quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Um Primeiro Beijo

 

Existe um lugar que se estende ao norte,

A partir da estrada margeada por árvores e algumas poucas flores,

Cinco quilômetros a oeste de onde ficam as primeiras montanhas,

À quatro quilômetros de um campo recheado por gramas floridas,


Há quem alegue que elas nunca cessam o seu desabrochar,

Que os pássaros que cantam por lá são únicos e fazem chorar,

À direita deste lugar existe uma fonte de fogo de onde o sol nasce,

À esquerda ele se deita para descansar além do horizonte,


Mas, por algum motivo os campos de lá são os mais bonitos,

E a água que percorre o rio é amena – doce, serena e as vezes, morna-,

Depende do lugar em que se põe o pé, algumas partes diferem,

Porém, o sol ardente nunca toca este lugar,


Lá é um lugar seguro e promissor,

O acesso se dá por um desvio bastante desconhecido,

Sua estrada, embora exista, não se encontra no mapa,

A cortina de árvores que a adorna, mantém-se fechada,


Apenas os que a conhecem conseguem alcança-la -  a estrada-,

O sol que brilha um pouco acima do teto desta mata

Mantém-se vívido, o que proporciona uma claridade languida,

Suas flores guardam um cheiro de tempos passados,


Sempre que passo por lá recordo tantas histórias...

Foi lá que conheci o homem que eu amo,

A história é comprida, mas eu disponho de algumas linhas,

Era um dia de chuva, trovejava por lá,


Parei diante dele com a respiração ofegante,

Tentava me refugiar em algum lugar que estivesse seco,

Não trouxe guarda-chuva e se aproximava a tempestade,

Ou a forma de uma, dizem que neste lugar nunca cai ventos fortes,


Foi então que o vi, ele enxugou o rosto com um lenço amarelo,

E depois fitou-me, dizendo algo que eu não ouvi,

Seus lábios movimentavam-se rápidos e eloquentes – o entendi -,

Se aquele rio que corria logo adiante fosse feito de tinta,


E todo ele entornasse entre os meus lábios em forma de palavras,

Eu não seria melhor que fui, precisaria de um mar dele ou mais,

E não seria o bastante para expressar todo o sentimento,

O amei de forma avassaladora que nem mesmo o vento me tocava,


O trovão mais forte não continha o timbre da sua voz,

O relâmpago mais próximo e ardente não continha a luz do seu olhar,

O raio mais cortante não me penetraria como ele,

Se cada gota tornasse palavra, mesmo somado a chuva não bastaria,


Não pude ouvir nada, estava estagnada em tudo que sentia,

A neve do último inverno descia nas montanhas ao longe,

O frio que me escondia de amar alguém era espantado – ficava distante-,

Quanto mais ele se aproximava mais eu correspondia,


Estremecia e não era por medo, ardia em brasa viva e não era fogo,

Sentia o sangue correr mais intenso, algo dentro de mim reagia,

Confesso que sobre isso não sabia que atitude tomar,

Embebi no doce dos meus lábios as palavras que pude,


Quis dizer o máximo do que sentia e não saiu nada,

Pensei em gesticular, foi quando a chuva caiu lá no horizonte,

Feito uma cortina de sentimentos ela veio em nossa direção,

Leva-se alguns minutos até que nos tome em suas mãos,


Leva-se muitos dias até que toda a neve derreta,

Não no nosso caso, o frio do meu coração derreteu na hora,

O gelo em meu olhar evaporou em sentimentos fidedignos,

E a chuva quando nos tocou serena parecia que cantava,


O primeiro pingo caiu no meu rosto, logo abaixo do meu olho,

Parecia uma lágrima de uma alegria desconhecida,

Os outros molharam meu cabelo, esvoaçando-o na brisa fresca,

Depois molharam a minha roupa rosa,


Em sobressalto contemplei o cair do seu lenço ao chão,

Nem me esforcei para juntar o vento o carregou consigo,

Não era apenas minha a emoção de estar com ele,

O tempo o tinha entre seus dedos e gostava disso...


Ele fungava enquanto falava alguma coisa e me olhava,

Eu tossi uma vez, engoli em seco e terminei próxima demais a ele,

Ele parou para recuperar o fôlego, seus olhos brilhavam intensos,

Passei a língua em meus lábios e elevei um dedo ao alto,


Desejei conquistar sua atenção, toquei em seu ombro,

Afrouxei os outros dedos e apertei-o, queria ver se era real,

Trouxe-o: eu te amo me vi sussurrar, talvez feito uma tola,

Sem esperar por sua resposta o beijei naquele mesmo local,


Enquanto um bando de andorinha voava buscando abrigo,

E algumas tesourinhas pareciam brigar nos céus por entre os relâmpagos.

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