terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Pra Sempre Senhorita

Outra vez,
-o quê?
A moça cansou-se
De novo.
E como você vê,
Você a que sempre foi
Contra casamento,
União de laços,
Amores eternos.

Você ficou!
Insegura
Nas suas falsas bases,
Amedrontada demais
Para escolher próprios amores,
Estagnou.

Ótimo,
Fez sexo com todos,
Independência é crucial,
Mas foi dependente
O bastante
De opiniões
Para nunca se decidir por um.

Nunca assumiu alguém
Publicamente o bastante.
Querida,
Chamar de amor é fácil,
Definir marido é simples,
Mas cadê o compromisso?

O assinar papéis cartorários,
Trocar sobrenomes,
Assumir novas famílias?
Você é dada a conselhos,
Nunca assumiu um único,
Vieram seus filhos,
E as massas não souberam
De seus amores,
Sem documento para estabelecer,
Sem religião para comprometer,
Como você definiria o que fez?

Uma ligação sem vínculos?
Para comprovar que houve
É necessário chamar os filhos?
Você foi autossuficiente,
O bastante,
Para nunca ser de alguém?
Então, soube ser boa mãe?!

A pra sempre senhorita,
Você acha que este título
Lhe manteria o corpo?
Parabéns,
O tempo passou,
Sua cara caiu,
Seu corpo ficou flácido.

A garota dos conselhos,
Aquela que nunca ficaria sozinha,
Não conseguiu alguém para o altar,
Não foi capaz de assinar papéis,
Sem pressões,
Sem comprometer,
Acordou certo dia
E não havia ninguém.
Eu lembro de você decidir minha vida,
Ganhar os beijos dos maridos
Das amigas,
Eu me ferrei menos,
Ou mais, não sei.

Mas, você continuará
Aí pra sempre,
Sozinha?
Pra sempre senhorita?
Não me diga que a culpa é minha,
Não rotule suas filhas,
Sua mãe, primas ou tias.

Pra sempre senhorita
Aquela que teve medo de se casar,
E apenas, escolher um cara.
É tão simples assumir um rapaz,
Nem isso você foi capaz.
(-querida, deve ser triste isso.
Paraja, fechou o livro
Com este único comentário).

Desespero de Antônio

Desespero,
Antônio entrou dentro de casa,
Trancou a porta,
E algo despertou dor intensa,
Seu último pensamento
Foi Pleaza,
Apertou o peito,
De alguma forma,
Sem saber por quê,
Pediu a Allah nunca esquecê-la.

Entrou no corredor da sala,
Chegou a ela,
Encontrou sua mãe caída,
Um choque o tomou,
Sangue frio lhe correu nas veias,
Suor gelado escorreu
Por seu corpo.
Quis gritar,
Já não soube o que era.

Foi até ela
Como se contasse os passos,
Agachou-se por estímulo,
Olhou sua pulsação:
Nenhuma!
Seu coração não batia,
Procurou seu calor.
Não havia.
- gelada. Minha mãe está gelada!

Dor intensa lhe tomou,
E ele caiu ao seu lado.
Após isso,
Um escuro lhe tomou os olhos,
Um clarão os abriu,
Ele olhou aquele ser humano
Só lado dele,
Caída e imóvel,
Não soube o que era,
Apenas sentia dor
E dificuldade para respirar.

Olhou para si,
Também não se soube distinguir,
Olhou ao redor,
Não reconhecia nada.
Tentou falar, ou pensar.
Nada lhe vinha a cabeça,
Sentou-se.
Vendo-a caída,
Pensou que deveria ser daquela forma,
Jogou-se para trás
E não levantou-se mais,
A fome lhe tomou,
Ele não soube o que fazer,
A fome se prolongou,
E a barriga passou a doer.

Um barulho forte
E urgente saiu de sua barriga
Implorando por comida.
Ele não soube o que era,
Sentiu vontade de urinar,
Sem entender o fez nas calças,
Após isso,
Seu corpo quis defecar,
O fez da mesma forma.

Veio a noite,
E veio o dia,
Sentiu sede intensa,
Dores na boca seca,
Não soube o que era água,
Nem ao menos o que sentia.
Olhava para a pessoa ao seu lado,
E pareceu indagar o
Porquê não se movia.

Veio a noite
E veio o dia.
Suas calças foram ficando cheias,
A pessoa ao seu lado
Não pareceu da mesma forma,
E seus olhos estavam fechados,
Ela não suava,
Ou fazia barulhos,
Isto lhe pareceu estranho,
E uma dor intensa
Lhe tomava o peito.

Tanto mais a olhava
Mais parecia entender,
E menos queria.
Dias e noites,
Ele lembrou um número,
Olhou nos dedos dela,
E pareceu saber o que fazer,
Discou em silêncio.

Não falou nada,
Permaneceu na linha,
Apenas barulhos escapavam
De seu corpo
E de seus lábios imóveis,
Então, eles se abriram:
-Pleaza.
E nada mais depois disso.
Horas foram.
Então, ele soube fazer o que ele pedia.

- por favor, me diga onde está?
Ela o ensinou a procurar o número da casa,
Explicar onde estava.
- o que houve,
Você pode explicar?
-sim. Não estou sozinho.
Mas, ela não é como você,
Não mais.
Porém, não se parece comigo.
A mulher atordoada e assustada
Desligou o telefone
E foi ao seu encontro.

Ao vê-la,
Ele sentou conforto,
Uma espécie de segurança
E calor intenso,
Então, seu coração iniciou os batimentos,
E ficou mais intenso,
Um calor forte correu por ele,
Ele olhou-a e lembrou-se,
Lembrou-se dela,
Ao trazê-la para sua casa,
Lembrou-se da mãe caída
E morta.

O Encontro

A senhora Pleaza
Juntou sua filha
E dirigiu até ele,
Precisava confiar.
No banco do carro,
Juntou entre suas mãos,
As mãos da filha em prece,
E beijou sua testa.

Nada foi mencionado sobre
Ter sido um engano,
Uma mentira impiedosa.
Chegaram a casa,
Bateram a porta,
Ouviram murmúrios,
Palavras desconexas,
Era sua voz,
Bateram juntas na porta
Desta vez mais forte.

Tiveram que explicar a ele
O que fazer
Para que pudessem entrar.
Ele abriu-a, por dentro.
Jogou-se de súbito nos braços dela,
Então, beijou-a.

Ela não teve forças
Para conter seu ímpeto,
Inicialmente,
Ficou a esperar,
Após isso,
Foi tomada por voraz paixão,
Que admitiu com custo sentir,
E tomou seus lábios
Entre os dela,
Com murmúrios e gemidos,
Implorou em si
Para que não se afastasse.

O beijo dele
Lhe pareceu suplicante,
Uma carícia ao seu ego solitário,
Um tapa na sua viuvez,
Com afagos de carinhos,
Ao lado da filha,
Em sua presença,
Desfez-se do gosto dos lábios
De seu marido.

Não sentiu outros medos,
Apenas ganhou certezas
Intensas,
Precisava protege-lo,
Todavia, ao separar-se do beijo,
Foi tomada por um clarão de pensamento,
E nada lhe ocorria na mente,
Apenas dor em seu coração,
Lágrimas lhe vieram ao rosto
E ela caiu de joelhos,
No entanto,
Ao abrir os olhos
Certa de que o beijo teve fim,
Quem estava de joelhos
Era Antônio,
Com as mãos juntas ao peito.

Ela nunca havia sentido sensação tamanha,
Por um instante que fosse,
Sentir dentro de si
O sentimento de outra pessoa,
Olhou para o rosto da filha,
Enquanto ajoelhava-se para abraça-lo,
E não sentiu ao deparar-se
Com os olhos dela
Que a traía,
O sentimento era maior,
Abrangente e íntimo.

-Família. Você é a minha família.
Ele abraçou-a,
Apalpando ela,
Como se não soubesse o que fazer,
E seus olhos estavam turvos,
Enviados e em branco.
Parecia não haver nada dentro dele
Exceto dor,
Desalento
E...
Esquecimento?

domingo, 8 de dezembro de 2024

Líquido

Ela ganhou porra na garganta,
Menina, criança,
Não tinha sete anos,
Não sabia o que seria,
Mas conheceu o gosto.

Ela tinha chocolates,
Já elegeu um favorito,
Tinha os que queria,
Um dia, decidiu dividir
Com os amigos.

Encontrou um meio,
Falar ao seu ouvido,
Sem ser vista ou identificada,
Apenas ser correspondida:
O resultado?

Um tiro em seu rosto,
Bem localizado:
No seu olho,
Em sua garganta.
-Toma aí vai porra!
A outra ouviu por alto,
Correu até o chão,
Ver o que era,
Sem entender de imediato.

Uma cueca com porra,
Lambuzada de chocolate,
Pum, na sua cara.
Ela estava molhada,
O tiro foi intenso,
Fraturou um osso,
Não chegou de imediato,
Cueca, porra e chocolate.

Ele gritou:
- coma!
A garota correu,
Correu o máximo que pode,
Ele era parente,
Um primo,
Vizinho,
Conhecia os hábitos,
Acompanhava a família.

A outra garota,
A da porra ainda criança,
Está apenas os odiava,
E a todos.
Infância roubada,
Tirada a força,
Enlameada em doce,
Liquidada de fugas,
Sexo jogado na cara,
A família se esvaindo
No prazer de não ter juízo.

Um remédio controlado,
Um orgasmo desregrado.
Visitas periódicas,
A menina que se recusou a ser moça.
Um homem odiado.
Uma criança cheia de porra a solta.

Um chocolate expresso,
Café forte e intenso,
Agora em cada rosto que olho,
Eu pareço vê-lo,
Aquele que de tão próximo
Tornou-se pesadelo.

Mas e aquela?
A voz que ouço 
E não reconheço,
Aquela que o apoia,
Ampara o choro que soluço,
Vai-se o hematoma,
Mas não esqueço o trauma.

Mudanças

Passam-se as horas,
Acorda-se de um sonho bom,
Olha ao seu lado na cama,
Não foi sonho, não.

Está comigo
Este que amo.
Disfarço a felicidade,
Vou a cozinha,
Coloco a água aquecer
Para um café,
Durante a tarde fiz pão doce,
Acrescentei chocolate,
Agora está quase tudo pronto.

Misturo o café
No açúcar na xícara maior,
Espero a água aquecer.
Vou ao banheiro,
Pela primeira vez
Minha vagina está molhada,
Embebida em orgasmo.

Não.
Isto que limpo agora
Não é papel higiênico,
Contudo tenha tanto quanto,
Anteriormente,
Nunca passou de papel,
Todavia, estou vívida e sua,
Troquei o papel pelo líquido,
Sou a mulher que derrama-se
E o ama.

Inteiramente sua.
O cheiro exala intenso,
Chama-o,
Acorda,
O café está pronto.
Lavo as mãos em água fria,
Fecho a porta do banheiro,
A descarga é forte e barulhenta,
Sinto vergonha.

Mas o vejo parado na sala,
Alto e forte,
Sinto meu cheiro nele,
Desligou a chaleira,
Acrescento água quente
A xícara pronta.
Entrego-lhe,
Ele a pega acariciando minha mão.

Com suas duas mãos.
Minha vagina de papel
Fica líquida,
Exala intenso
E o chama.

Uma chama quente
Se acende por dentro,
Líquida meu corpo,
Devora os medos,
E exala desejo intenso.

Eu te amo.
Eu lhe digo,
Roço meus dedos
Em seu pescoço,
Subo ao seu rosto
E fico.

A mulher de papel
Está em chamas,
Porém não queima
Ou fere,
Se derrama
E lhe pertence.

Há um assombro em meu olhar,
Eu vejo,
E sinto isso,
Nunca fui capaz de me entregar,
Agora parece que sei o caminho,
O disfarce do papel higiênico
Foi trocado
Por lábios estremecidos de desejo,
Um rosto vermelho
E amor intenso.
Não é cheiro de defesas,
É meu orgasmo que o convida.

Chocolates

Então, ele disse que me amava,
Que iria me proteger,
Cuidaria de mim,
E me daria carinho,
Eu preferi recusar,
Sem entender
Ou procurar sentidos,
Não aceitar.

Todos aceitavam
E parecia bom,
Me custou recusar,
Beirava ao insensato,
Mas fiquei de fora,
Ergui a mochila nas costas,
Fui embora.

Anos passaram,
E tudo girava certinho,
Saí para fora de casa,
Pisei na terra
Após sair do último degrau da escada.

Fui atingida no rosto,
Algo brilhante voava pelo alto,
Eu não vi,
Nem revidei.
Acertada em cheio no osso,
Logo abaixo do olho,
Quase fiquei irremediavelmente, cega,
Não bastava não ser incluída
Nas brincadeiras,
Não pertencer a uma turma,
Agora cegada.

Na verdade,
Quase.
Apenas ferida.
Olhei o que era o objeto,
Se tratava de um canudo
De chocolates em bolinhas pequenas,
Ele veio dentro de um
Preservativo masculino
Cheio de líquido,
Eu não sabia o que era,
Apenas reconheci o cheiro
De chocolates
Me embriagando as narinas.

Líquido e chocolate
A se misturar
Em minha frente,
Eu não fiz nada,
Preferi não mexer,
Apenas reconheci o bastante,
Esperma e chocolate,
Foi o que me jogaram na cara,
Mas tudo bem,
Eu fiquei distante,
E pela primeira vez,
Fiquei feliz por não estar
Em uma turma,
A turma dos libertinos
Que faziam isso.

Me escolheram para alvo,
Desde pequena
Aprendi que homem fere,
Soube me distanciar
E proteger-me,
Eu não fui aquela que abriu,
Que desejou o chocolate,
Enfim,
Não lhe resistiu.

Saudade

Acostumou-se a sua presença,
Desejava as conversas
Que perduravam as horas,
Gostava dos assuntos,
Parecia que haver troca de olhares,
Sentimento de carinho recíprocos.

Contudo,
Sem delongas,
Na terça-feira ele não veio,
Na quarta-feira não deu notícias,
Na quinta-feira da mesma forma.

Ela esperou.
Preparou o chá da tarde,
Sentou-se no banco junto as flores.
Na sexta-feira sentiu-se estúpida,
Chamou a filha,
Pediu sua companhia,
Conversaram bastante,
Mesmo assim,
Seu olhar buscou o portão
E esperou por ele,
Ela nem soube o quanto.

No sábado sentiu-se indisposta,
Ninguém bateu a porta,
Ou fez ligação alguma,
Ele não veio outra vez,
Ela uniu forças e levantou-se ao meio-dia.
A tarde preferiu ficar a janela,
Não molhou as flores,
Não caminhou pelo quintal,
Retirou-se para o quarto logo.

A noite percorreu insone.
O domingo veio chuvoso.
As quinze da tarde
Ela tomou coragem para o café.
Dispensou o almoço,
Escolheu o filme tedioso.
Chamou o abraço da filha e chorou.

Segunda-feira de novo,
Nenhuma notícia.
Ela tropeçou no tapete
Ao retornar do quintal,
Bateu o queixo no chão,
Foi para o quarto,
Ficou febril e adoeceu.

Sentiu dificuldade para respirar,
Febre intensa,
Dores no corpo.
Sim,
Ausência dói,
Saudade corrói,
E homem vagabundo mata.

Ela sempre foi forte,
Cuidou da filha de forma exemplar,
Mas seu coração preocupava-se,
E o motivo era importante,
Ele ausentar-se
Não era nada inaceitável,
Mas tantos dias,
Sem apresentar notícias,
Isto, no mínimo era importante.

Abraçou a filha forte,
Sem sair da cama,
Ou tirar o pijama.
- gripe, mãe.
Ele deve estar gripado.
Ela não aguentou ouvir isso,
Sentiu-se pior,
Fechou os olhos
E não teve mais forças para abri-los.

A filha saiu,
Foi a cozinha,
Fez um chá forte
E voltou ao quarto.
- tome.
Cuide-se por ele,
E mesmo distante ele irá melhorar.
Ela uniu esforços,
Abriu os olhos,
Bebeu de gole a gole.

E sorriu.
- sinto que ele ficará melhor.
Sei que sim.
Obrigada, filha.
Abraçou-a.
Tomou sopas,
Comeu saladas e frutas,
Bebeu muito chá com mel.

Rezou muito para Allah,
E soube em seu íntimo,
Ele iria resistir,
Fosse o que fosse,
Não iria desistir.
A noite soube
Que o telefone dele quebrou,
A mãe dele faleceu,
E ao chegar em casa e vê-la morta,
Desmaiou,
Acordou sem forças e
Sem lembranças,
Mas a algumas horas
A memória voltou fragilizada,
Foi como se uma imagem
Lhe surgisse no pensamento,
Então, viu ela rezando por ele,
E no passar das horas,
Recordou aquele número de telefone e discou:
- então, quem você é?
Ele pediu.

- há alguém morto aqui.
Eu me sinto mal.
Ele disse.
- querido, penso que seja sua mãe.
Ela respondeu,
Sabia em seu coração
Que ele jamais machucaria alguém,
Muito menos a trairia,
Está mulher que ele encontrou
Caída no assoalho de casa,
Não podia ser pessoa diversa,
Se tratava da mãe,
E ele não mentiu,
A casa era dele,
E ele não a traiu.
Ela sabia disso.
Não soube dizer como.
Mas estava certa.

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