domingo, 27 de agosto de 2023

Entre Um Olhar

 

Os olhos dela sustentavam seu olhar,

Pareciam seguros e firmes,

Como se ela tivesse algo a buscar,

E este algo estivesse presente.


Você fica boquiaberta,

Simplesmente sem palavras

Quando algumas coisas se organizam,

E tudo parece conspirar a favor,


Mesmo um piso que não se movimenta

É capaz de te levar a algum lugar,

Sem que para isso,

Você mova único passo.


Mais tarde, quilômetros após,

Pensaria sobre isso,

Neste instante pensar estava fora do alcance,

Mas, aquele que estava ao seu olhar,


Aquele que a olhava compassivo,

Este estava muito próximo,

Ela baixou-se para coletar uma bagagem,

Percebeu incrédula que não havia,


Mas seria preciso,

As certezas lhe chegavam em disparada,

E ela simplesmente sabia estas coisas simples,

Então, se pôs ereta sem tirar os olhos dele,


Em sua percepção não havia espaços escondidos,

Tudo estava a mostra,

Ela volta-se direta e sabedora,

O rosto mostrava todo o momento,


Ou seja, as certezas que possuía,

Sem simplesmente saber como,

Ele não sorria,

De lado mantinha-se impassível,


Ele parecia gostar de olhá-la,

Era como um movimento de esteira,

As pernas tremulas simplesmente seguem,

Mas o corpo, a alma, tudo fica a espera,


Um cansaço vago a toma por inteira,

Mas não há movimento,

Não há um sair do lugar,

Poderia correr,


Sabia disso,

Poderia correr muito,

Mas seria incapaz de mover-se,

Seria incapaz de qualquer coisa


Que a pusesse distante dele,

Quis fechar os olhos e desejar com toda força,

Que a velocidade do pensamento entre os dois,

O pusesse no mesmo ambiente,


Na mesma linha de direção,

Parecia que um dos dois estava a frente,

As certezas lhes possuíam,

Mas era como se um estivesse mais longe,


Não dá para manter o equilíbrio,

Não quando se é tomada por sentimento forte,

Quando não se consegue mais desviar o olhar,

Quando suas certezas se posicionam num lugar,


Se apossam de uma pessoa,

Já não buscava mais um ambiente,

Era mais importante ter um alguém,

Mais cedo ou mais tarde,


Iria cair de cara no chão,

Não se pode andar tão depressa sem desviar,

Manter um ponto fixo ao sair do lugar,

Isso não era possível não por muito tempo,


Mas se fosse cair,

Ele seria capaz de segurá-la?

Sabendo das certezas como ela,

Seria capaz de impedir?


Sabe-se: há um ponto onde as certezas falham,

Há um lugar fixo que não se pode desviar,

Não depois de alcança-lo,

Depois de tê-lo tão próximo...


Não poderia, nunca mais poderia,

Mesmo que toda a paisagem passasse,

Que ela andasse muito depressa,

Mesmo que o todo mudasse,


Há um ponto fixo que chama a atenção,

É estranho alcança-lo,

E conseguir ainda manter o equilíbrio.


quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Você Perde Seu Posto

 

Li, ouvi, reli e reouvi

Mesmos trechos,

Com memórias novas,

Pretendo preencher espaços,


A vida que passa não abre pontos,

O que ficou no passado,

Faz repensar não faz retornar.

Do espírito escorrem as lágrimas,


Não as permito transparecer,

O tempo apaga emoções antigas,

Me vejo mais forte,

Não tenho a mesma capacidade


Para demonstrar o que eu sinto.

Sim, entenda, já fui diferente,

Desculpa se hoje já não demonstro.

Já fui a mais doce das amantes,


A mais ardente das mulheres,

Sonhei os sonhos que você queria,

Lutei por motivos que te convenciam.

Por Deus baby,


Hoje você nem é minha favorita.

Alegre e entusiasmada com sua beleza,

Contudo, não o bastante.

Tudo entre nós vai mal,


E isto não é a fumaça escura

Que perambula por nossas mentes,

Não me refiro aos instantes onde você se ofusca,

Os meios com os quais você se esconde,


Entenda.

Quase sei de tudo que você não conta,

Seus comparsas perderam o interesse,

Eu também não sou aquela de antes.


Nossa pequena casa está a esmo,

Pó sobre os móveis,

Sujeira cobre o assoalho,

É tão fácil se perdem no lugar onde


Nunca couberam todos os sonhos,

Talvez, um dia você se colida neles,

Mesmo estando distante das paredes,

Você sabe sobre o tamanho dela,


Querido, ainda assim não se esforçaria muito.

Evite os limites,

Colida com tudo que já fez,

Com tudo que imaginou para nós dois,


Que droga, eu me anulei,

Porque não refleti mais sobre o que fazia,

Sobre o apoio que te proporcionava?

Minha língua ferina se perde,


Afio minhas palavras

Mas nem sei se é capaz de entende-las,

Tudo que fiz até agora,

Realmente nem é compatível com elas,


Escondo meu olhar furioso,

Evito diálogo direto,

Por que dar-lhe uma chance de perdão?

Buscar reatar, reconquistar,


Lutar pela nossa paixão?

Já fui tão boba ao acreditar nisso tudo.

Lhe deixo escapar meu braço,

Não gosto mais de andar junto,


Quando sua mão se recosta a minha,

Busco de tudo para desviar,

Sim, estou fria e gélida,

Será que você vê que é tarde demais para conversar?


Cansei desta coisa de vou tentar.

A sala ainda recende as rosas secas,

Será que ainda lembra de todas as flores,

Os cartões, a beleza das datas?


A água que usei nelas estava exposta,

Eu não a usaria para fazer seu chá...

Cabelo despenteado e ao vento,

Uma sala pequena e ainda repleta de sonhos,


Vejo nosso filho correndo pelos cômodos,

Corro para busca-lo,

No caminho eu te reencontro,

E gosto de você estar conosco...


Será que isso basta,

Sabendo que não há interesse em conversas!

(Eu não sei inglês,

Mas nosso menino sabe).

terça-feira, 25 de julho de 2023

Conversas Com Seu Irmão

 

E, então, não se corre para o verão,

Muito menos some nele,

Qualquer emoção,

Que se tenha vivido por através.


Sabe-se através da sabedoria chinês,

- Não se é dono da beterraba

Porquê se possui o carinho de beterraba.

Entenda nenê,


Eu converso com meu irmão:

- Quando eu for grande vou possuir um carinho de beterraba.

Digo feliz com a ideia.

-Ora, não há nisso mal algum,


Mas veja as suas plantas (....).

Nisso recordo que não plantei nenhuma.

-Não é apenas pôr a semente na terra,

Você cuida para após vir a colheita.


Passo a entender um pouco mais porquê

Era incumbida de auxiliar no plantio dele.

-Você cuida, limpa, põe água, adubo,

Adubo diluído em água...


Percebo que não fiz tudo isso.

-Ah, agora entendo que compreendo

Um pouco menos de beterraba.

(E que, inclusive posso ter feito algo errado


Na forma como agia.

Disso tudo que ele falou eu não fiz metade.)


domingo, 23 de julho de 2023

Dia de Pesca

 

Ele, não gritou ou levou a mão da boca,

Não houve sangue ou dor,

Apenas, sentamos a beira do rio pescar,

Estávamos na areia umedecida,


Sob uma amoreira comendo amora.

Jogamos o anzol na água,

O peixe o pegou e puxou,

Após enroscou-o sob ela.


Meu querido e amado menino,

Ficou entristecido.

Então subiu sobre um galho da amoreira,

Não se importou tanto com suas flores


Que caiam sorrateiras,

Destas não proveriam frutos...

Mas meu coração se compadeceu,

Então, neste mesmo instante o galho se rompeu,


Quebrou mais de que metade,

E foi descendo lentamente.

Ele teria tido um fim trágico.

Eu temi isso.


Assim, me coloquei na água,

Pé direito e mão na perna.

(A perna em que gostava que ele beijasse).

Um pé após o outro da areia ao barro molhado,


O barro se rompeu sob as águas,

E eu fui descendo,

Chegando até embaixo do galho,

Com lama, barro, folhas molhadas e água até acima do umbigo.


Ergui com força que nem possuía o galho

E nele o menino que tanto amo.

Ele retirou o anzol e tirou dele um peixe negro,

Fino e liso, de olhos escuros.


A água me atingiu nas costelas,

Mas meu coração não ficou submerso.

Eu saí da água com pouca dificuldade e medo.

Sentamos mais para cima sobre a grama,


Muito mais tarde e conversamos.

Ele disse:

-Nossa Aline, você me salvou!

Que bonito!


Te devo salvar sua vida,

Devo retribuir logo!

Eu sorri feliz e o abracei respondendo:

-Minha vida depende de salvar a sua.


Isso me basta,

Ter você em minha vida!

Ele sorriu e se afastou respondendo:

-Nossa, parece que você fez o mais importante!


Ele disse, meio que em tom de desdém.

Eu sorri abraçada a ele.

Realmente, salvar minha vida não seria prioridade,

Se nisto, em algum momento, estivesse em questão a vida dele.

Essas Coisas Voltam.

 

Mas as vezes essas coisas voltam,

Elas voltam,

Essas coisas voltam.

Ele tinha em suas mãos pão,


Um pequeno pedaço de pão,

Esmigalhou-o e dividiu comigo,

Como?

Soltou seus pedaços ao chão,


Doou aos pássaros?

Não!

Colocou um após colocou outro,

Andou, nisso,


Três passos,

Eu atrás em seu caminho.

Ele retornou e pegou-o,

O primeiro.


E então, passou ao segundo,

Retornou, então, ao terceiro passo.

Lá deixou um outro pedaço,

Outro passo e outro,


E, desta forma se voltou para trás,

Fez tudo de novo,

Eu? Em seu percalço,

Então, me olha e se volta:


-Você me viu no caminho por onde andou?

-Não, meu irmão, em nenhum momento o perdi,

Respondo em tom confuso.

-Mas se posso confessar algo:


“Disso que você fez, eu não entendi”.

Ele retornou e mostrou.

-Aqui deixei o pão porque passei.

Então, retornei e o busquei.


Ele esfregou a mão no chão de onde juntou,

Apenas desta vez,

Virou-se até meu olhar e disse:

-Você viu, agora, por onde eu estive?


-Sim, agora sim.

Respondi.

A partir do terceiro ou sexto passo,

Ele guardou no bolso um pequeno pedaço,


E lá sempre esteve,

Em cada calça,

Em cada lugar por onde foi.

Vez por outra ele se volta.


-Você viu, então, que estive aqui?

Por vezes, há confusão:

-Não, eu confesso que eu não.

Como dizer que ele ia a frente,


Rápido e inteligente,

Das migalhas ficava apenas o cheiro,

Sem marcas ou patentes.

Ele retorna e me olha:


-Não, você não esteve. Eu sim!

Ele disse.

Eu me sinto sem resposta.

Não há como explicar tudo


No que se refere ao amar.

Abraço-o e o trago junto.


sábado, 22 de julho de 2023

Eu Amo Você

 

Ele contou que decidiu sair,

Ir para longe espairecer,

Foi assim que abri a porta e percebi:

-Cadê aquele que é digno de todo meu querer?


O busco por todos os lugares,

Ele parece estar,

Mas chego lá e... aonde?

Chamo por ele a toda fala,


Grito seu nome e apelido:

-Por favor, responda: onde está?

Não ouço resposta,

E isto me é tormento,


Me vem piores pensamentos,

Ideias loucas,

Meneio a cabeça e as afasto,

Não, você não está em perigo,


Está a salvo pois mora comigo,

Eu o amo e Deus sabe disso.

Corro, então, diminuo os passos,

Não temo fazer barulho,


Apenas me reconstruo em certezas,

Vou devagar e não sorrateira.

Chego até a cerca que nos afasta,

Não a invado – é desnecessário.


Me é proibido.

Até onde me é permitido é suficiente.

Quando um amor é intenso é até o ponto,

E este ponto é o bastante.


-Grito seu nome e sei que me ouve.

Logo está ao meu encontro,

Não há nada errado nele,

Nem há seu sorriso triunfante.


Ele me reconhece de longe,

Gosta de me ver tão perto.

-Não se afaste,

Digo ao meu coração que bate


Acelerado em meu peito.

Eu sei que ele ouve e entende.

Assim que chega até a cerca eu pestanejo e falo:

-Querido, por que foi para tão longe?


Você se afastou e eu senti sua falta.

Ele chega e ainda antes estende a mão direita.

Eu levanto a camiseta,

Abaixo até deixar meu peito a mostra.


-Querido, veja este coração que pulsa,

Veja o quanto ele palpita ao seu encontro.

Movo minha mão direita e aranho o peito.

É como se eu o removesse de mim mesma,


Estendo-o em minha mão direita.

-Pegue, venha alcança-lo.

Meu coração agora pulsa em minha mão,

Ouça minha voz,


Ele é seu em toda a minha emoção.

Veja esta veia que dilata e pulsa,

Ela pula até onde você está.

Ele corre com pernas bambas,


Eu sinto medo que possa se machucar,

Estendo a mão aberta até ele,

Ele chega e toca com seu dedo indicador,

E percorre minha mão até ela,


-Sempre que você se perder ela te encontra,

Se você sentir frio ou medo,

Chame por ela,

Eu vou sempre estar a ouvi-la.


Ele sorri e se joga ao meu encontro.

O abraço ao encontro do meu peito.

O mantenho comigo.

Tenho seus dedinhos marcados na pele,

Ele corre por meu sangue.


Meu Retalho do Jeans

 

Eu neguei até hoje,

E poderia fazê-lo por mais tempo,

Contudo, recordo e penso:

-Saudade, saudade, saudade...


A cada instante de separamento,

Era como se milhares de anos luz tentassem separar-nos,

Segundos após nossos olhos se voltam,

Se procuram e encontram,


A distância nunca é ínfima,

A dor nunca é tão fraca,

Olhar à janela – a procura.

Lembro sua primeira frase de música,


Aquela que fala da costura do jeans rasgado,

A que sonha com a linda casa,

Aquela em que sonho para morarmos,

Lá tão longe,


Finjo que é onde estou agora,

Nova Orleans toma forma,

E esta casa se transforma a cada hora,

-Sim, você está comigo agora.


Não saio sem o jeans – à escolha,

Tenho sempre um retalho na mochila,

Lá troco seu nome,

Faço o de toalha ou o que for preciso,


Minhas mãos suam o nervosismo da distância,

Então, ele é meu lenço,

Nele há o seu suor descansado e feliz,

-Você assistia seu desenho preferido


Eu, para você, apenas secava a sua testa.

Tem a linha de costura que me marca a perna,

Gosto de passa-lo no nariz e senti-lo,

-Sim, você está sempre comigo.


Ao estar no batente da porta,

Você sabe, um pouco antes,

Porque sempre estou a um passo atrasada

De onde me encontro...


(Confidencio-lhe este segredo).

Você o guarda e pronto.

Então, lhe peço um beijo na perna direita,

Aquela que uso para todo o primeiro passo,


(Caso você já esteja um pouco mais longe,

Saiba que andei, sem você,

Economizando passos,

E também seus beijos,


Infelizmente,

Guardei a sorte e ando a esmo),

Você beija minha perna e limpa os lábios,

Ali fica guardado os beijos e seu cheiro,


-Sim, você sempre está comigo.

Longe de você minha boca saliva,

Eu sinto medo e saudade,

Beijo a ponta de três dedos,


Passo onde você repousou seus beijos,

Os sinto mais um pouco,

Então repouso-os do lado da minha bochecha,

Não se preocupe,


Nunca os confundi com os dedos que levo a boca,

Sinto os seus beijos outra vez.

-Obrigada por estar comigo de volta.

Acredita que a mera distância me assusta?


Sim, eu temo muito a falta sua,

Meu coração palpita:

-Onde está você agora?

Me vem lágrimas no olhar,


Eu puxo o lenço jeans da mochila,

-Ah, você está comigo agora!

Busca aos Peixes

Masharey acordou, Subiu na alta cadeira Feita de pneu usados, E cantou alto: - estou no terreiroooo! Em forma de canto. Após iss...