quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Ranaj É Atrasada

A verdade sobre Ranaj
Nunca foi mais nítida:
“Ranaj nunca beijou”.
Alguém escreveu sobre
Sua carteira da sala escolar.
Ranaj chegou,
Pendurou sua mochila
Na cadeira,
Segurou-a com a mão,
E sentou-se,
Baixou a cabeça e leu a frase.
Com os olhos marejados
De lágrimas ela levantou
O rosto para o teto,
Então, encontrou o quadro negro
Com uma frase escrita a giz amarelo:
“Ranaj nunca fez sexo.”
Seu peito arfou,
Ela não conseguiu impedir
O choro,
Levantou da cadeira e correu
Até o banheiro soluçando.
Sim. Ela era a virgem,
Ela era atrasada neste quesito
Com relação as garotas da escola.
Pensando assim,
Ela lavou o rosto na pia,
Olhando seu rosto vermelho
No espelho se acalmou
Com a ideia de que
Com certeza
Ela não seria a única.
Isto de escreverem
Seu nome e as frases
Só poderia provir de algum idiota.
Contudo, ao percorrer
O espelho do banheiro
Até o final encontrou
Uma frase escrita a batom vermelho.
“Ranaj não usa batom vermelho,
Ela tem medo de ser puta.”
Ela levantou os dedos
De dentro da pia,
Se agarrou com a mão esquerda,
E se viu trêmulas
Com suas unhas rosa fraco.
Tremeu de corpo inteiro
De medo desta obsessão,
Depois soltou os cabelos,
Molhou o rosto,
A nuca e o pescoço
E percorreu os dedos molhados
Pelos cabelos
Depois os amarrou para o alto.
Ela notou que tinha poucos amigos,
Sabia que suas amigas tinham
Namoradinhos e alguns outros
Garotos que gostavam dela,
Ela não tinha ninguém
Que a gostasse.
Mas, não parecia que aos
11 anos isto lhe era adequado
Ou preocupante,
Porém, acima da mesa do lanche,
No quadro negro
Do lado da cantina escolar
Havia uma serie de
“Eduardo e Ricarda se
Amam para sempre “.
“Renata e Iselto se
Amam para sempre “,
“Josiane e Fabiano
Se amam para sempre...”
“Ninguém ama Ranaj
Para sempre.”
Ela tomou um choque
Devido ao susto,
Sentou-se na escada
Que ligava o piso
Ao sobre piso da escola
E ficou ali olhando
O quadro.
Quando percebeu
A sineta do início das aulas
Havia tocado,
Todos estavam em suas salas,.
E ela estava ali
Do lado de fora.
Na segunda aula,
A diretora saiu
Da sala de direção
E a inquiriu sobre sua motivação
Para faltar a aula.
Ela entendeu que nenhuma
Motivação era compatível,
A levou até sua sala,
Lhe serviu um chá
De camomila com erva doce,
E a fez assinar o caderno negro.
- Sim, Ranaj,
Está é uma advertência verbal
Sobre você ter fugido da aula,
Na próxima vez,
Será mandada para casa
De castigo pelo excesso.
Ela ergueu os olhos
Para a diretora,
Sentada na cadeira a sua frente
Pegou o lápis de escrever
E assinou seu nome:
- me perdoe diretora.
Não quis agir mal.
Ela disse.
- mas agiu,
Está perdendo conteúdo.
Muitas pessoas não querem
Agir mal e agem,
Isto deve ser evitado,
É sempre bom não querer
E unir isto ao não fazer.
Ela olhou para a sua prima,
Ficou calada,
E encerrou o seu nome
Naquela linha
Do caderno de alunos maus.
Depois disso,
A diretora a acompanhou
Até a sala de aula,
Já estavam na terceira aula.
Com três batidas na porta
A diretora pôs seu rosto
Para dentro
E a apresentou como faltante,
Aluna que chegou em atraso.
Ranaj sentiu-se em morte,
A diretora fez exatamente
Como fazia com alunos brigões,
Ladrões ou usuários de droga,
Agora seu nome foi espalhado
Para cada aluno
Como alguna má,
Logo outros alunos
Que seriam obrigados
A assinar aquele livro
Leriam seu nome
E a considerariam como os demais,
Os alunos maus,
Evitados e mau exemplos.
Ela pediu licença
Para entrar,
Baixou a cabeça e foi
Até sua carteira
Que era a segunda
Da primeira fila
Em frente a porta.
No intervalo notou
Os alunos saindo com
As mochilas nas costas,
Pediu a eles aonde iriam,
Se acabou a aula,
E eles falavam em uníssono
Coisas que ela não entendeu,
“Vamos para o ginásio,
Agora tem que ir para o ginásio,
Tem aula no ginásio.”
Sem compreender
Ela leu no quadro negro
Que haveria teatro escolar
E era para todos se reunirem
No ginásio para assistir.
O tema era sexo.
Ela sentiu-se pesada
Sobre a cadeira,
Juntou as mais na cabeça,
Olhou para a carteira e chorou
Outra vez,
“Meu Deus,
Se tocarem no meu nome
Outra vez eu morro”.
Desta vez,
Ela não lanchou,
Ficou 15 minutos ali
E lhe pareceram horas,
Ouviu o barulho
De todos partindo para o ginásio
E ainda não teve forças
Para se levantar.
Trinta minutos depois
Ela conseguiu se erguer,
Fechou o caderno
Com o lápis entre as páginas,
Guardou na mochila
E levantou-se.
Chegando ao ginásio
Não foi capaz de sentar-se,
Se posicionou em pé,
Encostada ao lado
Das arquibancadas
Na entrada.
O teatro já havia iniciado,
Era composto por cinco homens
E três mulheres,
Retratava uma moça
Que entrou num baile
Usando identidade falsa,
Ela beijou três garotos,
Fez sexo com dois,
Três meses após
Se notou grávida,
Não soube identificar o pai,
Ela era menor de idade,
E teria que explicar ao pai
Como engravidou
Se havia saído de casa
Para dormir na casa
De uma colega para reforço escolar.
Agora ela era uma menor grávida
E isto era de responsabilidade dos pais
Que responderiam legalmente.
Por ela ter doze anos
A justiça considerava estupro,
Seus pais negligenciaram
Sua educação.
Houve no teatro
Aquele que ofertou a identidade falsa,
O que não a reconheceu
Como criança e permitiu
Sua entrada no baile,
Aqueles com quem dançou,
Os que beijou
E aqueles com quem transou.
Ela fez uso de bebida
No local
Por isso não sabia identificar
Com quem transou,
Nem lembrava muitos detalhes,
Tinha sido dentro do carro,
Com dois rapazes lá de dentro.
Os pais ficaram furiosos,
A menina aos doze anos grávida?
Os rapazes, homens velhos,
Não assumiram o ato
De sexo com uma garota?
Eles pensaram e marcar
Uma reunião pública
E passar de rosto a rosto
Até encontrar os malditos safados.
O teatro encerra-se
Com a menina com a barriga
Enorme,
Os pais abraçados
E ela chorando ao lado deles.
Ranaj sentiu-se
Mais triste,
Principalmente, quando
Ao final do teatro
Alguns alunos levantaram
Uma faixa com a escrita
“Ranaj nunca irá engravidar,
Ou beijar, ninguém a ama”.
Ela segurou-se na grade
Do lado das arquibancadas,
Chorou outra vez,
Correu para fora
Com a mochila nas costas
E ficou na saída parada.
Ao passar os integrantes
Do teatro,
Ela aproximou-se de um rapaz,
Moreno, de camiseta,
Olhos castanhos, cabelo preto,
De estatura baixa
E fez o pedido comum
Entre seus amigos
Do qual ela fugiu
Até aquela data,
Maldito 05 de setembro
De 2025,
16:30 horas da tarde de quarta-feira,
-“Oi, quer ficar comigo?”
O rapaz se espantou.
Deu um passo para trás,
Olhou para o rosto dela,
Ele deveria ter uns 30 anos,
Mandou a cabeça
Em sinal positivo
E se aproximou dela,
Pegou em seu pescoço,
Levou seus lábios até os dela
E a beijou.
Todos olharam para os dois,
Uns aplaudiram,
Outros vaiaram,
Uns garotos correram
Até o ônibus escolar
E escreveram na lataria
“Ranaj beijou um otário,
Agora vai engravidar”
Escreveram de canetão escolar,
E puseram data.
O rapaz foi exigente
No beijo que deu,
Logo Ranaj sentiu-se inibida
E se afastou,
Limpando a boca
Com a traseira da mão,
E chorando.
Em pé no início da escada,
Pôde ler o que estava escrito
No ônibus escolar a sua frente,
Escondeu as mãos
No bolso da calça jeans
E chorou sem se conter.
O rapaz sorriu para
Os integrantes do teatro,
Entraram todos numa vam
E partiram.
Ela, também, não soube
Seu nome,
Paradeiro ou sentimentos,
Porque até ali
Ela pensou que para beijar
Precisava haver paixão,
Depois daquele instante,
Amaldiçoou aquele lugar,
E não soube mais
Em que acreditar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Desaparecida

Senhora Mariane Cansou-se, Esperar ao lado Do telefone Não bastava. Pegou as chaves Do carro, Nem avisou o esposo Qu...