sábado, 30 de outubro de 2021

Um Desejo Realizado

 


Fiquei me virando de um lado para o outro,

Não era questão de nervosismo mas saudade,

Procurava-o, mais forte que a marca do seu beijo,

Mais intenso que o meu acordar a murmurar seu nome,


Estou bem aqui, implorei para ouvir,

Toquei meu peito, o quis aqui como ele estava em mim,

Forte, seguro da atração que exercia,

Intenso, ciente da paixão que resistia,


Senti um puxão forte e a saudade se estilhaçou,

Caiu inerte afogada ao beijo que se iniciou,

Minha mão foi colocada ao lado da cabeça,

E um corpo se debruçou sobre o meu, másculo,


Ele exigia de mim tudo que eu prometia,

Nada além do que eu tinha para oferecer,

O suficiente para acender o amor que em nós existia,

Insuficiente para forjar algo entre a gente,


Fui abraçada e tomada por uma força estranha,

Esta força me levava a fazer coisas sem pensar,

Fiquei aliviada ao ouvir que a voz dele também o identificava,

O amor entre nós era intenso demais para se atenuar,


Um gemido de um beijo sedento acorda a madrugada,

Mais faminto que o lobo que deseja tocar a lua,

Mais lúcido que o luar quando toca a terra nua,

E brinca por entre as nuvens com as sombras que a desenha,


O ar que saia da sua boca tinha uma fragrância doce,

Ele penetrava em mim com um roçar em minha pele,

Agia feito uma carícia a embeber de mel meus lábios,

Me entregava serena e exigente em seu corpo intenso,


Seu cheiro tinha sabor de amor e eu mergulhava nele,

Seu gosto era penetrante mais que isso: viciante,

Me faz recordar a primavera quando o sol é ameno

E abraça as flores só para vê-las desabrochar,


Porém, é muito melhor que isso,

Eu toquei seu rosto com carinho e ternura,

Quis ter certeza que ele estava comigo,

Parecia uma miragem, uma criação da alma,


Sua voz provocava emoções e acordava outras,

Rememorava tudo que vivemos com mais calor,

Ele havia deixado sua marca em meu corpo suado,

Nem bem ela iniciou a se apagar e ele retorna,


Tinha mais sabor que o cheiro suave da noite de outono,

Mais bela que a estrela cadente que caia

Atrás das suas costas na altura da janela onde eu a via,

No exato instante em que eu fechava meus olhos,


Provava o sabor profundo do seu beijo

Saciava o meu desejo e fazia meu pedido: Tê-lo comigo,

Fica comigo me vi pedir dessa vez de olhos abertos,

No meio do beijo entre um roçar de lábios e outro,


Não quis esperar outro momento,

Era mais forte que eu e precisava ser dito,

Sim, o vi dizer sem acreditar mais ainda no que ouvia,

Isso até que ele selou a promessa com um selinho


Sobre os meus lábios que se fecharam, não por nada,

Queriam guardar a promessa,

Porque naquela hora o que eu diria se dispensava,

Valia mais a jura que era feita em hora perfeita,


O vi ficar em mim absorto dentro do meu amor,

Investindo no que eu sentia e queria de nós,

Na janela outra estrela cadente caia em vão,

Eu já não tinha mais o que pedir, mas a via,


Acho que ela quis sacramentar que a promessa foi ouvida,

Ou apenas se perdeu da imensidão em sua busca,

Eu porém, não buscava mais, tinha tudo que precisava.


sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Sem a Próxima

 


Eu balanço a cabeça e pisco os olhos algumas vezes,

Embora estivesse voltado de onde estava antes,

Nada ao meu redor estava no lugar certo,

Lá onde eu havia me escondido não havia nada,


Não é como estar presa em um lugar escuro,

Como se o sol estivesse sido roubado pelas sombras,

Lá havia apenas a ausência de tudo,

Senti como se a lua estivesse distante e perdida,


Enquanto o sol se punha e adormecia absorto,

As estrelas, nesta hora eram pequenas demais para brilhar,

A terra havia se movido, em seu lugar havia o vazio,

Não posso dizer que eu caia, mas que não me movia,


As forças se esvaiam dos meus punhos cerrados,

Nada para confiar ou o quê buscar,

Era maior que eu e menor que o silêncio,

Um coração estava calado, o que o traria de volta?


A lua tênue despedaçada parecia se retornar aos poucos,

Conforme fui me recuperando percebi que ela se restabelecia,

Como se de tudo que foi não restasse mais que retalhos,

Brilhava em metade e a outra se pontilhava nas horas,


Então o vi, parado como se não soubesse o que fazer,

Desejei tocá-lo, sentir suas mãos provar seus afagos,

Mas todo o esforço que fiz não foi suficiente,

Não consegui me mover nem ao menos dizer algo,


Me faltou o fôlego ele estava ou não onde parecia estar?

Parecia se mover na direção do vento,

Então, eu não importava o bastante para ele se aproximar?

Conforme minhas vistas se afirmavam ele parecia outro,


Será que não queria estar onde estava?

Sua imagem não era mais que um tremeluzir incerto,

Ao longe, num sussurro ouvia ele falar algo para alguém,

Sua voz parecia tão distante quanto uma miragem,


Engoli algumas vezes em seco e sem lágrimas,

Uma voz feminina lhe chamava a atenção, ele gostava,

Estou bem aqui, tentei dizer sem saber porque faria,

Naquela hora, eu não importava ou bastava,


Havia a possibilidade e ele gostava da aventura,

Eu já pertencia ao conquistado, sem o sabor da novidade,

Minha voz entendeu o recado se recusou a emergir,

Há pouco ele havia me beijado, agora eu perdia a tenacidade,


Cada detalhe gravado em mim,

Se algum dia alguém esquece uma traição eu não iria,

Fechei os olhos, confesso, por pouco tempo,

O bastante para ouvir tudo o que não queria,


O suficiente para ver o que meus olhos se recusaram,

Senti um pulsar um pouco mais forte e des-ritmado,

Jurei que nunca iria perdoar em caixa alta,

Assim que algo dentro de mim virou não mais que estilhaços,


Meu coração foi jogado contra uma parede fria,

Vi as poucas promessas que fiz se romperem aos pedaços,

Desejei seu abraço, apenas esta vez e não outra.

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Seu Beijo


Que véu escuro foi este que cobriu a lua,

Que num lance de piscar de olhos faz ela sumir de vista,

Apaga-se sem motivo a extinguir-se feito uma vela?

Veja bem, sem palavras e com apenas um tremular,


Vejo que tudo não passa do seu beijo a me tontear,

Descartada a magia do sumiço inesperado que embasbaca,

O que dizer do pontilhar de estrelas que veio brilhar no seu olhar?

Fossem elas pequenas chamas, mergulharam dos céus a me afagar?


Ora meu amor, as sinto em seus carinhos, não tente disfarçar,

Cada vez que me toca é como se mil delas estivem em seu lugar,

Fosse você um cometa que fugiu dos céus ao me avistar,

Por favor, apenas peço que me responda encontrou o que queria?


Lá no infinito em que vivia não havia o que você procurava?

Digo isso, meu amor, porque veio de tão longe para me encontrar,

Posso jurar que me buscava com a mesma vontade na qual eu te esperava,

Ainda ouço um farfalhar de folhas na brisa fria que passa,


Foi este o vento do destino que o trouxe até esta hora exata?

Este farfalhar é tão frio quanto a ideia de perde-lo, me atemoriza,

Toda a luz do meu redor desapareceu, meu amor, vejo você e mais nada,

Neste segundo de tempo em que estamos só me resta as suas carícias,


Me vejo entregar por inteira, meu amor, como o amo não haverá outra!

Ele estende a mão e pega a minha entre as suas, a segura com força,

Possui um toque seguro de quem sabe o que quer – por nós ele se esforça-,

De repente o frio passa e o vento vai embora, fica longe - ele se aproxima-,


Me vejo pequena diante do quanto sinto, o amo mais que a própria vida,

O medo de segundos atrás é arrancando e levado embora pela brisa,

Quanto mais ele se aproxima mais vejo tudo valer a pena,

Quando ele estende os braços, seus dedos se soltam e pegam mais para cima,


Me puxam pelos ombros até que eu me recoste nele – me vejo incerta-,

Incerta sobre o que fazer e quanto ao que sinto mais certa que nunca,

Sinto que se ele me tocar por segundos a mais irei gritar,

Acho que é isso que faço, quando ele beija a minha boca,


Porém, o grito é abafado e não soa mais que um sussurrar,

Uma espécie de gemido incontido de um amor que transborda,

Não sei dizer se estou certa, então peço a sua ajuda,

Meu amor, gostaria de beijá-lo de forma que me entenda,


Que me sinta como eu o sinto, como posso fazer agora?

Gostaria de conquistar o seu amor na mesma medida,

Queria ser a pessoa dos seus desejos, como poderei agir sem errar?

Sua língua invade a minha boca antes que eu termine de falar,


Sussurros são abafados por uma boca convidativa e uma língua invasora,

Neste instante ele me toma, não pertenço mais a mim mesma,

Esqueço a ideia de mulher independente para ser sua,

Me sinto roubada do que sou se pensar de outra forma,


Meu corpo estremece em sua boca e com ele também as minhas ideias,

Não sou mais aquela que era, felicidade agora tem outra cara,

Sua língua é grande dentro de mim me sinto afogar,

Tenho que corresponder na mesma medida sem pensar em nada,


Não caibo mais em mim, preciso encontrar a sua alma,

É como se ele já soubesse o que iria encontrar – me ganha inteira-,

Ser minha ganha dimensão diferente, entregue a quem amo sem medida,

Não consigo me guardar em reservas, entrego tudo que sou na hora,


Minha língua o penetra invasora e tímida, o faz se soltar para me buscar,

E quanto mais me busca mais eu vou – apenas sua-,

A sensação é nova e estranha, mas tão boa quanto eu possa falar,

Seus carinhos são exigentes, me lembro de pedir resguardo o digo: fica,


E continuo: meu amor, preciso de você aqui comigo agora,

Por agora eu me refiro a vida inteira, olhei-o e vi que ele entendia,

Entre o conquistar e o ser conquistada – eu me entregava-,

Sua língua era um fragmento do efeito do seu beijar,


Seus lábios eram uma flor a desabrochar em uma boca faminta,

A lua e as estrelas sumiram afugentadas enquanto eu resplandecia,

Não me restava mais nada no mundo além de corresponder as suas carícias.

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Dois Namorados

 


Ela teria levado a cabeça aos joelhos e chorado,

Soluçado tremula por entre as lagrimas,

Imaginando que cada motivo de sua dor

Estivesse escorrendo estampado em sua cara,


A perder-se por entre as curvas do seu corpo,

Indo a qualquer outro lugar que não fosse a alma,

Mas, ele estava em pé ao seu lado e em silêncio,

Repousava a mão sobre o seu ombro em carícia,


De vez em quando acariciava o seu cabelo macio,

De um jeito especial entre o pescoço e a nuca,

Desculpa, ela falou por entre soluços,

Um engolir em seco e sem lágrima alguma,


Mas que, com maestria entoava a sua dor,

Parecia denunciar a ele o quanto ela sofria,

Ainda não havia percebido o quanto ele é bom,

Tentava se adequar a imagem que tinha,


Mas ele sempre surpreendia de um jeito melhor,

Veio os segundos, depois as horas, ele não foi embora,

Ela manteve a cabeça altiva enquanto via o sol,

Ele fazia reflexos sobre o seu rosto que ansiava,


Havia uma beleza inesperada por trás dos óculos escuros,

Sentiu que se apaixonava e perguntou-se se era vista,

Existem sentimentos que por mais evidentes são silenciosos,

Os dedos que repousavam sobre o seu ombro se apertaram,


Ela se via pequena diante da opulência dos seus braços,

Era como se tivesse sido feita para estar naquele lugar,

Uma voz veio atrás dela, Frederico sentiu o peito acelerado,

Enquanto seu rubor se tornava visível sob a luz solar,


Ele compartilhava um segredo com a mulher dos seus sonhos,

A amava e queria estar perto para protege-la,

Já fazia parte da sua vida agora se oferecia para dirigir a moto,

A deixaria em sua casa, abrigada, depois de um banho, em sua sala,


Tirou o casaco que o resguardava do ar frio e seco,

E colocou gentilmente sobre os braços dela,

Enquanto a vestia tocava em sua pele em cada ângulo,

Aproveitando a carícia para afugentar o que sentia,


Não queria agir em erro como efeito de escravismo de desejos,

Sabia tanto sobre si mesmo quanto sobre ela,

Entendia como precisava agir por tudo que nutria seu amor,

Um suspiro escapou do peito dela, ganhando a boca sôfrega,


Parecia conter algo profundo que agora ganhava caminho,

Pontilhava-se por entre os raios do dia as suas palavras,

Trazendo-as de sílaba a sílaba até juntar em seus lábios

Cada frase que teria que dizer sem errar em nada,


Depois de pensar um pouco, moveu a cabeça e os olhos,

Olhou-o de lado, de forma profunda e apaixonada,

Que grande alegria um amor pode causar ao sentimento,

Cada coisa simples ganha vida e empolga a alma,


Os enfeites da árvore de natal, as flores colocadas num canto,

Mas nada se comparou com o que viu em seu olhar,

Seus lábios se entreabriram a espera-lo em impulso,

A voz dele ainda sussurrava e mexia profundamente com ela,


O perfeito se tornava imperfeito diante deste amor,

O impossível não tinha o sabor que ela viu em sua boca,

Desejou prova-la e teria implorado se fosse necessário,

Mas bastou tocar nos dedos dele que tinham uma mecha de cabelo sua,


Em cumplicidade inesperada ela apertou-os com carinho,

Usou toda a força que tinha em seu braço que não era muita,

Pois queria prendê-lo ali, queria mantê-lo até o tempo do eterno,

O medo de perder estremecia em seu peito e ressoava,


Mil palavras se formaram agora, e seu nome saiu alto

E foi mais uma delas, a segunda e mais importante delas,

Eu te amo, eu acho que ela conseguiu dizer antes do beijo,

Porque depois só conseguia dizer amor me leva para casa,


Por favor, preciso que fique comigo, então beijou-o, de novo,

Houve uma brisa suave agora, parecia que sonhava,

Uma pequena lufada de vento mudou as nuvens no firmamento,

E uma espécie de luz amarela ressurgiu de lá,


Parecia que algo místico os estava abençoando, foi lindo,

Tirei uma foto do casal, desejei boa sorte e fui feliz neste dia,

Poderia ter oferecido ajuda e pego as chaves do carro,

Mas não fiz isso, mesmo gostando deles junto não tentei ajudar.

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Um Sussurro a Afagar o Ouvido

 


Não sei ao certo a direção que estou seguindo,

Mas, sinto que pela primeira vez estou no caminho,

E que, não tão logo adiante, está a minha casa,

Não há ninguém ao meu lado,


Mas, eu sinto dedos em meus braços,

É como se eu estivesse protegida

Por esta estranha sensação que não sei explicar,

Talvez não fosse mesmo para termos nos conhecido antes,


Penso tratar-se de alguém que não está longe,

Antes da curva do monte de onde vejo minha casa,

Ali, em pé, andando sobre a estrada de pedra, está ele,

Eu cerro os punhos com força, quero segurar a sensação,


Neste gesto, sinônimo de perigo, eu tento lhe manter,

Porque eu me importo, porque algo em mim se importa,

Pelo fato de saber que sou tocada por alguém,

E que este alguém me interessa de forma apaixonada,


Confesso, que as vezes, parece um pouco difícil entender,

Mas, na maioria do tempo deixo o coração me levar,

Meu rosto não tem ânimo, está triste,

Mas algo dentro de mim me incentiva a seguir,


Me sinto emburrada, em teimosia movida por saudade,

Crio um bloqueio e me apego a ele em demasia,

Tiro os olhos da estrada onde estou e miro o horizonte,

Por um instante não penso em nada,


Fico num silencio tremulo e desinteressante,

Será que para tudo na vida precisa existir uma explicação?

Imagino que este rubor que me sobe a face possa responder,

Ouço meu coração dizer com um pulsar em defensiva,


O silêncio se abate sobre mim por um tempo,

Parece se camuflar pelas sombras das árvores que me ladeiam,

Mas logo algumas palavras são sussurradas ao meu ouvido,

Como as folhas que caem por sobre as pedras,

Sem alarde, sua voz não é mais que um afago ao ouvido,


Tal como um sopro contra um muro de cimento,

Sem surtirem muito efeito, confesso entristecida,

Não importa o que me diz, prefiro não ouvir,

As coisas caem no vão do caminho sem sentido,


As folhas, tadinhas, são levadas pelas chuvas,

Enquanto as palavras seguem o caminho das lágrimas,

Se eu as tivesse, mas água alguma há ao meu redor,

Então ficam ali estagnadas, folhas e palavras - inertes-,


Sem força alguma contra as folhas ou as palavras,

Vez que me calo, sem dizer coisa alguma,

Elas ficam ali e não tardam a ecoar dentro de mim,

Me fazem repensar, refletir com um sorriso satisfeito,


Eu confio nele, sempre concluo este fato,

Gosto do efeito das folhas brincando ao vento,

Da mesma maneira que gosto do jeito como ele se esforça,

E fala na minha orelha entre beijos insatisfeitos,


Penso que ele quer mais de mim e me esforço,

Demoro um pouco, mas me movo em reação,

Fosse eu vazia, seus esforços não teriam efeito,

Mas não sou uma pedra no que refere-se a ele,


Sinto algo muito profundo que me move em sua direção,

Em mim, se algum dia houve lugar vago, está repleto,

Sinto orgulho do que ele faz mesmo se me contradiz,

Não gosto de estar contrafeita mas gosto do resultado,


Sempre me espanto com o quanto o vejo gostar de mim,

Então, seguro o choro e tento falar: amor, estou chegando,

Demora um pouco, mas tomo a decisão mais correta,

Sinto dor, estou ferida pelo caminho árduo,


Mas, nesta mesma hora, meu amor, volto para nossa casa,

É quando o vejo, meio que por encanto, está andando,

De um lado para o outro, imagino se me espera,

Então, digo para mim mesma, que sei: ele está lá.

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Um Olhar E Um Cheiro

 


Uma voz que soava a brisa fria do inverno,

Mas que, de alguma forma, suava acolhedora...

Ele soltou um suspiro de prazer intenso,

Ora, mas que astucioso, sorria ainda mais bonito,


Um sorriso sincero nos lábios e no rosto a seriedade,

Havia um quê de mistério que eu gostava nele,

Olhei-o da forma mais discreta que pude,

Eu o desejava e isso se desenhava em minha face,


Que sorte tenho eu em encontrar alguém que me entende,

Eu lhe disse: meu amor, entende porém, não acostume,

Não pretendo ser para sempre da forma que sou agora,

Pelo menos, minha vida, me esforço para não sufocar,


Me refiro ao que sinto, meu amor – e ele me olha em tom acusador,

Me refiro ainda ao que sou e ao que você refreia,

Ele faz um meneio vigoroso com a cabeça mas cala a voz,

Faço o que posso para que seja você mesmo e isso é bom,


Se houver alguma essência de lavanda, usa-a em minha dignidade,

Gosto de chamar a atenção ao que me orgulha,

Querido, não te esqueces de quem caminha ao meu lado – você;

Por vezes, penso que não sabes o quanto você envaidece


A mulher que há em mim, ela se apaixona por você sempre,

Porque em cada dia te reconhece mais um pouco e mais o quer,

Há algum erro em achar alguém perfeito?

Querido, te confesso dois temores: amar muito e o de perde-lo,


Já tentou se colocar em pé com a dignidade ferida?

Meu amor, isso não acontece com alguém que tem você,

Você é uma espécie de troféu, quem já teve não quer perder,

Me insinuo um pouco, a voz soa tremula e oscilante


Conforme faço caras e bocas brincando com o sorvete,

O vento ainda sopra contra o sol que arde na pele,

Tento desanuviar o pensamento, e peço um beijo,

Minhas pálpebras se pesam, me vejo divagar em devaneios,


Seu tom continua sincero, olhos certos e boca tremula,

Parece não perceber que sua postura dificulta um pouco,

Eu continuo em silêncio. Vejo que não sei o que faço,

Aperto os dedos uns contra os outros, luto emudecida,


Sou o que ele quer que eu seja mas me vejo mais que isso,

Ou então, não entendo muito o que ele pensa,

Por trás daquela fachada de quem sabe muito bem o que quer,

Ele tenta me fazer imaginar insegurança, eu duvido dela,


Há sempre uma voz ao lado dele da qual eu discordo,

Penso em tudo que fui e fiz, repenso muita coisa,

O sorriso feliz se desfaz como que por encanto,

Me distraio, puxo outro assunto em silêncio, sem dizer nada,


Há sempre algo de belicoso em mim e eu mordo o lábio,

Fossem veneno as minhas palavras o que fariam agora?

Chego mais perto dele, encaro olho a olho,

Meu queixo está ereto, meu semblante altivo, a boca tremula,


Cheiro seu queixo, chego aos seus lábios e me afasto,

Não imagine que não cogitei diversas possibilidades,

Mas havia algo importante por trás, melhor repensar um pouco,

O gosto dele estava esmorecendo na lembrança,


O nó se desatava na garganta, algo nele o deteve,

O homem que julguei tão forte tinha um ponto fraco e caia,

Não desejei saber mais sobre ele, me afastei um pouco mais,

Olhei para o colo dele, na altura do seu peito,


Havia uma mulher lá, não era eu, joguei o cabelo para o lado,

E me afastei mais ainda, a ponto de não vê-lo,

Nem sempre vale a pena olhar muito para os lados...

domingo, 24 de outubro de 2021

Saudade


Lá parte o dia escuro e arredio,

Logo ali chega a lua entre estrelas e uma melancolia,

Eu estou na área, sentada no chão

Com os pés para fora esperando a chuva,


Meu rosto é acariciado pelo vento,

O nariz agraciado com um cheiro bom,

Por trás daquelas nuvens se exalta o céu,

Entre o indeciso e o exasperado pela falta da lua,


De quando em quando ela ressurge com uma estrela ao lado,

Não sei se quer trazer esperança ou brincar com as sombras,

A árvore a minha frente treme, eu de vestido tremo com ela,

Mas ainda não tenho como pensar nele sem o risco de lágrimas,


Por mais que raios e trovões ganhem o horizonte,

Mesmo que o sol fuja estremecido por densas nuvens,

Porém, me esforço para enganar o que sinto,

Juro acreditar no meio sorriso que esboço em meu rosto,


Desenho até uma coloração nos lábios e reflito o olhar baixo,

Procuro não olhar fixo para não demonstrar nada,

Nada abala a minha serenidade,

Mesmo a árvore que rompe-se para ganhar o chão,


Por que tenho que ser um reflexo do que sou por dentro?

Preciso ser mais que um espelho que entrega o conteúdo,

Soar como uma espécie de lago que apenas reflete a superfície,

Esconder no fundo de mim tudo que sinto e, talvez, penso;


Algumas árvores se sacodem ao vento,

Ressoam uma espécie de música gutural e agitada,

Ao longe algumas gotas de chuva açoitam-nas mais ainda,

Não sei se o tempo sofre e eu sofro junto,


Ou tudo não passa de invenção minha,

Meu vestido faz desenhos no ar, parece que brinca,

Me vejo nua em aparência e sentimentos,

Desnuda do seu abraço, sou a mesma folha solta ao vento;


Um esquilo percorre um tronco de árvore depois pula alto,

Eu não, eu fico onde estou a contemplar o meu redor,

Procuro não sentir muito, estagnada em minha dor,

A saudade quando aperta forte tenta desatar laços,


Se esforça e não consegue romper nosso amor,

Aqui em meu peito ainda há o seu lugar, seu cheiro

E algo além desta saudade;

No momento procuro não pensar muito nisso,


Nem traduzir esta saudade para evitar o choro presunçoso,

Aquele que sempre achava que iria te comover,

Que acreditava no poder de trazê-lo a qualquer custo,

Acomodo a cabeça no alicerce da área, ilesa e ferida por dentro,


Eu te amo, digo em voz alta, sem esperança de que ouça,

Testo meus reflexos, procuro ver como me sinto,

O amo do mesmo jeito que não tivesse ido,

O esquilo me olha de um jeito inocente eu desvio,


Não quero a intimidade de contar o quanto o amo,

Ouço, um tanto ao longe, o latido de um cachorro,

Parece assustado com algo, não desejo saber o motivo,

Logo poderia admitir que também me sinto assustada,


Ele havia partido a horas e dias e eu o amava da mesma forma,

A casa parece ranger diante do que vem,

Eu ainda não me movo, o céu parece perder a lua,

Algo desaba lá de cima e não são estrelas,


Mas, mesmo de onde estou posso ver que é a chuva,

Meu vestido se enlaça em minhas pernas,

Parecem carícias para esta que sofre de amor,

Ao meu lado, a solidão do escuro tudo envolve,


Mas a potência raivosa da tempestade duradoura se enfraquece,

Logo que o meu gato vem procurar abrigo em meu colo,

O Zé Raio, nome que escolhemos juntos,

Fruto de um amor que foi vivido a dois,

A chuva chega até onde estou e me permito chorar nosso amor.


Comida do Leito do Rio

E, Houve fome no rio, Os peixes Que nasceram aos montes, Sentiam fome. Masharey o galo Sofria em ver os peixes sofrerem, ...