quarta-feira, 15 de junho de 2022

Saudade

 

A vida tornou-se austera, não sem motivo,

Perder as horas, alguns fios de cabelo pela casa,

Isso não era nada perto de perder seu tempo,

Sim, porque amou sem medidas e disso não sobrou fagulha,


Ela penteou os cabelos contou os fios caídos,

Pensou que de perder quem se ama,

Dói mais ainda ver-se escoar pelos vazios,

Não deveria perder a si mesma aquela que se entrega,


Pelo contrário aquele que fere é quem deve perder mais ainda,

Negar a si mesmo, fingir sentir sem amar coisa alguma,

Jurar em falso e beijar sem amor,

Isso sim deve ser o verdadeiro sofrimento,


Embora ela o saiba, não compreende e sem compreender chora,

O que chamam amar corrói em chamas,

Primeiro o medo de entregar-se e depois a alma,

Com a dignidade jogada sobre o chão frio,


E seus cabelos sobre ela em tentativa fútil,

Para não se utilizar o inútil,

Quando se entrega por inteira a alguém,

O inútil é a última palavra que convém,


O desalento, uma lágrima solta pelo rosto,

Só lamento, do beijo não ter restado ao menos o gosto,

Quem dera nem mesmo as memórias,

Seus sorrisos a gargalhar pelos cantos,


Aquele doce olhar que aparece mesmo sem querer,

Parece que quanto mais foge mais o vê,

Sua alma aprendeu a devorar todas essas coisas,

Inclusive, não foge de questão devorar a si mesma,


Não se alimentar direito, fugir a todo custo,

Não enfrentar tudo que houve de frente e cabeça erguida,

"Sim, amei por única vez e ainda fui traída,"

Aprendeu, infelizmente que devorar a si mesma


É o mais fácil, perder-se ao se dar e não saber se encontrar,

Nem mesmo a maquiagem sabe recuperar o orgulho,

Porque necessitou de amor, não soube se conter,

Escarnecida porque entregou tudo que tinha,


Sem muito por receber,

Poderia quase se considerar vazia,

E triste, porque ainda o amava e o queria,

Não como antes, mas o queria,


Na fase em que o amor enche os olhos e contenta,

No instante em que tudo que se quer é seu abraço,

Nesta hora ele simplesmente vai embora,

Ela baixou os olhos para as meias furadas,


Sentia os dedos gelados sobre o assoalho,

Conheceu a derrota de perto,

Mas, ao menos amou por inteiro,

Admirável provação passam os que amam assim,


Não dá para dizer que sorri aquela que ama,

Assim que o vê partir,

Mas, também não tem tantos motivos para chorar,

Os momentos fortes foram sublimes,


O adeus que ele levaria não os suprime,

A felicidade em estar na desgraça,

O amor se compadece daqueles que o provam,

Mas chora e sofre por aqueles que não o conhecem,


Aos olhos da alma amar é que é precioso,

Ai daqueles que fogem,

Como devem sofrer em silêncio!

Tenha o amor vida longe,


Que o receba todo aquele que for capaz,

Que esta boca que agora se afugenta,

Retorne a fartura de beijar por amor,

Que não seja capaz de entregar-se a sentimento fugaz,


Guardará para sempre aquele nome e o lembrará,

Por cada instante em que o sol retornar a brilhar,

Mesmo quando outro chegue a sua vida,

Pois o amor que se dá só tem a abençoar,


É o coração o único capaz de feitos gloriosos,

O resto, orgulho, ressentimento nada disso,

Bendito seja o nome de quem é amado para sempre,

Pois, abençoado foi aquela que soube além do sentir: compreender.


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