segunda-feira, 29 de março de 2021

Você Sabe...



Mais ainda que amada, eu me sentia em paz em sua boca,

Mais que deliciada, um sentimento de completude me tomava,

Com aqueles grandes e atenciosos alhos azuis celeste,

Eu me sentia segura, era como se meu futuro fosse evidente,

Ao sentir seu corpo sobre o meu, não havia nada a separar-nos,

Havia uma entrega profunda de sentimentos a unir-nos,

 

Jamais acreditei que fosse sentir algo tão forte dessa forma,

E pela forma como ele me tocava acreditei que ele também,

Nada estava mais bem encaminhado quanto nossas carícias,

Ele sussurrou que me amava entre seus beijos, acreditei nele,

O clima entre nós esquentou muito nos últimos afagos,

Havia uma exigência por amor que parecia não ter finitude,

 

Nossas posições se invertiam, hora eu jurava amor, hora ele,

Até que em um breve instante, nossos olhares se encontraram,

E a jura soou de ambas as bocas, com o mesmo interesse,

Permanecer juntos, conquistar, confessar tudo que sentíamos,

Quanto a isso, dispensa-se qualquer espécie de ressalva,

Não houveram discordâncias, amor por toda vida, prometemo-nos,

 

Quem quer que pudesse ter conhecimento sobre nós dois,

Não teria propriedade o bastante para discordar quanto a isso,

No espírito atual em que nos encontramos, não mudamos em nada,

Estamos avessos a esta cultura separatista, em que nada dá certo,

Um conjunto de sentimentos foram trocados entre as carícias,

De todos, o amor permanecera com maior força propulsora,

 

A fé que nos unira, confiara em cada umas das nossas palavras,

As mãos invisíveis do destino que se colocaram sobre nós dois,

Continuam a produzir força motriz para direcionar nossas vidas,

Tornara a solidão uma heresia no que se refere aos nossos passos,

Lembro que estávamos incertos quanto ao sentimento que nos unia,

Recordo de ter estendido o meu abraço a ele de forma encorajadora,

 

Ele aceitara, imóvel, como se não soubesse reagir ao que sentia,

Eu aproveitara e o beijara, no braço, no pescoço e no canto da boca,

Embora não fosse uma promessa de eu te amo, esta não tardara,

Levantei o rosto devagar, olhei para ele, e vi algo em seu olhar,

Mesmo sem ouvi-lo, eu parecia compreender a dor em sua voz masculina,

Havia algo dentro dele, e este algo sofria, eu desejei protege-lo, só isso,

 

Ele era alto, loiro, a rigor daqueles anjos descritos em manuscritos,

Mas, ao contrário disso, ele sentia dor, era humano em demasia,

Haviam algumas marcas em sua pele, e elas pareciam recentes,

Outras em sua alma pareciam se apagar ao calor da minha pele,

Não entendi ao certo o porquê, mas eu parecia lhe fazer bem,

Algo dentro de mim despertava, e eu desejei me entregar a ele,

 

A dor naquele olhar, decerto precisava ser investigada a rigor,

E a meu ver, ele não a merecia, eu teria que ajudá-lo a rejeitá-la,

É certo que por vezes, fantasmas do passado tendem a ressuscitar,

Se apegar a eles é bobagem, porém, essa ideia me intrigava,

A cada instante em que eu olhava para as suas marcas, eu os sentia,

Ele parecia sofrer e isso me feria mais do que eu poderia imaginar,

 

Todavia, eu nunca havia perdido a cabeça por nada, mas naquela hora,

Algo muito intenso ressoara, não tive como evitar o desenlace,

Abracei-o com força e pedi que me fizesse companhia, que ficasse,

Ela parecia ser o tipo de homem que se esquiva de tudo ao seu redor,

Eu também era dessa forma, mas mudei, assim que vi a dor em seus olhos,

Sua postura sugeria a dor incontida em um leão furioso, quanto a minha,

 

A de uma pessoa que, fazia como sua cada uma das suas batalhas,

Não o permitiria estar sozinho, não enquanto tivesse essa alternativa,

Não enquanto em fosse possível estar ao seu lado para cuidá-lo,

Desatinos, talvez, sugerissem a junção entre o desatar de nós,

E o distender sobre o destino, embora irrisória a forma de interpretar,

Possibilita um recriar com base em acertos em visão holística,

 

É um sentar na varanda apenas para contemplar a natureza,

Um permitir-se tomar uma cerveja em dia chuvoso,

Plantar uma flor, regar uma planta, um divagar sem exigência,

Fazer um churrasco com os amigos em domingo de outono,

Libertar-se de amarras que aprisionam e ferem a alma,

De certo, toda dor precisa ser cuidada e investigada, mas a dele,

 

Ressoava alto demais, sôfrega em demasia para que eu ficasse inerte,

Não caberia imunidade mesmo que eu fosse forjada no metal,

Mesmo que meu coração não pulsasse, apenas ressoasse em tine,

Ideia de beijá-lo e fugir da sua vida sem olhar para trás – rejeitada,

De imediato -, antes mesmo de provar sua boca, mais ainda depois disso,

Creio que depois de estar nos seus braços fugir de ama-lo

 

Quedava em impossibilidade, eu nem tentaria chegar a tanto,

Reafirmo, o amei muito antes disso, muito mais após este momento,

Embora, tenha-se que estudar a fundo e decidir qual o sentido,

Eu me apeguei a aquele amor, sem refletir, apenas senti e pronto,

Era como se pudesse me vislumbrar em seus atos,

Como se nossos destinos tivessem sido entrelaçados em um passado,

 

O mesmo passado que agora tencionava feri-lo, - havia me escondido,

Lá atrás, fazendo com que eu o reconhecesse em meu caminho,

Me guiando a ele, de forma avessa, como se tivesse medo de ser pego,

Receio de confessar o que havia feito, por ter distorcido tanto,

Em falso arranjo de propósitos, aquele tal de livre-arbítrio definido pelos anjos,

Eu gostava disso, fosse o que fosse, o amaria com todo o meu amor -,

 

- Ao menos, me permita cuidá-lo, abraça-lo por algum tempo,

Seja bondoso comigo, eu o amo desde sempre, você sabe disso,

Ele olhara dentro dos meus olhos com um brilho intenso,

Eu sorri e disse: você sabe, amor, nós não dispomos de muito tempo.


 

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