Ao meu querido, Henrique e a outros que neste instante,
Resistirei a revelar seus nomes, sim eu usei o plural, não
nego,
Henrique leu o próprio fim de ser considerado como homem,
Com aquele seu sorriso seguro nos lábios e olhar atento,
A razão do descompasso é que com o passar dos anos,
Ele ganhou o hábito de conquistar corações e abandoná-los,
Nada encorajador para quem deveria honrar sua dignidade,
Ao procurar conquistar a todas, descuidou-se de sua mente,
Ocorre, que os anos foram passando e com eles sua juventude,
Sua fama de conquistador foi decaindo pelas esquinas da
cidade,
28 dias antes do Natal, ele buscava um presente para si
mesmo,
Abria a porta do carro com relutância, fechava com uma
batida,
Queria impedir que ficasse aberta, temia a escolha de ser
sozinho,
Fazia tudo com gestos mecânicos, não se considerava um ser
humano,
Era como se todas as promessas que quebrou em sua vida,
Estivessem se voltando contra ele, ferindo-o por onde
passava,
Buscava um sorriso em um rosto amigo, mas não via mais nada,
Fechara-se tanto em si mesmo, que ninguém mais o entendia,
Temia as miragens que andavam a sua volta,
Era como se tudo que fez um dia voltasse contra sua cara,
Talvez, ainda pudesse se prostrar e pedir perdão por seus
erros,
Mas agarrara-se tanto ao transitório que o orgulho que o
guiava,
Era tão intenso que o impedia de tomar uma atitude
compassiva,
Ferira tantos corações que não sabia a quem se referir
naquele momento,
Via-se arrastado para o suplício do fogo, no entanto, não
podia evita-lo,
Funesto se apresentava o seu destino, feito uma névoa que
acoberta,
Algo que o impedia de desculpar-se e o mantinha firme em seu
caminho,
Sentara-se no banco, puxara o sinto de segurança e ligara o
carro,
Ao conquistar a vantagem da velocidade sentiu-se satisfeito,
- Não se exalte – ouviu uma voz feminina lhe brindar com um
sorriso,
Manteve-o gelado em seu rosto no mesmo instante em que uma
arma
Apontava contra a sua nuca, movida por uma voz rouca e
calma,
Continuara na mesma marcha, sem poder fazer um único sinal
de ajuda,
Viu carros se afastarem e ultrapassarem, tudo continuava
normal,
Menos sua cabeça que explodia buscando uma meio de fuga,
Qualquer um que não terminasse com ele morto em uma vala,
Mil nomes cruzaram a sua alma, sim, naquele momento ele a
tinha,
Mas, de todos os rostos nenhum lhe chamara a atenção o
bastante,
- A menos de um mês para o Natal, imagino que seu namorado a espera,
Eu estava a caminho de uma loja para adquirir um presente,
Uma moça com esta voz linda, não merece andar por aí
sozinha;
Ele juntou as mãos no volante e continuara em linha reta,
Não ouviu voz de retorno, não buscou se mover, ereto e
silencioso,
A efeito da arma contra si mesmo, buscou uma prece na qual
nunca acreditou,
Não buscou juntar suas mãos, não acreditava nestas coisas
insensatas,
Havia errado o bastante neste mundo e em outros que
houvessem,
Se existia um lugar para ele, era no banco de trás com a
moça sobre suas pernas,
Suas mãos presas entre os cabelos dela, desfrutando do seu
prazer,
Mulher não era feita para portar arma e possuir voz altiva,
Ele as preferia submissa, com alma e corpo desnudos ao seu
dispor,
Dentre todas as que fez sofrer, esta com voz meticulosa não
estava presente,
De uma arma entre mãos femininas previa a própria morte,
Fosse dos seus lábios já teria revertido a situação que se
estendia,
Apenas sussurros inaudíveis saiam da sua boca que ele a
sentia: rosada,
No banco de trás, ela tentou esconder o semblante triste,
As palavras engasgavam em sua boca feriam sua garganta
ofegante,
Sua paciência se esgotava com as palavras que não ganhavam
o teor do ar,
Morriam em algum lugar dentro dela, implorando para tomar
forma,
Sentia a carta em seu bolso, lá ela havia escrito tudo que
queria dizer,
Mas, de repente, a entregar perdeu a necessidade tanto
quanto transcrever,
Ao amor submetida, pelo amor agora estava disposta a ferir,
Mesmo sob o risco de morte ou de esgotar o seu sentir,
Aquela promessa de amor ficara para trás assim que o carro
ganhou velocidade,
Ao amor, o que ele merecia: o traidor sob sua mira logo a sua
frente,
Recordara de tê-lo visto com outra um dia antes da celebração
do casamento,
Por 5 anos noiva, abandonada um dia antes de realizar o seu
sonho,
Um novo sonho, logo após lhe foi revelado, um ano depois
disso:
O encontra imóvel sobre o sofá do apartamento, morto sem
motivo;
Nada estava fora do lugar, apenas a carteira sumira,
Vasculhou até encontrar alguma pista, chegou até o carro do seu
ex-noivo,
Ela olhou para onde sabia que estava a carteira que ela
conhecia,
Agora que estava com tudo esclarecido, temia realizar o ato,
Repousou a carta sobre o colo e direcionou-se até a
carteira,
Ele vira seu rosto, mas sob a mira, manteve-se ereto com seu
sorriso petrificado,
Recuperou a calma, a reconhecera, esticara suas pernas equilibrando-as,
Sentiu o corpo em brasa, a perdera a um ano e dois meses
atrás por um erro,
O erro resolvido e tudo voltaria ao seu lugar costumeiro,
Sabia da sua influência sobre as mulheres e do quanto a
dominara,
Precisara de muito pouco para conquista-la, ela não o teria
esquecido,
Uma mulher quando ama, não precisa de mais que uma jura
Para ser dominada pelo sentimento que jurou sentir em algum
momento,
Junto com suas lágrimas sempre existem os sonhos, elas
gostam disso,
- E quando uma mulher não aprecia uma carteira? Divirta-se, guardo as alianças aí dentro...
Ela não esperou o fim da frase, repousou a carta ao
lado e disparou a arma contra ele,
O carro perdeu a direção e saiu da rodovia, sua visão ficou
turva, talvez, por lágrimas,
Quando aceitou as promessas, não recusou ser marcada pelo amor,
Mas, existem marcas que não perfuram o corpo e ferem a alma,
Existem aqueles que amam, que não precisam ferir para juntar
os pedaços,
Ao coração o que for de mais bonito, não apenas palavras
soltas em ruínas,
Onde tudo parece ruir ao seu entorno, sem receber nem ao
menos o eco delas de volta,
Em um sentir-se sozinho estando junto alguém termina por sair ferido(a).