Eu o amei com toda a minha alma,
No entanto, não precisei mais de um segundo
Para esquecer cada carícia provada,
Um segundo a vagar por seus sentimentos
E percebi o quanto era vazio tudo em que acreditava,
Assim que me vi presa em seu abraço apertado,
Desejei esvair-me até fugir na escuridão lá embaixo,
A escuridão onde outrora eu acreditei haver amor,
Tentei procurar em seu olhar algo em que pudesse acreditar,
Mas não havia nada, nem uma das promessas em que me apegar,
A cada beijo em que ele sugava minha boca com ferocidade,
Sentia esvair o ar que havia em mim e voltar-se contra a minha
face,
Nele não havia coração algum apenas um vazio profundo,
Que parecia me tragar para aquele espaço sombrio e gélido,
Me fazendo vagar de olhos fechados, entende meu pânico?
Agarrei-me ao que restava de sentimento em minha alma,
Desejei salva-lo daquele egoísmo no qual tragava a todos,
Até que em um pequeno deslize seu, eu pudesse me soltar,
E fugir para algum lugar em que pudesse me livrar dos seus
olhos,
Naquele instante em que me agarrou com toda a sua força,
Não foi ele quem chorou ou gritou, ao contrário disso,
Ainda posso ouvir seu riso a ecoar entre minhas lembranças,
Nada além de uma sensação de prepotência tomou seu rosto,
Orgulho restabelecido, enquanto eu ficava imóvel naquela
cama,
Mesmo a minha fala, pranto ou gestos nada parecia afetá-lo,
Ele estava distante abrigado em uma confiança que eu não
entendia,
Poderia definir como força bruta, afinal eu não passava de
sua presa,
Tive a impressão de que o mundo me via sofrer e fechava as
vistas,
Parecia que me faltariam lágrimas para expressar dor tão
profunda,
Me vi sangrar em um submundo em que nunca pensei ser ferida,
A sujeira de uma vida esvaiu e vinha embebida em sangue no
olhar,
Fechei meus olhos queria sumir daquele lugar, mas estava
exposta,
Presa indefesa, ferida e afugentada nem minhas lágrimas
bastariam,
Contive-as a todo custo, não queria demonstrar tudo que
havia acontecido,
Mas meu coração gritava alto demais para ser contido,
Um cheiro diferente exalava em minha pele, eu não era mais a
mesma,
Talvez algum dia parasse de doer, mas quando pareceu parar
de sangrar,
Assim que eu estendi minha mão para afagar seu rosto pétreo,
Buscando me aproximar, qualquer coisa que me livrasse
daquilo,
Ele me inundou com sua esperança submersa,
E eu que estava absorta cheia de tudo aquilo que me afogava,
Me vi em chaga aberta, me senti afastar de mim mesma,
Senti que algo escorria me deixando de pernas bambas,
Trôpega até aquela hora, vazia a partir de agora,
Tentava conter a vergonha, os sonhos que escorriam na cara,
Jogados contra mim de uma forma que eu não esqueceria,
Tomados em doses comprimidas em promessas vazias,
Tudo isso em menos de um segundo,
Nesse meio tempo eu tentava ignorar a dor,
O desejo de um corpo sem alma agora virava remédio,
Não importava o que eu sentia ou pensava sobre aquilo,
Para as promessas de quem procurava o amor,
Pequenas doses de culpa engolidas até o fundo da garganta,
De forma que se espalhassem por todo o corpo,
Até tocar o coração e escorrer por meio das minhas veias,
Deus quisesse que evitassem minha alma, eu quis acreditar,
Ingenuidade minha, ela havia sido a primeira a cair na
armadilha,
Eu não me pertencia mais, não passava de marionete em suas
ideias,
Senti que a fagulha do amor se partia mais depressa que
imaginei algum dia,
As nuvens tomavam a lua, escondiam meus sonhos, agora tudo
era noite escura,
Minhas palavras não tinham mais valia, parecia não restar
nada mais em que acreditar,
Um sinal de alarme ressoava em todo o meu redor, eu estava
exposta,
Vítima de tudo que acreditava e pelo qual havia querido
lutar,
Eu desejei levantar o rosto e ver meu reflexo no espelho
retrovisor do carro,
Esperei um pouco, tive medo do que poderia encontrar
refletido,
No banco do carona, não passava de uma passageira em minha própria
vida,
Não me habilitei a dirigir, já não acreditava mais em mim
mesma,
Desejei que o sol se escondesse depressa, preferi a noite
escura,
Lá eu poderia evitar me olhar, evitar ver no que havia me
transformado,
Em um segundo de descuido e eu poderia querer visitar minha
alma,
Escondida em algum vazio do meu olhar, temia avistar meu
espírito,
Sabe aquele instante em que você rejeita a si própria?
Quando até mesmo o seu semblante foge para outro destino?
Embora não sangrasse feito uma ferida, eu sentia doer na
alma,
Algo escorria de dentro para fora, mas eu não tinha nada
para falar,
Aguentava calada, não sentia dor alguma - repetia para mim
mesma - ,
Mesmo vendo minha dor sangrar feito ferida aberta, esvaída das
juras,
O que outrora era natural agora eu mesma repelia, rejeitava
a rejeitada,
Desta vez, não haveria remédio que trouxesse cura para a
minha alma,
Evitava a todo custo olhar para cima, tinha medo do que
poderia encontrar,
E se alguém me visse sangrar? Rejeitei a ideia - Não sinto dor alguma.
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