Ela, por sua vez, baixou a cabeça,
Antes um pouco de ele ter desviado os olhos,
As palavras que lhe molharam a língua,
Serviam-na de tudo menos amor – veneno,
Sentia a brisa fresca do outono invadir-lhe as veias,
E produzir um efeito congelamento no peito,
Tivesse ela um coração, teria parado,
Mas não, não tinha, não depois de tudo...
Ele a sentia esvanecendo-se em seu íntimo,
Via tudo que viveram perder-se dentro dela,
E a culpa? Ele não assumia,
Mas no fundo ela sabia, todos sabiam...
Quando ela levantou o olhar ele já não estava,
Olhava para algo distante dos dois,
Então, simplesmente engoliu o que iria dizer,
Em seco pela garganta – efeito rasgar-,
Não fora da forma como ele removeu suas roupas,
Não, foi um rasgar e despir-se de tudo que sentia,
De forma que não retornaria,
Não há um costurar no que se refere a alma,
Creia que não, e ele? Não se importava,
Provavelmente ele estava satisfeito com tudo,
Parecia seguro de si, seu peito arfava em triunfo,
Um sorriso cobria a sua boca, sem chegar aos olhos,
Não havia brilho algum naquele olhar que fugia,
Conforme o peito dele arfava o dela se esvaziava,
Seu olhar era sério e perturbado mas ele não via,
Entretanto, as palavras voltavam aos lábios,
Parecia que nem mesmo os dentes cerrados as impediriam,
O amor quando é grande não sabe dar-se por vencido,
Seria um frio congelante que urgia por ser declarado,
Talvez conforme falasse o sangue voltasse a correr,
De repente, ouve-se um cantar distante,
Alguém ali, próximo, sentia-se feliz,
Era alguém distante do que se passava ali,
Parecia falar algo sobre não se distanciar,
Sobre a solidão ser fria em dias de verão quente,
A música mais que ajudar parecia acusar,
Mas o verão já não era avistado, apenas ele,
A brisa fria e algumas folhas cobriram seu cabelo,
Esbarraram nele, ferindo de leve o rosto,
Um rubor percorreu nela,
Os cabelos se misturaram as folhas serenas do outono,
Mas, fora isso, nenhuma esperança,
A boca ansiava por falar mas temia,
Não seria ouvida ou não saberia o que dizer,
Havia uma triste indiferença entre eles,
O amor é poderoso mas o outono trazia mudanças,
Aquela brisa que levava as folhas até as alturas,
Também as removia e levava para longe,
Como se elas nunca tivessem sido acolhidas,
Tão distante onde não pudessem retornar,
Quem dali ainda poderia vê-las?
Depois de caídas, as folhas não se restauram,
Talvez, as profundezas da terra ainda as façam subir,
Mas restaurar ao que foram?
Lá onde ele estava, ela não poderia atingir,
Na ponta dos pés ou sobre um salto alto,
Existem lugares que não são para ficar,
Agora a brisa fria feria o rosto,
Há uma certa fidelidade nas leis da natureza,
Também há nos casais que se apaixonam...
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