quinta-feira, 27 de junho de 2024

Sem Escondidas

A menina fala em voz alta,
Usa calças,
Já sabe trabalhar,
No entanto, uma criança.
Não serei usada,
Não pretendo sofrer,
Não sei chorar,
Muito menos me arrepender.

Dona de si mesma.
Não.
Não era dona nem do que vestia.
O pai da um puxão.
Remove a calça.
Único impulso.
Único gesto.
Feito!

Puxa a criança com o braço.
Leva uma mão entre suas pernas.
Mão fechada.
Tenta engalfar os dedos,
Inútil ou útil.
Único movimento 
E dedos molhados ficam a mostra.
Sangue.
Sangue ingênuo e inocente.

Ela não era dona de si mesma.
Não era tão capaz quanto pensava.
Não sabia ser tão forte,
Não a ponto de se esconder.
Solta e livre.
Mas sangue não volta.
Nem hímem.
Escorreu por suas pernas,
Nunca seria de um homem.
Nem pertencia a ela.

Hoje muda as roupas,
Mede os gestos,
Cuida as palavras.
Acredita ser dona de si mesma.
Vê no pai outros homens,
Não vê neles novo pai.
Era hora de você menstruar,
Dizem.
Foi veneno que fizeram,
Era sangue coagulado,
Você precisava por para fora…

Ela pensa ao se mover livre
Por entre homens grandes e fortes,
Que não custam muitos movimentos 
Um rompimento de roupa,
Que não dói a eles
Demais um afastar de pernas,
Um introdução não desejada,
Uma crença de adulta desfeita…

É difícil fazer uma escolha,
Compreender a amplitude,
Defender quem não estava presente,
Ser suficiente após a origem de uma ideia.
Uma crença,
Uma razão,
Um desfecho,
Um despacho de esquina.

Hoje,
Roupa desfeita,
Cabelo em desalinho,
E desconfiança entre os olhos,
Ela sente -se mais segura para falar,
Beija de maneira moderada,
Prefere conhecer de forma íntima,
Busca profundidade para confiar,
Esconde o zíper da calça,
Põe o botão por baixo da camisa,
Usa os braços para disfarçar 
Silhueta e movimentos,
Não é que não quer ser vista,
Prefere ser cortejada, amada, buscada.

Ela não é garota que se esconde,
Não aprendeu sobre isso,
Ela é aquela que sofre,
Por conta disso,
Você hoje sabe sobre isso
E tem a oportunidade de se defender,
Oportunidade que ela não teve,
Não quer e não ousa tirar de você.
“Sangra e fere e faz doer”.
Se é por curiosidade,
Satisfeito.
Esta frase encurta muitas frases.
Muitos olhares perdidos
E buscas por caras legais,
Mas que no fundo
Não são homens.
"Busco o máximo!"
Não se satisfaz com os sem caráter,
Aqueles pouco satisfeitos,
Acha-os muito duvidosos,
Gosta daquele que preenche!
Aqueles que estão em menor número,
Mas que entendem,
Ouvem, e protegem um pouco.

"Meu pai me estuprou,
Não foi culpa dele,
Foi do meu tio que segurou".
"Relato!"
-Ha, o Renato?
Gritou o estranho.
"Não, re-la-to!".
-Quem?
"Ah, você não conhece!"
-Ta certo!
Ele tira os olhos 
Do papel em branco
E olha para ela,
Olha direto e fixo.
Depois, desvia.

segunda-feira, 24 de junho de 2024

35 Anos e Um Amor Perfeito

Gostaria de poder voltar no tempo,
Retomar todos os momentos.
Tê-lo.
Tê-lo não porquê não o tenho.
Mas porquê queria tempo.

Tempo para estar com você,
Te abraçar mais forte,
Ficar mais tempo.
Tempo para cheirar seu maxilar,
Sentir seu pescoço.
Querer seus beijos.

Desejar cada um de seus cheiros,
Cuidar de seu temperamento.
Voltar no tempo.
E vê-lo chegar perto,
Então, correr ao encontro.
Abraçar e ficar.
Te segurar até te impedir de ir,
Estar apertada junto a ti.
Sentir.

Não ter o coração apertado,
E prestes a chorar.
Perder cada motivo
Que incita em me fazer brigar.
Olhar nos seus olhos,
E deseja-los altivos e vitoriosos.
Fazer seus chás,
Cuidar de seus temperos.
Valorizar cada um de seus traços,
Ver nossos filhos correndo para os abraços.

Queria voltar no tempo.
E desde lá atrás cuidar mais.
Ver você de um jeito mais forte,
Imaginar seus ossos mais potentes.
Seus dentes mais bem cuidados
E o sorriso mais brilhoso nos lábios.

Queria ver seus músculos mais salientes
E depois nem tanto.
Cuidar de suas cores,
Reconhecer os torpores,
Desenhar seus sabores.
Queria saber a data do seu aniversário,
Não ter medo de carregar seu nome
Em meus lábios,
Poder chama-lo sem ter que gritar
E fingir rancores.

Queria ter momentos mais bonitos
Para me recordar,
Ter inventado mais motivos
Que te fizessem ficar.
Queria ter sido melhor,
Feito coisas mais bonitas,
Cativar seus carinhos
E não estar agora tão atônita.

Queria me aproximar de seus amigos,
Odiar seus inimigos,
Proteger você de tudo em que caí,
Te livrar de cada mal que sofri.
Ter sido um pouco mais o alvo
E ter podido te contar antes os causos.
Te avisar.
Fazer você prever o que viria,
Te contar tudo de que são capazes,
Reconhecer.

Queria voltar no tempo,
Não estar ferida,
Não cair em rumores,
Não ignorar você.
Não imaginar vultos e acreditar neles,
Não querer proteger seus carinhos,
Ou achar alguém para frentear tudo isso.
Odeio a distância de você.
Estas pessoas por trás de minhas atitudes.
Odeio estas vozes.

Me dói a garganta,
Me dói a cabeça,
Os dedos de tentar buscar.
São vozes e vozes e não querem cessar,
São tantas e me dão medo.
Queria ter mais forças,
Ser ousada da forma certa,
Não sentir esta dor na barriga,
Não querer tanto voltar atrás.

Deixei você lá para trás,
Ignorei seus sentidos,
O que você era
E tudo que seria capaz.
Eu segui.
Segui sozinha.
E com demônios em companhia,
Segui perdida,
Não entendi coisas suas.
Coisas minhas.
Meu pé dói ao meio
De tanto que caminhei,
Dei tantas voltas sem paradeiro,
Sem destino certo,
Hoje você concerta tudo isso,
Como um nervo que se desloca,
Você toca, aperta e deixa do seu jeito…
Logo faço 35 anos.
Com você ao meu lado,
Sem poder voltar no tempo,
Antever.
Destruir sistemas definidos a tanto tempo…

Rasgou pele,
Deslocou nervos,
Fraturou a carne,
Modificou o osso.
Definiu movimentos,
Obrigou posturas…
Quem sabe criou palavras,
Obrigou crenças…
Estou ferida,
E agora é doença.
Você sabe e entende.
Me protege.
Reconhece meus medos.

Há um sorriso bonito a sua espera,
Sempre lhe entreguei o melhor,
Aquele amarelo,
Meio torto,
Sabor limão, 
Bem caseiro.
Havia ali um tiro.
Uma dor,
Você cuidou disso.
Havia sobre eu um sistema corrupto,
Que não gostava do meu jeito,
Do meu existir,
Meus pensamentos,
Você soube descobrir,
Me encontrar entre tantos enleios.
Queria voltar o tempo
Ter sido mais sua por inteiro,
Mas, você entende meus medos,
Reconhece os perigos,
Pode compreender os riscos,
Obrigada por estar comigo!

Busca aos Peixes

Masharey acordou, Subiu na alta cadeira Feita de pneu usados, E cantou alto: - estou no terreiroooo! Em forma de canto. Após iss...