A lua cheia brilhava naquela noite,
Ela bebia seu vinho com um arrepio na pele,
Uma música lhe falava sobre um amor verdadeiro,
Ela sentia-se sozinha, precisava fazer algo sobre isso,
As pessoas ao seu redor diziam que ela estava velha,
Que o tempo passa de igual forma para todas as pessoas,
E na sua idade todas já estavam felizes, casadas,
Umas grávidas outras com seus filhos no colo,
E ela continuava ali, no mesmo lugar,
“O que você está a procurar ou esperar?”
Lhe diziam elas, demonstrando algo como preocupação
Ou talvez tivesse outro nome, a alertava o coração,
No entanto, ela saia, buscava na balada,
Nas festas com pessoas, geralmente, mais jovens que ela,
Nas redes sociais através de perfis, que ela acreditava
A exponha muito, entregava de mão beijada
Todo e qualquer segredo que pudesse ter,
Entre fotos e frases colocadas em momentos diferentes,
Entre uma conversa e outra, um rapaz, esporadicamente,
Lhe chamava a atenção, seu relógio biológico gritava:
Tic-tac, o tempo está passando e você está ficando para
trás,
Ela sentia urgência por ser amada, ser desejada,
Parecia que algo lhe faltava, por quê era diferente dos demais?
Então ele vinha, trazia flores, bombons, presentes,
Mas a conversa não fluía, ao contrário, era monótona,
Não se estendia para muito além daquele instante,
Ela desejava mais que isso, desejava ser tocada,
Reconhecida, sentida, valorizada por si mesma,
Alguns vinham e falavam sobre o trabalho,
Outros, inclusive, se interessavam por seus rendimentos,
Se ela pudesse ouvir seus pensamentos,
Iria assustar-se, tinha certeza disso,
A conversa pairava sobre o carro que tinha,
Sobre a forma como dirigia sua vida,
Sobre a casa ou o local em que residia
E todos que chegavam nela, queriam mudar alguma coisa,
Desta feita, o tempo passava feito a noite que se despedia,
E vinha o inevitável desejo de tocá-la,
Tudo se iniciava com um beijo explorador ou não,
Alguns ousavam, já no primeiro dia, falar de amor,
Só porque ela desejava ser amada,
Acreditavam que qualquer discurso fosse conquista-la,
Chegavam a olhar no fundo dos seus olhos,
E sussurrar com um sorriso nos lábios: eu te amo,
Ela tentava fugir, mas parecia que tudo a empurrava
A seguir adiante naquela história que se formava,
A partir daí, vinham as carícias sedentas por intimidade,
Ela precisava dizer não, não se sentia segura,
Porém, ali sozinha, como poderia reagir de forma diferente?
Deveria entregar-se, e fazer como todas as outras?
Falar de amor sem sentir-se correspondida,
Buscar completar-se no vazio de lábios falsos,
Mergulhar nas carícias que não faziam nada
Além de invadi-la, toma-la de si própria?
Havia algo de errado com ela por buscar mais que isso?
Por que os demais pareciam contentar-se com tão pouco?
Isso que lhe ofereciam eram como restos,
Beijos não correspondidos que buscavam saciar-se
Em corpos bonitos e desejados em que a beleza era tudo que
importava,
Sempre havia ali um copo de alguma bebida, ela bebia,
Senão se sentiria excluída da conversa que recém se
iniciava,
E as coisas tomavam um caminho mais fácil, parecia,
Nesta seara, chegava a temida hora do não, não quero, não
aceito, não posso agora,
Era terrível o olhar que provava neste momento,
As carícias invasivas que pareciam ensurdecidas ao que
dizia,
As palavras desmedidas que violavam seus ouvidos,
Os atos ofensivos que se desenhavam diante dela,
Ela, então, suspirava, munia-se de toda a sua força,
E o colocava para fora, a casa era sua, a vida era sua,
Somente ela poderia decidir por si mesma,
Fechava a porta, trancava-a e desejava nunca mais querer abri-la...
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