Eram dois pontos de luz
ofuscantes
Em um rosto que eu queria ter comigo,
No seu redor a multidão não
passava de vulto,
Corpos sem vida que cruzavam
caminhos,
Mas, o olhar dele não, seus olhos
eram altivos,
Feito duas estrelas num rosto
bem-feito,
Como se tivesse sido desenhado em
papiro,
Seu sorriso curvava a sua boca em
encanto,
O meu se elevava e desejava
tocá-lo,
Ele mantinha o olhar baixo,
Por um momento acreditei que me
procurava,
Sozinha, por entre tantas pessoas
eu não era nada,
Mas, mesmo altivo como ele era,
eu sei, me via!
As duas estrelas que brilhavam em
seu olhar
Não me deixavam passar
despercebida onde estava,
A forma como ele me buscava era
tangível,
Chego a dizer que poderia tocar
seu olhar,
Não pelo tanto de carinho que
sentia na hora,
Não, mas pela força de atração
que ele possuía,
Demorei alguns segundos para
admitir-me apaixonada,
Num momento queria ser sua busca,
No outro não importava, o queria
de qualquer forma,
Tivesse que lutar para tê-lo,
lutaria!
Estendi minha mão em um gesto de
carinho incontido,
Não fiz mais que a menção de um
ato,
Estremeci ante o contato sem ter
encostado,
Tive a certeza de que toquei o olhar
que me via,
O senti pairando em cada parte
minha,
Havia algo que nos unia, que nos
aproximava,
E eu não queria ou tentava fugir
do que sentia,
Tudo ao nosso redor desapareceu
feito mágica,
O olhar que me iluminava não me
permitia ver mais nada,
Deixava tudo o mais sem mérito ou desmerecedor de ser visto,
O mais não passava de sombra,
Então, seus olhos azuis se
aprofundaram em mim,
Uma onda de amor me tomou sem
refletir,
E onde antes não havia mais que
um céu noturno,
Agora possuía duas estrelas
desnudas de segredos,
Mais verdade do que eu estava
acostumada,
Havia nele tudo de que eu sempre
sonhei e quis em alguém,
A atmosfera rarefeita pedia por
sua boca,
Baixei o olhar nela e estremeci mais ainda,
Os lábios dele responderam aos meus com um lampejo,
O beijo se fez ali mesmo, sem
contato físico,
Havia um encontro de almas entre
nós dois,
Um encontro que obscurecia a
vista de todo o redor,
A multidão continuava a transitar
não havia diminuído em nada,
Mas sabe quando tudo o redor
simplesmente não interessa?
Onde haviam tantas pessoas parecia
não haver nós dois,
Não para elas, precisávamos nos
aproximar um do outro,
Fazer uma demonstração, entregarmo-nos
ao nosso beijo,
Então arfei, quase sem ar para
respirar,
Cambaleei um pouco, trôpega de
desejo,
Mãos fortes tomaram meu corpo na
mesma hora,
Com dois passos ou pouco mais ele
chegou,
Estava tremulo e intenso, sentia
tudo como eu sentia,
O beijo que houve em minha alma também
existiu na sua,
O amor que eu vi no seu olhar
estava mesmo lá,
O sonho em que eu acreditei eu
também fazia parte,
Das minhas mãos caiu a solidão em que me segurava,
E um rubor subiu a minha face em
denuncia: te amo, quis dizer.