Confesso que sempre acreditei que a luz do sol queimava,
Até o dia em que fui tocada pela fagulha da luz do seu
olhar,
De lá onde eu estava isso foi suficiente para me despertar,
Sentada sob a sombra, cabeça baixa, logo o senti se
aproximar,
Engoli as lágrimas, senti-as emudecidas feito um nó na
garganta,
Outrora perdida a vagar por entre as calçadas escorregadias,
Senti o nó se desamarrar como se fosse um laço de fita de
seda,
Não precisei mais do que o seu olhar para afrouxar as amarras,
Embora parecesse arriscado era o suficiente para aquela
hora,
Entregar minha alma e sonhos servidos em uma bandeja bastaria,
É certo que nunca fui dada a segredos, mas pela primeira
vez,
Parecia que algo havia valido a pena, todo os sonhos
entregues,
Tudo em que havia acreditado até então parecia ter
encontrado razão,
Algo forte tomava minha emoção com uma força que ganhava o
coração,
Acho que fagulha seria uma palavra amena para tudo que via
em seu olhar,
Acreditei nisso assim que o vi se aproximar com seu porte másculo
e sóbrio,
Sabe aquele tipo de homem autocrata que parece ter domínio
sobre o que faz?
Bem diferente do tipo manipulador que te deixa vulnerável para
se sobrepor,
Ele era mais daqueles que marcham ao seu encontro, de olhos
abertos,
Diferente daqueles que usam os seus segredos para artimanhas
de conquistas,
Era mais para o tipo de homem que você deseja integrar ao
seu mundo,
Que você deseja dividir muito mais que uma noite, mas uma
vida inteira,
Quando meu olhar encontrou o dele o brilho em seus olhos
embora intenso,
Não fazia jus para todo o encanto que ele possuía, entre sua
nobreza e beleza,
O sorriso que invadia a sua boca poderia ser definido como
tentador,
Comparada a doçura da sua alma que refletia em seu semblante
convidativo,
Altivo, inteligente, tão transparente que a ausência de cabelos
não era notada,
Fazia parte do seu charme dava um toque sutil as suas formas
fartas,
Naquela hora me senti demasiada humana, lábios trêmulos e
inseguros,
Ele havia me percebido por entre tantas pessoas e vinha para
o meu lado,
Seus braços fortes jogados ao lado do corpo de forma enfática,
Cada gesto seu parecia calculado, a cena transcorria tão
perfeita,
Que só faltava ele ter consigo uma jaqueta para me alcançar,
Uma onda de calor se aproximava conforme ele vinha, eu
sorria,
Tudo ao redor parecia tão brilhante que o mais parecia se
apagar,
Eu sentia que mesmo a dor mais sombria não resistiria ao seu
olhar,
Sabe aquele rapaz que transforma o seu redor, com batidas frenéticas,
Como se ele houvesse ensaiado cada pulsar do meu peito
apaixonado,
Encolhi os ombros, ele sorriu em resposta parecia conhecer
minha pergunta,
Aquela que por impulso eu senti brilhar feito um relâmpago entre
nós,
Percebi que aquela coisa de para sempre sozinha seria
mandada embora,
Mesmo antes de sua mão se estender para mim em cumprimento,
Mão suada e convidativa, grande e suave, eu parecia conhece-la,
Minha mão tremula ficou pequena e frágil parecia gostar
disso,
Eu já não seria mais aquela garota independente que vagava
sozinha,
Meu mundo de aparências havia se dissipado diante dos meus
olhos,
E ele parecia o homem ideal para eu ter para sempre em minha
vida,
O amor chegou naquele primeiro instante, para mim, pelo
menos,
O sorriso dele contornava seus traços fortes de forma suave,
Meu coração pulsava em alerta, aquela mão estendida me
arrepiava a pele,
Ele falou e sua voz era rouca e macia, soava em mim com
efeito de carícia,
Eu toquei sua mão da mesma forma que ele havia tocado em meu
coração,
Segura, profunda e convidativa, olhei para o fundo do seu
olhar, tremula,
Desejei que ele interpretasse o que eu sentia e que sentisse
a sofreguidão
Pulsante em cada parte minha, - tão lindo - , pensei comigo
indistinta,
Tive certeza que meu semblante denunciava minha emoção
irrefreada,
Tentei não me incomodar com o fato, quando a emoção é
tamanha
Não há mesmo nenhuma forma de escondê-la, mordisquei minha
boca,
Sentindo sua mão apertar a minha, desejei um instante do seu
abraço,
Ao me colocar em pé, me esforcei para uma tentativa inusitada,
Puxei sua mão, mas ele parecia estar preparado para o ato
arriscado,
Continuou imóvel e ereto, apenas um sorriso brilhou em seus
lábios,
Trouxe sua mão para junto do meu peito, o que eu sentia não
era segredo,
Ele pareceu assustado com o movimento, mas não repeliu a
atitude,
Ao contrário, vi seu semblante se suavizar e irradiar algo
diferente,
Me aproximei com o coração aos saltos, eu tinha certeza que
ele o ouvia,
Mais que isso, poderia vê-lo pulsar sobre minha blusa
vermelha,
Com um passo em sua direção encurtei a distância entre nós,
Até não restar nada que impedisse o beijo sedento que eu
desejava,
Podia sentir o cheiro do seu hálito, o calor que percorria
seu corpo,
Me recostei até senti-lo por inteiro percorrendo minha pele
fria,
Ansiei pelo seu toque, agora não havia outra distância entre
nós,
Nada que impedisse nossas bocas de encontrarem-se uma na outra.