sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Bilhetinho

 

Eu caí em meio a calçada, dois pares de olhos arregalados

Me olharam de soslaio, levantei, bati a poeira da roupa e segui,

Meus joelhos arranhados foram reparados por dois olhos famintos,

De uma moça que me estendeu um lenço com o qual pude secar o sangue,

Eu sorri de forma melancólica, me senti envergonhado, insípido,

Parecia que os lábios dela tinham algo que me atraiam,

 

Me sentei sobre aquele banco verde da calçada, ela sorriu agitada,

Seu hálito quente sobre o meu rosto, tinha um gosto que eu desejava,

Depois ela, se ajoelhou ao meu lado e me ajudou a limpar o machucado,

Não soube o que dizer quando a vi beijar minha perna com um carinho

Quase materno, um sentimento puro que me deixou fascinado,

Eu teria dito a ela que estava apaixonado, se pudesse admitir isso para mim mesmo,

 

Lembro-me com os olhos incertos e distantes, talvez pudesse dizer com saudade,

Do momento em que ela se levantou com um sorriso radiante,

E correu os dedos deliciosamente sobre minha calça,

Repousando um beijo na minha testa, depois disse que eu iria ficar bem

E seguiu seu caminho perdendo-se para longe no horizonte,

Mesmo quando ela se afastou, meu carinho parecia irromper pela multidão,

E alcança-la, mesmo quando meus olhos não a avistavam mais,

Por mais longe que pudesse estar, senti que a alcançaria...

 

Naquele momento, eu não consegui pensar direito, tudo parecia estranho,

Mas a saudade queixosa que agora me aprisiona às lembranças,

Me implora para que eu tivesse tomado outra atitude, não a permitisse se afastar,

Penso comigo mesmo, que eu poderia ter dito algo, mas não confesso isso a ninguém,

Não lembrei de pegar seu número de telefone, nem ao menos pedi seu nome,

Feito um bobo, ainda sorri ao vê-la afastar-se,

Não sabia que naquele dia perdia alguém importante,

 

Alguém que eu guardaria comigo para o restante da minha vida,

É certo que há instantes eternos e que não precisam repetir-se

E há também aqueles que se prolongam no tempo,

Os quais se roga a Deus para que nunca tivessem nem ao menos começado,

O tempo é para uns o que não é para outros,

Tivesse percebido a oportunidade naquela bendita hora, teria a aproveitado,

Ela também poderia ter ficado, poderia ter tomado uma atitude diferente,

 

Ao invés de colocar-se em pé, olhar-me nos olhos e ainda beijar-me

Daquela forma gentil, quase materna, o que eu poderia ter feito?

Eu estava rasgado, sangrando, envergonhado, teria chorado não pela dor

Mas pelo constrangimento diante do fato, mas com muito custo

Engoli as lágrimas de uma a uma e fiquei parado feito um tolo,

A contemplar aquela moça sorridente que se desprendia em carinhos,

 

Os dias correram tranquilos, eu até consegui sorrir daquilo,

Embora, após uma semana eu ainda sentia os olhos dela presos em mim,

Fixos como se estivessem a me vigiar, a me atrair de alguma forma,

Eu não soube o que fazer, nunca senti algo assim,

Como foi cair feito um inconsequente esparramado no chão daquela cidade,

Só Deus em sua infinita bondade e sabedoria conseguiria responder,

 

Mas o bom disso tudo é que ela estava lá, e quando todos riram, ela me amparou,

Não teria como esquecer algo assim tão belo, inusitado e na falta de palavras

A gente se contenta em apenas sentir, em permitir que as coisas aconteçam,

Não há como se programar o destino, não é como um relógio que se põe para despertar,

As coisas acontecem na hora exata em que tudo deveria acontecer,

O fato é que contemplar a decoração pascalina que adornava a cidade,

Não deixava menos dolorosa a saudade que me acompanhava nas horas vagas,

 

O vento trazia algumas folhas secas para o vidro molhado da janela,

Ali dentro ninguém tinha conhecimento da saudade que me abraçava,

Decidi colocar minhas roupas para lavar na lavadora,

Recolhi todas, desde as que estavam esparramadas pelo chão,

Até as que havia deixado no cesto da lavanderia,

Ao revirar os bolsos para ver se não havia algum documento,

Por algum equívoco ali esquecido, encontrei um bilhetinho,

Bastante surrado, a alguns dias esquecido ali dentro,

 

Vez que o inusitado ocorreu de forma mágica aos meus olhos,

No bilhetinho estava rabiscado um número de telefone,

Estremeci de felicidade, é certo que estava um pouco apagado,

O último número eu não conseguia identificar se era um o ou um 8,

Mas, como toda a tentativa é válida eu iria me agarrar a isso,

E torcer para que fosse o número da moça,

 

Na primeira vez que liguei um homem atendeu, conversei um pouco,

Vi que era engano, não deveria se tratar da mesma pessoa,

Na outra tentativa, ninguém atendia, fiquei intrigado,

Mas nem por um instante me permiti desistir, aquele era apenas o início,

E eu iria até o final, dois dias de tentativas esparsas e inesitosas,

Uma voz melodiosa e feminina sorridente atendeu,

 

Perguntei seu nome e puxei assunto, vi que se tratava da moça

Que eu havia conhecido, me senti muito feliz, nada estava perdido,

Conversamos por horas consecutivas, e depois marcamos um encontro,

Cheguei 15 minutos adiantado, não sou tolerante a atrasos,

Nem ela era, percebi ao ver seu carro dobrando a esquina minutos após.

Belo Casal

Pendurei a placa de não perturbe na porta do quarto,

Fechei-a com um movimento silencioso,

Minha namorada me esperava do lado de dentro,

Sobre a cama eu havia posto rosas brancas,

No chão pétalas diversificadas e coloridas,

 

Eu nutria um amor por ela por anos seguidos,

E agora estudávamos juntos,

Tivemos a oportunidade de nos conhecer de maneira mais profunda,

Primeiro fizemos um trabalho escolar em dupla,

Depois combinamos um filme no cinema,

 

E agora finalmente nosso primeiro encontro privado,

Deitamos sobre a cama, falamos de sonhos,

Trocamos carícias apaixonadas, ela me confessou

Que nutria por mim sentimentos desde muito tempo,

E que, chegou a reprovar em uma matéria para estarmos juntos,

 

Repetir um ano no colegial parecia algo imaturo,

Mas foi prodigioso por me permitir estar neste instante ao seu lado,

Dividíamos um chocolate quente, lá fora a neve caía sobre a terra molhada,

Aqui dentro com as janelas fechadas, apenas podia se avistar o frio

Que, a esta hora, mantinha distância segura de nós dois,

 

A escolha do filme foi o momento mais difícil,

Haviam tantas opções, eu gostava de ação ela de romance,

Precisávamos encontrar algo que contentasse a nós dois,

Decidimos por uma saga reconhecida entre os jovens,

Um romance épico que retratava a história de um amor juvenil,

 

Em que o casal sofria e sofria, mas ao final, sorte teve o amor,

Por permitir que o casal ficasse juntos,

Claro que este fato se referia a um roteiro pronto,

Estabelecido pela mente de algum escritor,

Ou sabe-se se lá como defini-lo,

 

Mas o sabido é que o amor deve prevalecer,

Este pelo menos foi nosso consenso,

Com um beijo deitamos na cama abraçados para assistir o famoso filme,

Do qual havia tanto falatório nos corredores da escola,

Que ambos já parecíamos conhece-lo,

 

Claro que o filme nem ao menos era baseado em fatos reais,

Deveria estar distante demais da realidade atual,

Mas quem sabe pudesse oferecer uma ideia de como dirigir-se

No instante em que se decide que se ama alguém para sempre,

E das maneiras em que se pode convencer este alguém a acreditar nisso,

 

E nas formas possíveis de se entregar ao amor,

Viver uma vida toda com alguém merecia respaldo,

Sonhar um sonho a dois merecia abrigo de ambos,

Entre a pipoca e o desenvolver da trama,

Olharam-se e deram seu primeiro beijo,

 

Com um sorriso tímido voltaram-se para o filme,

De forma meia desatenta, ela pegou o celular

E aproveitou para registrar o momento em uma foto,

Postou na internet, com legenda poética...

Alô

Ele estava irreconhecível e inegavelmente apaixonado,

Contudo, até as 21 horas da noite de domingo

De certo dia de dezembro, ninguém sabia disso,

Ele mesmo demorou-se a aceitar o fato,

 

Então, pegou seu telefone e discou um número conhecido,

Não saberia digitar nem um outro número,

Mas aquele ele havia gravado com esmero e carinho,

Jamais esquecia os encontros românticos que tiveram,

 

Por ela, ele arriscaria perder tudo, família, dinheiro, etc,

Mas negar-se a tocar em seu corpo, beijar os seus lábios,

Isso com toda a certeza, nunca faria, a amava,

Jamais permitiria que alguém os distanciasse,

 

Colocava ela em um valor elevado em que jamais colocou outra,

Ela era perfeita, encantadora, sabia dominar o seu redor com maestria,

E ele aceitava suas imposições, curvava-se as suas objeções,

Os amigos haviam lhe dito que ele jamais a conquistaria,

 

Que ele jamais teria a chance de tê-la ao seu lado,

Que nem ao menos uma cerveja sua ela aceitaria,

Perderam a aposta, ela aceitou e fez ainda mais que isso,

Conquistou seu amor, seu carinho, sua admiração,

 

E agora, poderia admitir que ganhou seu coração,

Ao primeiro toque, ele lembrou-se que se negou a tirar fotos,

Não queria ver-se em imagens, não por estar junto dela,

Mas por necessidade de desapego,

 

Lembrava-se do quanto estava sofrendo, do quanto se sentia ínfimo,

E da forma como ela o envolvia em seu abraço,

E o fazia sentir-se digno, com autoestima elevada, sorriso no rosto...

No segundo toque, sentiu medo de que não fosse atender,

 

Então, pegou-se a imaginar o que ela estaria fazendo naquele instante,

No terceiro toque, sentou-se no sofá, pegou o controle da televisão,

E ligou-a em um canal qualquer, achou que queria assistir a um filme,

No quarto toque, pensou que ela teria reconhecido seu número,

 

E por estar ocupada ligaria em outra ocasião,

Quando pensou em desistir da ligação, assim que afastou o celular da orelha,

A uma distância segura entre o rosto e a mão,

“Alô”, ouviu-a dizer do outro lado da linha,

 

Ele sorriu contente, respondendo o alô

E convidando-a para dar uma volta na cidade,

Disse que estava sem nada para fazer e que... sentia saudade.

Linha do Horizonte

Dentro dos limites do amor, a saudade tomou tamanha precisão,

Que quem lhe abandonou por completo foi a razão,

Claro que este quem, no passado tivera nome e sobrenome,

Mas neste instante não merecia mais que chamar-se saudade,

Deveria estar dirigindo rápido demais, as lembranças margeavam sua estrada,

Em cada local em que haviam estado ou simplesmente passado juntos,

 

Parecia estar desenhado em sua memória tudo que viveram,

Até aquela flor a beira da estrada lembrava seu primeiro beijo,

O dia em que ela, olhou-a encantada, com um sorriso de fazer inveja ao brilho da lua,

E que ele, sem pensar em nada estacionou no meio da estrada,

E a colheu, ela tinha a cor amarela, lembrava os olhos dela quando estava triste,

Ele a posicionou atrás da orelha, recostada em seu cabelo,

 

Com uma carícia em seu rosto dizendo-a, que a tristeza que um dia sentiu,

Pertenceria apenas ao passado a partir daquele instante,

Pois agora quem estaria ao seu lado para seguirem seus destinos juntos, seria ele,

E prometeu contemplando profundamente o seu olhar,

Jamais a deixaria, todo o sofrimento que ela viveu no passado,

Nunca mais se repetiria enquanto estivesse em seu querer e poder,

 

Mas caberia apenas a ela apagar a dor do passado e seguir um novo rumo,

É fato que ferimentos doem, mas prender-se a eles,

Somente para ver-se sangrar é no mínimo desmedido,

Assim como a pele pode ser reconstruída, a alma também,

Só depende do querer e da vontade de ambas as partes,

Ela o beijou sôfrega e apaixonadamente, de forma ávida,

 

Ele sorriu contente, sentia-se orgulhoso por tudo que disse

E acreditou naquele momento único em que permitiu-se sonhar,

Que, não sabia muito sobre ela, mas o que sabia era o suficiente

Para ama-la com toda a alma, ele também havia sofrido,

Errar é humano, mas o que sentia por ela é que era desmedido,

Profundo o suficiente para deseja-la para sempre em seu destino,

 

Seguiu para a casa dela, deixou-a no portão com um abraço e um beijo,

Ela sabia seu número poderia entrar em contato quando quisesse,

Mas, por algum motivo desconhecido nunca havia ligado,

Talvez, o tivesse esquecido, dado pouca atenção as suas palavras,

Subjugado seus sentimentos, ele deixaria as coisas esfriarem,

Assim como se apagam as chamas das velas,

 

Também, apagam-se as brasas de uma fogueira e assim é o amor,

Ele preferia acreditar, desta feita, que assim como apaixonou-se esqueceria,

Se ela o tivesse amado, retornaria o seu chamado,

Às vezes, entregam-se os sonhos mas nem sempre se é correspondido,

Ele disse tudo que sentia, neste ponto não havia falhado,

Ela parecia estar apegada a um passado sofrido,

 

Que em seu ver estava distante demais para ser revivido,

Mas o que ele poderia fazer para mudar o pensamento de quem se nega?

Palavras, gestos, nada iria adiantar, a decisão era apenas sua,

Mas ele continuaria a ama-la, prometeu seu amor, então resistiria,

Aumentou o volume do rádio, deixou a música dirigi-lo,

A sua frente estava um horizonte pronto para ser descoberto.

Cerveja na Mão

 

A primeira e a última parada deles foi naquela estrada,

Ele estava dirigindo ouvindo música com a moça de carona,

Ambos cantavam animados, falavam sobre planos,

Contando histórias sobre os seus passados, com certo brilho nos olhos,

 

Cervejas geladas corriam por suas mãos,

De uma forma tímida, mas decidida ela passou os dedos sobre o vestido,

Foi impossível não ter prestado a atenção, ele sorriu com incontida emoção,

Ao trocar a marcha ele desviou a posição da sua mão,

 

Direcionando sobre a dela que estava solta sobre o vestido,

Ela mudou a posição da mão envolvendo a dele em um gesto de carinho,

Agarraram-se com tanta força que era impossível negar a atração,

Bem pudera, a lua estava linda, realmente não havia como resistir,

 

Para contraste o céu estava pontilhado de estrelas,

Como os dedos da moça que agarrava-se a ele como se o chamasse,

Com evidencia de desejar um contato mais próximo,

Feito um pedido de certa forma místico de estabelecer contato,

 

De conhecerem-se um ao outro de maneira mais profunda,

Foi isso o que demonstrou a troca de olhares de ambos,

Então, ele diminuiu a marcha e parou o carro ali na estrada,

Aproveitando a penumbra que as árvores que margeavam o local faziam,

 

As estrelas logo acima deles, as árvores ao redor, os animais noturnos,

A música do Iron Maden ao fundo, seus lábios trêmulos,

Desligou a chave da ignição e virou-se para ela, com um estender do braço direito,

Tocando entre os seus cabelos e sua orelha, puxando-a para perto,

 

Com uma carícia em seu rosto, ela retribuiu o gesto, e o beijo aconteceu

De maneira prazerosa, provocativa e profunda, as carícias esquentaram o clima,

Saíram para fora do carro, ao horizonte brilhava a lua,

Ali no capô eles aproveitaram algum tempo, abraçados,

Tudo aconteceu de maneira perfeita e espontânea,

 

Uma brisa fria da madrugada soprou arrepiando a pele,

Apesar da recusa da moça em aceitar o casaco que ele vestia,

Ele gentilmente, tirou-o e o envolveu sobre o corpo dela, ela sorriu contente,

Abraçando-o, para protege-lo do frio que a ele era de menor intensidade,

 

Assim repetia ele, em busca de convence-la, beijaram-se mais uma vez,

De maneira quente e profunda, exalando um calor que aqueceria a distâncias,

E que, de fato, encurtava a distância dos sentimentos que poderia haver entre eles,

Por sorte, eles ainda tinham cervejas para aproveitarem o momento,

 

Por tempo suficiente até que a manhã os encontrasse,

Aquele local, parecia pertencer a algum fazendeiro, era distante

E não havia habitantes por perto, então estavam seguros para divertirem-se,

Conforme fosse de suas vontades, em razão da vastidão da mata,

 

Não havia como determinar o que havia por detrás das árvores,

Mas de fato, aquele lugar era perfeito para embalar uma noite romântica,

E até determinar os sonhos de um futuro bom, com planos a dois,

Mas, infelizmente, para a infelicidade da moça,

 

Ela já havia se apaixonado a algum tempo, por um determinado homem casado,

E desta relação resultou um filho em seu ventre, que agora mexia-se pedindo abrigo,

Ela não deu ouvidos, sentia-se sozinha, queria sentir-se abrigada, ou algo neste sentido,

E quando se deu conta estava vivendo o sonho a dois que sempre desejou,

 

Ele, porém, não. Mas ao invés de puxar o gatilho de forma rápida e eficiente,

Ele quebrou a garrafa sobre o carro e decidiu cortar a garganta da moça

Com o que havia sobrado, estraçalhando sua garganta sem direito a perguntas

Ou respostas, com um movimento rápido e um gesto instintivo ela jogou-se para a mata,

 

Abrigando-se nela, a tentativa de matá-la falhou, ele teria que procurá-la,

Encontrá-la e destruí-la com as próprias mãos, a caçada havia começado,

Ela seria sua presa mais preciosa, o valor que cobrou valia o sabor da caçada,

Esperou um instante para fazer suspense,

Queria que ela se posicionasse a uma distância segura,

 

Pegou o revolver, municiou-o e a caçada logo chegaria ao fim,

A lua escondeu-se por detrás das nuvens, isso anuviou o seu olhar,

Mas, de fato a situação estava dentro dos limites da razão,

E isso não daria outro rumo aos acontecimentos, daria?

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Amor do Colarinho Branco

 

Depois daquele beijo, ele teve certeza que sua vida

Nunca mais seria a mesma, e ela também pensou dessa forma,

Embora não tivesse muito dinheiro o amor falou mais alto,

Meses após se conhecerem, ele a pediu em casamento,

Em um encontro romântico sentados na areia a oeste de algum lugar,

Foi preferível, devido as circunstâncias deixar o endereço em suspense,

Ele foi gentil, ajoelhou-se, tocou o rosto da moça,

Disse que a amava pelo menos um milhão de vezes,

 

Com a brisa do mar a embalar seus cabelos molhados de chuva,

A areia a aquecer seus corpos deitados na penumbra noturna,

As borbulhas do champanhe a acariciar o céu de suas bocas,

A singela rosa vermelha a qual ele encaixou por detrás da sua orelha,

Entre seus cabelos, aproveitando a deixa para acaricia-la até os lábios,

Instante em que ele pressionou o lábio inferior com o dedo indicador,

 

Com um desejo incontido de abri-lo, provar o seu sabor,

Cedendo aos seus desejos ele percorreu até o seu queixo,

Pressionando e trazendo-a para perto onde pousou seu beijo,

Fechou os olhos para saborear o gosto e ao abri-los contemplou-a com seu melhor sorriso,

Mostrando seus dentes brancos e perfeitos, e aquele brilho nos olhos

Que seria demasiado difícil conseguir expressar com poucas palavras,

 

De fato, com um suspiro incontido ela foi tomada pela certeza

De que jamais alguém seria capaz de resistir ao encanto daquele momento,

Disse sim, sem hesito algum nos atos que se seguiram ou nas juras feitas um ao outro,

Poucos meses depois, juntaram as toalhas, os sabonetes e as escovas de dentes,

Decidiram casar-se como ocorre com todos os amantes que se amam ardentemente,

As juras de amor nunca foram silenciadas, porém, ela como esposa dedicada,

Largou o trabalho e decidiu colaborar no recanto do lar, cuidar da família,

Ele, como servidor público ganhava o suficiente para os dois, acreditavam,

 

No entanto, alguns meses depois de noites de amor desmedido,

A notícia que chegou ás mãos da moça relatava que estava grávida,

Ela nunca se sentiu mais feliz, agora sua família finalmente estaria completa,

O cachorro teria mais companhia, ela não se sentiria sozinha,

Nada mais seria como antes, vestiu seu melhor vestido, a melhor maquiagem,

Sem esquecer daquele salto 15 que sempre a elevava até o alto,

Transmitindo uma sensação de segurança, de poder, com um ar de supremacia,

Sensação a qual apenas os braços dele a sobrepunham, vez que a erguiam bem mais alto,

 

Fez um jantar caprichado, comprou um buquê de flores diversificadas do campo,

Pôs o vinho no gelo, colocou sua toalha predileta,

Elaborou tudo com delicada atenção aos menores detalhes,

Ele chegou cansado, abraçou-a, beijou-a rapidamente,

Banho tomado, jantar servido e a notícia repousou em suas mãos,

Com a tonalidade do vinho que balançava em seu coração,

Doce, espesso e gelado, ele sorriu sem entender a situação,

 

Havia um filho a caminho? A primeira ideia que ocorreu foram as dívidas

Contraídas em decorrência do casamento, além das anteriores,

As roupas cujas quais adorava manter o gosto da sua esposa,

O extrato do cartão de crédito, o aluguel no final do mês,

Sorriu a contento, beijou-a sôfrego e lento, a ideia parecia intragável,

Mas como diria algo deste teor a quem amava tanto?

 

Lembrou com certo desespero, ouvindo-a retratar sobre os planos relacionados ao bebê,

Que em decorrência do seu cargo público tinha acesso a um grande teor em dinheiro,

Lembrou consternado da carta que recebeu dias atrás sobre o parcelamento em atraso

Do empréstimo que contraiu junto ao único banco da cidade,

Estava com o nome sujo e agora teria um filho para partilhar da situação,

Todos os reconheceriam na cidade, iriam aponta-lo para onde fosse,

 

Seu nome estava escrito na pedra da vergonha e agora poria lá sua família,

Já havia diminuído seu ritmo de vida em tudo que pode,

Mais que isso seria considerado pobre,

Ele que sempre se orgulhou do seu padrão de vida elevado,

Pediu a esposa que fizesse as malas naquele mesmo instante,

Avisou que teria que se ausentar por algumas horas, mas logo retornaria,

Disse que não poderia detalhar mais, que assim agisse sem perguntas,

Ela o fez conforme o plano, três horas depois ele retornou com uma mala,

 

Ela o esperava deitada no sofá, desacordada, acordou em um ímpeto,

Assim que se sobressaltou em decorrência da porta ter sido arrombada,

Com os olhos arregalados pode ver seu esposo posto junto ao que sobrou da porta,

Ele apenas gesticulou para que ela o seguisse, ela pegou as malas e o fez,


Apesar de estranhar o carro estacionado na calçada, não disse nada,

Na pressa ao percorrer o caminho ele atropelou o cachorro do vizinho,

Agora seu carro estava sujo de sangue, precisaria limpá-lo,

O cheiro chamaria muito a atenção por onde seguisse, e o pneu furou,

Não haveria tempo para concertar até a luz da manhã,

 

Chegou no final da cidade, arrombou a garagem de um vizinho,

Ao não encontrar as chaves do carro, arrombou a porta da saída,

Entrou e intimou-o que passasse as chaves, ao qual o vizinho foi prestativo,

Sentado com a chave na ignição, olhou para sua esposa e seus olhos arregalados,

E percebeu que havia deixado pistas, retornou e ceifou a vida da testemunha,

Com a tesoura que pertencia a avó do vizinho e estava posta sobre a mesa da sala,

Talvez, houvesse mais de uma pessoa lá dentro, sua lembrança ficou turva,

 

Algumas horas depois acordou algemado, olhar consternado,

Sua esposa havia sumido, carregando seu filho no ventre,

Teve certeza que algo deveria ter ocorrido em erro no plano,

Então, ela deveria ter fugido e depois voltaria para busca-lo,

Uma garrota sozinha e bonita, andando pelas redondezas chamaria a atenção dos tiras,

Este fato explicaria a demora em vir ao seu encontro,


Ele lembrou do último beijo que tiveram soube que era amor,

E o filho seria apenas a consumação de tudo que sentiam um pelo outro,

Foram suas palavras não foram? Porém, havia uma acusação a pesar contra ele,

Preferiu então, no momento de elaborar sua defesa

Omitir esses detalhes, por qual motivo iria envolver

A futura mãe do seu filho em uma investigação desta espécie?

 

O caminho de erros feito por ele havia começado muito antes dela,

Algo parecia sussurrar aos seus ouvidos que ela estaria em algum lugar, a salvo,

Ele nunca duvidou de que o sangue que apareceu naquele carro jogado as margens,

Fosse do cachorro que havia sumido, conforme lhe inquiriram,

Não havia nada que o comprometesse, nem ao menos sinais de que ela estivesse

Estado naquele carro em algum momento, sentia-se feito um joguete do destino,

 

Mas tinha certeza absoluta de que seria inocentado, não havia feito nada,

Aquele dinheiro pertencia ao povo e ele fazia parte disso através dos seus impostos,

Quem mais que ele havia contribuído em razão do seu padrão elevado?

Ele nunca mereceu a miséria, porém, sua conta havia sido confiscada a algum tempo,

Lembrou que suas roupas ainda estavam no armário, e estes eram seus únicos bens,


Seria inocentado, tinha certeza que ao final seria feita a justiça,

Elaborou seu breve relato, camisa branca, gravata clássica,

Relatou com esmero o fato de como, de repente, foi encontrado inconsciente,

Preso dentro de quatro paredes frias da delegacia da cidade...

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Um Bilhete

 

Acho que ela ficou com o bilhete,

Eu sabia que local ela frequentava

Escrevi algumas palavras e deixei ordens,

Para que quando ela chegasse lá, a entregassem o bilhete,

Dobrado em duas partes iguais, como faria minha vida,

O antes e o depois após tê-la conhecido,

Deixei pago um chocolate da sua escolha,

 

Eram quatorze da tarde, o sol estava recoberto por nuvens densas,

Um vento soprava e parecia brincar com as coisas,

A esta hora ela deveria estar lendo o bilhete,

Refletindo sobre o que eu havia escrito a ela,

Me indaguei sobre ter ou não deixado o número do telefone,

Torci para que tivesse rabiscado ao final da linha,

 

Eu li e reli tudo que escrevi, mas quando se trata do amor,

Toda a segurança se torna nula, resta somente o coração a pulsar,

E é claro, nem mesmo ele ajuda, insiste a ficar descompassado,

A cada instante em que me pego a pensar nela,

Lembro pelo menos da caligrafia bonita, e de ter descrito o quanto a amava,

Tivesse escrito um poema quem sabe minhas chances de êxito seriam maiores,

 

Mas, ela parecia ser alguém tão lógica e meticulosa,

Fiquei com medo que pudesse não gostar,

Existem muitas palavras lindas, mas é necessário saber coloca-las no papel,

E eu não queria copiar algo feito, o que eu sentia era tão único

Que merecia ser descrito por mim mesmo,

Por minhas mãos, minha letra, meus pensamentos,

 

Ela sabe onde me encontrar, lá no café todos tem meu endereço,

Nas horas vagas costumo frequentar este lugar,

Onde tive o prazer de cruzar com ela e a observar,

Eu costumava ir ler um livro, descansar nas horas vagas do trabalho,

E nossas horas se cruzaram, jamais esqueceria o vermelho do seu vestido,

A forma como ele se movia a adorna-la, o fulgor dos seus lábios,

 

O encanto que ela tinha ao sorrir e a maneira linda de se expressar,

Eu me pergunto se ela levaria a sério o que eu sentia,

Ela me pareceu tão independente e atarefada que aparentava

Estar distante de sentimentos como o amor,

Há mulheres que preferem dedicar-se exclusivamente a uma careira,

Ouvia ela repetir por diversas vezes em suas conversas ao telefone,

Eu a entendia muito bem, até conhece-la havia sido assim comigo também,

Talvez, eu devesse mandar flores, pensaria nisso em outro instante.

Busca aos Peixes

Masharey acordou, Subiu na alta cadeira Feita de pneu usados, E cantou alto: - estou no terreiroooo! Em forma de canto. Após iss...