segunda-feira, 13 de junho de 2022

Separação

 


Ela, pensativa e com os olhos no horizonte,

Voltou-se para as nuvens,

Como se tivesse um desejo em mente,

Um do qual não fosse se arrepender,


Que não exigisse tanto quanto o anterior,

Talvez, ter pedido aquele beijo foi seu pior erro,

Repetiu maquinalmente mais para si mesma:

Preciso esquecer, dar um passo a frente,


Qualquer coisa que não me fira a alma,

Que me exclua de ansiar tremula por ele,

Aquela noite deixou ele um tanto abalado,

Então, ela podia resistir a beijá-lo,


Não correr para o seu abraço sempre que chegasse,

Ou ainda, ser indiferente como se não o desejasse?

É certo que aquele olhar abalado e tristonho

Dizia o contrário,


Mas, quando chegou e procurou por sua boca,

Ele a viu hesitar, única vez, mas o fez,

Ele experimentou algo que se iguala a um trovão,

Que rompe os céus com um estrondo e atinge o chão,


Fazendo com que se abra e o consuma,

Antes mesmo de seus olhos baixarem-se para ver o que há,

Antes que sua mente cogite estar em perigo,

Quando se percebe já não existe mais – consumido-,


Há então, nele apenas as feridas,

Um respirar incerto e controlado – a contar o ar-,

Até que tudo acabe e suas narinas não tenham mais nada,

Nem seu coração mais pense em pulsar,


Perder o amor tem qualquer coisa de morte,

Seu olhar ficou sombrio e procurou sua pele,

Tocou seu rosto primeiro, depois foi até a boca,

Há quanto tempo não a vê com tanta atenção?


Ela trocou o creme, há um cheiro diferente nela,

Não usava o perfume que a presenteou,

E seus lábios rosados estavam avermelhados,

Chamativos como em um convite que não era seu,


Declarou a si mesmo que não iria duvidar,

Mas contra todas as suas forças não foi forte o bastante,

Tremeu com ela em seus braços e não era paixão,

Era medo, de perde-la, de nunca mais a tê-la,


Estar preso nos braços de quem mais chama a sua emoção,

Vê-la hesitante quanto a estar com ele ou não...

Ela conteve o suspiro ante a aproximação,

O sol caiu e a noite veio afoita e escurecida,


Esqueceu da lua em algum lugar distante,

Sua alma já não se contentava em apenas instantes,

E beijar aquele homem já não tinha o mesmo toque,

A sombra da noite, vê-lo daquele jeito a fazia mal,


Por mais forte que fosse o seu desejo não queria ceder,

Apesar de tudo que sentia, não queria estar ali sem saber porquê,

Mas, as mãos dele a procuravam e pareciam implorar,

Era como se seus olhos lhe pedissem para ficar,


Se entregar como antes, continuar naquele sonho,

Aquele do qual nunca imaginou acordar,

Sentir-se segura em seu abraço e manter-se,

Sentia que sua pele era irresistivelmente levada a continuar,


Mas, algo, algo dentro dela hesitava,

Não tinha certeza se queria ir mais longe com aquilo,

O beijo, o cheiro, o abraço... não tinha certeza,

Aonde aquele sonho a conduziria?


Até que ponto seria capaz de entregar-se dessa forma,

Mil juras de amor lhe vinham a mente e fugiam,

Seus sonhos desenhavam-se a sua volta,

Mas ela já nem sentia que os pertenciam,


Não estava de acordo em fugir sem explicar,

Mas, também, não se entendia em nada,

Percebeu-se em uma armadilha,

Temerária para quem deixa de amar e é amada,


Atrasada para ela, que apaixonou-se e agora já não sabe,

Pela demora, pela imprecisão dos gestos dele ou por quê?

Deixou de ir ao café.


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