A menina fala em voz alta,
Usa calças,
Já sabe trabalhar,
No entanto, uma criança.
Não serei usada,
Não pretendo sofrer,
Não sei chorar,
Muito menos me arrepender.
Dona de si mesma.
Não.
Não era dona nem do que vestia.
O pai da um puxão.
Remove a calça.
Único impulso.
Único gesto.
Feito!
Puxa a criança com o braço.
Leva uma mão entre suas pernas.
Mão fechada.
Tenta engalfar os dedos,
Inútil ou útil.
Único movimento
E dedos molhados ficam a mostra.
Sangue.
Sangue ingênuo e inocente.
Ela não era dona de si mesma.
Não era tão capaz quanto pensava.
Não sabia ser tão forte,
Não a ponto de se esconder.
Solta e livre.
Mas sangue não volta.
Nem hímem.
Escorreu por suas pernas,
Nunca seria de um homem.
Nem pertencia a ela.
Hoje muda as roupas,
Mede os gestos,
Cuida as palavras.
Acredita ser dona de si mesma.
Vê no pai outros homens,
Não vê neles novo pai.
Era hora de você menstruar,
Dizem.
Foi veneno que fizeram,
Era sangue coagulado,
Você precisava por para fora…
Ela pensa ao se mover livre
Por entre homens grandes e fortes,
Que não custam muitos movimentos
Um rompimento de roupa,
Que não dói a eles
Demais um afastar de pernas,
Um introdução não desejada,
Uma crença de adulta desfeita…
É difícil fazer uma escolha,
Compreender a amplitude,
Defender quem não estava presente,
Ser suficiente após a origem de uma ideia.
Uma crença,
Uma razão,
Um desfecho,
Um despacho de esquina.
Hoje,
Roupa desfeita,
Cabelo em desalinho,
E desconfiança entre os olhos,
Ela sente -se mais segura para falar,
Beija de maneira moderada,
Prefere conhecer de forma íntima,
Busca profundidade para confiar,
Esconde o zíper da calça,
Põe o botão por baixo da camisa,
Usa os braços para disfarçar
Silhueta e movimentos,
Não é que não quer ser vista,
Prefere ser cortejada, amada, buscada.
Ela não é garota que se esconde,
Não aprendeu sobre isso,
Ela é aquela que sofre,
Por conta disso,
Você hoje sabe sobre isso
E tem a oportunidade de se defender,
Oportunidade que ela não teve,
Não quer e não ousa tirar de você.
“Sangra e fere e faz doer”.
Se é por curiosidade,
Satisfeito.
Esta frase encurta muitas frases.
Muitos olhares perdidos
E buscas por caras legais,
Mas que no fundo
Não são homens.
"Busco o máximo!"
Não se satisfaz com os sem caráter,
Aqueles pouco satisfeitos,
Acha-os muito duvidosos,
Gosta daquele que preenche!
Aqueles que estão em menor número,
Mas que entendem,
Ouvem, e protegem um pouco.
"Meu pai me estuprou,
Não foi culpa dele,
Foi do meu tio que segurou".
"Relato!"
-Ha, o Renato?
Gritou o estranho.
"Não, re-la-to!".
-Quem?
"Ah, você não conhece!"
-Ta certo!
Ele tira os olhos
Do papel em branco
E olha para ela,
Olha direto e fixo.
Depois, desvia.