domingo, 24 de outubro de 2021

Saudade


Lá parte o dia escuro e arredio,

Logo ali chega a lua entre estrelas e uma melancolia,

Eu estou na área, sentada no chão

Com os pés para fora esperando a chuva,


Meu rosto é acariciado pelo vento,

O nariz agraciado com um cheiro bom,

Por trás daquelas nuvens se exalta o céu,

Entre o indeciso e o exasperado pela falta da lua,


De quando em quando ela ressurge com uma estrela ao lado,

Não sei se quer trazer esperança ou brincar com as sombras,

A árvore a minha frente treme, eu de vestido tremo com ela,

Mas ainda não tenho como pensar nele sem o risco de lágrimas,


Por mais que raios e trovões ganhem o horizonte,

Mesmo que o sol fuja estremecido por densas nuvens,

Porém, me esforço para enganar o que sinto,

Juro acreditar no meio sorriso que esboço em meu rosto,


Desenho até uma coloração nos lábios e reflito o olhar baixo,

Procuro não olhar fixo para não demonstrar nada,

Nada abala a minha serenidade,

Mesmo a árvore que rompe-se para ganhar o chão,


Por que tenho que ser um reflexo do que sou por dentro?

Preciso ser mais que um espelho que entrega o conteúdo,

Soar como uma espécie de lago que apenas reflete a superfície,

Esconder no fundo de mim tudo que sinto e, talvez, penso;


Algumas árvores se sacodem ao vento,

Ressoam uma espécie de música gutural e agitada,

Ao longe algumas gotas de chuva açoitam-nas mais ainda,

Não sei se o tempo sofre e eu sofro junto,


Ou tudo não passa de invenção minha,

Meu vestido faz desenhos no ar, parece que brinca,

Me vejo nua em aparência e sentimentos,

Desnuda do seu abraço, sou a mesma folha solta ao vento;


Um esquilo percorre um tronco de árvore depois pula alto,

Eu não, eu fico onde estou a contemplar o meu redor,

Procuro não sentir muito, estagnada em minha dor,

A saudade quando aperta forte tenta desatar laços,


Se esforça e não consegue romper nosso amor,

Aqui em meu peito ainda há o seu lugar, seu cheiro

E algo além desta saudade;

No momento procuro não pensar muito nisso,


Nem traduzir esta saudade para evitar o choro presunçoso,

Aquele que sempre achava que iria te comover,

Que acreditava no poder de trazê-lo a qualquer custo,

Acomodo a cabeça no alicerce da área, ilesa e ferida por dentro,


Eu te amo, digo em voz alta, sem esperança de que ouça,

Testo meus reflexos, procuro ver como me sinto,

O amo do mesmo jeito que não tivesse ido,

O esquilo me olha de um jeito inocente eu desvio,


Não quero a intimidade de contar o quanto o amo,

Ouço, um tanto ao longe, o latido de um cachorro,

Parece assustado com algo, não desejo saber o motivo,

Logo poderia admitir que também me sinto assustada,


Ele havia partido a horas e dias e eu o amava da mesma forma,

A casa parece ranger diante do que vem,

Eu ainda não me movo, o céu parece perder a lua,

Algo desaba lá de cima e não são estrelas,


Mas, mesmo de onde estou posso ver que é a chuva,

Meu vestido se enlaça em minhas pernas,

Parecem carícias para esta que sofre de amor,

Ao meu lado, a solidão do escuro tudo envolve,


Mas a potência raivosa da tempestade duradoura se enfraquece,

Logo que o meu gato vem procurar abrigo em meu colo,

O Zé Raio, nome que escolhemos juntos,

Fruto de um amor que foi vivido a dois,

A chuva chega até onde estou e me permito chorar nosso amor.


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