quinta-feira, 9 de junho de 2022

Dor


Ouvia-se um ruído gutural de sua garganta,

Algo de alguém que tenta expressar a alma,

Em uma frase apenas expor tudo que sente,

Sem se importar com quem ouve ou entende,


Ela podia ser vista lá do horizonte,

E ouvida, talvez, mais longe ainda,

Um brilho de lágrimas gotejava a face,

Um misto de dor enrubescia a pele rosada,


Desdobrava a sua dor numa espécie de trovão,

Um clarão de espanto levantava-se ao seu comando,

Um exército de sentimentos baixava a guarda,

Dor, solidão, rejeição e tantas outras coisas incontidas,


Era um anjo caído que tentava se levantar,

Deus sabe quantas vezes um coração não consegue mais,

E aquele esgotava as suas forças,

Todos se calaram sem dizer nada,


Baixaram suas cabeças sem conseguir se dispersar,

O silêncio sempre provoca um não saber o que fazer,

Um quê de refletir e uma dor que não se entende,

A moça, agora já se sentia sem fôlego,


Mas ainda assim gritava num misto de pranto e dor,

A garganta não mais que brasas acesas a queimar,

Olhos frágeis e cansados da espera,

Um amor insensato e dor que dilacera,


Sua parte da culpa não estava coberta,

Assim como a sua rejeição – exposta e latente-,

Por amor suportou tudo que pode,

Agora apenas dor e lágrimas lhe cobrem o rosto,


Nem mesmo mais a pele sentia,

Era como se não houvesse mais nada – em chagas-,

As carícias que consumiram seus medos,

Viraram-se contra ela e a devoravam agora,


Porém, em solidão e lamentos por tudo que houve,

E muito mais pelo nada que restou-lhe,

As promessas que disse em voz acalorada

Agora caíam sobre ela e a esmagavam,


Frase a frase irrefreada de encontro a sua alma,

A dor sangrava e as chagas se abriam diante dela,

Se ele parecia se importar não demonstrava,

Se havia alguma forma de ele não saber – não havia-,


Cansou de esconder o que estava na cara,

Abriu a boca e gritou até ficar sem fala,

Mas o coração em tempo oportuno,

Sabe suportar também a distância e a saudade,


Porém, agora era tempo de sofrer – chagava a sua hora-,

Chorar, gritar e ser ouvida, quem sabe,

Tirava do coração a dor e tentava elevar a alma,

Algo, dento dela, tinha que responder,


Pelo grande amor que tinha por si mesma,

Precisava resistir e ser forte,

Porque amores não matam apenas ferem,

Sentia-se pisar em um atoleiro e afundar,


Com apenas a mão para fora, ninguém a via,

A mão que ele cumprimentou no primeiro dia,

Esquecida, abandonada, a afundar-se para dentro,

No fundo, para dentro, no fundo,


Em um fundo que talvez não fosse mais encontrada,

Mas dizem os tolos e quem é que quer ser salvo?

O amor, é por isso que ama e se entrega,

O amor quer algo que busque ser diferente e o seja,


Lágrimas profundas e densas a puxavam,

Arrastada para algum lugar ela se perdia,

Mas quanto ao amor que sentia,

Não calou palavra alguma,


Que esta cova de dor se feche sobre mim,

E cale cada pulsar do meu sentir,

Se quiser algum dia,

Sobre o que sinto calar a minha boca!

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