sexta-feira, 3 de maio de 2024

Sobre A Areia Fina

Impossível.
Totalmente, impossível.
Simplesmente, impossível.
Inescrupulosamente, impossível.

Tudo que ela se viu fazendo,
Enquanto o mundo ruía,
Ao avesso,
Foi pensar na única peça de roupa
Que vestia.
Molhada e colada ao corpo.
Tocando, timidamente o corpo dele.
A separa-los.
De forma tão unida
Como se fossem um apenas.

Paralisada.
Sentindo a maciez da boca dele 
Abrir-se quente e úmida,
Sobre seu ombro.
Ela sentiu os lábios dele 
Se separarem suave e macios sobre ela.
Bradou qualquer forma de ataque
Ou fuga de suas mãos poderosas,
Assim que ele ajoelhou-se por trás dela,
Agarrando seus ombros
E puxando-a.
Até sentir seus corpos colados.
Suando frio e trêmula.

Ela sentiu-se dominada lenta
E expressiva por uma felicidade,
Viu cada forma sua reagir ao toque,
E busca-lo.
Delicadamente, ele mudou seu joelho,
Para mais perto.
E depois o outro.
Deixando um sinal sobre a areia fina
De suas longas pernas.
Ela pode sentir cada músculo dele.
Ereta, ajoelhada entre suas cochas macias.

Sentiu a carícia dos pêlos dele,
Dispostos contra suas nádegas nuas.
O peito quente e acolhedor
Colou-se contra sua espinha e pele.
As mãos acariciavam seus ombros,
E a boca dele percorria-o com beijos.
Então, como se ela fosse toda sua.
E demonstrando a motivação de suas certezas,
Ele passou a mão direita dele
Para o seu quadril
E gentilmente, desatou o laço do biquíni,
Deixando-o escorrer por sua pele.
O lado direito ficou toda a mostra.
Numa espécie de triângulo fino.

Afastou-se deixando-a sofrega e quente,
E um maço de dinheiro foi jogado 
Ao seu lado.
Muitas notas bem colocadas,
Unidas umas a outra feito uma só.
Nenhuma se moveu do lugar.
Nem ela.

quarta-feira, 1 de maio de 2024

Seu Olhar

-Você acha que pedir é o bastante?

Ela vira as costas e gesticula.

-Olha, nem suas promessas são capazes.

Tenta abrir a porta
E não consegue.

Outra vez emperrada,
Desfere chutes
E não possui êxito.

-Por favor, abre esta porta.

Coloca-se na porta,
Se recosta enquanto o olha.
Os olhos que ela encontra 
Estão incrédulos 
E isso, 
Necessariamente 
Nunca combinou com ele.

Por um instante,
Suas pernas ficam bambas
E o estômago parece se contrair,
Mas ela reúne todas as suas forças
E se mantém.

Já nem sabe mais o que a sustenta.
Até que ele se põe a sua frente,
A olha nos olhos,
Forte e imponente.

Abre a porta de uma vez,
Com um estender de braço,
E pronto.

Sem que ela perceba,
Ela é impulsionada para a frente,
Acompanhando o impulso da porta.
Tropeça no tapete.
E é segurada por seu braço forte.

-Ótimo, demonstração de força!

Ele sorri deixando dentes limpos,
Brancos e fortes a mostra.
Um sorriso impecável e seguro.

Contrastante com seus músculos contraídos 
No rosto de ossos salientes,
E olhar gritante.

Por um instante ela se vê 
Ainda mais trêmula.

O olhar que encontra parece um deserto,
Cor de areia turva,
Com uma imensidão nele
Que parece engoli-la,
E mante-la ali para sempre.

Num terreno onde,
Quanto mais areia possa percorrer
Nunca possa alcançar o fim.

Um deserto sem nada dentro,
E com tanto mistério a sua frente,
Uma espécie de encanto,
Que faz penetrar e querer percorrer.

Mais que um convite.
Olhar tórrido,
De chão seguro, macio e límpido.

-Não se convença de que tudo 
entre nós, 
Tem por dever encerrar em sexo!

Ela tenta se esquivar por entre as frases,
Buscar algum tipo de escape.

Aquele olhar profundo
E turvo de tão transparente 
Nunca pareceu tão próximo,
De terreno tão seguro,
Muito menos disponível.

Tentou emitir emoção controlada,
Como se por dentro dela
Tudo estivesse exato.
Fingia possuir todas as respostas.

-Por quê não? 
Você já foi muito tolerável 
A esta espécie de fim.

A sua frente com maxilar elevado,
Estava o homem que já a beijou profundamente,
Que disse eu te amo.

Acariciou suas intimidades,
E conheceu cada palmo do seu corpo.

Agora, havia um deserto árido,
Arredio e frio percorrendo-a por dentro.
Seu olhar areia seca e solta.

Tão único,
Que parecia particulado,
De forma súbita 
Se colocou sobre ela,
E soube reconhecer por inteira.

Desfragmentar e juntar.
Poder seu e exclusivo.

Uma íris escura e poderosa,
Como se fosse uma porta entreaberta,
A guiar por uma estrada de emoções 
A serem reconhecidas.

Num calor enérgico
E acolhedor
Que lhe era
Tão peculiar.

Muito cuidadosamente,
Ela soube em seu íntimo,
Que gostaria de reconhecer seus mistérios,
Adentrar em seu interior,
E percorrer a passos felizes
O tom de areia daqueles olhos convidativos.
-Eu te amo.

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Destino

O carro rompia o frio de inverno,
Abria uma tênue luz no escuro noturno,
Rumava ao seu destino.
Dentro, tudo sombrio.
Eventualmente, errava o câmbio,
Reiniciava a marcha,
Galgava em velocidade controlada.

Ele olhava para íntimo,
Queria exercer controle sobre si mesmo,
Mas rumava a passado distante,
Num futuro próximo e latejante.
Dois rostos juntos,
Não soube porquê reencontrou a foto,
Rostos felizes e radiantes,
Despertou saudade.

Como nada o prendia,
Pegou as chaves e apertou o cinto,
Rumou a amada.
A amada.
Aquela que achava que era tão dona do tempo
Quanto podia controlar o destino.

Talvez, neste instante,
Ela esteja mais incerta,
Um tanto mais suscetível que antes,
E que seu olhar,
Seu lindo e perfeito olhar,
Continue a fita-lo com mesmo entusiasmo,
Com intenso sentimento.
Amor.
Tesão, ou isso.

Porém, para um deles
O tempo passou,
Os olhos cairam a obscuro e infeliz 
Desfecho de estar sozinho,
De não acreditar tanto em sonhos,
E fazer pouco ou nada por amor.
Mas estava indo.
Destino estabelecido.

O homem sentado no banco de um carro,
Que olhava sem ver o céu de escuro profundo,
Deixava o seguro quarto bem desenhado,
Pela insegurança de um quarto alugado,
Isso lhe causava uma punhalada 
Em suas ideias tão definidas,
Lhe trazia um quê de incerteza,
Mais profundo que a moça,
Que mesmo com o passar dos anos,
Não deixou de nutrir por ele mesmo afeto,
O esperava com camisola fina e perfumada,
Pernas a mostras,
Prazer desenhado no rosto,
Batom discreto para marcar a camisa,
Unhas definidas para contornar seu corpo.
Isso não porquê mulheres esperam,
Mas porquê ele é bom.
Tão ou melhor que antes.

Trocou marcha,
Já haviam ido todas,
Afundou o pé na velocidade,
Afrouxou o zíper da calça apertada,
Deixou o botão a meia casa.
Voltou o homem que disse que não voltaria,
Abriu quase todos os botões da camisa,
Pegou óculos escuros,
Não queria olhar exposto,
Apenas o corpo jogado na cara,
O peito apertado contra os lábios dela.
A vibração dele contra tecido fino,
Sua masculinidade envolvendo-a.

Deixou-a chorando na porta,
Sentia vontade de chegar invadindo,
A chutes ou mesmo uma invasão 
De carro a pouca velocidade
E o que houvesse de mais impiedoso,
Uma parede caída,
Uma porta estourada,
Moça desesperada e assustada,
Um sorriso dele ao ver prejuízo
De pouca monta no carro,
Sem danos e com sentimentos aflorados,
Sairia do carro e a chamaria...
Simplista e descomplicado 
Lhe ofertaria um abraço,
Sem explicações e falas prolongadas,
Apenas sexo quente e austero.

Comprar casa, terreno e o que fosse possível,
Não queria perde-la,
Queria-a para propriedade de seu prazer,
Ela era preciosa,
Foi marcante e pungente,
Dádiva que o fez retornar
Para tão distante 
E que tornaria a separação difícil.


terça-feira, 23 de abril de 2024

Nunca Mais Duas Horas

Contudo, mesmo nos inícios dos tempos,
Onde o fogo se confundia no gelo,
E o destino era incerto,
O mundo seguiu curso,
Simplesmente,
Firmou destino.
Acredite.

Eu solto meu celular no lençol 
Fresco e arredio,
Não quero escrever nenhuma outra linha,
Muito menos cuidar o passar das horas,
O homem que amo
Me espera na sala.
Ele me disse:”adeus”.
Chegamos ao final.

Eu corri para o quarto
Incapaz de vê-lo,
O destino que nos uniu,
Não tardou e veio busca-lo 
Não quero que me veja chorar,
Estou tentando passar o tempo,
Me amparar,
Buscar algo.

A porta está aberta,
Desta vez,
Apenas a recostei,
Desejo profundamente que ele venha,
A abra,
Note a diferença,
E simplesmente,
Queira ficar.
Não preciso de promessas,
Nem desculpas.
Apenas ele.

Ele não vêm,
Ela não faz barulho
E não se mostra aberta,
Eu não demonstro que o espero,
Fujo.
Fujo do temível final.
Destino implacável e cruel.
Levando-o.

Há um único caminho,
O caminho que leva ao amor,
Dizem os românticos,
Eu não sei mais de meus passos,
E nem saberei dos dele.
Talvez, ame a outra mulher.
Não lhe é impossível.

As horas passam em terrível agonia,
Nunca mais será de novo nove horas,
Não com ele lá fora,
E de mim nem saberia dizer,
Me movo de um lado ao outro,
Cuido números que não voltarão a repetir.
Dez horas,
Na sala nem ruídos.

Onze horas,
E talvez, ele já tenha ido embora.
Nunca mais tais onze horas.
Doze horas demoradas,
Não tenho forças para busca-lo,
Indagar se ainda está,
Pareço nem sentir outro cheiro,
Além de seus beijos
Que tão ardentes percorreram meu corpo,
E agora nunca mais irão me tocar.

O relógio muda destino,
Ao menos tenta.
Uma hora, 
Nada dele ainda.
A porta entreaberta e silenciosa.
Não chegarão novas dez horas,
Não ele não irá ficar muito.
Me falou de suas pressas,
Entre outras coisas,
Mal ouvi-as após o “preciso ir embora”.

Mas o relógio se esforça,
Tenta evitar, concertar e se apressar.
De repente queira mudar o percurso,
Repetir-se,
Até que sempre estejamos juntos.
Tudo anda tardio, vagaroso e apressado,
Duas horas.
Um barulho quebra o silêncio.
Movo o rosto e ele está a porta.
“Estou indo”.
“Ficou tarde”.

Fecha a porta com cuidado,
Parece temer deixar uma fresta,
Ou algo que me auxilie a ve-lo,
Ou mesmo busca-lo.
Ficou tarde no relógio 
Que tentou tão fragilmente
Apressar as horas.
Tarde.
Nunca mais uma hora.
Nunca mais duas horas.
Ele nem ao menos esperou as três horas.
Nem nenhuma outra.
Foi embora.
Ficou tarde,
Absolutamente tarde.
Tarde demais.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Belo Bigodinho

Tudo caiu ao vão,
Feito uma cratera que se abre,
Sem acelerar do coração,
Sem tropeço algum,
Simplesmente, 
Se abre,
E pum.
Você se vê dentro dela,
Sem ter o que fazer.

Braços esticados,
Feridos e cruzados,
Um corpo que não se move.
Firme como seus lábios,
É pior que a mulher
De pernas abertas no seu bigode.
Muito pior.
Lágrimas ou gritos são iguais.

Ela junta todo seu dinheiro,
Une ao do marido que desfaleceu,
Procura a família dele,
Quer estar próxima 
E poder ajudar,
Não é mais que estranha,
Mas vai munida de planos e sonhos.

Eis que se acha ali nesta enrascada,
Permanece recostada a terra fria,
E pedras pontiagudas,
Até que uma mão lhe aparece,
Se estende sem rosto e some,
Antes que ela possa se segurar,
Ou mesmo assegurar:
“Quem é”?
Não sente mais que dedos quentes,
De mãos macias e fortes.
Insuficiente.

Não ouve voz,
Não vê cara,
Até que um monte de terra
Lhe chega a face
Feito um açoite,
E um pé surge,
E fica ali a jogar terra,
Ela não se que esquiva,
Apenas mantém os braços fechados,
Indefesa.

Então, um lindo rosto se mostra,
Bonito, moreno e sorrindo,
Encantadoramente apaixonante,
Ele oferece a mão a ela,
Ela pega sem hesitar
E é retirada da vala de terra,
Cai no seu peito,
Amparada,
Colada ao cheiro de suor forte,
Sentindo cada vibração,
Os lábios aconchegados e desejantes.

Quando seus olhos 
Viram o homem no horizonte,
Acreditaram se tratar de um anjo,
Até o redor mudou sua forma,
E a vala lhe pareceu despretensiosa,
Nem pareceu que segundos
Fariam a terra desmoronar 
E a vala seria fechada 
Como se nunca tivesse existido.
Colada aquele peito másculo,
Tudo era de absurda perfeição.

De repente,
Num passo
Um barulho lhe envia alerta,
Pedras batem- se sobre outras
Com toda força, 
Ela escorrega e é puxada para frente,
Ao olhar para trás,
Tudo estava destruído,
Apenas sobrou um espasmo
Do que houve,
Do que a tragou e a manteve,
A terra fechou- se 
Como uma espécie de ferida 
Que se cicatriza.

Pareceu fantasia,
Devia sua vida a um estranho,
Não dispunha de dinheiro,
Com a morte de seu amor,
Tudo que tinha pertencia a família.
Como pagar?
Como retribuir aquele anjo
Que lhe salvou a vida?

Para bons corações não há obstáculos,
Algo se mostraria,
E tudo seria esclarecido,
Mas anjos que são anjos
Possuem asas
Aquele não as tinha,
A segurou e a carregou,
Ajudou, amparou
E certo dia houve, então, o beijo.
Tão sonhado, querido e evitado.
Ela viúva 
E ele o novo namorado?
Tudo tão rápido e desmedido,
Nada parecia certo,
E sua família 
Nem notícias tinha do filho querido.

Aquele que foi a muito tempo,
A teve,
E nunca mais voltou-se.
O homem continuou beijando-a,
Era feito uma cobrança,
Algo perturbador e intenso,
Então, no dia 10 de outubro
De um próximo ano,
Ela não saberia dizer,
Contudo imaginava estar certa
Sobre dia e mês,
Mas porém, 
“Anos, quantos passaram?”

Ele a teve,
A tomou outra vez,
O dinheiro foi insuficiente,
A beleza dela indiferente,
Ele a teve, teve e teve,
A família se perdeu distante,
Tudo se assemelha a plano depreciante,
Era com desprezo que lhe tocava a face,
Era com cobrança que se referia a ela.
Até que um dia teve a resposta:
“ Ora, o que esperar de um homem 
Que possui uma mulher
De pernas abertas desenhada no bigode?”
Ela sentiu um tapa na cara.
Depois uma dor que feria-a,
Feria-a e feria-a.


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Masharey acordou, Subiu na alta cadeira Feita de pneu usados, E cantou alto: - estou no terreiroooo! Em forma de canto. Após iss...