segunda-feira, 22 de abril de 2024

Belo Bigodinho

Tudo caiu ao vão,
Feito uma cratera que se abre,
Sem acelerar do coração,
Sem tropeço algum,
Simplesmente, 
Se abre,
E pum.
Você se vê dentro dela,
Sem ter o que fazer.

Braços esticados,
Feridos e cruzados,
Um corpo que não se move.
Firme como seus lábios,
É pior que a mulher
De pernas abertas no seu bigode.
Muito pior.
Lágrimas ou gritos são iguais.

Ela junta todo seu dinheiro,
Une ao do marido que desfaleceu,
Procura a família dele,
Quer estar próxima 
E poder ajudar,
Não é mais que estranha,
Mas vai munida de planos e sonhos.

Eis que se acha ali nesta enrascada,
Permanece recostada a terra fria,
E pedras pontiagudas,
Até que uma mão lhe aparece,
Se estende sem rosto e some,
Antes que ela possa se segurar,
Ou mesmo assegurar:
“Quem é”?
Não sente mais que dedos quentes,
De mãos macias e fortes.
Insuficiente.

Não ouve voz,
Não vê cara,
Até que um monte de terra
Lhe chega a face
Feito um açoite,
E um pé surge,
E fica ali a jogar terra,
Ela não se que esquiva,
Apenas mantém os braços fechados,
Indefesa.

Então, um lindo rosto se mostra,
Bonito, moreno e sorrindo,
Encantadoramente apaixonante,
Ele oferece a mão a ela,
Ela pega sem hesitar
E é retirada da vala de terra,
Cai no seu peito,
Amparada,
Colada ao cheiro de suor forte,
Sentindo cada vibração,
Os lábios aconchegados e desejantes.

Quando seus olhos 
Viram o homem no horizonte,
Acreditaram se tratar de um anjo,
Até o redor mudou sua forma,
E a vala lhe pareceu despretensiosa,
Nem pareceu que segundos
Fariam a terra desmoronar 
E a vala seria fechada 
Como se nunca tivesse existido.
Colada aquele peito másculo,
Tudo era de absurda perfeição.

De repente,
Num passo
Um barulho lhe envia alerta,
Pedras batem- se sobre outras
Com toda força, 
Ela escorrega e é puxada para frente,
Ao olhar para trás,
Tudo estava destruído,
Apenas sobrou um espasmo
Do que houve,
Do que a tragou e a manteve,
A terra fechou- se 
Como uma espécie de ferida 
Que se cicatriza.

Pareceu fantasia,
Devia sua vida a um estranho,
Não dispunha de dinheiro,
Com a morte de seu amor,
Tudo que tinha pertencia a família.
Como pagar?
Como retribuir aquele anjo
Que lhe salvou a vida?

Para bons corações não há obstáculos,
Algo se mostraria,
E tudo seria esclarecido,
Mas anjos que são anjos
Possuem asas
Aquele não as tinha,
A segurou e a carregou,
Ajudou, amparou
E certo dia houve, então, o beijo.
Tão sonhado, querido e evitado.
Ela viúva 
E ele o novo namorado?
Tudo tão rápido e desmedido,
Nada parecia certo,
E sua família 
Nem notícias tinha do filho querido.

Aquele que foi a muito tempo,
A teve,
E nunca mais voltou-se.
O homem continuou beijando-a,
Era feito uma cobrança,
Algo perturbador e intenso,
Então, no dia 10 de outubro
De um próximo ano,
Ela não saberia dizer,
Contudo imaginava estar certa
Sobre dia e mês,
Mas porém, 
“Anos, quantos passaram?”

Ele a teve,
A tomou outra vez,
O dinheiro foi insuficiente,
A beleza dela indiferente,
Ele a teve, teve e teve,
A família se perdeu distante,
Tudo se assemelha a plano depreciante,
Era com desprezo que lhe tocava a face,
Era com cobrança que se referia a ela.
Até que um dia teve a resposta:
“ Ora, o que esperar de um homem 
Que possui uma mulher
De pernas abertas desenhada no bigode?”
Ela sentiu um tapa na cara.
Depois uma dor que feria-a,
Feria-a e feria-a.


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