segunda-feira, 12 de abril de 2021

Pode Alcançar a Toalha?


Ela urrou um grito surdo e profundo com o intuito de expulsar a dor,

Usou todas as suas forças até colocar-se de joelhos no chuveiro,

Embora, a água pudesse ocultar suas lágrimas, não as impedia,

Ela as sentia mesmo sem derramar sequer uma única do seu olhar,

Desejava quebrar as algemas que a prendiam naquela dor enlouquecida,

Mas não conseguia rompe-las, as paredes a exprimiam contra si mesma,

 

Tudo que sentia era remessado com força contra a sua cara,

Cada pensamento seu vinha de encontro aos seus sentimentos,

Distorcidos, embebidos em veneno, seus atos não lhe pertenciam,

A feriam de dentro para fora e vice-versa como uma voz sedenta por socorro,

Que ao invés de proteger feria com garras intangíveis e macias,

Com o calor da água que caía rasurava seu rosto, arranhava até sangrar,

 

Sem lágrimas que denunciassem a dor silenciosa e desumana,

Seu choro cego comprimia o peito como se não houvessem alternativas,

Soluçou para descansar, foi quando escutou uma voz macia que dizia,

Seu inimigo não está além de você mesma, o erro é seu, se redima,

A voz feminina não entendia o que ela sentia, mas cobrava com tudo que possuía,

Ao ouvir isso, não restou nada além de responde-la conforme queria,

 

De que outra forma poderia agir aquela que era prisioneira sem acusação,

O incentivo não tinha outro intuito senão o de ferir sua emoção,

Como uma marionete, foi usada como joguete, sem vida ou vontade própria,

O contra-argumento só lhe prestou como incentivo para lutar por si mesma,

De que forma sofrer dentro de casa e sair com o rosto molhado sem demonstrar?

Quando feri-la, sem saber por que motivo, era o maior intuito de alguns?

 

O quão bem poderia proceder dependeria das circunstâncias,

Mas, ela não desistiria, mesmo impedida de ser ou sentir, resistiria,

A frequência em que ia ao chão se tornava mais regular agora,

A ausência de lágrimas em seus olhos não era notada ou desvelada,

As distorções estratégicas se desenvolviam em vista de verdades falseadas,

Tudo o que era ou se importava caía as margens da importância,

Havia uma guerra fria ao seu redor, mas ela queimava em chamas,

 

Ardia, vendo-se desfalecer ante tudo que sentia, ninguém a via?

Sinta culpa diziam-lhe, procure uma desculpa em que se apegar,

Desça a sepultura com ela, permaneça a espera, até a chuva descer à terra

Lavar seu rosto ferido, carregar sua alma para algum outro lugar

Em que tudo possa fazer sentido, onde você possa ser reconhecida,

Um rosto sem face, um cadáver sem nome, identidade falsificada,

 

O que sobra de você quando tudo que você faz cai em (des) importância?

Ora, pare de se preocupar tudo não passa de um singelo ponto de vista,

O enfoque sobre as lágrimas de sangue que escurecem seus olhos castanhos,

Neste aspecto da questão, não significam nada, a chuva cai e vai embora,

Você não, você morre aos poucos porque se permitiu acreditar no amor,

Se as flores de plástico não padecem porque você desejou fazer a diferença?

 

Neste ponto de raciocínio, você não passa de uma indisciplinada,

Precisa aprender a viver, amadureça as suas ideias, sentir irá te proteger agora?

Primeiro que você parece relutar a obedecer às ideias postas,

Segundo é que ainda acredita naquela teoria respectiva a tal justiça?

Em qual você se apega: à humana, a divina? Querida, aqui você não opina!

Relaxa os ombros, aqui é um homem que fala, não reconhece as palavras?

 

Ela se contorceu, a fala lhe parecia errônea, então, havia algo errado com ela?

As propriedades referentes ao seu pensamento lhe pertenciam ainda,

Mesmo que o sigilo acerca dele estivesse fora do alcance dos seus dedos,

Mesmo que segurar ou contê-los não fosse qualidade sua,

Sua mente inquieta sofria, mas não se permitia quedar ao silêncio,

Rejeitada, não sabia se rejeitava ou acolhia, se via tonta, perdida em si mesma,

 

Se preocupava demais em esperar retribuição, não conseguia ver além da sua vista,

Sua tristeza não era mais do que poderia oferecer, estava ferida, sangrava e agora?

Permaneceria a espera de ser acolhida ou pegaria o carro e dirigiria a sua vida?

Havia um buraco em sua alma, ela estava caída lá dentro, colocaria a mão para fora,

Se arrastaria até sair de si mesma para lutar por si própria e por quem ama?

Não viam-na além dos seus erros, ou ela havia se bloqueado em angústia?

 

Não saberia precisar se era chuva ou lágrimas que a inundavam por dentro,

Iria se afogar em si mesma, precisava reagir depressa ou desfaleceria em sua dor,

Pensar sobre as pessoas não as transforma para além do que você as rotular,

Projetar sua dor no seu redor não modifica o semblante do próprio rosto,

Se você sofre eu sofro, agora é esta a lei que determina a sua vida?

Jogue-se em queda livre comigo, aquele que sobreviver tem direito ao sorriso,

 

O enfoque sobre ser capaz de vencer a si própria tende a produzir algum incentivo,

Pensamentos inconclusivos ocasionam atitudes incompletas e sem sentido,

Buscar em si um objetivo é muito mais que inundar-se através das suas lágrimas,

Se agarrar ao passado para se recusar ao presente e desestabilizar o futuro,

É um esvaziar de sua alma e preencher-se de dor até não ser mais nada,

Seus erros do passado não lhe fazem melhor, quanto a ser pior pode ser sua escolha,

 

Se apega ou desapega, escolha em que acreditar a partir deste momento,

Escolha levantar-se neste mesmo segundo e buscar ver além do que você acredita,

Mude sua rota, rompa com suas teorias, percorrer em linha tênue não te faz maior,

A escolha entre o sorrir e o chorar pertence a quem senão a você mesma?

A opinião negativa dos outros lhe influência, mas as positivas não dizem nada?

Que tal parar de criar teorias sobre o amor e passar a praticá-las?

 

Seus atos não irão além do que você se apega, veja suas mãos e faça a sua escolha,

Favorecer o agravamento da sua angústia ao alimentar opiniões destrutivas

Não fará mais que lhe manter em ódio até destilar o veneno em que se afogar,

Não importa o seu pensar, o mundo ao seu redor é maior que a sua insônia,

Então, se você se aconchegar ao travesseiro e descansar talvez, possa ter calma,

A vida não para e você ainda acha que possui a solução em sua cabeça?

 

Sempre há exceções, sempre há uma lágrima escondida em algum lugar,

Chorar não lhe fará pior, mas um sorriso seu poderá fazer a diferença,

Se o seu interior está em conflito, busque ser seu próprio auxílio,

Existe um mundo a sua volta que necessita que você seja mais que isso,

Ela estendeu a mão para fora de si mesma, estava tateando no escuro,

Até que dedos seguros, da mesma mão que ofertou o dedo do meio,

 

A seguraram com força, com um gesto seguro a puxou para fora,

A luz que brilhava, também a feria, ao tentar derreter o salino do pranto,

Desnudava seu sofrer e exponha a sua alma, por ser humana ela sentia,

Por ser humano ele creia nela a ponto de oferecer amparo,

Ele desligou o chuveiro, a água sessou, o rosto inchado sofria,

Mas a dor que comprimia os havia libertado – uma toalha a secava.


 

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