sábado, 21 de junho de 2025

O Dia Em Que O Fogão Ganhou Asas

Certa vez,
Uma avózinha
Fazia fogo
No fogão a lenha.
Lá ela cozinhava sopa,
Com saudades
Dos seus netinhos.
Ela foi até a horta
Colheu legumes,
Colheu temperos verdinhos,
Lavou todos na pia.
Depois cortou tudo direitinho,
Escolheu uma panela grande,
Colocou água dentro
E jogou primeiro os temperos,
Depois cortou carne aos cubos,
E colocou também lá dentro.
Então, colocou legumes
Bem coitadinhos:
Pimentão, pimenta,
Batatinha, cenoura, beterraba.
Depois acrescentou grãos
De milho, de ervilha e de lentilha.
Acrescentou sal,
Depois da carne estar cozida
Ela pôs também feijão.
Mexeu, mexeu e mexeu
Até que tudo cozinhasse,
E sentiu saudades dos netinhos,
Mas, eles não vinham vê-la,
E a saudade só aumentava.
Era noite,
E fazia frio,
Mas ela abriu a janela
Para espera-los,
Olhou várias vezes
Pela janela
Para buscá-los,
Pediu a Allah
Que trouxesse as crianças.
A comida fazia fumaça,
Cheirava a melhor das comidas,
Mas ela estava sozinha
E não queria comer
Sem ter as crianças
Com ela.
Sentou-se no banquinho
De madeira ao lado do fogão,
Sempre mexendo a panela
Com uma colher de pau,
Uma lágrima correu por seu rosto
Quando lembrou da filha,
A quis perto,
Quis ver o genro,
Quis ver todos os netos.
Secou as lágrimas,
Lavou o rosto na pia,
E olhou pela janela
Que ficava logo ao lado,
Aonde estaria a sua filha,
E as crianças,
Já teriam se alimentado?
Lá de cima,
Allah lhes viu,
E as chamas crepitaram
Intensas e calorosas,
Ficou tão quente
Que ela foi obrigada a abrir
A porta do fogão a lenha,
E tudo no fogão abriu-se:
A porta,
O cinzeiro,
O forno...
Foi como se ele tivesse asas,
De repente começou a chacoalhar,
E sair do chão,
Levitava.
Num impulso
Ela pisou no cinzeiro
Que saiu pela metade
E a outra ficou dentro,
E nisto,
O fogão voou e a levou
Até a filha.
Foi lindo ver passar
Pelos céus gelados
E escuros do inverno
Um fogão levando uma avó,
E uma panela de sopa
Pelo escuro da noite,
Com poucas estrelas
E uma fogueira dentro
Que incendiava a distâncias.
Ao chegar na casa da filha,
O fogão desceu no jardim,
A mãe correu chamar
Ela, o genro e as crianças,
E todos correram com pratinhos
Em suas mãos
Para comer.
A avózinha
Encheu de sopa de feijão
Com carne o prato de cada um,
Todos sentaram no chão
Ao redor do fogo
Sendo aquecidos pelas chamas
Que nunca se apagavam
Comeram muito
E sobrou ainda.
A sopa estava deliciosa.
Depois a avó abraçou
Cada um e se despediu
Subiu no cinzeiro
E voltou pra casa
Com a panela quase vazia
E a barriga cheia.
Entrou de volta pela janela
Que foi por onde saiu,
Deixou o fogão onde estava
Antes e agora faz comida
Para a filha, o genro e as crianças
Todas as noites.
E voa pelos céus
Como se fosse um pássaro
De fogo flamejante.

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