Levei a mão na orelha e removi o brinco,
Foi somente nesse momento que senti aquele que amo,
Ele estava postado a alguns metros atrás de mim,
Embora eu não tenha virado o rosto para vê-lo, podia sentir,
Ele escutava cada movimento meu, parecia me estudar,
Ousadia a minha, mas ele parecia preocupado comigo,
Minhas roupas finas estavam agora molhadas e eu tremia,
Lágrimas rompiam dos meus olhos e escorriam pelo rosto,
Traçavam um caminho por minha face e vagavam a esmo,
Tinha a impressão de que se perderiam no vazio do meu peito,
Talvez, lá pudessem afogar toda a dor e mágoa que eu sentia,
Ou quem sabe nem chegassem lá, estagnadas sobre minhas
roupas,
O ouro pesava em meus dedos demais para tentar tocá-lo,
Foi assim que aconteceu quando eu saí batendo a porta,
Nem ao menos estendi a mão para um afago ou um adeus,
Saí pela porta deixando para trás as promessas e os sonhos,
Tive medo de que meus anéis pudessem se enroscar em seus
dedos,
Tive medo de que houvesse algo a prender-nos,
Não quis ouvir nada, meus ouvidos estavam pesados e baixos,
A voz dele antes um afago, agora me soava feito veneno,
Entrasse pelos ouvidos poderiam embriagar minha mágoa,
Deixar nublado por nuvens densas da indecisão o meu coração,
Este, não queria mais amar, preferia sair por aquela porta e
não voltar,
Assim é a paixão quando sofre em demasia, se irrita,
entristece e sai,
Eu abri as janelas, troquei as cortinas, mas a paixão
permanecia,
Em um ímpeto de ira abri a porta da saída e saí eu mesma,
Sua voz e suas juras pareciam conter um castigo doloroso,
De que me adiantava me prender em tudo que houve?
Em meus dedos anéis e unha bem-feita, nada mais a me prender,
Mas, quando respirei o ar puro da rua, não senti nada,
Ao contrário, me bateu uma ilusão repentina,
Algo como um calafrio percorrendo a espinha,
Mas não me permiti incomodar com o desconforto, eu estava
certa,
Bastava escolher em suas frases as palavras corretas e
repeti-las,
Feito um fio de faca em meu peito, ferindo cada uma das
juras,
Eu poderia sofrer, tinha consciência disso, mas não queria
voltar,
Em seus braços onde prometi permanecer para todo o sempre,
Havia um vazio frio e indesejado, nos meus os braceletes,
Havia em mim uma muralha visível para seus olhos negros,
Algo resistente o bastante para nos distanciar,
Ao menos foi o que eu acreditei até perder meu primeiro
brinco
E me obrigar a me abaixar para juntá-lo do chão sujo,
Meus brincos nunca seriam postos num lugar como o que estava
Não tivesse saído a esmo da nossa casa, por estar
incomodada,
Não teria perdido, como perdi, uma parte dele, estava caído e partido
ao meio,
Como meu coração e aquela voz que agora chegava a mim
entrecortada,
Minha maquiagem bem-feita agora estava borrada em lágrimas,
Pessoas passavam e me viam na rua agachada,
Tateando pelo chão a olhos cegos e desconcertada,
Não ousei levantar os olhos para quem passava,
Não desejei nem ao menos cumprimentar para evitar me ver,
Meu brinco estava em pedaços, meus olhos vermelhos e
inchados,
A maquiagem escorregava pelo rosto por entre as lágrimas,
Da pessoa que eu era com quem amava/amo, não restava muito,
E mesmo assim, ele não havia desistido,
Quão pouco o agradeci por tudo que fez e faz por mim,
Quando toda a mágoa em que me apeguei me diluiu,
Outros esqueceram quem eu era, mas ele não,
Mesmo eu tendo descrido de nós dois, batido a porta na
saída,
Nada disso o fez ficar distante demais de nós,
Não levei por assombro quando sua mão tocou em meus dedos,
Minha unha estava quebrada, a um ponto de ser roída,
Ele apertou-a com carinho, como se quisesse escondê-la,
Sabia o quanto significava, o brinco ficou do lado do pé
dele,
Ele poderia ter pisado mas não o fez, apenas o ajuntou,
Com a mesma mão que juntou a minha e puxou-a para si,
Me fez levantar e ficar na mesma altura que ele,
Apertou-a, que agora segurava o brinco como última
alternativa,
Contra o seu peito que estava em sobressalto,
Meus olhos não viam muito, mas o avistavam,
O viam o suficiente para deseja-lo para sempre por perto,
Meu ouvido, antes ensurdecido agora ouvia a mim mesma,
Eu te amo eu sussurrava enquanto o olhava em seus olhos,
Eu te amo, pude ouvir de quem amo, vamos voltar para a nossa casa?