Duas horas da madrugada de um céu sem estrelas,
Estava em seu quarto e não lá fora,
Mesmo que brilhassem não poderia vê-las,
Lembranças tiravam o sono e molhavam a camisa,
Não era a sua, era a do seu namorado que ela usava,
Na falta de estar abraçada a ele, o recordava apenas,
Procurou em cada canto o seu cheiro, encontrou nela,
Suas lágrimas jorravam do seu olhar feito fagulhas,
O olhar que o fez vê-lo agora feria em amargura,
As palavras que ele cuspiu contra a sua cara,
Estavam sendo despejadas sobre a sua roupa,
Quisesse Deus manchassem apenas a sua camisa,
Enquanto despia a sua alma de toda a dor sofrida,
A boca em que guardou o gosto do beijo apaixonado,
Era embebida por lágrimas quentes e languidas,
Não sabia ao certo se queria apaga-lo ou revive-lo,
Se foi amor o que houve entre eles padecia agora,
Ante as observações inoportunas abandonou o sentimento,
Esqueceu ele, que poderiam haver consequências?
Mesmo suas carícias não eram tão boas agora,
Enquanto ela debruçava sua tristeza sobre a cama,
Ele poderia estar vagando em qualquer lugar,
Longe dela, sem nem ao menos dar-lhe notícias,
Talvez, estivesse a chorar - preferia que sorrisse,
A dor que apagava o sorriso em seu rosto,
Era ainda pior quando era seguida pelo sofrimento dele,
Poderia estar afogando a alma em um copo de cerveja,
Qualquer coisa que não o aproximasse de outra,
As palavras pronunciadas na hora da raiva,
Feriam mais por querer apagar os sussurros das promessas
feitas,
Tivesse gritado em sua cabeça, restaria apenas o eco delas,
Talvez pudesse apagar a imagem do seu olhar enraivecido,
Mas ele usou toda a sua calma, toda a doçura que ela
conhecia,
Parecia ter escolhido as frases com o único intuito de
machucar,
Ela agora olhava para a sua mão que estava em chagas,
A mão que um dia usou para acariciar quem amava,
Havia se levantado contra esta mesma pessoa,
Com um único gesto, tremulo e seguro lhe dissera:
Saia, por favor, distancie-se nesta mesma hora,
Traída por sua própria boca, ouviu de si um murmúrio,
No mesmo instante em que sua mão retornava para ela,
Agora escondia a sua cara, tentava despistar as lágrimas,
Notou quando a porta foi aberta e ele saiu sem dizer nada,
Calou-se quando deveria ter feito algo,
A mão dela afagou seu rosto em busca do que não sentia,
Percorreu-a até repousar sobre o seu peito,
Era como se estivesse em carne viva,
Seu coração agora pulsava por entre seus dedos,
Já não estava mais dentro dela, tudo estava fora do lugar,
Com o movimento que o colocou para fora da sua vida,
Sentou-se sobre a cama, incapaz de contemplar o que via,
Ensurdecida para as promessas, fechada em si mesma,
Não ouviu se a porta havia sido fechada ou mantida aberta,
Não se importaria com isso, estava sozinha agora,
No entanto, era incapaz de esquecê-lo, ele sabia disso,
Mas o fato não alterava as suas reações exasperadas,
As promessas estavam enraizadas em sua alma junto aos
beijos,
Mas o medo que a atormentava apontava para o futuro,
As lembranças de segundos atrás se distorciam contra ela,
Agora as fantasias a levavam para um outro lugar,
Em que corria risco de que seus medos distorcessem tudo,
Cada palavra e ato era revisto e alterado por sua
perspectiva,
Havia um duelo entre a raiva e o amor dentro do quarto,
Alguém teria que dar um fim a isso, ela corria o risco de perde-lo,
O cheiro da camisa já se apagava, seus lábios estavam mornos,
Todavia, anestesiados já não sentiam mais nada sobre eles,
As lágrimas ou o sabor do beijo, nada mais estava lá,
O tempo passava depressa demais, o levaram tão depressa,
A luz estava acesa, no entanto, ela não via nada,
As impressões explodiam no seu entorno retornando contra
ela,
Alimentando os medos, salientando os erros entre os dois,
Havia planejado uma noite de amor e agora vivia o oposto,
Renunciou ao direito de confessar que o amava em voz alta,
Apenas para quedar inerte por entre lágrimas sobre a cama
fria,
Os medos contorciam seu coração, seu pulsar se aquietava,
Era como se estivesse comprimindo tudo que sentia,
O ódio tocava o amor, feria-o saía dali ferindo, ela sofria,
Os efeitos eram nefastos, com um suspiro contemplou suas
rosas,
As quais, ele havia lhe presenteado há poucos dias atrás,
Levantou um tanto sôfrega, uma ideia a sobressaltava,
Tirou uma rosa do lugar, a mais bonita, a que lembrava a
boca dele,
Não queria perde-lo, havia discutido e tudo poderia se
resolver,
Pegou as chaves do carro dirigiu até a casa dele, entrou sem
bater,
O encontrou dormindo com semblante triste, repousou a flor
ao seu lado e saiu,
Por sorte, recordou de beijar a flor enquanto a repousava,
Com a mesma mão que a havia escondido em seu coração,
Lembrou de puxar o cobertor sobre ele, se abaixou e beijou
sua testa,
Roçou os dedos sobre sua barba, desejou beijar sua boca,
Resistiu, conhecia o caminho de casa, retornaria para ela,
Poderia ser uma preocupação boba, mas não se arriscaria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário