O amor foi descoberto,
Naquela madrugada de sexta-feira,
Ele ficou onde estava, deitado a contemplar o teto,
Assim que a chamada foi encerrada ele teve certeza,
A amaria por uma vida inteira,
Talvez nem esse tempo seria o suficiente,
Sua voz calma, sua pele macia, a forma como ela o abraçava,
Tudo o levava a crer que seu amor duraria para sempre,
Abraçou seu travesseiro, sorriu a contento do que sentia,
Era como se um anjo da guarda guiasse sua vida,
Todo o tempo que tinha percorrido, até então,
Era glorioso, poderia admitir, mas insuficiente,
Felicidade passageira que satisfaz por momentos,
Mas não chega a alcançar o coração,
Ele teve certeza ao cruzar com sua maneira simples de ser,
Que queria muito mais que isso em seu destino,
Queria entrar de corpo e alma no vigor desta paixão,
Merecia algo que o despertasse para uma vida com emoção,
Uma emoção duradoura, não queria perder tempo,
É certo que a música em que dançou com ela nos braços
Foi intensa, diga-se de passagem: absolutamente perfeita,
Mas a maneira como ela sentia-se frágil, solitária,
A forma como ele se viu refletido em seu olhar,
O fez desejar estar ao seu lado por uma vida inteira,
Ele olhou em seu dedo anelar, percebeu que um anel lhe
cairia bem,
Ela era encantadora, ele queria retirar todas as marcas
ruins do seu passado,
Deixaria seu toque registrado em sua pele,
Através da marca de um anel em seu dedo,
A partir do momento em que ele cruzou suas vidas,
Fez um juramento secreto, mais para si mesmo que para
qualquer outro,
A cuidaria, com tudo que fosse preciso, a protegeria,
E nunca mais permitiria que alguém a ferisse da forma que
fosse,
Sabia pela maneira como ela sentia, agia e amava,
Que ela merecia todo o sentimento que ele guardou com
esmero,
Parecia ter certeza de que algum dia a encontraria,
Ele havia buscado dentro de si mesmo todo esse sentimento,
E agora, o via refletido no jeito encantador daquela moça,
Ela era linda, pura, profunda em tudo que sentia,
Era como se as músicas que compôs tivessem-na tocado de
alguma forma,
Despertando-a em um convite despretensioso a provar do que
acreditava,
E agora, doce encanto do destino, ela era sua,
A moça que o procurou em cada canto da cidade,
Repousava nos seus braços, entregue, plena,
O silêncio do lado de fora da janela o fez tocar um cd,
Trazendo uma música que lembrava tempos longínquos,
Que falava em uma espécie de códigos sobre sonhos proibidos,
Sobre sentimentos fadados ao silêncio,
Ao vazio obscuro de um coração vago, imperfeito,
Ele escreveu aquela música em um lugar tranquilo,
De onde acreditou: ela nunca ganharia espaço midiático,
Mas lá estava ela, anos depois rompendo obstáculos,
Quebrando regras, conquistando sonhos,
As coisas que pareciam estar seguindo uma ordem,
Indesejada, mas pré-estabelecida, agora estavam condenadas
A constituir letra morta em um cemitério de desordem,
Caos em que as pessoas se uniam, conjuntas,
Buscando um lugar em que pudessem sentir-se seguras,
Abandonando os becos sujos e escuros da cidade morta,
Para refugiarem-se sob os holofotes, mentes pensantes
Em busca de sonhos em que pudessem viver plenamente,
Vozes solitárias gritavam suas dores, espalhando sua alma
De cada canto da cidade, e finalmente, eram ouvidas,
Pessoas se levantavam, agiam, acreditavam em si mesmas,
Já não eram corpos vazios e obscuros a perambular,
Eram seres humanos buscando o direito à vida,
Buscando transformar o seu redor que dormia seu sono
profundo,
Agora, ele vê, sente que todos pedem mudança na sociedade
mundana,
Em que vidas são ceifadas na entrega de seus corpos,
Destituídas de suas almas, abandonadas ao fracasso,
Condenadas à morte solitária dentro de si mesmas,
Corpos semivivos em busca de algo a mais que isso,
Amor, gritou uma voz estranha do chão em que caia,
Amor, responderam os demais e de uma a uma
As pessoas uniram suas forças, lutando pela família humana,
Já não bastavam leis escritas, sem efetividade,
Encobertas por suas lacunas, as pessoas se levantavam por um
clamor antigo,
Liberdade, igualdade, fraternidade, dignidade,
Com uma lágrima a molhar sua face,
Ele pegou as chaves do carro e rumou em sua direção,
Viveria seus sonhos, entregaria a ela seu coração,
Lutaria, faria o que fosse preciso, mas a protegeria
Estaria ao seu lado, a todos era merecido uma vida plena,
Se a arbitrariedade gritasse de um lado,
Ele ousaria falar mais alto, e unir esforços,
A ninguém era dado o domínio sobre o outro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário