O que espera,
Seja amor ou ódio,
Ninguém sabe,
Diz-se o amo – a entrega,
Após isso, o beijo- sonho,
Vida de adolescente.
Mas, há nisso destino comum,
O que ama e o que não,
O justo e o injusto – a perda.
Ninguém sabe o que há no final da linha,
Quando acaba a emoção,
O que resta.
O que acontece com aquele que ama,
Acontece também com o outro,
A vida quase sempre se assemelha,
Mas quanto aos juramentos,
Há sempre quem tema fazê-los,
Você sabia disso,
Entendia o quanto eu sentia,
Minhas dificuldades em me expressar,
Sabia que no fundo, não havia amor.
Mas ainda assim insistiu,
Teimou em me olhar com violência,
Não tardou a alterar o tom de voz,
Até que enfim, certo dia – o tapa,
Na cara e em minha dignidade.
-Sim, pai. Eu errei em minha escolha.
Acabou tudo? Será que ele diria,
Não sei, porque nunca fiz mais que pensar.
Quando ele buscou o cinto,
Retirou-o sem dificuldade da calça,
E avançou em minha direção,
Eu corri, me recolhi sobre a coberta,
Ele então, retirou-a – a facilidade.
Nisso, rolei para fora e despi-me,
Retirei com pressa cada peça,
Exibi meu corpo – desnudo.
Ele olha, sorri e se acha grande,
O pênis acompanha o raciocínio,
Ele avança e solta o cinto sobre a cama,
Ao meu lado,
Encosta em meu rosto,
O sinto.
Passa sua mão áspera sobre minha pele,
Eu a sinto.
Recolho o rosto e repouso sobre o sinto.
Eu o sinto.
Ele se sobressai e me pressiona,
Esmaga meu rosto com carícias – será que brinca?
Minha boca se fere – o sangue,
Jorra um fio pelos meus lábios,
Ele se eleva e percorre meu corpo,
Roça minha barriga – desejo.
Eu me recolho – odeio a ideia de filho.
Penso que ele não é mais que isso,
O filhinho, o protegido,
Aquele que corre para o colo da mamãe,
Imagino, se alguém invadiria a porta,
E me protegeria,
Elevo o rosto e está marcado.
Mas não, ele não me agrediu, não ainda.
Saio para fora de casa,
Um dia ou dois após isso,
Assim que ganho forças para reunir a coragem,
Uma mulher sai roxa e manca.
-Não, eu não sofri violência.
Agora quando ele encaminha-se para o meu lado,
Eu já sei o que fazer de antemão,
Tiro a roupa – fico nua,
Enquanto me observa ele perde sua força,
Ganha em estatura – elevação.
Perde em tudo o mais que foi um dia.
É certo que junto ao cinto passou uma unha,
Isso eu só consigo observar muito tarde,
Nada a se fazer,
Dispo-me,
Agora, o me observar no espelho ganha forma,
O remover a calcinha ganha novo alcance,
Já não traço cada linha do meu corpo,
Tenho medo de reconhecer-me – a perdida.
Na medida- a pedida.
Só que ele já não pede mais – exige,
Chega o terceiro dia,
Alega cansaço, e já olha com jeito reconhecido,
Retira o cinto e o eleva para o alto,
Eu esqueço de dar o passo incerto para trás,
Desta vez não dispo-me – a fuga,
Me recolho e tranco a porta,
Penso em pular a janela,
Correr pela rua a fora... (nua).
Lá da rua vejo mais fácil a vizinha,
Procuro saber se ela ainda está viva,
Indago-a – por quê você não tira a roupa?
Ela fecha a janela com toda a força,
Ouço gritos, pranto e amargura,
Logo após ela bate a minha porta,
-Há aqui comida, e nela uma receita.
Não se alimente dela – a desconhecida.
Quase me reconheço nela,
Mas, me vejo no espelho,
Fico tão bem nua...