Eu hesitei enquanto abria a porta serena,
Passei a língua sobre os dentes para senti-los,
Era tudo tão perfeito que parecia que eu não existia,
Depois de tanta espera, marcamos nosso encontro,
Senti cada dente, quase feri a língua, mas constatei,
Estava acordada, mesmo que parecesse sonho,
Olhei para o lado direito, com mãos tremulas,
Vi a luz brilhar no teto, a esta hora havia lua,
E com ela, o homem que tanto esperei encontrar,
A sala estava organizada com orquídeas coloridas,
De forma discreta para fomentar nosso clima,
Que a julgar pelo teor das nossas conversas,
Estava no ponto de explodir em clímax,
Agora sentia ainda mais certeza que antes,
Era uma espécie de alívio poder encontrar alguém,
Poder falar sobre o amor e ter quem compreenda,
Poder sonhar acordada e de olhos bem abertos,
A sonhar com o sabor do beijo sobre a boca sedenta,
Abri meu melhor sorriso sentia a impaciência em meus lábios,
Não me importava mais em proteger meu segredo,
O amava e queria demonstrar isso a ele, com alegria,
Com a ansiedade da menina que conhece seu primeiro amor,
Pois, era assim que eu me sentia, e ele deveria tomar
conhecimento,
Essa questão sobre ser amor a unir-nos um ao outro,
Já havia sido discutida, ainda no início da conversa,
Então, não haveriam empecilhos, nenhum desassossego,
Em conversas mais recentes o enfoque fora nossas almas,
Sobre o quanto combinávamos um com outro,
Nos gostos musicais, nossos autores favoritos, os gêneros literários,
Haviam muitos assuntos, juntos nunca faltara diálogo,
Havia tanto para conhecer que falávamos sobre tudo,
Já nos conhecíamos o suficiente para saber agradar,
Saber o que dizer e o que fazer para produzir conforto,
O que me angustiava, me deixava apenas um pouco insegura,
Mexia com minha imaginação, seria o primeiro beijo,
A forma como eu faria o primeiro afago, como agradá-lo,
Deveria ser restrita a outras coisas essas dúvidas
corriqueiras,
Quando se ama em demasia, a gente se preocupa com isso,
Embora, não quisesse admitir, essas questões me tiraram o
sono,
Eu aproveitava o tempo para ficarmos conversando até mais
tarde,
Tentava identificar nas entrelinhas de que maneira cativá-lo,
Cada pessoa é única, não há um pergaminho a identificar,
Deve ser coisa de pele mesmo, algo que se aprende com o
afagar,
Com o tempo juntos, com o buscar da alma em cada olhar,
Bem, não quero retomar as dúvidas e me angustiar com elas,
Ele estava a porta, a minha espera, logo tudo se dissiparia,
Iria focar nos resultados, entre sorrisos, pipoca e um bom
filme,
Um beijo roubado e um sonho a ser construído com ele,
Eu parecia ouvir o ruído dos passos ali fora, sobre a
escada,
Ele também deveria estar ansioso para me encontrar,
Havia uma brisa fria que soprava, a noite de inverno estava sôfrega,
Ao longe, eu havia avistado uma neblina, será que sofria?
Fosse a neblina chuva do inverno, as estrelas estariam a
chorar,
Esperava que ao final da noite, não fosse eu a sofrer com
elas,
Faltava meia hora para o instante em que ele chegaria,
Ele havia se adiantado e eu gostava dessa forma,
Ele me conhecia o bastante para saber e considerar isso,
Respeito e consideração colocam um pilar sobre as dúvidas,
Eu contava os segundos para vê-lo, e ele também,
O cheiro do meu perfume se intensificava com o suor,
Estava sendo incapaz de controlar a ansiedade de vê-lo,
Tinha boas razões para o fato, gostava dele, esperava-o,
Talvez, a mais tempo do que queria admitir e aceitar,
Negar este fato, seria uma tentativa de negar a mim mesma,
Abandonar o coração como se pudesse viver sem ele,
Como se não precisasse dele para ouvi-lo sussurrar seu nome,
Fugir do amor é um teorema ao qual não queria me apegar,
Uma falha que feria de forma vista a olhos nus,
Mas, sua presença ou ausência ao nosso encontro
Formaria um comprometimento decisivo,
Sem que pairasse qualquer sombra de dúvidas sobre nós,
As juras já haviam sido feitas, faltava agora, o
comparecimento,
Nenhumas das nossas conversas pairaram em obscuridade,
Me nego ao fato de que possa não dar certo,
Se havia amor entre nós dois não haveriam contrafeitos,
Embora, nunca tenha entendido o porquê de apenas eu ceder,
Às vezes, em que ele se esquivava, se colocava distante de
nós,
Sabia com tanta propriedade sobre minha irmã,
Não conhecia tanto de mim, me julgava pelas atitudes dela,
Parecia que se aproximava de mim com objetivo nela,
Buscava nela utilidades e em mim, via o que exatamente?
A perda da chance única pela ausência de oportunidades?
Então, ele nunca soube me ver, eu sou eu e ela é ela,
Confunde uma a outra, a protege de uma forma estranha,
Ouvi uma nova batida na porta, agora incerta,
Meu coração pulsava tirânico em meu peito,
Ressoava como um açoite sobre a minha alma,
Fiz um esforço, permitiria sua entrada e pronto,
Ao abrir a porta de olhos baixos, olhei para cima,
Uma estrela brilhava no céu, no chão: um estranho.