sábado, 21 de junho de 2025

Liberdade ou Consequência

Pegou a mala de roupas,
A necessaire de maquiagem
E levantou da cama.
Passou o olhar
Em sua imagem no espelho,
Sentindo-se cansada,
Exausta de tanto castigo
E repreensão paterna,
Tanta reclamação materna,
Estava empertigada
Com o irmão que fazia
O que nem entendesse
E a culpa recaia sobre sua responsabilidade.
Calçou o tênis baixo,
Chamou um táxi,
Não quis dizer adeus,
Decidiu não deixar vestígios,
Deu uma última olhada
No jardim,
Cheirou a flor que recostava-se
Sobre a escada de saída
E saiu.
Rumou para a estação rodoviária,
Pediu um ônibus
Comprou passagem de ida,
Escolheu a direção
Conforme decorreu a viagem,
Nunca mais retornaria,
Nem daria notícias.
Não sentiu culpa
Pela dor que causaria,
Nem sentiu vontade
De retornar
Quando seu rosto
Ganhou as manchetes
Do jornal do país.
Simplesmente,
Mudou o corte
E cor do cabelo,
Optou pela liberdade,
Distanciou-se,
A partir de agora
O irmão se responsabilizaria,
A mãe organizaria
Tudo por própria conta
E o pai nunca mais lhe exigiria.
Todos os familiares
Se desesperaram,
A todo custo
Encontraram uma fotografia
Com o rosto da filha,
Analfabetos não sabiam
O que escrever para o cartaz
De busca.
Contudo, o irmão já sabia
O bastante,
Quis ele mesmo escrever
Sobre a falta da irmã,
Juntos pegaram o carro
E percorreram, primeiro
A cidade inteira,
Da região do centro,
Aos bairros e até zonas mais distantes.
Colou-se cartaz
Por todo canto,
Buscou-se por Marcela
Em cada casa,
Dos vizinhos, aos parentes
E até conhecidos,
A partir destes dos vizinhos
Dos vizinhos
Para os conhecidos dos conhecidos.
Depois, partiram para as cidades
Próximas,
Em pouco tempo
O povo da região se mobilizou,
Chamaram a mídia televisiva,
A reportagem ganhou êxito
Chegou a rede nacional.
A polícia foi informada,
A rádio patrulha fez suas buscas.
Cinco meses depois
De tanto alvoroço,
Descobriu-se que ela
Pegou o ônibus
E chegou a uma cidade
Não muito distante,
Contudo, a partir de lá
Ninguém teve pistas.
Agora, a família de Marcela
Mudou-se de cidade,
Reside no último endereço
De onde tiveram notícias da filha.
Mas, da própria garota
Estavam distantes,
Ela jurou
“nunca retornaria”.

Um Rei Me Beijou!

Todas as tardes
A moça de cabelos escuros,
Soltos ao vento
Sentava-se com seu cão
Em frente ao porto do rio.
Todo final de tarde
Um rapaz galante
Passava de embarcação motorizada
Armar redes
E retirar a pesca
Em frente ao mesmo local.
Aline sentava-se
Com seu fiel companheiro
O cão rottweiler Wolverine,
E também com o Shitzu Bruce Wayne,
Bruce ficava no colo
E Wolverine lhe colhia
Flores do agapanto
Com o focinho
E lhe trazia para pôr nos cabelos.
Neste dia,
Ao pôr a flor sobre o cabelo
De Aline,
A embarcação motorizada falhou,
E o rapaz foi obrigado
A passar remando pelo porto.
Ele viu Aline,
Seus olhos escuros brilharam,
Seus lábios tremeram
Ele sentiu o amor lhe invadir,
Então, sem querer
Bateu com os pregos do remo
Na embarcação
Tipo caico de lata
E começou a entrar água
No caico.
Sem saber nadar,
Ele ficou desesperado,
Levantou os braços,
Gesticulou para ela
Pedindo ajuda,
E pouco a pouco
Viu seu caico afundar
Cheio de peixes,
E os peixes fugiram.
Aline olhou para Wolverine,
E sentiu amor pelo rapaz,
Quis salva-lo
Sem importar-se com mais nada.
Sem ter caico,
Ela pulou na água
Com um mergulho,
Wolverine e Bruce Wayne
Também nutriam amor
Pelo rapaz
E se atiraram na água
Logo atrás dela.
O rapaz se mexia muito,
Batia os braços sem parar,
Afundava e voltava,
Gritava atordoado,
Via seu fim de aproximar.
No entanto,
Não era seu fim,
Era Aline chegando.
Ela passou o braço
Em torno do seus ombros,
Logo abaixo do braço dele,
Wolverine pegou ele
Pelo casaco do outro lado,
E Bruce nadou a frente
Protegendo de galhos.
De repente,
Bruce viu um galho.
E latiu alto,
Avisando para não
Se enroscarem lá.
Ninguém se feriu,
O galho foi contornado.
O rapaz foi puxado
Para cima,
Onde ficava o porto,
Pois devido a distância
Ele rodou para baixo
Em decorrência da água
Que corre e nunca fica parada.
Chegando no porto,
Ele pode se agarrar.
Retirou seu boné
E embaixo havia uma coroa.
Ele era um rei!
O rei Mohamed
Que veio passar suas férias
Na região campestre.
Mohamed retirou o boné
Soltou ao lado
Do moro do porto,
Com a outra mão
Se segurou e se puxou
Para fora da água,
Então, pegou na perna
De Aline
Que estava embasbacada
Por ver um rei de tão perto
E a beijou na boca!

O Cavalo Vento

Houve um sítio distante,
Distante de tudo,
Neste campo
As terras eram aos montes,
Se embarcava nos barquinhos
Da palmeira
Para deslizar sobre aquela grama,
E ir parar lá embaixo
No vale.
Depois, torna a subir
Solta o barco no solo
E retorna para descer.
Desta forma,
A menina brincou
Por um dia inteiro
Com o primo
Que mora na cidade próxima.
Tão próxima
Que eles podem
Visitarem -se várias vezes,
Tão distante
Que a vista não alcança,
Tão longe
Que a caminhada
Não se torna segura.
Depois de brincar
Eles sentaram-se
No tronco da palmeira
Pra tirar coquinho.
O primo Ariel subiu pelo tronco
Encontrou um cacho cheio,
O puxou com uma mão
Até ele cair.
A menina Antoniessa
Sentou ao lado do cacho
E comeu muitos coquinhos,
O menino desceu
E ajudou a comer.
Depois foram se embalar
Nas folhas do coqueiro,
De um lado para o outro,
De frente para trás,
Mas, o sol estava se pondo,
E Ariel precisou ir.
Antonessa chorava
Enquanto lhe acenava o adeus.
Ariel sorriso triste
De dentro da carroça de madeira
E pneus de borracha
Dos pais.
Que acenavam de volta.
Os pais de Antoniessa
Abraçados a ela,
A mãe dela Genira era irmã
De Giniro pai de Ariel.
Ocorre que o sol
Tornou a nascer,
E Antonessa continuou
A descer pelos montes,
Porém, sozinha, desta vez.
Numa destas descidas,
O barquinho virou
E ela desceu rolando
O restante do percurso.
Depois gostou disso,
Levantando e tirando
A grama dos cachos louros,
Limpou o sorriso rosa,
E os olhos verdes
E voltou a rolar.
Contudo, estava sozinha,
Não tinha para quem contar,
Não tinha como quem brincar,
A brincadeira quase ficou triste,
Mas ela continuou.
Desceu, rolou, correu
Subida acima,
Resvalou de bunda na grama,
Sem nada embaixo,
Resvalou de barquinho.
No entanto,
Ela tentou subir na palmeira
Para colher coquinho
Mas não conseguiu,
Tentou uma vez,
Resvalou e caiu sentada,
Tentou de novo
E caiu em pé,
Mas não teve êxito.
Os dias correram
E a espera pelo primo
Foi sempre muito sentida,
Até que passados quinze dias
Ela ficou mais triste
E trocou de brincadeira.
Foi andar a cavalo,
Seguiu rumo aos montes,
Subiu monte,
Desceu monte,
E continuou cavalgando
Sem parar.
Até que o vento soprou
De imediato e sem aviso
Uma grande lufada
De encontro a ela e ao cavalo.
- Corre Vento, rumo a ventania!
Ela gritou.
Apontando o dedo
Para a frente para o cavalo
Que se chamava Vento.
Vento começou a correr,
Tornou mais ágeis
Suas patas e
Cavalgou muito,
Muito mais rápido.
A crina dele voava ao vento,
Os cabelos de Antoniessa voavam
Para trás,
E eles correram,
Então Vento de um pulo
No moro,
Voou aos céus.
Pareceu miragem,
Porém, ele ganhou as nuvens,
Passou por elas,
E nem o vento mais o alcançou,
Ele subiu tanto,
Que encontrou Deus sentado
Na nuvem mais alta,
Do ponto mais elevado do céu,
E Antonessa pôde puxar
Suas barbas.
Pois ela estava
Uma única nuvem abaixo dele,
Voando sobre seu cavalo Vento.
Então, Deus gritou alto,
Assustado feito um trovão.
E o cavalo Vento decidiu descer
De lá,
Pousando sobre o monte
Da casa de Ariel,
Lá de cima,
Eles já viam a casa dele.
Antoniessa gritou:
- vem nos alcançar Ariel, chegamos!
Ariel correu pela porta,
Antonessa o viu,
Vento cavalgou ainda mais.
Chegando lá
Ariel ajudou Antonessa
A descer do cavalo.
Depois foram cavalgar juntos
E se divertiram até tardar o dia.
Depois Antonessa subiu
Em seu cavalo Vento
E voltou para casa
Feliz por ter encontrado o amigo.
Deus a viu passar
Mas desta vez não gritou,
Nem ela puxou sua barba.
Conforme ela cavalgava
As nuvens se dissiparam
Feito pluma no ar,
Leves e calorosas.
Na curva em que o vento
Se acalmou sua lufada
O cavalo Vento nem sentiu
Diminuir ou aumentar o ritmo,
Cavalgou muito mais rápido.
Nada o alcançou.
Assim, que eles cruzaram 
Por Deus,
Uma outra nuvem se criou
E cobriu a nuvem dele,
Deixando-o bem escondidinho,
Mas, Antonessa sabe bem
Onde ele está,.
E querendo o encontra.

O Dia Em Que O Fogão Ganhou Asas

Certa vez,
Uma avózinha
Fazia fogo
No fogão a lenha.
Lá ela cozinhava sopa,
Com saudades
Dos seus netinhos.
Ela foi até a horta
Colheu legumes,
Colheu temperos verdinhos,
Lavou todos na pia.
Depois cortou tudo direitinho,
Escolheu uma panela grande,
Colocou água dentro
E jogou primeiro os temperos,
Depois cortou carne aos cubos,
E colocou também lá dentro.
Então, colocou legumes
Bem coitadinhos:
Pimentão, pimenta,
Batatinha, cenoura, beterraba.
Depois acrescentou grãos
De milho, de ervilha e de lentilha.
Acrescentou sal,
Depois da carne estar cozida
Ela pôs também feijão.
Mexeu, mexeu e mexeu
Até que tudo cozinhasse,
E sentiu saudades dos netinhos,
Mas, eles não vinham vê-la,
E a saudade só aumentava.
Era noite,
E fazia frio,
Mas ela abriu a janela
Para espera-los,
Olhou várias vezes
Pela janela
Para buscá-los,
Pediu a Allah
Que trouxesse as crianças.
A comida fazia fumaça,
Cheirava a melhor das comidas,
Mas ela estava sozinha
E não queria comer
Sem ter as crianças
Com ela.
Sentou-se no banquinho
De madeira ao lado do fogão,
Sempre mexendo a panela
Com uma colher de pau,
Uma lágrima correu por seu rosto
Quando lembrou da filha,
A quis perto,
Quis ver o genro,
Quis ver todos os netos.
Secou as lágrimas,
Lavou o rosto na pia,
E olhou pela janela
Que ficava logo ao lado,
Aonde estaria a sua filha,
E as crianças,
Já teriam se alimentado?
Lá de cima,
Allah lhes viu,
E as chamas crepitaram
Intensas e calorosas,
Ficou tão quente
Que ela foi obrigada a abrir
A porta do fogão a lenha,
E tudo no fogão abriu-se:
A porta,
O cinzeiro,
O forno...
Foi como se ele tivesse asas,
De repente começou a chacoalhar,
E sair do chão,
Levitava.
Num impulso
Ela pisou no cinzeiro
Que saiu pela metade
E a outra ficou dentro,
E nisto,
O fogão voou e a levou
Até a filha.
Foi lindo ver passar
Pelos céus gelados
E escuros do inverno
Um fogão levando uma avó,
E uma panela de sopa
Pelo escuro da noite,
Com poucas estrelas
E uma fogueira dentro
Que incendiava a distâncias.
Ao chegar na casa da filha,
O fogão desceu no jardim,
A mãe correu chamar
Ela, o genro e as crianças,
E todos correram com pratinhos
Em suas mãos
Para comer.
A avózinha
Encheu de sopa de feijão
Com carne o prato de cada um,
Todos sentaram no chão
Ao redor do fogo
Sendo aquecidos pelas chamas
Que nunca se apagavam
Comeram muito
E sobrou ainda.
A sopa estava deliciosa.
Depois a avó abraçou
Cada um e se despediu
Subiu no cinzeiro
E voltou pra casa
Com a panela quase vazia
E a barriga cheia.
Entrou de volta pela janela
Que foi por onde saiu,
Deixou o fogão onde estava
Antes e agora faz comida
Para a filha, o genro e as crianças
Todas as noites.
E voa pelos céus
Como se fosse um pássaro
De fogo flamejante.

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Demissão Involuntária

Zuriane não costuma
Atrasar-se para o trabalho,
Porém, estava atrasada
A meia hora.
No instante em que
Noemi foi repor a salada,
Ela desdobrou-se para suprir
Sua ausência,
Uma colega de trabalho
Faz falta.
Não importa em quanto atrase
Sempre faz falta,
Mas neste caso,
Referia-se a uns amiga
Zuriane era especial,
Noemi iria abrir seu coração
A ela,
Entregar o que sentia.
Embora Zuriane fosse
Muito mais jovem,
Noemi queria enfrentar isto,
E entrar nesta relação
De mulher com mulher
E descartar seus vinte anos
De experiência,
Iria importar o amor,
Trabalharia este ponto.
Além de que
Zuriane se mostrou prestativa,
Próxima a Noemi,
Lhe confidenciou segredos,
Até entendeu seus medos,
Não parecia haver engano,
Tudo evidenciava comprometimento.
Passou uma hora,
A caixa de repolho caiu
No chão,
Sobre o pé de Noemi,
Seu grito de dor
A retirou de seus devaneios,
Estava tarde,
Muito tarde para Zuriane chegar,
O que teria acontecido?
Ela costumava vir
Direto da escola para o trabalho,
Voltava com o pai.
Um sujeito simpático,
Trabalhador e viúvo.
Pessoa muito nobre,
Esforçava-se ao máximo
Para nutrir as necessidades
De Zuriane,
Amava-a,
Era lindo de se ver.
Contudo, Noemi não seria simpática,
Não lhe daria compreensão,
Mais uma hora de demora
E seria demitida,
Não teria como ser
Tolerado atrasos,
Sem aviso prévio,
Nem de última hora.
Ora, isso preocupa,
Incomoda
E seu auxílio faz falta...
Todavia, passou o dia,
E Noemi amoleceu o coração,
Tudo já lhe vinha a compreensão,
Zuriane decidiu se ausentar,
Não poderia ser devido a doenças,
Pois teria avisado de antemão,
Porém, havia tempo
Para trazer atestado,
Apresentar explicação.
Noemi olhou o dia todo
Para a rua em sua busca,
Na parte da tarde,
Quis reconhecer uma foto
No jornal da tarde,
Mas não poderia ser real,
Deveria ser ilusão sua...
Não iria crer.
Uma moça foi morta
E dilacerada,
Depois abandonada na lixeira,
Estava com o rosto irreconhecível,
Mas, os cabelos cacheados e
Escuros...
Aquilo lhe feriu o coração,
O que seria natural
Pelo desfecho da história,
Imagine matar, dilacerar e jogar
Na lixeira do centro da cidade?
Logo, ela jogou fora o jornal,
A notícia lhe tirou o sossego,
Ao final da tarde,
Com o pé enfaixado,
Viu quando o pai de Zuriane
Estacionou próximo
A entrada da fruteira,
Ele aguardou Zuriane,
Noemi escondeu-se
Para pega-la em flagrante
Faltando ao trabalho,
Mas, ela não apareceu.
Dois meses depois,
Noemi enviava ao Recursos Humanos,
O pedido de demissão involuntária
De Zuriane,
Ela não retornou,
Daniel, seu pai
Nunca cansa-se de vir buscá-la,
E chorar em frente a loja,
Mas, a moça evaporou no ar.

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Fogo na Casa ao Lado

Há cinquenta anos
Casaram-se
O casal que residia
Na esquina da Rua Loudenev,
Eram avós.
Nesta noite decidiram
Fazer pizza,
Dona Leila fez a massa,
Seu Eloas cortou os vegetais
Para o recheio
E depois ralou o queijo.
Pizza feita,
O fogo no fogão crepitava
Rumo as suas pernas,
Eles tiraram a pizza
Do forno
Puderam sobre a chapa
De ferro ardente,
E comeram sentados
Um ao lado do outro.
Encerrada a pizza,
O fogo pouco a pouco
Apagou-se até restar apenas
As cinzas esbranquiçadas,
Como ainda era cedo,
Decidiram reacende-lo.
Seu Eloas abriu a
Chapa de ferro,
Pôs dentro do fogão
Quatro paus de lenha,
Cobriu com galhos secos
E jogou papel.
Porém, o papel acendia-se
Depois apagava,
E fez extrema fumaça,
Cansados de esperar,
Decidiram jogar álcool
Na madeira,
Uma vez jogado todo
Um litro de álcool,
Eles acenderam papel
E jogaram sobre a lenha.
A lenha acendeu
E tornou a apagar,
Seu Eloas todo sujo
De carvão irritou-se
E desistiu.
Dona Leila tomou
O trabalho para si própria.
Rasgou muitos jornais,
Pegou uma sacola de plástico
De supermercado
E acendeu sobre a lenha,
Outra vez o fogo acendeu
Para apagar logo
Em seguida.
Cansados disso,
Foram dormir.
Tarde da noite,
Já madrugada o casal
Da casa ao lado
Acordou afogando-se
Em fumaça,
Sentiram um calor estranho
E medo.
Dona Rosenira abriu a janela
E de sua casa constatou fogo
Na casa vizinha.
Saia daquela casa muita fumaça,
Não seria possível
Que não estivesse incendiando.
-Gilvanio, acorde.
A casa de Eloas está incendiando!
Gilvanio com um pulo
Alcançou a janela
E viu a cena se abrir
Na sua frente feito um filme.
O fogo passou por sobre
O telhado,
Estava na parte da cozinha,
Via-se as chamas ganharem
Espaço e invadirem
Por toda a casa.
- socorro,
Irão morrer!
Vamos incendiar!
Ele gritou.
Pegou a mulher pelo braço
E segurou sua cintura
E a soltou no lado de fora
Da janela.
- corra para a rua,
Fiquei longe.
Então, ele correu porta
A fora,
Pegou as chaves do carro
Eco retirou deixando
No acostamento.
A fumaça saia das labaredas
E afogava.
- meu Deus,
Será que eles estão
Dentro de casa?
Gritou Rosenira apavorada
Segurando o braço do marido.
- querida, corra e chame ajuda!
Eu vou tentar fazer algo.
Ao seu aproximar
O carro do Seu Eloas explodiu na garagem,
Fazendo o portão voar
Para o alto estilhaçado,
As chamas saíram pelo espaço
E chegaram ao portão,
Quase queimando
O rosto de Gilvanio
Caso ele não se jogasse
Para trás.
- meu Deus,
O estrondo foi terrível.
Provavelmente eles estejam
Mortos.
Ele gritou chorando
E esfregando os olhos
Por causa da dor e queimação
Causadas pela fumaça.
Porém, ele não desistiu.
Vendo que o casal de velhinhos
Não estava em lugar algum,
Ele insistiu em ir vê-los.
Ao pegar no portão
Para entrar o ferro quente
Lhe queimou os dedos,
Ele gritou,
Mas nem mesmo assim desistiu.
- Seu Eloas.
A casa está pegando fogo!
Gritou.
Ninguém respondeu.
- Seu Eloas tem fogo
Por toda a sua casa.
Ninguém respondeu.
Havia um varal de roupas
Do lado de fora da casa
Que se estendia
Pelo jardim,
As roupas pegaram fogo
E o fogo se espalhou
Pelo arame.
Até que ele caiu no chão
Em chamas.
A esposa de Gilvanio
Gritava desesperada
Nas casas vizinhas,
Os vizinhos saíram
Para fora apavorados
E se juntaram em frente
A calçada
Em burburinhos.
No entanto, Gilvanio
Não desistiu,
Tirou a camiseta
Colocou nas mãos
E abriu o portão
Usando sua força,
Depois passou
Sobre as roupas
Que queimavam
E foi até a janela
Arrombou ela com força,
E encontrou o casal
Dormindo sobre a cama.
Havia muita fumaça,
Mas ele mexeu no braço
Do Seu Eloas que acordou,
Chamou sua esposa
E ambos saíram da casa
Com a ajuda de Gilvanio.
Logo em seguida,
A cortina de dentro da porta
Pegou fogo
E depois a porta.
Descobriu-se que
O fogo acendeu depois
De eles terem ido dormir
E o fogo alcançou as cortinas
Da parede, depois o teto
E assim se alastrou.
O casal de velhinhos
Perdeu tudo:
Casa, carro, mobília, roupas
E comida.
Foi um fim trágico.
 O fogo crepitou muitos
Metros acima do teto,
Alcançou as casas vizinhas,
Se alastrou até o fim da rua,
Queimando todas as cinco
Casas.
Ninguém morreu.
Mas, o medo de todos
Foi extremo.

Afogamento

Em certa tarde
De sol pleno
A mãe de Jucenir
Decidiu levá-lo
Para passear.
Pegou uma cesta,
Pôs nela sanduíches,
E frutas frescas,
Também colocou
Uma garrafa de suco.
Pôs a cesta em uma mão,
Segurando através da alça
Feita toda ela de cipó mil homens
Trançado em formado
De retângulo.
E pegou Jucenir
Com o outro braço,
Fechou a porta,
E seguiu pela calçada.
Encontrou um banco
De madeira e ferro
Sobre um gramado
Em frente ao rio
E sentou -se ali com o filho.
Ao chegar e tirar os sanduíches,
O cãozinho Lara pegou
Um para ele.
- Ora, Lara.
Você veio conosco
E nós nem o vimos.
- eu vi mamãe!
Disse Jucenir para Lucenir.
Ela olhou o filho,
Pegou seu boné
E o puxou para cima
Para deixar o rosto a mostra,
Beijou o menino de três anos
E sorriu.
- fique conosco Lara,
Estamos felizes por ter vindo!
Servido o pequeno sanduíche
Para o menino,
Ela pegou outro
E pôs-se a comer.
O tempo foi passando,
E ela ficou cuidando
Os peixes pular na água
Limpa e transparente.
De repente, ouviu um espasmo,
Então, uma espécie de vulto
Empinando a bunda para o céu
E pendendo o resto do corpo
Para dentro do rio.
Era seu filho,
Ele se aproximou do barranco,
Caminhou até a margem
E foi pegar água com as mãos,
E agora acabava de mergulhar.
Mas, ele aos três anos
Não sabia nadar,
Ela aos trinta menos sabia.
Nisto, Lara se aproximou
Do leito do rio
E começou a latir
Com intensidade
E a mover-se ao redor
Do barranco.
Depois, ela começou
A esfregar os pés
No gramado e arrancar grama
Para o alto,
Latindo nervoso sem parar.
Lucenir se levantou desesperada.
- Meu Deus, meu filho,
Me ajudem.
Contudo, não havia ninguém
Nas proximidades,
E alguns carros passavam
Porém, o barulho
Não permitia que ela fosse ouvida.
Ela correu até a margem,
Resvalou, quebrou um dedo
No barranco,
Arrancou grama sobre o dedo,
Fez um vergão na terra
Onde o dedo passou,
Se jogou no chão
Para não cair no rio
E gritou:
- meu filho,
Me ajudem,
Socorro!
Lara correu até ela,
Puxou a manga de sua camiseta
E latiu ao redor.
Ela começou a chorar.
- socorro,
Me ajudem,
Socorro!
Pode olhar para o filho
E vê -lo descendo
Para o fundo da água,
Lindo e assustado,
Sem mexer-se feito um boneco.
- meu filho,
Se chacoalhe,
Moça os braços,
As pernas.
Filho, socorro,
Me ajudem!
Ela se levantou,
Correu até onde ele caiu,
Que ficava a dois
Metros de onde ela resvalou,
Se agachou,
Jogou os braços pra frente,
Tentou alcançar a criança
Mas não pôde.
Se levantou olhou para trás,
E gritou com a força
Que só uma mãe possui:
- meu filho,
Socorro,
Me ajudem!
Então, chacoalhou os braços
Para o alto
Em desespero,
Alguns carros continuavam
A passar na rua.
Um homem olhou para ela,
Mas não parou.
Ela, então, correu até
A calçada e pôs -se a gritar
Desesperada:
- me ajudem,
Eu não sei nadar,
Salvem meu filho.
Meu Deus!
Contudo, ninguém parecia
Dar atenção,
Muitos olhavam para ela,
Viam seu calção branco
Sujo de terra,
Sua camiseta amarela
Suja de grama,
Mas não faziam nada,
Simplesmente seguiam.
Depois disso,
Ela invadiu a pista,
Deu socos sobre os capôs
De quem passasse
E gritou nervosa:
- me ajude, socorro!
Um homem irritado
Lhe desferiu um tapa na cara.
Ela retornou
Para a calçada,
Chorou desolada,
O filho fazia bolhas
No fundo da água,
Descendo ainda.
Isto lhe deu novo fôlego,
E sem pensar ela
Retornou para a pista
Tentando fazer alguém ajudar.
- so-co-rro.
Meu filho,
Ajudem.
Não...
Gritando e movendo
Os braços no meio do asfalto,
Ela foi impedida de terminar
A frase e foi atropelada
Por um carro
Que pegando em cheio
Sobre suas pernas
A bateu contra o parabrisa
E com um movimento
A jogou para fora
E fugiu com o parabrisa
Quebrado:
- vadia,
Maldita!
Gritou o homem.
E fugiu.
Ela levantou atordoada
Da calçada
Com dores e muito medo.
Olhou para a rua assustada,
Lara gritava ao seu lado,
Latis sem parar,
E corria até o rio
Depois voltava latindo.
Com uma última olhada
De dor e desespero
Lucenir chorou todo o medo,
De uma maneira desesperadora,
Levantou olhou as pernas cortadas,
Sentiu o rosto sangrar,
Viu todo aquele vidro
Jogado no chão
E retornou para a margem do rio.
Desta vez, porém,
Tomando coragem
Se jogou na água
Colocando um pé,
Depois o outro.
Escorregou no gramado,
Tentou se segurar
Gravando as unhas no chão,
Lara a puxava com os dentes:
- Lara, te amo!
Ela disse,
Olhando o cão
Pela última vez.
Depois jogou o braço
Para o fundo da água,
Não alcançou o filho,
Mas viu seu boné,
Descer sobre o rio,
Voltou a olhar o fundo,
E pode ver a criança
De olhos abertos caindo.
Ela, se empurrou na margem,
Se empurrou com os pés
No barro do lado do barranco,
Aí pôde alcançar o filho:
- filho, te amo.
Ela disse em seu último fôlego.
Depois ela o abraçou
Com um braço,
Com o outro cravou os dedos
No barro do barranco
E pôde subir para fora,
A criança chorou,
Ela chorou
De encontro a barriga
Do filho
Que ela soltou no barranco,
O filho levou a mão
Pequena sobre seu rosto
E tirou dele um pedaço
De vidro que estava cravado.
- mãe, eu desobedeci,
Desculpa.
Ele disse fraco,
Entre soluços,
Num murmúrio rouco.
- eu te amo, filho.
Ela gritou chorando,
Não teve forças naquele
Instante para sair da água,
Então, ficou ali um pouco.
-senhora, você está
Dentro da água.
É proibido!
Ela ouviu um homem dizer.
- me ajude.
Eu sinto dor.
Ela respondeu
Sem levantar o rosto,
 Não tinha forças,
Atolou-se no barro.
O cachorro se desesperou
De medo,
Pulou na água
E nadou,
Foi até a bunda dela
E empurrou com o fucinho,
A removendo,
Ele foi até a camiseta
E a puxou,
Ainda nadando e latindo.
Ela conseguiu sair,
E Lara saiu na frente
Puxando ela.

Depois do Fim

Marta piscou algumas vezes, Tentou entender O que houve, Se viu dentro do carro Esmagada contra o chão. Estava imprensada ...