era, escapava-se nos vãos dos próprios dedos,

Via-se derreter entre lágrimas, dor e desespero,

Corria, trancava a porta e escorria até o assoalho,

No chão frio parecia um bom lugar para chorar sua dor,

 

Mas, nem mesmo o silêncio lhe fazia companhia,

Ele achava que podia invadir seu espaço,

Vinha com suas famosas juras de amor em falso,

Parecia acreditar que a conquistava com migalhas,

 

Ela esmorecia, frágil, sentia-se perder no vazio que crescia,

Antes afogada em lágrimas divididas entre solidão e descontento,

Agora jazia, pelas mãos que um dia lhe prometeram afeto,

Permitia-se cair, mas não tinha a privacidade de sofrer,

 

Roubavam-lhe pouco a pouco o direito de viver,

Ela aprendeu desde cedo a esconder sua dor,

Sentia-se, com isso, de alguma forma, melhor;

Nunca permitia que suas lágrimas traçassem caminho livre,

 

Sofria o quanto julgava ser o bastante

Para conseguir maquiar o rosto,

Sem que uma lágrima teimosa o deslizasse,

Impedindo-a de sair para fora e seguir seu caminho,

 

Havia risos, assombro silencioso por tamanho sofrimento,

Mas nenhum carinho lhe era dirigido,

Lá fora nada a esperava, nem mesmo um abraço,

Ela achou suficiente ir se distanciando, se afastando,

Até perder-se de si mesma e de todos,

 

Com o tempo encontrou refúgio nas palavras,

Passou a apegar-se a frases feitas, sentimento pronto,

Embalado a vácuo, imperfeito para suprir o vazio da alma,

As frases vinham afagavam o rosto e roubavam seus sonhos,

 

De um a um, como se colecionassem corações sangrentos,

Como se os abrissem apenas para contemplar seu lamento,

Alimentadas pelo sofrimento e dor alheia,

Frases que esvaziavam pessoas e personificavam atos,

 

Havia uma sociedade de mortos vivos vagando pela cidade,

Ela caminhava por entre eles, como poderia evita-los?

Um dia, ele decidiu devolvê-la a família,

Assim definiu o fim de tudo que um dia jurou sentir,

 

O fim do para sempre, do amor, dos beijos, das promessas,

Dirigiu sua moto, a abandonando no meio da estrada,

Nem coragem teve para devolvê-la ao mesmo lugar de onde a havia tirado,

O que não era de todo errado, pois seu lugar já havia sido tomado,

 

Ela marchou com todo o orgulho a guia-la,

Feito uma máquina programada,

Mas sentia-se, de alguma forma, presa a aquele tormento,

Então, deixou-se cair ali mesmo na estrada,

 

Consumida pela poeira que apesar de embaçar seus olhos,

Não a impediu de olhar para trás e perceber que ele não a olhava,

Nenhuma vez se importou em abandona-la, em deixa-la a esmo,

Abandonar todos os anos que passaram juntos,

 

O olhar que a conquistou se dirigia para outro lugar,

Outros sonhos, outra pessoa, a deixando ali, sozinha,

As palavras cuspidas em sua cara a afogavam, de novo,

Os carinhos outrora entregues, já não lhe pertenciam,

 

Talvez nunca tivessem sido seus, só restara ela

E aquele estranho amor, que ela sonhava algum dia poder entrega-lo,

E permitir-se sentir, ser tocada realmente por alguém,

Ser amada, reconhecida, valorizada por tudo que era.

A Descoberta do Amor

 

O amor foi descoberto,

Naquela madrugada de sexta-feira,

Ele ficou onde estava, deitado a contemplar o teto,

Assim que a chamada foi encerrada ele teve certeza,

 

A amaria por uma vida inteira,

Talvez nem esse tempo seria o suficiente,

Sua voz calma, sua pele macia, a forma como ela o abraçava,

Tudo o levava a crer que seu amor duraria para sempre,

 

Abraçou seu travesseiro, sorriu a contento do que sentia,

Era como se um anjo da guarda guiasse sua vida,

Todo o tempo que tinha percorrido, até então,

Era glorioso, poderia admitir, mas insuficiente,

 

Felicidade passageira que satisfaz por momentos,

Mas não chega a alcançar o coração,

Ele teve certeza ao cruzar com sua maneira simples de ser,

Que queria muito mais que isso em seu destino,

 

Queria entrar de corpo e alma no vigor desta paixão,

Merecia algo que o despertasse para uma vida com emoção,

Uma emoção duradoura, não queria perder tempo,

É certo que a música em que dançou com ela nos braços

 

Foi intensa, diga-se de passagem: absolutamente perfeita,

Mas a maneira como ela sentia-se frágil, solitária,

A forma como ele se viu refletido em seu olhar,

O fez desejar estar ao seu lado por uma vida inteira,

 

Ele olhou em seu dedo anelar, percebeu que um anel lhe cairia bem,

Ela era encantadora, ele queria retirar todas as marcas ruins do seu passado,

Deixaria seu toque registrado em sua pele,

Através da marca de um anel em seu dedo,

 

A partir do momento em que ele cruzou suas vidas,

Fez um juramento secreto, mais para si mesmo que para qualquer outro,

A cuidaria, com tudo que fosse preciso, a protegeria,

E nunca mais permitiria que alguém a ferisse da forma que fosse,

 

Sabia pela maneira como ela sentia, agia e amava,

Que ela merecia todo o sentimento que ele guardou com esmero,

Parecia ter certeza de que algum dia a encontraria,

Ele havia buscado dentro de si mesmo todo esse sentimento,

 

E agora, o via refletido no jeito encantador daquela moça,

Ela era linda, pura, profunda em tudo que sentia,

Era como se as músicas que compôs tivessem-na tocado de alguma forma,

Despertando-a em um convite despretensioso a provar do que acreditava,

 

E agora, doce encanto do destino, ela era sua,

A moça que o procurou em cada canto da cidade,

Repousava nos seus braços, entregue, plena,

O silêncio do lado de fora da janela o fez tocar um cd,

 

Trazendo uma música que lembrava tempos longínquos,

Que falava em uma espécie de códigos sobre sonhos proibidos,

Sobre sentimentos fadados ao silêncio,

Ao vazio obscuro de um coração vago, imperfeito,

 

Ele escreveu aquela música em um lugar tranquilo,

De onde acreditou: ela nunca ganharia espaço midiático,

Mas lá estava ela, anos depois rompendo obstáculos,

Quebrando regras, conquistando sonhos,

 

As coisas que pareciam estar seguindo uma ordem,

Indesejada, mas pré-estabelecida, agora estavam condenadas

A constituir letra morta em um cemitério de desordem,

Caos em que as pessoas se uniam, conjuntas,

 

Buscando um lugar em que pudessem sentir-se seguras,

Abandonando os becos sujos e escuros da cidade morta,

Para refugiarem-se sob os holofotes, mentes pensantes

Em busca de sonhos em que pudessem viver plenamente,

 

Vozes solitárias gritavam suas dores, espalhando sua alma

De cada canto da cidade, e finalmente, eram ouvidas,

Pessoas se levantavam, agiam, acreditavam em si mesmas,

Já não eram corpos vazios e obscuros a perambular,

 

Eram seres humanos buscando o direito à vida,

Buscando transformar o seu redor que dormia seu sono profundo,

Agora, ele vê, sente que todos pedem mudança na sociedade mundana,

Em que vidas são ceifadas na entrega de seus corpos,

 

Destituídas de suas almas, abandonadas ao fracasso,

Condenadas à morte solitária dentro de si mesmas,

Corpos semivivos em busca de algo a mais que isso,

Amor, gritou uma voz estranha do chão em que caia,

 

Amor, responderam os demais e de uma a uma

As pessoas uniram suas forças, lutando pela família humana,

Já não bastavam leis escritas, sem efetividade,

Encobertas por suas lacunas, as pessoas se levantavam por um clamor antigo,

 

Liberdade, igualdade, fraternidade, dignidade,

Com uma lágrima a molhar sua face,

Ele pegou as chaves do carro e rumou em sua direção,

Viveria seus sonhos, entregaria a ela seu coração,

 

Lutaria, faria o que fosse preciso, mas a protegeria

Estaria ao seu lado, a todos era merecido uma vida plena,

Se a arbitrariedade gritasse de um lado,

Ele ousaria falar mais alto, e unir esforços,

A ninguém era dado o domínio sobre o outro.

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Amor na Cidade

 

Tudo que conseguia pensar era no quanto a amava,

Uma vida seria pouco para o tanto que sentia,

Amava cada vez mais, a cada saudade provada

Em pequenas doses de uísque em noites de lua,

 

Como se cada estrela que brilhasse,

Trouxesse consigo uma parte da história

Em que transbordaram suas almas apaixonadas,

De forma irreversível, sem retorno ao passado,

 

Como então, agora, se renderia a solidão,

Sabendo que a voz que gritava em seu coração,

Ansiava por reviver uma vez mais tudo que sentiu,

Livrar-se do temor que assombrava seu peito vazio,

 

Sua alma apaixonada ainda estava lá,

Sobre a grama molhada do orvalho de dezembro,

Amando cada instante como nunca mais amaria,

Sonhando com uma vida que nunca tinha imaginado,

 

Até cruzar com aqueles olhos verdes assombreados,

E o amor o invadiu de forma volátil,

Isso ele só descobriu depois que partiu,

Depois que pegou-se sozinho a deriva de quem tanto amou,

 

A cada dose que embebia a boca sedenta,

Sentia um beijo repousar em seus lábios trêmulos,

Um amor feito para durar uma vida inteira,

Não poderia contentar-se com apenas momentos,

 

Ele sentia-se tranquilo em seu abraço,

Tudo parecia se encaixar de forma perfeita,

Ele acreditou que pudesse contar com ela,

Acreditou no amor que provou no doce da sua fala,

 

De repente um pássaro voou janela adentro,

Fez repousar uma flor sobre o assoalho,

Ele sentiu-se emudecido, ficou boquiaberto,

Como se confrontasse um horror antigo,

 

Agora o mundo parecia dirigir-se a ele,

Ouviu que um carro estacionava em frente a sua casa,

Desceu os lances da escada até aproximar-se,

Piscou várias vezes incapaz de acreditar no que via,

 

Sentiu uma dor insuportável em seu peito,

Ao vê-la ao volante, chorando a dor do amor perdido,

Que imaginava ela, ter sido esquecido, consumido pelo tempo,

Apagado pela distância, perdido dentro de sonhos omitidos,

 

Ele sentiu seu amor toma-lo por inteiro,

Prisão perpetua a um amante melancólico,

Nunca seria capaz de esquecer quem o abraçou em seus momentos mais temidos,

Viu que a cidade dormia sob as luzes do céu de outono,

 

Abriu a porta do carro e a chamou para o seu lado,

Eu te amo a disse com os olhos embaçados,

Momento em que a tomou em seus braços,

E a segurou até sentir seus corações baterem juntos,

 

Ambos não conseguiam controlar o choro,

Se beijaram ali mesmo, entre lágrimas e abraços,

Unindo os sonhos que embora parecessem esquecidos,

Encontravam-se vivos em seus corações apaixonados,

 

Nunca o amor foi tão reverenciado,

Feito aquele que venceu distância, brigas e segredos,

Que embora nunca compartilhados,

Deixavam uma nuvem de incertezas por onde passavam,

 

A dor que um dia ousou separa-los,

Agora unia destinos atormentados em sonhos conjuntos,

Cujo objetivo maior era edificar o amor que sentiam,

Espalhar sonhos passíveis de serem realizados,

 

Deus sabe que o sabor da vitória é maravilhoso,

Porém, quando se trata de sonhos de amor,

O destino torna-se algo de mérito,

Com um desvelo especial que só os apaixonados

 

Seriam capazes de definir em palavras ou gestos,

Mas, no instante em que aquele casal se uniu,

Diante do luar, das estrelas, aos olhos de todos

O amor entrou com artilharia pesada e venceu a batalha,

 

Todos sabiam sobre a dor que sentiam

Longe um do outro, sobre o quanto choravam escondidos,

Sobre o quanto procuravam um ao outro,

Nos vazios da cidade perdida em seus desvelos.

Vida na Roça

 

Por mais que amasse o trabalho que desempenhava,

Sentia que faltava algo a mais em sua vida,

Algo em que se dedicar, algo em que acreditar,

Um rosto belo lhe tocava a lembrança,

 

Ainda podia lembrar das tardes de outono

Em que cavalgavam juntos pelos bosques,

No carreiro que se desenhava aos poucos

Por entre as folhas secas e densas árvores,

 

Amar era algo que dava trabalho,

Ele ainda lembrava do quanto se dedicava a ela,

Do quanto ela tomava seu tempo com seus abraços insaciados,

Mas agora, mesmo longe, as lembranças ainda vinham abraça-lo,

 

Sem o calor do seu corpo macio em seu abraço apertado,

Sem sua voz melodiosa a tentar convencê-lo de algo,

Sem o seu cheiro a assalta-lo, toma-lo dos seus pensamentos,

Rouba-lo de tudo, fazendo-o esperar, desejar sua presença,

 

Se entregava ao trabalho diuturnamente,

Mas nada parecia tirar a sensação dela de sua pele,

Ainda lembrava como o sol a tocava,

Iluminando com algo misterioso o seu olhar,

 

Recordava como nunca o quanto ela sorria,

Enquanto cavalgava, indefesa, linda e esbelta,

Com seus cabelos escuros, longos e soltos ao vento,

Ela parecia iluminar, contagiar o seu redor,

 

Com uma espécie de felicidade que ele procurou

Por todos os cantos das cidades em que passou,

No entanto, nunca encontrou, ela era única,

Suave ao vento, feito as folhas que pairavam na estrada,

 

Com uma lágrima silenciosa e despercebida

A percorrer o caminho do seu rosto,

Ele lembrou da forma como ela apeava do cavalo,

Colhendo os frutos frescos das árvores,

 

Ela sempre o convidava para acompanha-la,

Tinha gosto em usufruir da sua companhia,

Colhia os frutos que alcançava e ainda o lançava

Aquele olhar de menina meiga, para que ele

 

A ajudasse a colher os frutos mais altos,

Depois o permitia escolher os que quisesse,

Nunca houve competição entre ambos,

Ao contrário, sempre se apoiaram em tudo,

 

Protegendo-se, andando lado a lado,

Desta forma, ela sentava-se na grama, no chão, onde fosse,

E lançava aquele olhar com um sorriso humilde e iluminado,

Fazia questão de sempre o presentear com seu abraço,

 

Olhar para as nuvens, construir desenhos,

Brincar com as folhas, saciar a sede nos frutos frescos,

Tudo estava tão vívido em sua memória,

Que ele sentia que poderia toca-la,

 

Lembrar sua fala macia, alta, rouca lhe trazia conforto,

Eles sempre colhiam alguns frutos para levar para casa,

Eu te amo pronunciavam em olhares cumplices,

A felicidade os encontrava onde quer que estivessem,

 

As vezes, cortavam caminho para ir brincar no rio,

Pescar sobre alguma pedra da encosta,

Nadar, brincando de ser peixinho,

Mergulhar como se a água fosse parte de si mesmos,

 

Depois descansavam nas margens,

Brincando de fazer as pedras baterem sobre a água,

Ela sempre o permitiu jogar sua pedra mais longe,

Isso era o que ela pensava,

Apesar de não discutir ele sempre soube que tinha mais força,

 

Pensando bem, ele achou que poderia confessar algo

Lembrava que ela sempre teve azar com as iscas,

Apesar dela esforçar-se, ele sempre pescava o peixe maior,

Depois de horas, ela se cansava e fazia birra queria ir embora,

 

Para convencê-la a permanecer na pesca,

Ele entregava sua própria linha, seu lugar e tudo o mais,

Mas a sorte permanecia com ele,

Embora lhe entregasse todas as dicas,

Ela nunca conseguiu nada,

 

Irritada ela se carregava de pedras e apedrejava a água,

Se ela não poderia pescar então parecia mais sensato impedi-lo,

E ele disparava atrás dela, que culpa ele teria?

Ela se esforçava ele sabia, mas ele gostava de protegê-la,

Ela tinha aquele jeito de menina forte que precisa de alguém,

E ele se esforçava ao máximo para suprir suas necessidades,

 

Outrora, sentavam-se na barranca e faziam uma fogueira,

Colhiam milho e assavam no fogo do outono,

Ele fazia sua imitação do pato Donald e ela amava,

Brincavam de cuidar dos girinos para ver se tornarem sapos,

 

Só para ouvi-los coaxar em seus ouvidos,

Embalando seus sonhos de meninos,

Corriam por entre os vagalumes, sob a luz do luar,

Muniam-se de toda a coragem em seus corações,

 

E enfrentavam a escuridão das noites sem lua,

Apenas para sentir a brisa fresca que caia,

Ouvir os cantos dos pássaros noturnos,

Contemplar as estrelas brilharem únicas no céu negro,

 

Até dispararem correndo, assustados com algo inventado,

As horas passavam feito segundos marcados no relógio,

A partir do instante em que adentravam na floresta,

Nada mais parecia convencê-los a saírem de lá,

 

Tudo chegava ao seu coração feito um sonho maravilhoso,

Mas era muito mais que isso, era a realidade em que viveram,

Ele sentia falta disso, precisava reviver estes momentos,

Permitir-se-ia a chance de encontra-la novamente,

 

Poder lhe dar o abraço que tantas vezes entregou ao travesseiro,

Acender uma fogueira para falar das histórias que traçaram,

Desistir de chorar calado, dar ouvidos a voz que o chamava

Que o fazia acordar tarde da noite para procura-la,

 

Ter um número em que discar no telefone celular,

Ter uma companhia para ouvir suas músicas,

Recitar um poema a luz do luar,

Que agora, jazia, tão triste no romper da aurora,

 

Pegou a lista telefônica, procurou por seu nome,

Discou de número a número até que uma voz conhecida

Atendeu com aquele mesmo tom que tanto lembrava,

Fez-se um minuto de silêncio, alô, disse ele...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Mulher Depois dos 30

 

A lua cheia brilhava naquela noite,

Ela bebia seu vinho com um arrepio na pele,

Uma música lhe falava sobre um amor verdadeiro,

Ela sentia-se sozinha, precisava fazer algo sobre isso,

 

As pessoas ao seu redor diziam que ela estava velha,

Que o tempo passa de igual forma para todas as pessoas,

E na sua idade todas já estavam felizes, casadas,

Umas grávidas outras com seus filhos no colo,

 

E ela continuava ali, no mesmo lugar,

“O que você está a procurar ou esperar?”

Lhe diziam elas, demonstrando algo como preocupação

Ou talvez tivesse outro nome, a alertava o coração,

 

No entanto, ela saia, buscava na balada,

Nas festas com pessoas, geralmente, mais jovens que ela,

Nas redes sociais através de perfis, que ela acreditava

A exponha muito, entregava de mão beijada

Todo e qualquer segredo que pudesse ter,

Entre fotos e frases colocadas em momentos diferentes,

 

Entre uma conversa e outra, um rapaz, esporadicamente,

Lhe chamava a atenção, seu relógio biológico gritava:

Tic-tac, o tempo está passando e você está ficando para trás,

Ela sentia urgência por ser amada, ser desejada,

Parecia que algo lhe faltava, por quê era diferente dos demais?

 

Então ele vinha, trazia flores, bombons, presentes,

Mas a conversa não fluía, ao contrário, era monótona,

Não se estendia para muito além daquele instante,

Ela desejava mais que isso, desejava ser tocada,

 

Reconhecida, sentida, valorizada por si mesma,

Alguns vinham e falavam sobre o trabalho,

Outros, inclusive, se interessavam por seus rendimentos,

Se ela pudesse ouvir seus pensamentos,

Iria assustar-se, tinha certeza disso,

 

A conversa pairava sobre o carro que tinha,

Sobre a forma como dirigia sua vida,

Sobre a casa ou o local em que residia

E todos que chegavam nela, queriam mudar alguma coisa,

 

Desta feita, o tempo passava feito a noite que se despedia,

E vinha o inevitável desejo de tocá-la,

Tudo se iniciava com um beijo explorador ou não,

Alguns ousavam, já no primeiro dia, falar de amor,

 

Só porque ela desejava ser amada,

Acreditavam que qualquer discurso fosse conquista-la,

Chegavam a olhar no fundo dos seus olhos,

E sussurrar com um sorriso nos lábios: eu te amo,

 

Ela tentava fugir, mas parecia que tudo a empurrava

A seguir adiante naquela história que se formava,

A partir daí, vinham as carícias sedentas por intimidade,

Ela precisava dizer não, não se sentia segura,

 

Porém, ali sozinha, como poderia reagir de forma diferente?

Deveria entregar-se, e fazer como todas as outras?

Falar de amor sem sentir-se correspondida,

Buscar completar-se no vazio de lábios falsos,

Mergulhar nas carícias que não faziam nada

Além de invadi-la, toma-la de si própria?

 

Havia algo de errado com ela por buscar mais que isso?

Por que os demais pareciam contentar-se com tão pouco?

Isso que lhe ofereciam eram como restos,

Beijos não correspondidos que buscavam saciar-se

Em corpos bonitos e desejados em que a beleza era tudo que importava,

 

Sempre havia ali um copo de alguma bebida, ela bebia,

Senão se sentiria excluída da conversa que recém se iniciava,

E as coisas tomavam um caminho mais fácil, parecia,

Nesta seara, chegava a temida hora do não, não quero, não aceito, não posso agora,

 

Era terrível o olhar que provava neste momento,

As carícias invasivas que pareciam ensurdecidas ao que dizia,

As palavras desmedidas que violavam seus ouvidos,

Os atos ofensivos que se desenhavam diante dela,

 

Ela, então, suspirava, munia-se de toda a sua força,

E o colocava para fora, a casa era sua, a vida era sua,

Somente ela poderia decidir por si mesma,

Fechava a porta, trancava-a e desejava nunca mais querer abri-la...

Ele Chorou

 

Ele acreditava que gostava dela,

Sentiu isso desde o primeiro olhar,

Embora não entendesse porque seu relacionamento,

Parecia negar-se a um futuro prodigioso,

 

Os sonhos que ele cultivou em si mesmo,

Foram os mesmos que viu naqueles olhos azuis acinzentados,

Ele tentou mandar flores, bilhetes apaixonados,

Contudo, suas vozes se calavam, por mais que houvesse diálogo,

 

Ambos não se alcançavam, se colocando em algum lugar distante,

Fechados em si mesmos, como se houvesse uma redoma

Que os impedia de aproximarem-se um do outro,

Naquele dia iria visita-la, passou o perfume preferido, vestiu a melhor roupa,

 

Não era exatamente a que ela gostava,

Mas ele sentia-se bem, não era isso o que importava?

Pegou sua moto, o capacete reserva e rumou para ela,

Ele sabia que ela sentia medo, mas sem alternativa não hesitaria,

 

Ele faria tudo para conquista-la,

Acreditava que apenas ao seu lado viveria uma vida tranquila,

Vez ou outra, ele entregava-se a bebida, ela não gostava,

Mas ele achava inoportuno o jeito como ela queria gerir sua vida,

 

Ao chegar em frente a sua porta,

Suspirou encantado, ela era muito mais linda do que a imagem criada

Em sua lembrança, trazida a ele de hora a hora,

Mantendo este amor vivo e seguro em sua memória,

 

Ela vestia um vestido vermelho, lábios e unhas na mesma cor,

Admiravelmente linda, apenas isso definiria seu amor,

Porém, notou com certa astúcia, um pingo de tristeza em seus olhos,

Ela teria que despir-se do vestido, talvez estragar o cabelo,

 

Que importava isso? Ele esperaria o tempo que fosse preciso,

A amava, isso era o máximo do que importava, não era?

Ela demorou em seu quarto, ele pensou em pedir pizza,

Então, ela desceu, trajava um shorts jeans curto,

 

Botas em couro preto, cano alto, correntes ao redor do corpo,

Ele pensou que era curto, mas não disse nada, estaria com ela...

Ela sentia-se presa, acorrentada a este amor,

Que acreditava, não a via, tampouco a respeitava,

 

Mas cada vez que mergulhava no escuro dos seus olhos,

Sentia amor neles e se entregava com toda a alma,

Então, ela cedia aos impulsos e seus encantos,

Mas não conseguia se imaginar tendo filhos,

 

Ela não entendia o por quê, mas parecia querer algo diferente disso,

Chegaram ao seu destino, ele bebeu um pouco,

Ela tomou seu suco, falaram sobre casamento,

Planos traçados para um futuro perfeito,

 

Mas um toque daquela conversa parecia ofende-la,

Ela não se sentia segura, a vontade, faltava algo,

Ao retornarem para a casa dela,

Ela o convidou para irem ao seu quarto,

 

Tinha urgência em senti-lo, entregar-se a ele,

Ela o amava, parecia a atitude correta a tomar-se,

Ele tocou com um pouco de força os seus dedos frágeis

Admirando suas unhas vermelhas longas e delicadas,

Minuciosamente arrumadas,

Como se ela fosse uma boneca a ser cuidada,

 

A puxou de encontro ao seu peito e beijou seus lábios macios,

De forma sôfrega, convidativa e exploradora,

Empurrando-a sobre a cama e despindo-a com maestria,

Ela fechou os punhos, escondeu as unhas sobre as palmas,

 

Ele a beijava, avançando sobre ela, falando algo sobre ama-la,

Ela ficava entre sorrisos, beijos, juras e algo que ela não entendia,

Ele se posicionou sobre ela, repousando sua mão em seu coração,

Ela não resistiu, ávida pelo sentimento que a envolvia,

 

Se alguém tivesse pedido a ela o que sentia,

Ela teria dito com toda a alma, amor, deve ser isso,

Mas quando viu suas correntes jogadas no chão,

Algo pareceu incomodá-la, sentiu acelerar o coração,

 

Pensou em desistir naquele instante, mas a voz falhou,

O que poderia dizer a ele? Ele viria com suas falácias sobre o amor,

E ela sabia, sempre que olhava no fundo dos seus olhos,

Ele a amava muito... amanheceu, o dia nasceu nublado,

 

Sua perna estava dormente, ela precisava ir trabalhar,

Assustada, percebeu que ele havia dormido com a perna sobre a dela,

Seu peito doía, parecia que lhe faltava o ar,

O braço dele estendia-se sobre ela, por uma noite inteira...

 

Ela rascunhou um bilhete depois de uma noite insone,

“Eu posso ter evitado usar a palavra arrependimento,

Não significa que não foi isso que eu tenha sentido,

Desculpa, não estou preparada para este amor desmedido,

 

Estou me mudando, deixo escrito o número do meu telefone,

Espero, com toda a alma, que algum dia nos encontremos,

E que eu o sinta mais maduro para tudo o que você propõe,

Por enquanto, me recuso a este amor inseguro”,

 

Ele acordou feliz, levantou com um sorriso satisfeito nos lábios,

Mas quando estendeu o braço para busca-la, se assustou, ela não estava,

Levantou, chamou seu nome com todo o amor que sentia,

Não houve resposta, então encontrou o bilhete sobre a mesinha,

 

Sentou-se desconcertado, lágrimas cobriram seu rosto,

Ela havia partido e pelo teor do bilhete,

Havia, inclusive, abandonado o trabalho,

“Meu Deus, onde eu posso ter errado?”, pensou ele.

Destino Dando Asas ao Acaso

 

Seu corpo era como um templo,

Uma espécie de santuário,

Em que muitos passavam,

Chegavam a fazer preces,

 

Desejar, talvez, algo maior,

Mas, tudo o parecia profano,

Palavras vazias, destituídas de sentido,

Nunca ficavam por muito tempo,

 

Havia algo nele que o impedia de abrir

Seu coração, algo que forçava seu sorrir,

Feito uma espécie de encanto

Que precisavam quebrar para poder encontra-lo,

 

Mas nenhuma pessoa cumpria o ritual,

Ninguém ousava desvendar seus segredos,

Adentrar no espaço escuro do seu olhar

Com o desejo de aquecê-lo, protege-lo, talvez, de si mesmo,

 

Com o tempo ele tornou-se gélido,

Desejava apenas distanciar-se de tudo,

Sentava-se em frente a sua janela e entretia-se

Ao contemplar a rua, ver, testemunhar a vida passar,

 

Odiava quando, ao caminhar pela calçada,

Sentindo a brisa suave da primavera,

O frescor de suas flores a desabrochar,

Algum desatento cruzava seu caminho e ousava tocá-lo,

 

Sentia-se invadido, algo dentro dele gritava por socorro,

Qual era o custo de prestar um pouco mais de atenção,

Ele sentia-se estranho, disfarçava, limpava as mãos,

Uma lágrima escondia-se dentro do vazio dos seus olhos,

Parecia que as pessoas queriam extrai-lo,

Rouba-lo de si mesmo, como se o quisessem dividi-lo,

 

Ninguém parecia entende-lo,

Na primavera de 2020, ele se viu refletido

Nos olhos de outra pessoa, desejou conhece-la,

Se aproximou com o desejo de dividir seu café gelatto,

 

Sentiu quando seus olhos se encontraram

Que ambos sorriam, por dentro,

E sua mão aspirou, pela primeira vez,

Sentir, tocar suavemente em alguém,

 

Ele observou que ela era frágil, precisava protege-la,

Embora estivesse sentindo medo por dentro,

Ele sorriu, um sorriso lindo que curvou sua boca,

Sentiu que dentro de si mesmo, seu coração se abria,

 

Uma certeza o invadiu, a de que finalmente

Sentia-se pronto para amar,

Para se entregar a alguém e provar aquele gostinho do para sempre,

Que ele sabia, estava nas curvas daquela moça,

 

Ele a desejava de um modo diferente,

Que ele nunca havia sentido,

Agora, abandonava ao passado aquele alguém

Em que apenas tocaram, sem nunca permanecer,

 

Uma noite de amor já não seria o suficiente,

Amor, pensou ele, agora cogitava a palavra amor?

Mordeu o lábio, abaixou a cabeça, realmente aquela moça era diferente,

Nunca pensou que seria desperto ao amor pelo destino,

 

Mas quem há de duvidar de que tudo tem um por quê?

Ela tinha o brilho do luar nos olhos castanhos,

Um luar contagiante que parecia clarear o escuro dos seus olhos,

Como se o iluminasse para algo diferente de tudo que havia vivido,

 

Ele desejou sair da escuridão em que tinha mergulhado,

E provar o sabor de ser ele mesmo,

Se entregar a alguém com todo o amor que guardava em seu peito,

De repente, guardar o amor já não fazia mais sentido,

 

Ele queria provar aquela luz que o iluminava,

Que o tocava por dentro despertando seu coração

De um sono em que há muito dormia,

Já não se sentia perdido, havia se encontrado naquela paixão,

 

Seus olhos se abriam para algo novo,

E sua alma desejava ser desvendada,

A estendeu a mão e sentiu-se arrepiar com seu calor,

Dividiram o café e falaram sobre a vida,

 

Sobre coisas que desejam provar,

Perceberam o quanto tinham em comum,

Então, se aproximaram com um sorriso dos olhos a boca,

E beijaram-se, ali mesmo, o amor que se fez em um acaso,

 

Teve a gentileza de tocar suas almas,

E unir dois corações em uma história romântica,

Refletindo o desejo que havia em cada olhar,

Em um único pedido; durar por uma vida inteira.

Piquenique no Quintal

Restava pouca comida No quintal, A grama estava escassa, E as frutas estavam verdes. Os bichinhos andavam Em alvoroço, Iam...