segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Minha Flor Em Seus Pés

A impressão em que eu me agarrava

De poder resistir a saudade que me fere,

Desvaneceu assim que cruzei com seu olhar,

Meus dedos trêmulos libertaram-na no mesmo instante,


Caiu por terra, assim como a flor que eu segurava,

Aos seus pés para melhor me expressar,

Ele me ofertou um sorriso: dia ganho,

Nada mais poderia me fazer sentir melhor,


Seu cheiro me soou feito um cálice de vinho branco,

Suave e macio me penetrando e preenchendo,

Naquele segundo jurei ser forte e abracei a saudade,

Disse a ela: já que me acompanhaste por todo o tempo,


Peço-a, fica! Bem lembro o dia em que ele partira,

Uma lágrima sempre brinca em meu olhar,

E quando o recordo vejo mil delas transbordar,

Se for para eu ser fraca, sofrer tudo que sofri outrora,


Prefiro mesmo me agarrar as lembranças,

Junto com a flor que caíra a vi caçoar de mim,

Sim, a saudade gozava de eu tentar me enganar,

De onde a flor estava, eu a vi rir como se estivesse a falar:


Você? Esquecê-lo? Não se recorda mais nem de ti,

Vive a cada momento chamando o seu nome,

Acredita que não a ouço? E quando um barulho a acolhe,

Pensa que não a vejo procura-lo sempre a espera de que volte?


Ele ficara estagnado a contemplar-me, a flor no seu sapato,

Eu confesso ter excitado entre me abaixar e recolhe-la,

Ou fugir dali com toda a força como se pudesse afastar o sentimento,

Bem pudera esquecer, ou quem sabe,


Em mais triste destino pensei: deixa-lo para trás,

Como se nada de nós tivesse existido, como se tudo fosse se apagar,

Um sorriso iluminou meus lábios e a lágrima em meus olhos,

Ideia afastada pois não haveria como apagar suas marcas,


Sua fala ao meu ouvido, as juras ditas aos sonhos silenciados,

Aqueles que vi em cada gesto seu e que ainda vejo,

A desmistificação de todos os medos estava em seus olhos,

Por Deus neles eu via cada um dos nossos momentos,


Não seria justo com o amor eu tentar me esquivar por receio,

Havia naqueles olhos uma escuridão fria desconhecida,

Antes de partir ele nunca fora desta forma,

Ousaria cogitar que minha presença lhe fez falta,


Talvez, se meu sorriso pudesse iluminar seu olhar,

Apenas um pouco mais do tanto que preciso,

Eu pudesse refletir algo bom e cuidar dele,

Fossem aqueles olhos negros um lago em noite escura,


Eu mergulharia e iria até o fundo para busca-lo,

Ninguém o reconheceria mais que eu: sofrimento me gritavam,

Naquela hora eu gostei da lágrima sorrateira em mim,

Talvez, se mil delas caíssem eu pudesse lavar sua alma,


Com tanta dor haveria de extraí-lo do lugar onde estava,

Porém, a saudade me tomava de mim mesma,

Eu sorria sem dizer nada, as palavras voavam para outro lugar,

- No passado - quando sussurrei mil eu te amo em versos;


Talvez, eu ainda pudesse iluminá-lo, no entanto,

Algumas lágrimas percorreram meu rosto quietas,

Desenhavam cada parte, contornavam-me onde um dia

Seus dedos estiveram a me afagar, hoje elas o rememoravam,


O sorriso era embebido em saudade mas resistia,

Algumas gotas de algo que eu não soube definir

Penetravam-me a boca, feito um beijo de sal e lembranças,

Havia mais em mim do que eu poderia lhe garantir,


Tanto mais amor do que imaginei um dia poder sentir,

O mel dos seus beijos eram embriagados por saudade,

Na boca onde os deixei guardados, brincavam com minha língua,

Tocavam a garganta tentando desatar o nó que me ganhava,


Acredito que queriam afrouxar as palavras, me fazer falar,

Algo no olhar dele brilhara, uma fagulha de nós dois,

Ele se abaixara em silêncio, juntara a flor com três dedos,

Levara-a até seus lábios e o beijo que um dia fora meu,


Agora repousava em suas pétalas, ali e em nenhum outro lugar,

Mesmo tanto tempo tendo corrido, ele os guardara,

Com todo o valor que lhe era devido – que nos era merecido-,

Naquele beijo haviam mais que vestígio de um amor que não se foi,


Minha saudade que se agarrava a nós dois o trouxe de volta,

Ao menos ele sorria agora, tudo já estava perfeito,

Uma estranha aparência de algo que se quer contar,

Como eu poderia dizer que o gesto que ele fizera também me pertencia?


Ele me encarou com seu rosto familiar e disse:

Amor, eu também te esperava,

Eu sorri entre lágrimas, saudade e a mais terna felicidade.

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