segunda-feira, 5 de abril de 2021

Lágrimas No Chuveiro


Eu podia ver seu rosto muito claro em minha mente,

O amargo lamento embebe o gosto do beijo,

Mas de forma alguma consegue apagar o para sempre,

O som do seu riso ecoava em minhas lembranças,

Hora como se fossem carícias, hora feito gritos,

Açoite aos meus dias tranquilos, suspiros para noites de sonhos,

 

Me fazendo ter forças para levantar a cada amanhecer,

Tomar um banho demorado para me sentir um pouco,

Como se eu já não estivesse mais aqui, mas sim, com ele,

Precisava constatar que ainda existia, que acabara tudo,

Ouvi ele falar mais alto assim que fechei os olhos no chuveiro,

Ele parecia querer voltar para o tempo em que estivemos juntos,

 

Tentei abolir sem êxito o desejo de que estivesse perto,

Mais um dia se estenderia sem que eu pudesse esquecê-lo,

Lá se iria mais um ano, comigo aqui a espera-lo mais um pouco,

Sempre um dia a mais, agarrada a momentos como se estivesse vivendo,

Onde ele estaria? Eu não tive notícias quanto ao fato,

Mas nada me impedia de pensar que não teria nos esquecido,

 

Quando se vive o eterno em um segundo não há como apagar,

Mesmo que nunca mais se repita, mesmo que fique guardado lá atrás,

Com algumas lágrimas misturadas a água fria eu implorava por algo,

Algo que reavivasse nossos momentos, sua voz, estava se apagando,

O vídeo em que estávamos juntos, eu o perdi por infortúnio,

As fotos, já não diziam muito, meu tom de voz sôfrego

 

Dava a entender que eu perderia a disputa, ninguém viria,

Ele estava longe demais para me ouvir, eu sentia meu pulsar,

Com certeza meu coração ainda batia, então teria forças,

Resistiria, mesmo com a respiração pesada, não cederia,

O fato de poder recordar ainda me dava perspectiva,

Nunca fora fraca, não seria essa a hora em que me quedaria,

 

Enredada por ilusões? Há ninguém é permitida a entrega da vida,

Se fora bom, eu não iria negar o fato, mas se acabara, acabara,

Existem coisas que não voltam atrás, não importa o quanto se queira,

Existem as que são imutáveis e as que podemos atuar sobre elas,

Enquanto eu tivesse forças, meu pulso iria pulsar com intensidade

O bastante para mudar o teor em que eu avistava a minha face,

 

Passaria a me valorizar como pessoa e a todos que estavam ao meu redor,

Escutei um grunhido dentro do meu peito, desta vez, inofensivo,

Agora eu não me permitiria ser má comigo mesma,

Afastaria os pensamentos que me mantivessem presa a lembranças,

Não iria apaga-las, apenas fazer com que não interferissem contra,

Até o ponto de me fazer bem, as manteria, nem um segundo além,

 

Se havia algo que o mantinha longe de mim, que o impedia de voltar,

Por que eu me apegaria dessa forma, por que revive-lo a cada hora?

Já não reconhecia o meu semblante, do meu sorriso restara marcas,

Onde brilhara felicidade agora haviam sinais incontestáveis de lágrimas,

Eu havia perdido o grande amor da minha vida, e agora me perdia,

O preço por se amar para sempre é perder a si mesma?

 

A dor suspirava baixa por minhas narinas, se afastava aos poucos,

Por um minuto tudo ficara quieto, havia somente a água caindo,

Ouvia algumas lágrimas sôfregas caindo por entre a água fria,

Não eram as minhas, mas eu as via, alguém sofria e eu sentia,

Me esforçara para vê-las, tentara reconhecê-las, não as reconhecia,

Gostaria de poder fazer alguma coisa, reagir de alguma forma,

 

Minha angústia de ficar presa na preocupação de ter perdido,

Me impedia de tentar construir um futuro com que sonhar,

Mesmo sem poder avistar ou reconhecer aquele que chorava,

Algo forte o bastante me impelia para fora, eu captava algo,

O amor que eu vivera a tempos atrás estava bem protegido,

Não o perderia, o manteria seguro em meu peito,

 

Mesmo que deixasse de pensar nele por algum tempo,

Mesmo que me posicionasse de forma diferente a anterior,

Perder-se por amor é bonito nos livros, terrível para quem vive,

Pior ainda para os que contemplam o nosso sofrer,

Sem poder fazer nada para nos tirar daquela linha tênue,

Medo de perder o passado, receio de reviver no futuro,

 

A pré-ocupação, não nos permite viver o agora,

Está sempre presa a alguma ânsia de mudar alguma coisa,

Chama a isso ansiedade, outras vezes, utiliza outros nomes,

Havia uma voz mais alta e mais clara que as outras,

A qual eu podia escutar com relativa facilidade,

Esta voz me implorava para viver e vinha da minha alma,

 

Mais cinco minutos, disse para o meu reflexo no espelho,

Tive certeza de que eu era uma garota muito bonita,

Assim que vi um vestígio de sorriso surgir em meu rosto,

Seria interessante que eu pudesse abrir os olhos em vinte e sete minutos,

No entanto, duvido que desta vez eu poderia fugir deste sonho,

Me esforcei para entende-lo, havia outro alguém como eu, de olhos fechados?

 

Ou eu já havia decidido dividir meu sofrimento em duas metades,

Fosse isso, que eu conseguisse força o bastante para superar,

Fosse de outra forma, que eu pudesse reconhecer este alguém,

Eu não costumava me abrir sobre o que sentia,

Fiz um esforço para tentar entender as informações da noite,

Recordei de um jantar, murmúrios ao redor, minha voz ficava deslocada...

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