terça-feira, 8 de abril de 2025

Maridinhos

Chovia forte lá na roça,
O poço do tio transbordava,
E nós corríamos no potreiro,
Cuidar da água,
A manga caia do poço,
E nós tínhamos que arrumar.

Chovia tanto
Que escorria água sobre a grama,
Eu e meu irmão íamos lá,
Mas o tio proibia de pisar,
A gente não entendia,
Nós sentíamos sede,
Tínhamos curiosidade.

Então, nós brincávamos
De escorregar na poça
De água limpa,
E um mais forte puxava
Pelos pés,
Levantava para o alto,
E soltava no chão.

Poxa, vida.
A gente brincava de morrer,
Eu penso agora,
Quebrar nossos ossos,
Deformar nossas caras,
Por quê será?
Por quê era tão difícil ter água?

Morávamos distantes da cidade,
Dependíamos do poço,
Sobreviventes da caridade,
Alheios aos olhos da maldade...

Pequenos inocentes,
Mas Allah reaviva a alma do crente.
Eu cri,
De maneira forte e intensa,
Cri.

Encontrei meus esposos,
E agora a gente tem grama.

Eles limparam a terra,
Eu plantei de pé a pé,
Nós três nos revezamos
E molhamos ela.

Também temos água,
Agora eu posso pagar,
Nossa grama é verde,
Ela se espalha pela terra,
Dá alimento aos bichinhos,
Dá sementes para semear.

Como são humildes
Meus esposos,
Não se importam com cansaço,
Sujeira ou trabalho,
Pegam a mangueira,
Ligam a água
E molham a terra.

Nós não dependemos
Mais do meu tio,
Temos nossa fonte de água,
O gramado mais perfeito,
E nossos filhos brincam nela,
Eu me sinto liberta
Daquele pesadelo.

Depender de caridade alheia,
Receber ofensas
E não poder se libertar,
Hoje colhemos o frutos
Do nosso trabalho.

Meus esposos são educados,
Gentis comigo
E com nossos filhos,
Nós respeitamos
Um ao outro,
Eles me fazem segura.

Eu lembro do passado
E sofro muito,
Como foi difícil viver
Sob tantas dificuldades,
Nós não tínhamos grama,
Ou pasto para os bichinhos,
Nem água na torneira,
Não sei como não adoecemos.

Gostaria de não ter vivido
Aquelas brincadeiras perigosas,
Não estar exposta ao gado bravo,
Gostaria de ter estado mais segura.

Mas, hoje eu abro a torneira
E há água limpa e fresca,
Eu lavo a louça,
Eu preparo o alimento,
A caixa de água está cheia,
A água é encanada,
Antes a gente nem teria
Dinheiro suficiente para isto.

Meus esposos são bons,
Eles trabalham por água pura
E comida de qualidade,
Nossa mesa é farta,
E a gente enche o tanque
De gasolina.

Nossa casa é quente
E acolhedora,
Temos chuveiro,
Temos banheiro,
Não há falta de nada.

Temos bons livros,
Ouvimos música boa,
Não há furos no telhado,
Quando tem nós concertamos.

Eu tenho medo de altura,
Mas eles sobem lá,
Limpam com a vassoura,
Concertam o que precisar.

Eu agradeço a Allah
Por ter eles ao meu lado,
Eu amo nossa família,
Te amo meus maridinhos.

Feliz aniversário Mary

Abril a caminho do fim,
Chega maio logo,
Eu gostaria de falar
Da minha irmã,
Aquela garota da balada.

A que estava sempre linda,
Poderosa na rasteira,
Perfeita no salto alto,
Com a rebolada do século,
Garota do sucesso,
Com você nunca foi erro.

Mas, a chuva de junho chegou
E trouxe o inverno frio,
Eu cansei do calção saia,
Troquei pela calça da roça,
E te deixei assim,
Na chuva de junho
Com aquele seu perfeito jeans,
E as músicas,
Pouca bebida,
E algumas cocas.

Feliz aniversário Marilde,
Eu ainda não peguei
O autógrafo da sua banda favorita,
Mas a chuva é fria em todo lugar,
E paciência é pra quem tem,
Eu não tenho é fôlego
E você me entende bem.

Te amo, minha irmã.
Pra reconhecer o valor
Leva um tempo,
Pra admitir que precisa,
Já vão séculos,
Eu sinto falta do chimarrão,
Das pernas estendidas
Sobre a cadeira de descanso,
Da conversa fiada,
E dos planos furados
Que sempre tivemos.

Eu sou imatura,
Eu admito,
Não soube trabalhar
Todos os problemas,
A chuva fria acabou
Com meus pulmões,
Mas me recupero bem,
E já avisto o nosso baile.

Marilde Espanhol,
A garota do meu orgulho,
Aquela que toca meu ego,
A que deixa saudades,
Espero que você esteja bem,
Que seja ainda tão forte,
E que os anos lhes
Tenham sido positivos.

Feliz aniversário,
É maio,
Mês das noivas
E dos amores correspondidos.

Me desculpa os erros,
Os desencontros e desassossegos,
Nem tudo foi perfeito,
Mas se encaixou bonito,
Abraços Mary,
Feliz aniversário.

Amiguinho

Olá amiguinho,
São nove horas da manhã,
Eu ligo o meu radinho,
Pegou o celular
E sintonizo na sua Live,
Que legal você trabalhar!

Tão jovem,
E ainda menino,
Podia estar aqui comigo
Colhendo flores
E correndo
Na chuva,
Mas, você está aí
Querido amiguinho.

Então, eu e o Bruh
Ficamos aqui
Te ouvindo,
As vezes, vendo,
Mas sempre
Te fazendo companhia.

Que legal ver seu esforço,
Sempre educado,
Nós gostamos de ver
Seu rostinho gordinho
E seu sorriso feliz,
Que legal amiguinho.

Pedimos pra Allah
Te proteger,
E que você alcance
Seus objetivos.

Um abraço amiguinho,
De nós,
Seus amigos virtuais.

Agradecimento a Allah

Amado Allah,
Amanheceu chovendo,
Toda flor está
Rejuvenescendo.

Obrigado por nos
Devolver a vida,
Foi difícil
Enfrentar o calor árduo.

Foi triste ver
As árvores perderem
Suas folhas
De uma a uma
E aos montes,
Até sobrar apenas
Galhos secos.

É difícil ver o animalzinho
Ter dificuldade
Para encontrar a água,
Dá medo ver apenas
Folhas no chão,
O verde tornar-se negro,
Depois amarelo,
Até esvair-se ao nada.

Então, em um dia
Allah nos trás chuva,
Toda água ressurge
Nas fontes,
Brota do chão feito
Gramado verde.

No segundo dia,
As árvores parecem acordar,
No terceiro
Brota folhas
Onde já não havia nada.

Isto é mesmo coisa
De Allah,
Obrigada.
Dar vida ao galho seco,
Enraizar o galho caído,
Fazer vida onde já havia
O fogo,
Brotar água
Do terreno árido.

Obrigado Allah
Por sua imensa bondade,
Brotam mananciais
Sobre a rocha sedenta,
Saem flores
Onde não haviam nem sementes.
Obrigada Allah
Pra sempre.

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Ferida

Certa tarde,
Meu pai saiu com a espingarda,
Eu não soube pra onde foi
Ou para que.
Então, voltou mais tarde
Do que a hora que foi,
E me chamou:
- Aline, vá até às bananeiras.

Eu fui.
Se ele me manda,
Eu obedeço,
Eu sou filha.
Pensei que se tratava
De algum serviço
A ser feito.

Eu sempre fui esquecida,
Nem sempre vejo
O que tem para ser feito,
Nem sempre o faço.
Fui,
Cheguei lá
E até acreditei que houve
Barulho de tiro,
Ou não,
Sei lá.

De repente,
Ele juntou pedras do chão,
Grandes pedras
E começou a atirar contra eu,
Acertou na altura
Da minha bexiga
Acima da perna esquerda
De primeira.

Eu me contorci de dor,
Não gritei,
Sempre que ele me batia
Eu procurei não gritar
Ou fazer alarde,
Ele dizia:
- engula o choro!

E eu era proibida
Do choro ao barulho.
Depois disto,
Voaram mais pedras,
Uma acertou contra
A minha perna esquerda,
Eu olhei para trás das bananeiras
E pensei:
“ Será que corro?”

Ele sempre diz:
- se correr é pior.
Eu te pego!
Eu acreditei,
E nunca corri.
De repente, houve mais pedras.
Aí ele disse:
- agora corra
E fique atrás da moita.

E gesticulou para a flor
Que havia em frente a casa.
Eu fui,
E ao dar o primeiro passo,
Eu senti medo imenso,
Aí corri.

Então, fui tomada
Pela vergonha
E não corri mais.
Mas, eu juro,
Eu não sentia as pernas,
Doeu tanto a esquerda
Que ela pareceu
Se estirar para trás,
Tremeram tanto ambas
Que elas se chocavam
Feito gelatina.

Eu quis gritar,
Eu quis pedir socorro.
Eu quis não ir,
Eu juro.
Então, prendi a respiração e fui.
- agora pare.
Eu parei.

- você gosta de se esconder
Atrás de moita,
Venha pra frente pra você ver.
Eu não quis ver.
Eu baixei os olhos,
Minha cabeça caiu
Para baixo,
Eu não tive forças
Para olhar.

 Eu acho que se ver morrer
É odioso,
Temeroso e aterrador.
Eu nunca quis
Me ver morrer,
Só desejei morte rápida.
Mas fui, saí de trás da moita.
- erga a cara!
Ele disse.

E eu fatalmente o vi.
Sim.
O vi.
Mesmo com a cabeça abaixada,
Vi seu chinelo preto,
Sujo de terra,
Seus pés sujos,
Suas pernas peludas,
Seu calção verde,
Seu peitoral sem camisa,
Bronzeado e tonificado,
Seus músculos dos braços,
A arma em sua mão,
Seu rosto bonito
E jovial,
Seus olhos escuros,
Seu cabelo curto escurecido,
Suas orelhas bonitas,
A arma em ponto de mira.

A arma dele estava reta
Contra meu rosto,
No meio,
Apontada.
- eu com a arma na mira.
Apontada na cara.
Que vontade de explodir!
Ele disse.
Explodir minha cara.
Eu o vi.
Eu o ouvi.
Me explodir.

Meu corpo tremeu
Violento de medo,
Meus braços caíram
Na lateral do corpo,
Inertes feito duas cobras
Se tocando,
Eu fiquei pesada,
Eu parecia feita de ferro
Dos joelhos para cima,
Um ferro em casa perna,
Um ferro do início ao fim
Do corpo,
Um ferro no lado
Das faces,
E um no meio,
Bem no meio da cara.

Eu pensei
Se me atirar que acerte no ferro.
E eu não era mais de carne.
Aí fiz sinal de consentimento
Para ele,
Dizendo-lhe “ atire”.
E ele disse:
- corra.
Faça que nem os outros,
Fuja!

O ferro em meu corpo
Era pesado demais,
Eu não me moveria mais.
Ele se cansou daquilo
E saiu,
Foi para o lado do galpão
Próximo às bananeiras.
Eu caí no chão,
Com um baque alto.

Cai sentada
Sobre os meus ossos.
E fiquei.
Minha mãe chegou ali
Mais tarde,
Cansada de me chamar
Para ajudar nos afazeres,
Eu não ouvia,
Não via,
Não me movia.

Ela juntou
Um pé de guanxuma
E me bateu,
Bateu nas costas,
Bateu na cara,
Enfiou o dedo
No meu olho.
Me deu socos
E tapas.

Depois saiu para frente da casa.
- cadela vó.
Cadela quebrou
Meu braço
Quando eu fui dar educação.
Cadela,
Me machucou.
Ela falou para a minha vó Marica.
A vó saiu para fora,
E me viu.

Ela havia jogado
Terra contra meu rosto,
Esfregou em meus olhos terra,
Puxou meu calção
E jogou terra lá
Em meu corpo.
- o que você quer vó?
Estou suja e imunda.
Eu disse a ela.

- quero nada, fia.
Quero nada.
Minha vó frágil,
De ossos sobre salientes,
Pele alva e enrugada,
Cabelos brancos,
Quase seca a disse:
- dexe ela.
Dexe ela.
E eu fiquei.

Chorando e escorrendo
Terra e pedregulho,
Sentindo dor,
Com a cabeça caída
Sobre o peito.
Ferida.

Meu Amparo

Uma noite,
Eu sentei no sofá,
Meu pai ficou no chão,
Com o prato na mão.

Eu poderia dizer que não o vi,
Que não percebia o que fazia,
Ou que sim.
Escolha sua.

Eu peidei,
Peidei alto e potente.
Ele se irritou,
Eu o vi,
Fiquei com vergonha
E sorri.

- ah, pai.
O senhor está aí?!
Ele chorou.
- sim. Estou sim.

Ele disse,
Soltou o prato no chão
E foi em direção ao quarto.
- acredita que eu não te vi?

Eu indaguei,
Tirei os pés do sofá
E ao soltar no chão
Pisei no prato de comida dele.
Pensei, fedeu!

E fedeu bastante.
Ele pegou uma arma,
Uma espingarda,
E me pôs para fora de casa,
Pegou na minha orelha
Com aquela arma apontada
Contra a minha cabeça.

Me pôs na área de casa,
Na verdade
Me fechou no escuro.
Eram sete e pouco,
Eu acho.
Início de noite.

Mas estava escuro,
Muito escuro.
Eu senti pena dele,
Por quê eu pisei dentro do prato?
Por quê eu peidei?

Quis chorar,
Olhei para a porta,
E ele havia me empurrado
Usando a espingarda,
Colocou a ponta contra
A minha bunda
E gritou:
- atirei nela.
Atirei.

Eu não soube se sim.
Senti medo.
Depois ele virou a traseira
Da espingarda branca
Acinzentada
E bateu contra a minha bunda,
Me jogando na área.

Eu me segurei na grade feita
De madeira,
E chorei.
Senti medo,
Muito medo,
Senti pânico.

As horas passaram
E eu fiquei lá,
No frio e escuro
E vazio.

Aí ele apontou a arma
E houve o barulho,
Eu acho,
Eu penso que
Em algum instante houve.

Ficou um buraco
Na tábua da parede de madeira,
Aí ele saiu para fora,
Eu estava lá em pé,
Eu chorei tanto
Que molhou o chão,
Escorreu feito uma valeta
Por meu rosto,
Molhou meu calção,
Molhou meus pés,
Pingou no porão.

Ele voltou lá.
- eu atirei.
Acertei?
Ele gritou.
- eu dei sustinho nela.
Ele disse
E pôs a cabeça
Para fora da porta.

Eu olhei para ele,
Chorando,
Sem poder ver,
Chorando muito.
Eu senti medo estremo.

Depois, perdi a vergonha na cara,
Aquela que de antemão
Eu não tinha
E voltei para dentro de casa,
Sem dizer nada,
Eu sabia como abrir a porta,
Eu nem soube se estava tramelada,
Eu voltei,
Fui até meu quarto e deitei.

Eu nunca quis dormir,
Eu nunca mais quis dormir.
Hoje,
Vinte e três anos depois
Meu filho me olha e diz:
- obrigado mãe,
Por você estar aqui!

Isto me realiza,
Me dá orgulho do que fiz.
Ter voltado
Foi minha melhor atitude.
Deu meu filho para mim.

A Mulher

Querida mulher,
Intensa e forte,
Está sabendo enfrentar dores,
Amparar a quem precise.

Mulher linda e elegante,
Veste-se como se sente bem,
Porquê mulher segura
É aquela que enfrenta a mente,
E as ideias descabidas.

Porquê ter uma mulher
Em sua vida,
Não refere-se a fragilidade
Ou a ideais alcançados,
O contrário,
As vezes,
A mulher quer tudo
Pelo que precisa lutar,
E por ser tão forte,
Ela sabe que consegue,
Então, meu bem,
A ouça com atenção,
E saiba ampara-la,
Carrega-la se for preciso
E entender que ela
Sabe vencer.

Mulher determinada,
Veste e calça tudo que há,
Trabalha no que convier,
Com cabelo comprido ou curto,
De maquiagem ou sem,
No salto ou no chinelo,
Ela é sempre mulher,
Porquê nasceu pra vencer.

Aquela pessoa forte,
Que sai sem razão
A frente de todos,
Está é a mulher,
Em sua paixão
Esta o bom exemplo,
Nas suas mãos
Suas conquistas.

Querido homem,
Não se atrase,
Dirigir ela dirige,
Já paga a própria conta,
Trabalha e recebe o salário,
Seja mais que isto.

Arregacei as mangas,
Faça a comida,
Lavei a louça,
Faça o café quente
Para a dor de cabeça dela,
Assim, você não fará
Mais parte de um número,
O singelo número dos descartáveis,
Que ela coleciona lembranças
Desde aquela época
Da escola
Onde a mulher aprendeu
A calcular números,
E você só sabia rir dela
Porquê ela usava a tabuada.

Romance Sigiloso

- você ainda me ama? Jacira acordou assustada, Por um momento reconheceu A voz melodiosa Que sussurrava aos seus ouvidos, ...