Os olhos claros que me olharam por cima da hortênsia,
Me prometiam muito mais que a proximidade do azul do céu,
A um afagar dos seus dedos uma flor azul foi removida,
Tão logo uma mão se estendeu em minha direção,
Um eu te amo eu vi ser pronunciado por seus lábios,
No doce mover da sua boca sem ruído ou outro gesto,
A importância que ele me cedia me fazia única,
Ainda dói quando me lembro o seu afastar de nós,
Recordo ter me inclinado e oferecido a minha mão em concha,
Toquei usando toda a minha força o seu braço,
Disse num sussurrar e um pulsar acelerado: meu amor fica,
Na mão em concha que eu lhe estendia continha muito,
Posso afirmar que lá estava eu inteira sem mentira alguma,
Pois antes de estendê-la levei-a ao peito e retirei-me,
Ali cabia o meu coração, pois na caixinha que sou eu,
Na qual eu o guardava já não havia mais espaço, perdia-me,
Eu estava tão repleta dele que precisava me entregar,
O erro que cometi tentei concertar com minhas lágrimas,
A dor que eu sentia eu tentei guardar sem dizer nada,
Mas o amor, este eu guardei todo naquele gesto e o ofereci,
Derramado em minhas veias, até nas lágrimas que caiam sobre mim,
Juntei toda a minha força para oferecer um último gesto,
E com ele, uma única palavra que não podia ser calada: fica,
eu repetia;
No mesmo instante em que eu me inclinei eu sabia seu
tamanho,
Tive ideia do quanto ele era importante e da futilidade do
meu caminhar,
Aquele salto agulha que eu usava, não adiantava em nada e
até feria,
No inclinar vi transbordar tudo o que eu sentia sem exageros
ou clemência,
Eu o amava como nunca a nenhum outro, e ainda tentava me
enganar,
Apegada a erros que eu mesma criava para pôr empecilhos,
Na busca do aproximar eu criava distância que eu definia:
segura,
Ele compreendeu a mensagem e agora decidia se afastar,
Não negava as juras feitas, nem recolhia as carícias postas,
Apenas partia, dizia que achava que se aproximava a hora,
Provavelmente aquela que eu criei a nossa volta,
A hora de sofrer, os minutos em que eu me recolhia em lágrimas,
Acho que me apaixonei pela dor e não sabia mais viver sem
ela,
Mas, agora inclinada, a dor fervilhava em angústia e eu
cedia,
Meu coração se derramava diante dele, e dentro só havia
amor,
Corriam a nossa volta as lembranças de nós dois juntos e
felizes,
E elas gritavam tão alto: não vá, eu lhe peço; que eu não podia
recuar,
- Fica, me vi falar, prometo tentar ser, ao menos, diferente
de antes...
O primeiro fica saiu num rompante sussurro com vida própria,
O segundo estava mais ciente de sua necessidade e
existência,
Mas, no terceiro, eu fechava todos os meus dedos em seu
braço,
Ousava olhar em seus olhos sem conter as lágrimas e falar:
fica;
Nunca uma palavra foi tão digna de sentimento e tão real
quanto esta,
Creio que nunca outra marcará de tal forma: fica, me vi
repetir,
Ele se soltou numa sacudidela singela e segura,
Tomou distância segura e de longe, acho que me fitava,
Confesso que quando meus dedos se soltaram eu baixei a
cabeça,
Não desejei ver o homem a quem amava partindo da minha vida,
Penso que nem todos são tão fortes e seguros desta forma,
Alguns minutos se passaram levantei o rosto para ver o
horizonte,
Queria gritar a ele: destruída, então o vi em pé na minha
frente,
Logo atrás do pé de hortênsia, alto e exuberante,
O homem másculo por quem me apaixonei perdidamente,
Dali de onde eu estava podia ver que ele tocava os céus sem
sair do lugar,
Seus olhos claros refletiam o firmamento em seu sorriso
curvado e singular,
Ele moveu a mão, eu tive um sobressalto rezei aos céus: meu
amor, fica,
Queria dizer a ele, meu anjo eu tenho medo, por isso ajo
como ajo,
Mas, meus lábios se moveram por vida própria estagnados naquela
palavra: fica,
-Eu te amo -, os dele me responderam., seguido por - sim,
vou ficar -,
- Tá, foi minha resposta, seguido por um sorriso de canto da
boca,
Como aquela que concorda e nem sabe se acredita de tão feliz que está.